Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
As Bênçãos e a Gradação dos Juízos de Deus 
 
No capítulo 26 de Levítico, depois de uma breve exortação à proibição da idolatria, e à obrigação de se guardar o sábado (v.1,2), são descritas as promessas decorrentes da prática dos estatutos e mandamentos da Lei (v.3-13), e as ameaças e castigos relativos ao seu descumprimento (v.14-39), com a correspondente promessa de restauração, em caso de arrependimento (v. 45).
Nas promessas dos versos 14 a 39 está claramente revelado que a bênção do Senhor está associada à obediência à Sua Palavra.
Este é o segredo de um viver vitorioso neste mundo.
Uma obediência prática de quem cumpre aquilo que é exigido por Deus.
O homem foi criado para obedecer à vontade do Senhor, de modo que Ele possa ser glorificado e honrado.
O pecado que opera na natureza terrena é o maior inimigo do homem, e também de Deus, até mesmo mais do que o próprio diabo, que por todos os meios tenta impedir que se obedeça à vontade do Senhor, e que se viva em consequência, em comunhão com Ele.
Se o cristão andar na carne e não no Espírito, a poderosa mão do Senhor o provará, de modo que na aflição venha a se humilhar, se quebrantar, e submeter-se finalmente a fazer a Sua vontade, com um espírito humilde, submisso, obediente.
Aquele que assim se humilhar, não sendo obstinado em fazer a própria vontade, mas a do Senhor, revelada em Sua Palavra, será por Ele exaltado, conforme tem prometido.
Se a Lei é espiritual, se o mandamento não é carnal, então o velho homem nunca estará disposto a cumprir os mandamentos de Deus.
Os mandamentos são cumpridos somente quando se anda no Espírito, vencendo-se a cobiça da carne.
A carne deve ser subjugada pelo poder de Deus e então as bênçãos do Senhor virão sobre nós em forma de paz, autoridade espiritual, amor, prosperidade e toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo Jesus.
A propósito, as promessas de bênçãos da Nova Aliança são superiores e melhores (Hb 8.6) do que as da Antiga, como as que estão relacionadas neste 26º capitulo de Números.
Vale a pena ser obediente a Deus, porque promessas de bênçãos estão associadas para aqueles que O obedecem, e o Senhor é fiel em cumprir as Suas promessas (Hb 10.23; 11.11).       
O segredo de uma vida feliz e verdadeiramente vitoriosa está pois em ser obediente a Deus, nas coisas que são por Ele ordenadas.
O Novo Testamento confirma isto (Jo 14.15,21; 15.7, 14 ).
Assim, as promessas de bênçãos da Antiga Aliança, apontavam especialmente para as bênçãos espirituais e eternas, que são prometidas àqueles que têm a Cristo, e particularmente àqueles que Lhe obedecem.
As bênçãos prometidas em Levítico para a nação israelita, que era o povo depositário da aliança, eram:
·       Regularidade de chuvas e produção agrícola (v.4,5).
·       Paz na terra pela ausência de invasões inimigas (v.6) e por vitórias nas guerras (7,8).
·       Crescimento populacional pelo incremento da taxa de natalidade (v.9).
·       Garantia de alimentos (v.10).
·       Habitação de Deus entre o povo, sem lhe trazer castigos (v. 11,12).
 
