Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O AMOR SEM O QUAL NADA SOMOS 
 
Jonathan Edwards, pastor americano que viveu no século XVIII, escreveu um tratado que discorre  pormenorizadamente sobre o 13º capítulo de I Coríntios, o qual traduzimos do original em inglês, e estamos apresentando em forma reduzida e adaptada, para o nosso comentário do citado capítulo.
O amor é a soma de todas as virtudes.
As pessoas costumam fazer um uso errado daquilo que compreendem, por amor, em sua conversação, porque pensam que é uma disposição para esperar e pensar o melhor de qualquer pessoa; e às vezes a palavra é usada como a disposição para dar aos pobres.
Mas estas coisas são somente certos aspectos daquela grande virtude do amor.
E cabe destacar que mesmo nos dois exemplos destacados anteriormente para uma compreensão limitada do significado da palavra, devem ser considerados determinados aspectos para que ambas atitudes sejam válidas e aceitas diante de Deus, conforme estaremos enfocando mais adiante.
A palavra amor significa corretamente a disposição ou afeto por meio dos quais uma pessoa é querida por outra; e o original “ágape” que é traduzido por “caridade”, em algumas versões, é melhor traduzido por “amor”, porque encerra um significado muito mais completo para o termo, conforme abrange de fato muitas outras virtudes, conforme o apóstolo descreve neste capitulo, de modo que o amor, no Novo Testamento, tem o significado de amor cristão, embora seja usado não somente em relação ao amor aos homens, mas também ao amor a Deus, como também ao próprio amor de Deus.
Em I Cor 8.1 Paulo afirma que: “A ciência ensoberbece, mas o amor edifica.”.
Aqui a comparação é feita entre o conhecimento e o amor, e a preferência é dada ao amor, porque o conhecimento incha, mas o amor edifica.
E o uso que  o apóstolo faz da palavra amor nesta passagem de I Cor 8.1 é o mesmo que ele faz neste décimo terceiro capítulo; porque ele está aqui comparando as mesmas coisas que ele compara no início deste capítulo, a saber: amor e conhecimento, quando diz: “Embora...conheça todos os mistérios e toda a ciência...se não tiver amor nada serei.”.; e ainda no verso 8: “havendo ciência, passará;”, isto é, o dom espiritual palavra de conhecimento desaparecerá.
De forma que, por amor, nós devemos entender o amor cristão em toda a sua plena extensão, e que é operado por Deus em relação às suas criaturas.
E o amor é portanto muito mais do que o mero conhecimento, ainda que de coisas espirituais, porque se refere à vivência e à prática das virtudes que se encontram na própria pessoa de Cristo. 
Em segundo lugar é mencionado que tudo é vão sem isto, as coisas mais excelentes, que pertencem aos homens naturais; os privilégios e ações mais excelentes.
O propósito de Deus é o de ver nossas vidas transformadas, o nosso caráter, à semelhança ao de Cristo. É o de produzir o que Paulo chama de estatura de varão perfeito. E isto tem a ver com o homem total, com aquilo que ele é, e não com o que tem ou conhece.
Primeiro, os privilégios excelentes, como o dom de línguas, o dom de profecia e a compreensão de todos os mistérios; fé para remover montanhas, e em segundo lugar as ações mais excelentes, como dar todos os bens para alimentar os pobres, e o corpo para ser queimado.
E ainda assim o apóstolo declara que se nós tivermos tudo isto, e não tivermos amor, nós nada somos. Porque o amor não é apenas excelente, é sobremodo excelente, porque é o que permanecerá por toda a eternidade. 
É do Espírito Santo que o verdadeiro amor cristão surge, tanto para Deus, quanto em relação aos homens.
O Espírito de Deus é um Espírito de amor, e quando entra no nosso espírito, o amor também entra com Ele.
Deus é amor, e aquele que tem Deus habitando nele pelo seu Espírito, terá o amor também habitando nele.
A natureza do Espírito Santo é amor; e é a própria natureza dEle que comunica aos santos, de modo que o amor é derramado abundantemente em seus corações pelo fato do Espírito Santo estar habitando neles.  
Nisto entendemos porque o apóstolo diz nos três primeiros versos deste 13º capítulo de I Coríntios, que caso não se tenha este amor, nada aproveita ter dons, talentos, fazer doações e sacrifícios.   
E assim, em qualquer ação boa que possa haver de um homem para com o seu próximo, a razão ensina que será tudo inaceitável e em vão, se ao mesmo tempo não houver nenhum respeito real no coração para com aquele próximo, se a conduta externa não for motivada pelo amor interior, iniciado e motivado pelo Espírito Santo.
Por exemplo, nenhum pai ama naturalmente a seus filhos por motivo de glorificar o nome de Deus, ou para educá-lo nos seus santos caminhos. Assim, esse amor natural, apesar de ser importante, não possui nele, a marca, o selo, do amor espiritual divino.
Daí se ordenar na Palavra de Deus que todos os nossos atos sejam feitos com amor, ou seja, o amor deve estar presente em nós, para acompanhar as nossas obras feitas em Deus, para que sejam aceitáveis, e para que não sejam em vão.
Como vemos em Apocalipse 2.2-5  Jesus sempre requererá o primeiro amor, ainda que nossas boas obras estejam aumentando cada vez mais.
Toda verdadeira virtude e graça cristãs podem ser resumidas no amor.
A Bíblia nos ensina que o amor é  a soma de tudo aquilo que está contido na lei de Deus, e de todos os deveres requeridos na Sua Palavra.
