Misericórdia
Continuaremos o nosso estudo sobre a anatomia da igreja, falando agora de mais uma das atitudes espirituais que caracterizam a igreja, a saber, a misericórdia (ou compaixão).
Quando uma igreja está comprometida com a sã doutrina, comprometida com um cristianismo bíblico, não apenas estando preocupados com a precisão da doutrina, mas também precisão em seu ensino e prática em nossas vidas, quando uma igreja se preocupa em sustentar o padrão mais alto possível de virtude e santidade, quando nós somos sensíveis para com o pecado, sendo uma igreja madura, é fácil estarmos sujeitos a errar por outro lado em julgar e condenar as pessoas que estão em luta. E por isso é importante nós entendermos o equilíbrio maravilhoso da compaixão na vida da igreja e o quanto isto é absolutamente importante. A propósito, a igreja não é uma galeria para a exibição de crentes eminentes, ela está mais para um hospital para a cura daqueles que são imperfeitos. Nós entendemos isso. A igreja está cheia com pessoas que falham. Está cheia de pecadores. Como Charles Morrison uma vez escreveu, "A igreja cristã é uma sociedade de pecadores. É a única sociedade no mundo que está disponível àqueles que não são qualificados.". Nós não somos qualificados para levar o nome de Jesus Cristo, nós não somos qualificados para ser uma parte da Sua igreja e é isso que nos qualifica para estar nela, porque é o reconhecimento da condição de sermos pecadores que nos conduz à salvação. Evidentemente, isto não pode ser entendido como uma sociedade de malfeitores, porque se exige o arrependimento do pecado para ser aceito no corpo de Cristo, e a confissão contínua do pecado, para nos mantermos em comunhão com Ele. Leve-se também em conta que há um novo nascimento operado pelo Espírito, uma transformação real de todos os que se arrependem, sendo feitos novas criaturas. Mas, enquanto estão neste mundo, continuarão sujeitos às imperfeições decorrentes de sua natureza terrena. E é aqui que entra o exercício da misericórdia, porque, doutra sorte, ainda que nascidos de novo, não poderíamos, de modo nenhum, sermos aceitos pelo Deus que é triplamente santo, e nem mesmo aceitarmos e vivermos em unidade com os nossos demais irmãos em Cristo, em face de que tanto nós quanto eles, temos imperfeições, estando ainda sujeitos à influência do pecado, do mundo e às tentações do Inimigo.
E assim, a igreja tem problemas. Como um de meus amigos dizia: "A luz chama os insetos.". E eu penso que há um pouco de verdade nisso. Os insetos são os pecadores e a luz é a Palavra, e a Palavra chama os pecadores e nós, mesmo depois de convertidos, somos uma sociedade de pecadores e nós temos nossos problemas. Eu me lembro de um jovem que estava falando comigo outro dia, ele estava pronto para ir embora de nossa igreja, e ele disse: "eu vou ser pastor de uma igreja, eu quero ser pastor de uma igreja mas eu não estou com pressa porque eu quero achar uma igreja que não tenha qualquer problema.".
Eu lhe disse: "Olhe, se você achar uma não vá para lá porque passarão a ter alguém com problema". Não existe tal coisa como uma igreja sem problemas a menos que seja uma igreja sem pessoas. As pessoas têm problemas e a igreja tem problemas. Nós lutamos com problemas todo o tempo aqui. Nós não fazemos nenhuma reivindicação certamente de perfeição em qualquer nível, é com a direção de nossas vidas a que o Senhor se refere, obviamente não à perfeição, nós temos que aguardar por isso na nossa ressurreição, quando formos para o nosso lar celestial para estarmos com o Senhor. Até então, nós temos problemas. E a igreja tem pessoas problemáticas. E com toda a honestidade, nós passamos muito tempo lidando com pessoas com problemas. Eles podem esgotar a energia de um pastor, eles podem escoar a energia do corpo de oficiais, enquanto tentam ajudar estas pessoas com problemas. Como em muitas famílias, eu penso, onde você poderia ter vários filhos, um ou dois dos quais se salientam exigindo mais atenção e cuidado do que os demais. Você sabe, eles dizem que há esse tipo de personalidades que já estão programadas geneticamente quando eles chegam, e desde o princípio eles colocam grandes demandas no processo de paternidade. Há outras crianças complacentes que não pedem tanto tempo e energia. Isso é verdade em qualquer espécie de relações que fazem a vida ser do modo que ela é. Há aquelas pessoas que trazem tremendas demandas à liderança, tremendas demandas ao povo de Deus para trabalhar com eles, porque eles estão sempre em luta.