No verso 13 Deus lembra os israelitas que lhes havia libertado do Egito para não serem seus servos, e que havia quebrado o jugo deles, fazendo-lhes andar de modo ereto.
Nestas promessas de bênçãos da Antiga Aliança, relativas ao cumprimento dos mandamentos da Lei, deve ser considerado o seguinte, quando as vislumbramos em seus princípios, quanto ao modo de serem aplicadas à igreja de Cristo na Nova Aliança:
Caso Deus examinasse rigorosamente as nossas obras, para que pudéssemos obter o Seu favor, então jamais o obteríamos, se isto fosse feito dentro dos parâmetros exigidos pela Lei.
Porque, por mais que sejam imperfeitas as obras dos cristãos, caso seja sincero o desejo deles de servirem ao Senhor, eles obterão o Seu favor por causa da intervenção do perdão prometido para a Nova Aliança (Jer 31.34).
Embora seus esforços sejam imperfeitos, no entanto eles recebem a recompensa, como se tivessem cumprido perfeita e completamente o seu dever, porque suas deficiências são colocadas longe da vista pela fé, e Deus honra a título de recompensa, aquilo que lhes tem dado gratuitamente.
Desta forma, a obediência dos cristãos não é aceitável a Deus porque eles o mereçam, mas porque Ele os visita com o Seu favor paterno.
E assim, ainda que estejam longe da perfeição, de acordo com o ensino do profeta, eles serão poupados e aceitos como filhos amados:
“E eles serão meus, diz o Senhor dos exércitos, minha possessão particular naquele dia que prepararei; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve.” (Mal 3.17)
Todavia isto não se aplica para aqueles cristãos que decidem viver deliberadamente na prática do pecado, porque certamente serão corrigidos e disciplinados pelo Senhor.  
Cabe destacar que o caráter das bênçãos da Antiga Aliança, era basicamente temporal, terreno, mas o caráter das bênçãos da Nova é sobretudo espiritual e eterno, porque os cristãos estão mortos juntamente com Cristo, e foram ressuscitados para viverem em novidade de vida, a saber, a vida espiritual que está escondida em Cristo (Col 3.1-3).
Os israelitas somente tinham promessas e recompensas de bênçãos temporais, na terra de Canaã, que era um símbolo da herança eterna que eles poderiam ter, caso fossem justificados pela fé, como foi o caso daqueles que viveram na terra como peregrinos e estrangeiros, como Abraão e todos os que são relacionados no capítulo décimo primeiro de Hebreus (Hb 11.16).
Aqueles que obtiveram a promessa da vida eterna pela fé em Deus, nos dias do Antigo Testamento,  não o alcançaram pela promessa da Antiga Aliança, mas pela exclusiva soberania de Deus.
Nos castigos relativos à desobediência, além de serem contrários às bênçãos descritas nos versículos 3 a 13, é importante observar que há uma gradação destes castigos de modo que o alvo deles seria o de conduzir o povo ao arrependimento.
Na falta de conserto à vista de um conjunto de aflições, estas seriam aumentadas até que a nação fosse convencida do desagrado do Senhor, de modo a ser conseguido o esperado arrependimento.    
Então, no caso de violação da aliança, são descritos os seguintes graus de castigos:
 
Nível 1: Pavor, tísica, febre ardente que fazem desaparecer o lustre dos olhos e definhar a vida. Apropriação das safras agrícolas pelos inimigos (v.16). Derrota nas guerras contra os povos inimigos (v.17). E no caso de não se arrependerem:
 
Nível 2: Prometido castigar sete vezes mais por causa dos pecados (v.18). Quebra da soberba da força do povo, pela falta de chuva e produção agrícola (v. 19,20).
 
Nível 3: Envio de pragas sete vezes mais, segundo os pecados do povo (v.21). Ataques pelas feras dos campo (v. 22).
 
Nível 4: Ferimento do povo sete vezes mais por causa do pecado (v.24). Peste e morte nas mãos dos inimigos (v.25). Falta de fartura de alimento (v.26).
 
Nível 5: Deus seria contrário ao povo com furor e o castigaria sete vezes mais. Comeriam a carne de seus filhos e filhas. Seus altares e imagens de ídolos seriam destruídos. Seus cadáveres seriam lançados sobre os seus falsos deuses. A alma de Deus se aborreceria deles. As cidades seriam reduzidas a deserto, e os santuários deles assolados, e seus sacrifícios não seriam aceitos. A terra de Canaã seria assolada a ponto de espantar os próprios inimigos de Israel. Seriam espalhados por entre as nações e as cidades ficariam desertas. Aos que ficassem em Canaã, Deus meteria ansiedade em seus corações, e eles temeriam seus inimigos, ainda que ninguém lhes estivesse perseguindo. E, ao fugirem para as nações seriam consumidos na terra dos seus inimigos (v.26-39).
 