Agora, a menos que o amor fosse de fato  a soma do que a lei exige, a lei não poderia ser cumprida completamente; porque uma lei somente é cumprida através da obediência à soma total do que ela contém e ordena.
Paulo afirma em Rom 13.9 e em Gál 5.14 que aquele que ama o próximo tem cumprido toda a lei.
E o mesmo parece ser declarado em Tiago 2.8, onde chama o amor ao próximo de a lei régia das Escrituras.
A verdade da doutrina como revelada pela Bíblia aparece no que o apóstolo nos ensina em Gál 5.6 ao dizer que “a fé atua pelo amor”.
Uma verdadeira fé cristã é a que produz boas obras, mas as boas obras que produz são por amor.
O verdadeiro amor é um componente da verdadeira e viva fé.
O amor não é nenhum componente em uma fé meramente especulativa, mas é a vida e alma de uma fé prática.
Uma fé verdadeiramente prática ou salvadora, está portanto cheia de fervor, luz e amor.
Uma fé especulativa somente consiste no aumento da compreensão; mas numa fé salvadora há também o consentimento do coração; e aquela fé que somente é do tipo anterior, não é nada melhor que a fé dos demônios, porque têm uma fé que pode existir sem amor, enquanto creem e tremem, mas tal tipo de fé de nada lhes aproveita diante de Deus.
É o tipo de fé de conhecimento de coisas que se referem a Deus, mas que não produz o amor no coração.
O amor é a vida mesma e o espírito de uma verdadeira fé, e está especialmente evidente nesta declaração do apóstolo de que a "fé trabalha por amor", e o último verso do segundo capítulo da epístola de Tiago declara que “assim como o corpo sem o espírito está morto, de igual modo a fé sem obras também está morta”.
Devemos portanto nos examinar, e ver se temos colocado como centro de nossa vida cristã o amor a Deus e ao próximo, porque é neles que se cumpre toda a vontade de Deus para conosco, e sem os quais, tudo o que fizermos será vão, já que o cumprimento de todos os mandamentos depende destes dois grandes mandamentos.
E cumpre destacar que este amor não é mero sentimento, mas e sobretudo, cumprimento dos mandamentos de Cristo, aplicação da Sua Palavra à própria vida, e na direção de tudo o que pensarmos ou fizermos.
Um espírito de amor é um espírito amável.
É o espírito de Jesus Cristo.
É o espírito do céu. 
Apesar do grande privilégio dos dons extraordinários do Espírito Santo, que são citados no décimo segundo capítulo, contudo a influência do Espírito Santo, enquanto trabalhando a graça do amor no coração, é um privilégio mais excelente que qualquer deles: uma maior bênção que o espírito de profecia, ou o dom de línguas, ou de milagres, até mesmo o de fé para remover montanhas; o amor é uma maior bênção que todos os dons milagrosos de que Moisés, Elias, Davi, e os doze apóstolos estavam dotados.
Isto será visto, se nós considerarmos que esta bênção da graça salvadora de Deus é uma qualidade inerente da sua própria natureza, e não apenas uma capacitação extraordinária que é possível de ser recebida sem que se tenha uma participação nesta natureza divina, conforme o caso dos dons extraordinários, como comentamos anteriormente.
Este dom do Espírito de Deus, trabalha um caráter verdadeiramente cristão na alma, e produz no coração do homem uma natureza excelente, sim, a mesma excelência da natureza de Cristo.
O Espírito de Deus se comunica muito mais com os homens lhes dando graça transformadora aos seus corações, do que dando os dons extraordinários citados por Paulo em I Coríntios 12 e 14.
E agindo desta forma o Espírito se torna um princípio vital na alma.
Por isso se requer que andemos no Espírito para que possamos ter o Seu fruto, o qual se traduz na implantação as Suas virtudes na nossa nova natureza, que recebemos pela fé em Cristo.
Não se tem portanto o fruto do Espírito, pelo mero fato de se possuir algum dom espiritual extraordinário, dentre os citados por Paulo no  décimo segundo capitulo.
O fruto do Espírito decorre de se andar nEle, em obediência a Deus e à Sua Palavra, pela consagração da vida em se submeter com constância à Sua disciplina.
A graça ou santidade, que são o resultado da influência comum do Espírito de Deus nos corações, é em que a imagem espiritual de Deus consiste; e não nos dons extraordinários do Espírito.
A imagem espiritual de Deus não consiste em ter poder para operar milagres, e predizer eventos futuros, mas consiste em ser santo, como Deus é santo: tendo um princípio santo e divino no coração, nos influenciando a ter vidas santas e divinas.
Por conseguinte, o grande desígnio de Deus para nossas vidas não é meramente que profetizemos, falemos em línguas, ou que manifestemos qualquer outro dom espiritual, porque como Ele próprio nos ensina, estes dons não somente desaparecerão, como também não são propriamente eles que nos tornam à imagem e semelhança de Cristo, senão o fruto do Espírito, o qual é implantado progressiva e gradualmente em nossas naturezas, e cujo efeito está destinado a durar eternamente.  
O amor é um dom mais excelente do que todos os dons, porque o amor divino no coração é o que identifica os que são verdadeiramente discípulos de Cristo, conforme Ele próprio o afirmou.
O objetivo do evangelho é conduzir os homens das trevas para a luz, e do poder do pecado e de Satanás para servir o Deus vivo, ou seja, fazer os homens santos.
O fim de todos os dons extraordinários do Espírito é a conversão de pecadores, e a edificação dos santos naquela santidade que é fruto das influências ordinárias do Espírito Santo.