Agora se eu fosse dividir essas pessoas em cinco categorias, elas seriam classificadas desta forma:
Número um: o cabeçudo (ou cabeça dura), que são as pessoas que você sempre está tentando livrar das extremidades. Eles sempre estão correndo nas margens. Eles querem escalar a cerca, eles querem ficar fora dos limites. Eles querem ficar acima da linha, violar a lei. Eles nunca estão realmente em sintonia com o lugar onde você vai, eles sempre estão fora nas bordas, nunca com o programa, nunca realmente envolvidos em fazer o dever deles continuamente, nunca são fiéis aos cultos e nas ofertas.. Eles tendem algumas vezes a serem inativos, preguiçosos, vadios, desordeiros. Eles podem ser apáticos ou indiferentes, e às vezes eles podem ser até mesmo contenciosos. Tudo em seu ser se rebela. Talvez eles não estejam na posição em que você possa discipliná-los, porque eles são incertos em todo o tempo... incertos no compromisso, na fidelidade, no culto usando seus dons, incertos em contribuir positivamente para o desenvolvimento da igreja. Eles são aquelas pessoas que estão sempre na margem de tudo, e que nunca estão realmente interessados e comprometidos com o coração e fluxo da vida da igreja.
A segunda categoria de pessoas eu chamaria de: o preocupado. Estas são as pessoas que não querem correr riscos, que basicamente trabalham com o medo, temem que ninguém as amará, temem que eles poderiam falhar, temem os problemas que poderiam surgir e os subjugar. Se o primeiro grupo fica nas margens de tudo, este grupo fica no meio. Eles nunca chegam perto das margens. Eles nunca se definem por um determinado lado. Eles são conduzidos pelo medo. Eles são dirigidos por uma falta de coragem. Eles podem pensar em dez razões por que algo nunca pudesse ter sucesso. Eles não têm nenhum senso de aventura. Eles odeiam a mudança. Eles temem o desconhecido. Eles se preocupam sobre as conseqüências de tudo. Todos os assuntos da vida são realmente mais do que eles podem agüentar e assim eles estão geralmente espantados e ocasionalmente deprimidos.
Então em terceiro lugar há o fraco. Estas são as pessoas que são espiritualmente fracas. Eles caíram em tentação, eles caíram no pecado, eles continuam tentando subir deixando a poeira para trás de si, mas voltam ao seu pó, voltam ao fluxo em que parecem ser altamente vulneráveis por causa de hábitos antigos, por causa de influências ruins, por causa da própria fraqueza espiritual deles. Eles querem fazer o que é certo, eles têm um desejo para fazer o que é certo mas eles prosseguem tropeçando na vida cristã, dando três passos adiante e dois para trás, e algumas vezes, dois adiante e três para trás. Eles se envergonham. Eles envergonham a igreja. Eles mancham o testemunho deles e são ocasionalmente uma real desonra para Deus. Eles são fracos e suscetíveis à tentação e ao pecado.
E quarto, há então o que eu chamaria o pesado. Eles o frustram. Eles nunca estão de pé. Eles não podem focalizar, eles não podem se concentrar. Eles arrastam os pés deles, eles não entendem o essencial ou eles esquecem do ponto, ou eles ignoram o ponto. Eles nunca parecem acelerar, e ficam para trás do grupo. Eles são as pessoas a quem você diz: “Por que você não fez isso? "Eu fiz mas não consegui.". Reserve um tempo e leia cinco capítulos da Bíblia, e ele responde: “Eu tentei, mas não consigo”. Oh, eles só o exasperam, eles esvaziam suas opções e você continua tentando e tentando e tentando e você nunca parece levá-los a serem o que eles precisam ser. Essas são os pessoas pesadas.