Quando chegassem ao castigo extremo do cativeiro, deveriam se lembrar da promessa de misericórdia descrita nos versos 40 a 45, confessando a sua iniquidade e a de seus pais, na infidelidade que cometeram contra o Senhor (v.40), e, caso se humilhassem aceitando por bem o castigo da sua iniquidade (v. 41), então o Senhor se lembraria da sua aliança com Jacó, Isaque e Abraão (v.42), e não os rejeitaria e nem se aborreceria deles para consumi-los e invalidar a aliança que fizera com os seus antepassados, por meio de Moisés, quando os tirou da terra do Egito (v. 44,45).
Foi exatamente por causa desta promessa de misericórdia que Deus não rejeitou a Israel e nem a Judá depois dos cativeiros assírio e babilônico, porque, especialmente o Reino de Judá se arrependeu de seus pecados em Babilônia, e voltaram para a terra da Palestina, purificados da sua idolatria.
O propósito de Deus com Seus castigos é o de corrigir; dando aos homens convicções sensatas relativas ao mal do pecado, e obrigá-los a deixar o mal pela busca de alívio; mas se não há correção pelos julgamentos de Deus, terão que esperar serem arruinados por eles.
Os pecadores orgulhosos do povo de Deus teriam o próprio Deus contra eles (v. 17), que lhes resistiria,  por terem confrontado a Sua autoridade.
Deus revela a Sua paciência e longanimidade em nos corrigir por fazê-lo por graus.
Ele começa primeiro com correções menos doloridas, e somente na falta de arrependimento, Ele aumentará progressivamente a intensidade das dores dos Seus juízos, punindo até mesmo com a morte física, caso seja necessário.
A nossa obediência é aprovada por Deus somente quando nós obedecemos de boa vontade.
Mas a natureza terrena se interpõe como um fator complicador para o cumprimento da Lei, porque a obediência à Lei deve ser voluntária, e aquele que agir somente por medo de Deus, nunca cumprirá a Lei, como convém, porque esta se resume no amor a Deus e ao próximo.
Deste modo, a Lei se transforma num instrumento de condenação daqueles que são seus transgressores, e que não foram livrados da sua maldição, por meio da fé em Cristo, mas as ameaças da Lei são úteis aos filhos de Deus, para um propósito diferente, porque por meio destas ameaças eles podem ser preparados para temerem a Deus antes de serem justificados e regenerados, como também, depois da sua conversão, podem ser incentivados a subjugar diariamente os seus afetos corrompidos pelo pecado.
Assim, embora a finalidade principal das ameaças seja a de alarmar o réprobo, no entanto se aplica igualmente aos cristãos, com a finalidade de remover a lentidão deles em se consagrarem a Deus.      
Da gradação dos castigos, em razão da desobediência, aprendemos por princípio que não é uma atitude sábia a de não se submeter e se antecipar aos juízos de Deus aos nossos pecados, por não confessá-los e abandoná-los, antes mesmo do primeiro sinal da aplicação da Sua mão paterna disciplinadora e corretiva.
É muito menos sábio ainda, continuar resistindo a estes castigos, pela falta de arrependimento, porque a intensidade deles, conforme se vê na Lei, certamente aumentará, porque o Senhor não deixará a nenhum de Seus filhos sem a devida correção.  
O fato de Deus ser misericordioso para com os cristãos na Nova Aliança, lhes favorecendo mesmo à vista da imperfeição das suas obras, não significa de modo nenhum, qualquer renúncia à aplicação dos seus juízos, que a propósito começam pela Sua própria casa.
 
 
 