Assim, estes dons são meios que estão destinados a desaparecer, porque não são, em si mesmos, o fim da vida cristã. 
Em seguida, o apóstolo ensina que não somente nossos desempenhos, mas também nossos sofrimentos são de nenhum proveito sem amor.
Os homens estão prontos a fazerem muito mais do que fazem, do que sofrer mais do que têm sofrido.
Eles estão portanto persuadidos que os sacrifícios são de grande valor na religião.
Entretanto, Paulo ensina que os sacrifícios são de nenhum valor se não houver amor.
O apóstolo menciona aqui um tipo de sofrimento extremo, até à morte, e da forma mais terrível de morte, e diz que até mesmo isto não é nada sem amor.
Quando um homem deu todos os seus bens, e ele não tem nada mais para dar senão o seu próprio corpo para ser totalmente consumido nas chamas, isto nada aproveitará, se não é determinado por um sincero amor no coração.
Isto é bem verdadeiro na prática, pois quantos heróis  não deram suas vidas em sacrifício em prol de uma boa causa, e quantos não se despojaram de seus bens para o mesmo propósito, e  no entanto um bom número deles está sendo afligido agora nas chamas do inferno, porque não chegaram a conhecer o amor de Deus que está em Cristo Jesus, e nada do que fizeram foi feito para a exclusiva glória de Deus e por amor a Ele.
Não é o trabalho externo que fazemos, ou o sofrimento suportado, em si mesmos, que têm qualquer valor à vista de Deus.
Os trabalhos e exercícios do corpo, ou qualquer coisa que possa ser feita por meio dele, se considerados separadamente do coração - a parte interior do homem – não têm qualquer valor à vista de Deus, tal como os movimentos de qualquer outra coisa sem vida.
Se qualquer coisa for oferecida ou dada, seja prata, ouro, ou gado, milhares de carneiros, ou dez mil ribeiros de azeite, como se lê em Mq 6.7, não haverá qualquer valor nisto.
Se Deus tivesse falta destas coisas, elas poderiam ser de algum valor para ele, independentemente dos motivos do coração que conduziu a pessoa a ofertá-las.
Nós nos levantamos frequentemente pela falta de bens externos, e então tais coisas, oferecidas a nós, possam ter um grande valor porque necessitamos delas.
Mas Deus não tem falta de cousa alguma, e além disso tudo lhe pertence.
Ele é todo-suficiente em Si mesmo.
Ele não é alimentado pelos sacrifícios de animais, nem enriquecido por presentes de prata, ou ouro, ou pérolas, como ele afirma no Salmo 50-1—13.
Assim Deus não tem nenhum prazer em qualquer sofrimento que nós possamos suportar.
Ele não é ganho pelos homens pelos tormentos que possam sofrer, nem se alegra por vê-los se pondo a sofrer, a menos que isto seja por amor a Cristo e ao evangelho.
Retiros, jejuns, martírios, práticas ascéticas e coisas como estas serão de nenhum valor se não forem acompanhadas por um verdadeiro amor no coração.
Não importa o que possa ser feito ou  sofrido, nem ações, nem sofrimentos compensarão a falta de amor para com Deus na alma.
Lembremos que Deus ama ao que dá com alegria.
Isto é um princípio permanente em tudo que consagramos a Ele.
Aquele que não tem nenhuma sinceridade no seu coração, não tem nenhum real respeito a Deus naquilo que ele parece dar, ou em todos seus trabalhos ou sofrimentos, e então Deus não é o grande fim no que ele faz ou dá.
No final das contas aquilo que ele faz ou sofre tem por objetivo a si mesmo e não a Deus.
Ele está pensando em receber algo em troca com o seu serviço ou oferta, ou sofrimento.
Não é movido por uma atitude voluntária, amorosa, grata, alegre, mas por um sentimento egoísta, e portanto não pode haver qualquer valor em tudo o que faz ou sofre, por maior que seja.
Poderá até ser de grande valor para os homens se é algo de caráter beneficente, mas não terá qualquer valor para Deus já que não foi movido pelo amor divino.
Em I Cor 13.4 se afirma que o amor é longânimo.
Com isto se afirma que o amor  nos dispõe a suportar com paciência os danos e ofensas recebidos de outros.
O amor cristão nos convoca a suportar  danos humildemente.
Então, os danos deveriam ser suportados sem fazermos qualquer coisa para nos vingarmos.
Então, aquele que exercita longanimidade para com o seu próximo, suportará os danos recebidos dele sem se vingar ou retaliar, seja por meio de ações prejudiciais ou palavras amargas.
Nós não deveríamos deixar de amar nosso próximo porque ele nos prejudicou.
Quando  permitimos que os danos que nós sofremos perturbem a nossa tranquilidade de mente, e nos coloquem num estado de excitação e tumulto, então nós deixamos de aguentá-los no verdadeiro espírito de  longanimidade.
Se permitimos que o dano nos descomponha e  inquiete, e que nos afaste de nosso descanso interior, nós não podemos desfrutar, nem estar num estado de nos desencarregarmos corretamente de nossos vários deveres, e especialmente no que se refere aos nossos deveres para com Deus, especialmente a oração e a meditação.
E tal estado de mente é o contrário do espírito de longanimidade que suporta humildemente os danos que são citados no texto.
A longanimidade é uma parte essencial da natureza de Deus, e por somos chamados a ser também longânimos, ou seja, tardios em se irar, que é o significado desta palavra. 
Deste modo, nós devemos não somente suportar um dano pequeno humildemente, mas também um tratamento bastante prejudicial de outros.