E então finalmente há o completamente mau. Essas são as pessoas que fazem o mal na igreja. Eles prejudicam outros crentes por fofoca ou difamação. Eles separam relacionamentos. Eles quebram a unidade do Espírito. Eles violam o laço da paz. Eles não têm amor. Eles se divorciam de seus cônjuges. Eles são indelicados com seus filhos, ou são filhos que são desobedientes aos seus pais, eles caluniam filhas e filhos. Eles vivem deliberadamente no pecado. E como uma igreja nós lidamos com todas estas pessoas. Eu quero dizer, o padrão de entrar é que você tem que ser um pecador e você tem que ser um pecador desmerecedor para entrar, assim nós assumimos que nós temos este problema... o cabeçudo, o preocupado, o fraco, o pesado e o mau. E cultivar um rebanho saudável é um negócio desafiador, é um milagre, não é? Todos estas pessoas precisam de ajuda. E tudo isso está sendo escrito na história da igreja e sobre o crescimento da igreja, todos os materiais sofisticados, todos os princípios de homogeneidade, demografia cultural, todas as estratégias sutis, todos os métodos para entreter, e toda a propaganda comercial técnica para construir a igreja. Pouco tem sido dito sobre a saúde espiritual do rebanho, sobre como você cultiva as pessoas à semelhança de Cristo que é o grande desafio. Adquirir uma multidão não é tão difícil quanto construir um discípulo semelhante a Cristo, que é uma situação muito desafiadora porque você tem as pessoas em todas estas categorias nos mais variados pontos na própria vida pessoal deles e você está tentando movê-los à única meta da semelhança de Jesus Cristo. Igrejas estão gastando muito dinheiro em assuntos que são puramente externos, superficiais, que não vão mudar o interior. E quando a igreja é mudada no lado de dentro então ela realmente se torna uma força para o evangelismo e a prática da justiça no mundo.
O Apóstolo Paulo gastou toda a sua vida, energia e orações para cultivar um rebanho espiritualmente saudável. E esse é o real trabalho da igreja. Não somente o meu trabalho, como também seu trabalho.
Em Col 3.12 nós lemos: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.”. Paulo diz que todos os salvos são eleitos de Deus, santos e amados, e que devem estar com o coração vestido de misericórdia. Nós temos que tratar entre si com compaixão, bondade e paciência, como ele diz no verso 13: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”. É-nos ordenado portanto que devemos negociar uns com os outros para vivermos em paz e comunhão. Em outras palavras, é preciso haver uma compaixão paciente, gentil, humilde, compaixão com todos os tipos de pessoas que enumeramos naqueles cinco exemplos: o cabeçudo, o fraco, o preocupado, o pesado e o mau. Todos os que pertencem ao Senhor, todos os que são eleitos, santos e amados em Cristo, são chamados a exercerem compaixão... não somente compaixão para as pessoas perdidas, e às vezes as igrejas têm mais compaixão para os descrentes, do que para com os seus próprios irmãos em Cristo, mas nós devemos mostrar amor a todos os homens, e especialmente aos que são domésticos da fé. Assim nós devemos ser compassivos.
Em I Tes 5.12-14 nós temos como os pastores devem agir em relação às ovelhas nos versos 12 e 13, e como deve ser a relação ovelha para ovelha no verso 14. Lemos neste último versículo: “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos, e sejais longânimos para com todos.”. E no verso 15 ele completa quanto à relação mútua entre as ovelhas: “Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem, entre vós, e para com todos.”.
Todas as cinco categorias a que nos referimos estão incluídas aí. E o modo como devemos tratá-las indica compaixão, nós devemos nos tratar mutuamente com bondade, compaixão e paciência, e enquanto sendo pacientes com os outros nós lutamos com nossas próprias fraquezas, preocupações, temores, dúvidas e maldade, e todas essas coisas devem ser tratadas com longanimidade e misericórdia, tanto em nós, como nos outros.
No Velho Testamento temos inúmeros exemplos da misericórdia aplicada por Deus na vida de Israel. Ao mesmo tempo que Ele é o Deus zeloso, exigente, completamente santo e justo, Ele é também o Deus longânimo, paciente e misericordioso que lida com o pecado das pessoas do Seu povo, e não os consome até que Ele tenha esvaziado a compaixão dele suplicando-lhes que abandonem as suas iniqüidades. Da mesma maneira que Ele é santo e íntegro é também compassivo. E esse é o modo que nós devemos ser. Nós podemos manter o padrão elevado. Nós podemos chamar as pessoas a uma vida santa e íntegra. Mas isso deveria ser equilibrado igualmente com um coração de compaixão, enquanto entendemos a luta em que todos nós estamos envolvidos por causa da nossa carne.