“1 Não fareis para vós ídolos, nem para vós levantareis imagem esculpida, nem coluna, nem poreis na vossa terra pedra com figuras, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o Senhor vosso Deus.
2 Guardareis os meus sábados, e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o Senhor.
3 Se andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus mandamentos e os cumprires,
4 eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo, e a terra dará o seu produto, e as árvores do campo darão os seus frutos;
5 a debulha vos continuará até a vindima, e a vindima até a semeadura; comereis o vosso pão a fartar, e habitareis seguros na vossa terra.
6 Também darei paz na terra, e vos deitareis, e ninguém vos amedrontará. Farei desaparecer da terra os animais nocivos, e pela vossa terra não passará espada.
7 Perseguireis os vossos inimigos, e eles cairão à espada diante de vós.
8 Cinco de vós perseguirão a um cento deles, e cem de vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vos.
9 Outrossim, olharei para vós, e vos farei frutificar, e vos multiplicarei, e confirmarei o meu pacto convosco.
10 E comereis da colheita velha por longo tempo guardada, até afinal a removerdes para dar lugar à nova.
11 Também porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos abominará.
12 Andarei no meio de vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.
13 Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei da terra dos egípcios, para que não fôsseis seus escravos; e quebrei os canzis do vosso jugo, e vos fiz andar erguidos.
14 Mas, se não me ouvirdes, e não cumprirdes todos estes mandamentos,
15 e se rejeitardes os meus estatutos, e a vossa alma desprezar os meus preceitos, de modo que não cumprais todos os meus mandamentos, mas violeis o meu pacto,
16 então eu, com efeito, vos farei isto: porei sobre vós o terror, a tísica e a febre ardente, que consumirão os olhos e farão definhar a vida; em vão semeareis a vossa semente, pois os vossos inimigos a comerão.
17 Porei o meu rosto contra vós, e sereis feridos diante de vossos inimigos; os que vos odiarem dominarão sobre vós, e fugireis sem que ninguém vos persiga.
18 Se nem ainda com isto me ouvirdes, prosseguirei em castigar-vos sete vezes mais, por causa dos vossos pecados.
19 Pois quebrarei a soberba do vosso poder, e vos farei o céu como ferro e a terra como bronze.
20 Em vão se gastará a vossa força, porquanto a vossa terra não dará o seu produto, nem as árvores da terra darão os seus frutos.
21 Ora, se andardes contrariamente para comigo, e não me quiseres ouvir, trarei sobre vos pragas sete vezes mais, conforme os vossos pecados.
22 Enviarei para o meio de vós as feras do campo, as quais vos desfilharão, e destruirão o vosso gado, e vos reduzirão a pequeno número; e os vossos caminhos se tornarão desertos.
23 Se nem ainda com isto quiserdes voltar a mim, mas continuardes a andar contrariamente para comigo,
24 eu também andarei contrariamente para convosco; e eu, eu mesmo, vos ferirei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados.
25 Trarei sobre vós a espada, que executará a vingança do pacto, e vos aglomerareis nas vossas cidades; então enviarei a peste entre vós, e sereis entregues na mão do inimigo.
26 Quando eu vos quebrar o sustento do pão, dez mulheres cozerão o vosso pão num só forno, e de novo vo-lo entregarão por peso; e comereis, mas não vos fartareis.
27 Se nem ainda com isto me ouvirdes, mas continuardes a andar contrariamente para comigo,
28 também eu andarei contrariamente para convosco com furor; e vos castigarei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados.
29 E comereis a carne de vossos filhos e a carne de vossas filhas.
30 Destruirei os vossos altos, derrubarei as vossas imagens do sol, e lançarei os vossos cadáveres sobre os destroços dos vossos ídolos; e a minha alma vos abominará.
31 Reduzirei as vossas cidades a deserto, e assolarei os vossos santuários, e não cheirarei o vosso cheiro suave.
32 Assolarei a terra, e sobre ela pasmarão os vossos inimigos que nela habitam.
33 Espalhar-vos-ei por entre as nações e, desembainhando a espada, vos perseguirei; a vossa terra será assolada, e as vossas cidades se tornarão em deserto.
34 Então a terra folgará nos seus sábados, todos os dias da sua assolação, e vós estareis na terra dos vossos inimigos; nesse tempo a terra descansará, e folgará nos seus sábados.
35 Por todos os dias da assolação descansará, pelos dias que não descansou nos vossos sábados, quando nela habitáveis.
36 E, quanto aos que de vós ficarem, eu lhes meterei pavor no coração nas terras dos seus inimigos; e o ruído de uma folha agitada os porá em fuga; fugirão como quem foge da espada, e cairão sem que ninguém os persiga;
37 sim, embora não haja quem os persiga, tropeçarão uns sobre os outros como diante da espada; e não podereis resistir aos vossos inimigos.
38 Assim perecereis entre as nações, e a terra dos vossos inimigos vos devorará;
39 e os que de vós ficarem definharão pela sua iniquidade nas terras dos vossos inimigos, como também pela iniquidade de seus pais.
40 Então confessarão a sua iniquidade, e a iniquidade de seus pais, com as suas transgressões, com que transgrediram contra mim; igualmente confessarão que, por terem andado contrariamente para comigo,
41 eu também andei contrariamente para com eles, e os trouxe para a terra dos seus inimigos. Se então o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem por bem o castigo da sua iniquidade,
42 eu me lembrarei do meu pacto com Jacó, do meu pacto com Isaque, e do meu pacto com Abraão; e bem assim da terra me lembrarei.
43 A terra também será deixada por eles e folgará nos seus sábados, sendo assolada por causa deles; e eles tomarão por bem o castigo da sua iniquidade, em razão mesmo de que rejeitaram os meus preceitos e a sua alma desprezou os meus estatutos.
44 Todavia, ainda assim, quando eles estiverem na terra dos seus inimigos, não os rejeitarei nem os abominarei a ponto de consumi-los totalmente e quebrar o meu pacto com eles; porque eu sou o Senhor seu Deus.
45 Antes por amor deles me lembrarei do pacto com os seus antepassados, que tirei da terra do Egito perante os olhos das nações, para ser o seu Deus. Eu sou o Senhor.
46 São esses os estatutos, os preceitos e as leis que o Senhor firmou entre si e os filhos de Israel, no monte Sinai, por intermédio de Moisés.” (Lev 26.1-46).
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/12/2012
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