Nós deveríamos perseverar e continuar numa condição quieta, sem ainda deixar de amar nosso próximo, não somente quando ele nos prejudica um pouco, mas quando ele nos prejudica muito, e os danos que ele nos faz são grandes.
E nós não somente deveríamos aguentar assim alguns danos, mas muitos e grandes, apesar do nosso próximo continuar com o seu tratamento prejudicial por muito tempo a nós.
Quando é dito que o amor sofre muito tempo, nós não podemos deduzir disto que nós devemos aguentar danos humildemente por um período, e que depois daquele período nós podemos deixar de aguentá-los.
O amor a Deus nos dispõe a imitá-lo, e então nos dispõe a tal longanimidade como ela se encontra nEle.
No mesmo texto de I Cor 13.4, Paulo afirma que o amor é também benigno.
Em primeiro lugar, as pessoas podem fazer o  bem às almas de outros, por que isto é o modo mais excelente de se fazer o bem.
Os homens podem ser, e frequentemente são, os instrumentos do bem espiritual e eterno para outros.
Nós podemos fazer bem às almas de outros, suportando dores para instruir pessoas que  desconhecem a vontade e plano de Deus para elas e conduzi-las ao conhecimento da verdade, e aconselhando e advertindo outros, e mobilizando-os ao seu dever, e a um completo zelo, para o próprio bem estar das suas almas, e também para reprovação cristã daqueles que podem estar fora do modo em que deveriam andar na presença de Deus.
Tal  exemplo tem que acompanhar os outros meios de fazer bem às almas dos homens, como instruir, aconselhar, advertir, e reprovar, e tudo que for necessário para lhes dar força e  vigor.
Também podemos fazer bem a outros em relação às coisas externas deste mundo.
Podemos ajudar outros nas suas dificuldades e calamidades externas, e há vários tipos de calamidades temporais pelas quais o gênero humano é responsável.
Muitos têm fome, ou sede, ou são forasteiros, ou estão  nus, ou doentes, ou em prisão (Mateus 25.35,36), ou com algum outro tipo de sofrimento, e podemos ajudá-los.
Nós podemos fazer bem a outros, ajudando-os a construir um bom nome, promovendo a estima e aceitação deles entre os homens; ou fazendo qualquer coisa que verdadeiramente possa aumentar o seu conforto e a sua felicidade.
E  fazendo o bem externamente a eles deste modo, nós teremos uma maior vantagem para fazer o bem às suas almas.
Porque, quando as nossas instruções, deliberações, advertências, e bons exemplos são acompanhados com tal bondade externa, esta tende a abrir o caminho para o espiritual, e pode conduzir tais pessoas a apreciarem nossos esforços quando nós buscamos o seu bem espiritual.
Nós devemos fazer o bem tanto ao bom quanto ao mau. E devemos fazer isto como imitadores de nosso Pai divino, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos (Mt 5.43-45).
Ainda em I Coríntios 13.4 se afirma que o amor não arde em ciúmes.
A Inveja pode ser definida como um espírito de descontentamento com, e em oposição à prosperidade e felicidade de outros, comparando-a com a nossa prosperidade e felicidade.
A coisa à qual a pessoa invejosa é oposta, e antipatiza, é a superioridade comparativa do estado de honra, ou prosperidade ou felicidade que outros possam desfrutar, maior do que a que ele possui.
A inveja é uma disposição natural dos homens que amam ser superiores; e esta disposição é atingida diretamente, quando veem outros acima deles.
Tal é o espírito da inveja, que as pessoas se aborrecem não somente com o fato de outros estarem acima ou no mesmo nível que o deles, mas também quando estão chegando próximo.
Porque o desejo de ser distinguido em prosperidade e em honra é tanto maior quanto mais elevado se esteja, de modo que a eminência comparativa possa ser marcada visivelmente a todos.
E este não é nenhum sentimento confortável ao invejoso, ao contrário, lhe  é  muito incômodo.
Uma das armas que o invejoso usa para diminuir a honra dos outros, é falando mal deles, e os difamando. 
O sentimento de inveja também se manifesta numa antipatia às pessoas que são invejadas.
Esta antipatia pode se transformar até mesmo em ódio.
Um espírito cristão nos disporá a ficarmos satisfeitos com aquilo que somos e temos, reconhecendo que devemos ser gratos pela propriedade que Deus nos deu entre os homens, na Sua providência sábia e amável, e isto nos dará tranquilidade e satisfação de espírito.
É bom lembrar que Satanás se viu insatisfeito quando estava em perfeição no céu, e quis se elevar ainda mais, e foi exatamente esta a razão da sua queda.
E tal se dará também conosco, se nos deixarmos prender pelo espírito de cobiça.
Podemos e devemos avançar para posições mais elevadas, mas sem sermos movidos por inveja, cobiça, insatisfação ou por qualquer outro espírito que não seja um espírito quieto, manso, grato, satisfeito.
Um espírito cristão também nos disporá a nos alegrarmos com a prosperidade de outros.
Ele nos levará a ter uma complacência alegre e habitual com aquela regra dada pelo apóstolo em Rom. 12:15: “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram.”.
E nos alegraremos com suas conquistas como se fossem nossas.
Tal  espírito de benevolência expulsará o espírito mau da inveja, e nos permitirá ter  felicidade vendo nosso próximo prosperar.
Analisemos agora a afirmação de I Cor 13.4,5 de que o amor não se ufana, não se ensoberbece, não tem um comportamento impróprio
   A humildade pode ser definida como um hábito da mente e coração que corresponde à nossa indignidade e vileza diante de Deus, ou um senso de nossa própria pequenez à visão dEle, com a disposição para um comportamento mais responsável.