Em primeiro lugar, falemos do cabeçudo, as pessoas que ficam na margem de tudo. Eles são citados no verso 14, onde se diz: “admoesteis os insubmissos”. Em outras palavras, “os incontroláveis”. A palavra "incontrolável", ataktos, é usada apenas aqui, entretanto tem formas de cognato usadas em outro lugar como em 2 Tes, onde esta palavra tem basicamente a idéia de estar fora de linha (de forma) em uma coluna militar. Alguém que não entra em forma e que não acha qual é o seu lugar correto no grupo do qual faz parte. Poderia ser alguém que está com preguiça para fazer isto, que é inativo, ou alguém que só se guia pelo seu coração rebelde, ele não quer se conformar à verdade. Ele não quer estar envolvido.
A propósito, em II Tes 3.11,onde você tem outras formas da mesma palavra raiz, é usado para descrever alguém que é um intrometido preguiçoso. A preguiça pode impedir alguém de estar lá em linha conformado ao grupo que se move adiante. Pode se referir a um certo tipo de apatia. Mas também pode se referir a uma insubordinação geral a um líder, insubordinação geral a alguém que dirige, enquanto permanece fora de passo. E certamente isso é verdade na igreja. Há essas pessoas que só permanecem nas margens todo o tempo, eles são cabeçudos, eles são incontroláveis, você não pode mantê-los em linha, você não pode conduzí-los à posição onde eles fariam o que precisa ser feito. Eles faltam ao culto de domingo pela manhã. Eles também faltam aos cultos dominicais noturnos. Eles não participam de um grupo de comunhão. Eles nunca entram no ministério. Eles nunca realmente se comprometem em viver piedosamente e uma vida santa. Eles podem ser contenciosos, eles são normalmente não encorajadores em suas atividades.
Eu gosto de pensar neles como reservas sentados no banco, você sabe, eles nunca entram no jogo. Eles não podem entrar no jogo porque eles não têm um compromisso para jogar, eles não afiaram as habilidades deles para jogar, eles não são dedicados a isto. Eles não se preocupam com a causa. Em meu julgamento, reservas de banco se tornam normalmente os críticos negativos. Eles normalmente aparecem somente para criticar o que você está fazendo. Freqüentemente estas pessoas sentam na parte de trás, a menos que o lugar esteja cheio e não há nenhum outro assento. Eles não se sentam à frente porque eles não querem ninguém para testemunhar que eles poderiam ser responsáveis pelo que eles ouviram, eles ficam normalmente perto da porta, porque assim não podem ser responsáveis por qualquer coisa que eles poderiam ter ouvido. Eles querem assistir e eles normalmente querem criticar.
Como você lida com estas pessoas? Como se diz no verso 14: “Admoeste-os”. A palavra no grego é noutheteo, de onde vem a palavra noutético, que significa aconselhar. E é uma palavra maravilhosa, pretende aconselhar na luz quanto às conseqüências futuras, pretende advertir na luz do que está vindo. Nesse sentido é uma instrução. A.T. Robertson tem um modo maravilhoso de expressar isto, ele diz que pretende pôr senso em algo, dar para alguém algum senso do que eles estão fazendo e onde isto o está conduzindo. Exige uma certa proximidade e uma certa intimidade, fazer-se íntimo bastante para começar a pôr algum senso nas cabeças deles sobre o seu comportamento. É um reconhecimento que o comportamento precisa ser alterado, não através de castigo mas influenciando-lhes. É uma palavra positiva. E o que você quer fazer, de acordo com a definição de Cremer, é influenciar a mente deles, assim você quer lhes ensinar que o caminho em que eles estão é um caminho para disciplina ou castigo, e certamente isto é um caminho que está longe da bênção. Não há nenhum elemento de julgamento, nenhum elemento de farisaísmo, nenhum elemento de um senso de superioridade, de condenação, mas tem a idéia de vir ao lado de alguém para lhe advertir.