A humildade é um senso de nossa própria pequenez, comparativamente falando.
Eu digo pequenez comparativa, porque a humildade é uma graça apropriada a seres que são gloriosos e excelentes.
E os santos e anjos no céu abundam em humildade, e apesar de serem puros, imaculados, e seres gloriosos, aperfeiçoados na santidade, eles tem um senso da sua pequenez quando se comparam com Deus, de quem eles sabem perfeitamente que apesar de ser o Altíssimo, contudo se inclina para ver as coisas que estão no céu e na terra, como se afirma no Salmo 113.6, ou seja em outras palavras o mesmo que dizer que ninguém pode ser mais humilde do que é Deus, porque ninguém é tão elevado quanto Ele, e não pode condescender com os que são mais fracos assim como Ele faz em relação às suas criaturas, comparativa e proporcionalmente falando.
No próprio exemplo da Sua humildade, Jesus se rebaixou até ao ponto de levar sobre Si os nossos pecados, suportando injúrias e ofensas até a morte de cruz, e no entanto todos os seres no céu davam-lhe glória antes de ter assumido a nossa natureza, assim como continuam lhe dando glória, até mesmo num senso mais elevado, em face do quanto Ele se humilhou.
Assim o homem Cristo Jesus que sendo mais excelente e glorioso do que todas as suas criaturas, ainda é manso e humilde de coração, e supera todos os outros seres em humildade.
A humildade é uma das excelências de Cristo, porque ele sendo Deus, fez-se homem humilhando-se a Si mesmo diante do Pai, pois que se fez, ainda que por um pouco, no que tange a ter assumido a nossa natureza humana, menor do que os anjos como se afirma na Palavra de Deus em Hb 2.9.
Um senso de nossa própria pequenez deve decorrer do fato da corrupção do nosso coração, do fato de sermos pecadores.
E ainda que convertidos a Deus, vê-se em nós em nossa jornada terrena, os restos desta corrupção.
Isto em si mesmo, é um motivo bastante forte para que sejamos humildes, e para que não se encontre em nós qualquer tipo de elevação, porque as nossas melhores obras, e a nossa própria santidade, é imperfeita, pois sempre carrega algum tipo de mancha de orgulho ou qualquer outro pecado.
 Quanto à consciência de nossa pequenez em razão do pecado, não precisamos necessariamente nos comparar com Deus, pois que todas as criaturas que habitam o céu não têm qualquer tipo de pecado, inclusive os santos que lá estão.
E nisto temos um bom motivo para nos mantermos humildes com uma consciência da nossa pequenez comparativa.   
A humildade tende a prevenir um comportamento de justiça própria.
Aquele que está debaixo da influência de um espírito humilde, se ele entrou em uma falta, como todos estão sujeitos a cair em algum momento, ou se em qualquer coisa ele prejudicou outros, ou desonrou o seu nome e caráter, estará disposto a reconhecer a sua falta.
Não será difícil para ele ser trazido a uma consciência da sua falta, nem testemunhar o reconhecimento do seu erro.
Ele será humilhado intimamente por isto, e pronto a mostrar a sua humildade da maneira pela qual o apóstolo Tiago aponta, quando ele diz em Tg 5.16: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros”.  
É o orgulho que faz com que os homens sejam tão endurecidos para confessarem os seus pecados, porque consideram que isto será vergonhoso para eles, mas na verdade o que está em foco é que estão preocupados com a estima da sua própria honra.
E ficam assim, privados da mais elevada honra, já que Deus dá graça a quem se humilha.
E honrará aquele que dá honra à Sua Palavra, submetendo-se a ela, por obedecê-la.
A humildade no comportamento fará também com que toda advertência ou reprovação cristã por qualquer falta  cometida seja recebida com gratidão.
É o orgulho que faz com que os homens fiquem intranquilos e irados quando são reprovados pelo seu próximo, de forma que frequentemente não aguentarão isto, mas ficarão chateados, e manifestarão grande amargura de espírito.
Mas a humildade, ao contrário não somente os disporá a tolerar tais reprovações, mas estimá-las como marcas de bondade e amizade, como se afirma no Salmo 141.5: "Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.” .
Em Tiago 4.6 lemos que “Deus resiste aos soberbos”, ou em outras palavras, como está no original: “Deus se coloca em ordem de batalha contra os soberbos”, ou seja, está em guerra com eles, e isto revela o quanto Ele detesta um espírito orgulhoso.
Ainda em I Cor 13.5 se afirma que o amor não suspeita mal.
A palavra usada no original grego para o verbo “suspeitar” é logízomai que significa imputar, atribuir, reputar, suspeitar, considerar, ter na conta de, julgar, pensar, entender, concluir.
No texto de I Cor 13.5 tem o sentido de não julgar mal, não suspeitar mal, não imputar o mal, não pensar mal de outros.
Em outras palavras, é o contrário de uma disposição para pensar de, ou julgar outros, sem amor. 
O amor, num dos usos comuns da expressão, significa uma disposição para pensar o melhor de outros tanto quanto possível.
E assim o espírito de amor é contrário ao espírito de censura ou disposição para julgar outros.
Um espírito censurador consiste numa disposição para pensar mal de outros, ou fazer um mau juízo com respeito a eles.
  As pessoas são culpadas de censura condenando o estado de outros, quando fazem estas coisas sem nenhuma evidência de estarem eles numa condição ruim.
E o mesmo é verdade quando os condenam pelas falhas que podem ver neles, e que não são nada mais do que frequentes incidentes a que estão sujeitos os filhos de Deus.