Temos uma ilustração disto em I Cor 4.14, onde Paulo diz: “Não vos escrevo estas cousas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados.”. Ele vai fazer diversas advertências e exortações nesta epístola, mas é com este espírito que ele as faz, com o intuito de tirá-los do caminho errado em que estavam andando. Em outras palavras, a minha meta não é envergonhar vocês, mas prevenir, para aconselhar (noutheteo) vocês como meus filhos amados. Assim o paradigma é este de um pai. É o tipo de advertência, é o tipo de instrução que você dá para um filho que você ama muito. Às vezes o filho não entende que você diz que “eu não vou lhe permitir fazer isto, eu não vou lhe permitir permanecer naquele caminho, eu não vou lhe permitir continuar mantendo aquele tipo de atitude ou aquele tipo de comportamento ou aquele tipo de relação porque eu o amo muito para permitir que se exponha às conseqüências disso.”. E um pai faz o que nós fazemos todo o tempo. Há conseqüências em certos caminhos e quando você sabe disso, você adverte e você adverte por amor. E às vezes a pessoa que você está advertindo não aprecia isso, às vezes os filhos não apreciam isso, às vezes os cristãos que são cabeçudos, que estão caminhando nas margens todo o tempo não entendem as implicações daquele tipo de vida e você pode adverti-los por amor e eles podem ver isto como julgamento, e eles podem tentar definir isto como tal, mas na realidade não é.
A atitude com que você faz isto é muito importante. A atitude com que você faz o que é essencial. E temos uma ilustração desta atitude em Atos 20.31: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas a cada um.”. Isso não é uma atitude de julgamento, isso é uma atitude de compaixão, aquela compaixão que é bondade, que é um coração quebrantado que diz: eu me aflijo por onde isso o está levando.
É assim que você trata com o cabeçudo. Você não deve lançar juízo sobre eles, você não os condena, você não amaldiçoa as vidas deles, nem os corta da comunhão. Você vem ao lado deles como um pai amando seu filho e entendendo onde a criança vai, trazendo-os de volta, e você faz isto com lágrimas de compaixão, aquela bela atitude que Deus demonstra para com os pecadores.
Em segundo lugar, falemos do preocupado. Estas não são as pessoas que ficam nas margens, estas são as pessoas que ficam no meio, o grupo do tipo sem fé. Paulo diz em I Tes 5.14: “Consoleis os desanimados”, em outras palavras, “encorajam os de coração lânguido”. Aqui está descrito o preocupado. A palavra para “desanimado” no original grego, tem o significado de “alma pequena”. oligopsuchos significa uma alma pequena. É o oposto de megalopsuchos, pessoa de alma grande. Aristóteles, definiu o homem ideal como alma grande. Em outras palavras, aquele que pode enfrentar todos os tipos de coisas. Ele era aventureiro, ele era corajoso. A pessoa que é de alma pequena não quer arriscar a sua vida por uma causa nobre, ainda que seja a causa do Evangelho, ele não está disposto para pôr a vida dele na linha e não está disposto para enfrentar desafios, ele não é destemido em face da dificuldade e tem medo da perseguição.
Mas na igreja há o preocupado, que é de alma pequena, que odeia mudanças, teme o desconhecido, e se preocupa com tudo o que lhe possa acontecer. Eles são pessoas negativas. Eles vêem o lado ruim de tudo. A aflição sou eu. Falta-lhes coragem, eles não querem tentar qualquer coisa. E se você muda a rotina deles eles entram em pânico. Eles são os tradicionalistas. Eles querem o que está seguro. Eles querem o que está livre de risco. Eles não estão seguros em se relacionar com incrédulos porque de alguma maneira eles poderiam ser corrompidos, e assim o evangelismo deles é mínimo senão inexistente. Eles ficam no meio e com seus umbigos santificados e se sentem seguros em seu pequeno grupo. Facilmente se desanimam, facilmente ficam derrotados, falta-lhes a força para mudar, falta-lhes a força para conduzir, e igualmente falta-lhes a força para seguirem os líderes... eles têm medo que eles lhes ordenem algo que possa vir a dar errado. Todas as crises da vida são mais do que eles possam agüentar. E eles podem achar uma razão por que nada deveria mudar. Estas são pessoas difíceis para se tratar com elas. Falta-lhes visão. Eles temem o fracasso. Falta-lhes a coragem para testemunhar.