 Um espírito censurador surge de um ardor para julgar mal as qualidades de outros.
Aparece numa disposição para negligenciar as suas boas qualidades, ou pensar que sejam destituídos de tais qualidades, ou a fazer muito pouco deles; ou aumentar os seus pontos falhos, e imputar-lhes estes pontos falhos que não têm.
Alguns são muito hábeis em acusar outros de ignorância e insensatez, e outras qualidades desprezíveis, quando eles em nenhum senso merecem serem estimados desta forma.
Temos também em I Cor 13.5 a afirmação que o amor não suspeita mal.
Somente quando há evidências claras de que haja atos reprováveis é que a censura é cabível e necessária.
Neste caso não nos é proibido que julguemos, mas o exercício da razão deve estar em harmonia com o amor, para que o juízo seja equilibrado, justo e aprovado.
Nós não devemos nos culpar, quando julgamos aqueles que procedem mal, e Paulo diz em I Tim 5.20:
“Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam.”.
  Devemos nos ater ao juízo de seu mau estado ou ações, e não propriamente suas pessoas, porque o julgamento do caráter de uma pessoa  é somente da competência de Deus.
Julgar os erros dos cristãos sem julgar as suas pessoas, é uma boa norma.
E o que julga deve se guardar de toda ira imprópria e inadequada, bem como de guardar rancor contra o que é julgado, considerando-o seu inimigo, porque poderá incorrer num pecado maior do que aquele do que está sendo julgado (II Tes 3.14,15).
O julgamento deve ser o mais impessoal possível, senão totalmente impessoal.
Como é a falta e o pecado, que devem ser julgados, então não deve haver precipitação no julgamento e na condenação de outros, e a prudência e o amor obrigam a suspender o julgamento até que se saiba mais do assunto, e que todas as circunstâncias estejam suficientemente claras diante dos que julgam.
As pessoas podem mostrar frequentemente muita falta de clareza e precipitação, censurando outros livremente antes de ouvirem o que têm a dizer em sua defesa.
E consequentemente é dito, em Pv 18.13 que “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha.”. 
E o mal daquele que julga, que é censurador, consiste em segundo lugar, num prazer doentio em julgar outros.
Ainda em I Cor 13.5, é destacada outra característica do amor cristão: ele não é egoísta.
 A ruína que a queda no pecado original trouxe à alma do homem consiste muito na perda dos princípios mais nobres e mais benevolentes da sua natureza, e particularmente da propriedade de ser movido, dirigido, conduzido pelo Espírito Santo na experiência do amor divino; e o homem perdeu isto em razão de ter caído completamente debaixo do poder e governo do amor próprio.
Antes do pecado, e como Deus o havia criado, ele era exaltado, nobre, e generoso;  mas agora ele é humilhado, ignóbil, e egoísta.
Na queda, a mente do homem, imediatamente encolheu de sua grandeza primitiva e se reduziu a uma pequenez que fez com que voltasse a sua visão para aquilo que é do seu próprio interesse, tornando-se assim, egoísta.
E tão logo que ele transgrediu contra Deus, aqueles princípios nobres foram imediatamente perdidos, e o seu coração que antes era dilatado como é o coração de Deus, encolheu-se em si mesmo.
E a sua alma que antes era também expandida, encolheu-se às pequenas dimensões do egoísmo, contraindo a sua alma às dimensões muito pequenas do egoísmo; e Deus foi abandonado, e o próximo foi também abandonado, e o homem se recolheu dentro de si mesmo, sendo governado totalmente por princípios estreitos e sentimentos egoístas.
Mas o amor, ou o espírito de amor cristão, não é contrário totalmente ao amor-próprio.
Não é uma coisa contrária ao cristianismo que um homem ame a si mesmo, ou, o que é a mesma coisa, que ame a sua própria felicidade.
Se o cristianismo tendesse a destruir o amor de um homem a si mesmo, e a sua própria felicidade, tenderia a destruir o próprio espírito de humanidade com isto; mas o anúncio mesmo do evangelho, como um sistema de paz na terra e benevolência para os homens (Lc 2:14), mostra que não se destina a destruir a humanidade, mas para promovê-la ao grau mais elevado de seu espírito.
Que um homem deva amar a própria felicidade, é muito necessário para a sua natureza tanto quanto é a faculdade da vontade; e é impossível que um tal amor deva ser destruído pois que destruiria o próprio homem.
Aquele que não tem liberdade como oferecerá liberdade aos outros?
Aquele que não ama a si mesmo como amará aos outros?
É pois um pressuposto básico que para que possamos amar aos outros devemos também estar amando a nós mesmos.
Se não buscamos felicidade para nós mesmos, como a buscaremos para outros?
Os santos amam a sua própria felicidade.
O amor de Deus neles os leva a isto.
Sim, aqueles que estão em perfeita felicidade, os santos e anjos no céu, amam a sua própria felicidade; caso contrário, aquela felicidade que Deus lhes tem dado não seria nenhuma felicidade para eles, porque qualquer um que não ama não pode desfrutar a felicidade interior.
Que amar a si mesmo não é nenhum pecado, também é evidente no fato, que a lei de Deus faz para o amor-próprio uma regra e é a medida pela qual o nosso amor pelos outros deveria ser regulada. Isto é, se amo muito a mim mesmo então devo também amar muito aos outros.
Então o amor próprio não sendo irregular é neste sentido, tanto melhor, quanto maior for, porque nos é ordenado amar o nosso próximo com a mesma intensidade com que nos amamos.