Agora o que você faz com estas pessoas? O verso 14 diz: “consoleis os desanimados”. Encoraje-os. Console-os. O significado básico do verbo é falar com alguém estando ao lado dele. Você se aproxima dessas pessoas e lhes fala. Novamente você tem uma responsabilidade pedagógica fundada em uma amizade. Você constrói uma relação com eles. Você se coloca ao lado deles para confortar, consolar, fortalecer, alegrar, refrigerar, renovar, reavivar. Você está lá para encorajá-los e edificá-los.. O ministério de encorajamento é tremendo e maravilhoso. E a igreja precisa estar se ocupando com isto em todo o tempo. Não fique intimidado com aquilo que eles são. Provavelmente eles tenham tido algumas razões para terem ficado desse modo... poderia ter sido algumas coisas no passado deles, alguns fracassos, algumas dificuldades na sua infância, decepções sofridas na vida, e na maioria das vezes pode ser uma compreensão imatura da bondade e grandeza de nosso Deus. Podem ser também esses tipos de coisas combinados que os tornaram tão cautelosos, tão inativos, tão incapacitados para enfrentarem a vida, na igreja e fora dela.
Eles precisam ser encorajados ternamente. Eles precisam ser trazidos para o seu lado de e você os traz para o lugar de força. Você lhes dá o conforto de seu companheirismo, o encorajamento da sua oração. Fale a eles que você está orando para que eles sejam fortalecidos, e para serem corajosos e saírem para fora do lugar em que se encontram de imobilidade. Você lhes dá o conforto da esperança, o que Deus planejou para o futuro e que Deus está construindo a Sua igreja e eles são uma parte disto. Você lhes dá o encorajamento de uma salvação segura que nunca pode mudar. Você lhes dá o encorajamento do propósito soberano de Deus e providência, que faz tudo cooperar juntamente para o bem deles. Você lhes dá o encorajamento da ressurreição gloriosa final, o encorajamento do privilégio de compartilhar os sofrimentos de Cristo e o encorajamento de viver por fé e ver Deus demonstrar o Seu poder quando você arrisca tudo para fazer o que você sabe que a Palavra dele lhe ordena que faça.
Em terceiro lugar temos o fraco. Paulo diz: “Ampareis os fracos”. Estas são as pessoas às quais falta a força moral e por conseguinte falta a força espiritual. Estes não são totalmente o tipo preocupado, medroso, estes são o tipo que é sempre derrubado pela tentação. Estes são o tipo de pessoas que muito freqüentemente virão repetidamente a mim durante o ano, durante os anos e dirão: "eu... eu não sei se eu realmente sou um crente, eu ainda desejo saber se eu sou um crente.". Eu tenho tido este tipo de conversação com algumas pessoas em nossa igreja, e você acredita que até por sete a oito anos, em alguns casos ? Por que? Porque eles vão bem durante algum tempo e então voltam aos padrões de pecado e tentação e a espiral é descendente e então quando você fica operativo na carne, e você perdeu a vitória, você entra no padrão de pecado, e uma das coisas que vão junto é sua confiança e sua segurança relativa à salvação. E então há aquela luta. As pessoas que estão assim espiritualmente... passam a viver em padrões de injustiça e literalmente e por conseguinte como diz Pedro, eles ficam esquecidos que os seus pecados são perdoados. Eles não podem se agarrar à nada porque eles perderam pela sua desobediência ... a confiança e a segurança que o Espírito de Deus dá aos crentes obedientes.
Alguns deles podem ser fracos porque eles caem continuamente na mesma tentação. Isto vai e volta. Vai e volta. E eles são sempre vencidos por aquela arremetida ininterrupta. Eles parecem nunca poderem ficar acima disto. Talvez eles sejam espiritualmente imaturos, talvez eles têm padrões a longo prazo que são duros de quebrar, ou eles estão em posições onde eles são influenciados por coisas más, e eles não podem estar de pé contra aquilo.
O que fazemos com essas pessoas? O verso 14 diz: “Ampareis os fracos”, em outras palavras, ajude-os. Literalmente o verbo aqui significa “segurar firmemente”, colocar seus braços ao redor deles para sustentá-los. Eles são muito fracos. Você precisa abraçá-los e eles precisam de sua força.