Então mais amaremos os outros quanto mais nos amarmos. 
Não sou chamado a amar o próximo mais do que amo a mim mesmo, e também não menos.
O egoísmo que o amor, ou um espírito cristão, é oposto, é somente um amor-próprio irregular.
Somente o amor a Deus deve ser desproporcional, porque nos é ordenado que o amemos acima de tudo e de todos.
Ele é digno de ser muito mais amado do que amamos a nós mesmos, e ao nosso próximo.
Outra característica do amor destacada em I Cor 13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou seja, ele não se exaspera.
O que é esse espírito irado ou colérico para o qual o amor, ou um espírito cristão, é contrário?
Não é a todo tipo de ira que o cristianismo é oposto e contrário.
Em Ef 4.26 se diz: “Irai-vos, e não pequeis, não se ponha o sol sobre a vossa ira.”. 
E isto parece supor que há tal uma coisa como ira sem pecado, ou que é possível estar bravo em alguns casos, e ainda não ofender a Deus.
E então pode ser respondido, em uma única palavra que um espírito cristão, ou o espírito de amor, é oposto à ira que é imprópria e inadequada.
A ira pode ser imprópria e inadequada a respeito de sua natureza.
A ira pode ser definida  como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou ofensa de outro.
Toda ira é oposição da mente contra um mal real ou suposto; mas nem toda a oposição da mente contra o mal pode ser chamada corretamente de ira, porque poderá haver, como é comum de ocorrer, por causa de nossas mentes corrompidas pelo pecado, frequentes julgamentos errados que nos conduzirão a uma ira imprópria ou injustificada, e portanto, pecaminosa. 
Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de nossos inimigos, e até daqueles que zombam de nós e  nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom 12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e orar para o bem de todos, e em nenhum caso desejar o mal.
E assim toda a vingança é proibida, se nós excluímos a vingança que a justiça pública assume para com o transgressor.
A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19),  de forma que toda a raiva que contém um desejo de vingança, é contrária ao cristianismo e proibida por Deus.
Às vezes a fúria, como é citada na Bíblia, somente é no pior senso do seu significado, ou naquele senso que insinua o desejo de vingança; e neste senso é proibida toda a raiva, como em Ef 4:31: “Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia.”, e ainda em Col 3.8: “Agora, porém, despojai-vos, igualmente de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar.”.
A ira pode ser inadequada e não cristã a respeito da sua improcedência.
E isto consiste em não ter qualquer motivo que a justifique. Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.
Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se transformará em ódio.
E assim nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois de semana, e mês depois de mês, e ano depois de ano.
Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo.
E este é um pecado mais terrível à vista de Deus.
Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de Deus, e para nos manter sob julgamentos em nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de sermos oprimidos por ele.
Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente, perdoador.  
Em I cor 13.6 se afirma que o amor se regozija com a verdade e não com a iniquidade.
Por "iniquidade", devemos entender que no original a palavra é “adikia”, isto é, falta de justiça, injustiça.
O contrário disto é “dikaiós” que significa justo, reto, aprovado, isto é, cujo ser e comportamento está em conformidade com a lei e a vontade de Deus.
Geralmente “adikia” é traduzido por iniquidade.
Não é a mesma palavra usada no evangelho quando Jesus diz que “por se multiplicar a iniquidade o amor esfriará”.
Aqui a palavra para iniquidade é “anomia” que significa transgressão da lei, especialmente da lei de Deus, ou falta de observância da lei.
No nosso texto de I Cor 13 a palavra “iniquidade”  parece se referir a tudo aquilo que se refere ao pecado e a uma prática pecaminosa; e por “verdade”, tudo o que é bom na vida, ou tudo aquilo que está incluído na prática de uma vida cristã santa.
O apóstolo Paulo declara que o amor é oposto a toda a maldade, ou prática má; e, positivamente, que produz toda a justiça, ou prática santa.
É dito que o amor se regozija com a verdade, e sabemos que a Palavra de Deus é a verdade.
Assim, aquele que tiver de fato um espírito de amor cristão, terá prazer em guardar os mandamentos de Deus, especialmente aqueles que se referem a um comportamento santo.
Isto demandará a observância e cumprimento de tudo o que é recomendado para que haja de fato uma prática santa na vida, tanto na atitude interior do coração quanto na exteriorização destas atitudes em boas obras em favor do próximo e para agradar também o coração de Deus.
Em I Cor 13.7 é afirmado que o amor tudo sofre.
O amor ou um espírito cristão suportará todos os sofrimentos como um dever. 
Tendo declarado nos versos anteriores  os frutos em que consiste o amor, o apóstolo fala agora daqueles que se referem ao sofrimento; e ele afirma que o amor ou o espírito de amor cristão, tende a dispor os homens a suportar todos os sofrimentos por causa de Cristo, como um dever.
Este, eu suponho que seja o significado da expressão, “sofre todas as coisas”, ou como está resumidamente em algumas versões: “tudo sofre”.
Paulo diz em Rom. 5:3-5, que ele estava disposto a se gloriar nas tribulações, uma vez que o amor de Deus havia sido derramado abundantemente no seu coração pelo Espírito Santo.
E ele diz em II Cor 5.14 que era este amor de Cristo que o constrangia a cumprir o seu ministério suportando todas as coisas por amor ao Senhor e aos eleitos.
E ainda novamente, ele declara, que nenhuma tribulação, nem aflição, nem perseguição, nem escassez, nem nudez, nem perigos, nem espada, poderiam separá-lo do amor de Cristo (Rom. 8:35).
  Aquele que tem o verdadeiro espírito de amor cristão, não somente está disposto a fazer, mas também a sofrer, por Cristo.
Eles estão dispostos a sofrer todos os sofrimentos, de todos os tipos que possam lhes sobrevir em razão do seu dever.
Eles têm o espírito de se regozijarem no sofrimento que é por causa de Cristo, como perseguição e desprezo; e preferem a honra de Cristo antes do que a sua própria honra.
Com o apóstolo podem dizer “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo.” (II Cor 12.10).
Ainda em I Cor 13.7 ser afirma que o amor tudo crê e espera.
Com essas palavras, poderíamos pensar que o apóstolo quer dar a entender que o amor nos dispõe a crer o melhor, e esperar o melhor em relação ao nosso próximo, em todos os casos.
Mas a mim me parece que não é bem este o significado destas palavras, mas é bem mais provável que ele quis afirmar que o amor é uma graça que promove o exercício de todas as demais graças, e, particularmente, das graças da fé e da esperança.
Mencionando as graças de crer e esperar, ou de fé e esperança, o apóstolo demonstra  aqui que o exercício destas é promovido pelo amor.
Ele poderia ter dito que é pelo amor que se crê e que se espera, com a verdadeira fé e esperança que são dons de Deus. 
Minhas razões para tal interpretação são as seguintes:  
Primeiro, não poderíamos dizer que o amor tudo crê, no sentido de crer em todas as coisas, porque não seria o amor verdadeiramente cristão, porque a verdadeira fé não crê em tudo, senão no que é verdadeiro e santo.
A fé em ídolos por exemplo é abominável e falsa.
Nem podemos afirmar também que o amor crê numa pessoa mentirosa, pois que não é amor crer na falsidade.
Paulo havia falado antes que o amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade, isto é, o amor tende a prevenir todo mau comportamento, e promover todo comportamento bom.
De forma que nós não podemos aceitar que seja uma boa interpretação afirmar “que tudo crê e tudo espera” tenha o significado de que o amor sempre espera o melhor de toda e qualquer pessoa, pois sabemos que o Senhor nos recomendou prudência, pois que estava nos enviando para o meio de lobos, e que portanto deveríamos nos acautelar dos homens maus.
O amor portanto não é crédulo.
E desta forma, devemos entender que o nosso texto tem outro sentido, como por exemplo, que o amor tem a tendência de promover as graças da fé e esperança que são juntamente com o amor, as três maiores graças do evangelho.  
E ainda em I Cor 13.7 se afirma que o amor suporta todas as coisas.
Ou seja, o amor, ou a verdadeira graça cristã, n ao se altera quando sofre oposição.
Tendo dito antes que o amor tudo sofre, o apóstolo diz agora que o amor tudo suporta. Muitos entendem que o apóstolo estava falando da mesma coisa com palavras diferentes, mas se nós examinarmos estas expressões bem de perto, e a forma pela qual elas são usadas, nós descobriremos que cada uma delas tem um significado que aponta para um fruto diferente do amor.
Já vimos que a anterior (tudo sofre) se refere aos danos recebidos dos homens, e veremos agora que a afirmação que o amor tudo suporta se refere ao espírito que nos levaria a suportar todos os sofrimentos que nós possamos ser chamados a ter por causa de Cristo, sem abandonar o nosso dever.
E esta expressão do texto de que o amor suporta todas as coisas, significa que a natureza permanente do princípio do amor, ou da verdadeira graça na alma não falhará, apesar de toda oposição que possa encontrar, e é da  natureza do amor perseverar.
A expressão do original grego, se literalmente traduzida, seria, “o amor permanece inalterável debaixo de todas as coisas”, quer dizer, ainda permanece, ou ainda permanece constante e perseverante debaixo de toda a oposição que possa vir contra ele.
Quaisquer agressões que possa receber, contudo ainda permanece e suporta, e não cessa, mas ergue-se, e é perseverante em seguir em frente com constância e paciência, apesar de tudo.
Finalmente, como características do amor, se afirma em I Cor 13.8, que o amor jamais acaba.
A propriedade do amor que é citada no texto é que ele é infalível e eterno.
Isto confirma as últimas palavras do verso anterior onde se diz que o amor tudo suporta, ou noutras palavras: suporta todas as coisas.
Com isto, como já estudamos antes, o apóstolo declara a durabilidade do amor, quanto à sua resistência a todo tipo de oposição que possa sofrer no mundo.
E agora, com a citação de que o amor jamais acaba, o apóstolo quer destacar a verdade que o amor não somente permanecerá atravessando todas as vicissitudes terrenas, como também que ele adentrará pela eternidade afora.
A palavra empregada no grego (piptô) que foi traduzida por “acabar”, além deste significado, tem também o de “perecer”, que é a mesma coisa.
Então, seria correto traduzir-se também “o amor jamais perece”.
Portanto, quando todas as coisas temporais tiverem perecido, o amor permanecerá.
Assim como as palavras do Senhor não passarão, quando os céus e a terra tiverem passado, isto é, terminado, também de igual modo, o amor não passará.
Em segundo lugar, como também já estudamos anteriormente, o amor é distinto de todos os demais dons do Espírito, como o de profecia, línguas e de conhecimento.
Pois todos os dons extraordinários como os citados desaparecerão, mas o amor jamais acabará.
O conhecimento que os cristãos têm de Deus, de Cristo, e das coisas espirituais, não desaparecerá, mas será gloriosamente aumentado e aperfeiçoado no céu que é um mundo de luz como também de amor.
 
“1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de modo tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10 Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”. (I Cor 13.1-13)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/12/2012
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