Temos uma ilustração disto em Tg 5.7-11. O que eles estavam fazendo ? Estavam perseguindo os crentes até ao ponto da morte. E assim Tiago está escrevendo para estes crentes que estão debaixo desta perseguição terrível. Ele fala dos ricos que os estavam arrastando aos tribunais. Mas que estariam debaixo do juízo de Deus e a alegria deles se transformaria em tristeza. Agora ele diz a eles no verso 7 para serem pacientes, para aceitarem a perseguição. No verso 8, ele reforça o pedido para que sejam pacientes, e pede que fortaleçam os seus corações. Isto não é fácil, quando se está fraco debaixo da pressão terrível da perseguição, isto se torna uma tentação para não colocar a confiança em Deus, até mesmo para ficar chateado com Deus, perder a esperança, perder a fé e perder a alegria. E ele lhes lembra no verso 10 do exemplo de sofrimento e paciência deixado pelos profetas. E então no verso 11, ele cita a perseverança de Jó e o resultado dos procedimentos de Deus para com ele, como que Deus está cheio de terna misericórdia e compaixão. Deus entende que você sofre. Ele entendeu o sofrimento de Jó e de todos os profetas. Isaías que foi serrado ao meio, Jeremias que foi lançado numa cova. Você precisa ser paciente. Não fique irado.
E no verso 13 Tiago diz: "Está alguém entre vós sofrendo ? Faça oração. Está alguém alegre ? Cante louvores.”. E então no verso 14: "Está alguém entre vós doente?". Numa tradução melhor, eu penso, seria fraco. Ele está falando de alguém que desmoronou literalmente debaixo desta arremetida, dificuldade, tentação, sofrimento, perseguição. E se esta pessoa for você, então aqui está o que você deve fazer: "Chame os presbíteros da igreja.”. Aqui está uma pessoa que é fraca, uma pessoa que cometeu pecado em fraqueza. Chame os anciãos para que façam oração sobre você, ungindo-o com óleo em nome do Senhor.
A unção com óleo não é uma referência a qualquer unção cerimonial. Provavelmente o que está em foco aqui é a massagem das feridas e contusões dele com azeite. Poderia até mesmo ser que ele tivesse sido chicoteado e abusado pelos ricos e talvez ele precisasse de uma unção física para curar algumas das suas feridas. Mas a idéia é que os anciões se tornam para ele uma fonte de força e encorajamento. E a oração, citada no verso 15, fortaleceria reavivando o que está fraco e o Senhor o levantaria perdoando os pecados que houvesse cometido.
Eu penso que mais do que cura física, esta passagem se refere à restauração de uma pessoa que estava espiritualmente fraca, em razão provavelmente das provações que estava sofrendo, como vemos na introdução da carta de Tiago que recomenda alegria na provação, e o confirma no último capítulo em que pede paciência e fortalecimento do coração diante da prova que estavam sofrendo. O encorajamento dos anciãos da igreja, o seu amparo dos fracos é essencial especialmente nos momentos difíceis pelos quais a igreja esteja passando. Eles podem amparar os fracos com suas orações e com a sua força espiritual.
Gál 6.1,2 apresenta este mesmo ensino de amparar os fracos: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.”. Quando alguém caiu, tropeçou em algum pecado, o espiritualmente forte ponha os seus braços ao redor dele e o erga para cima.
E então por último o pesado. E nós já os mencionamos antes. O pesado está descrito no fim de I Tes 5.14: "Sejais longânimos para com todos.”. Em outras palavras seja paciente com eles. Você lida com eles e você lida com eles e você volta a lidar com eles, e você lida novamente e novamente e novamente e eles concordam superficialmente ou eles não concordam ou não fazem, e então eles se retiram e logo depois continuam exasperando, frustrando, desapontando, desencorajando, e até mesmo lhe enfurecendo porque eles nunca parecem ter êxito. Eles resistem a todos os esforços para serem ensinados, treinados, disciplinados, exortados, fortalecidos, inspirados, motivados, e eles logo o exasperam. Não têm grande interesse por assuntos espirituais. E estas pessoas queridas testam a paciência de todo mundo.
Como nós lidamos com eles? Paulo diz: “sejam longânimos”. Isto é, sejam pacientes com eles. A palavra para longânimo é “sofrimento longo”. Prepare-se para uma transação a longo prazo. Você não os pode levantar rápido. Eles darão muito trabalho. E Deus é paciente, Ele não é? Isso é uma qualidade divina, paciência com as pessoas, e isto nos testa. Eu às vezes penso que eles estão lá por causa de um propósito divino. Porque Deus não fez a todos fortes ? Parece que através deles Ele nos está dizendo: este sujeito é seu teste para ver se você tem paciência parecida com a de Cristo. Quando você se determina em parar a ajuda porque considera aquele sujeito como um caso perdido, e pergunta a si mesmo o que mais poderia fazer, você deve se lembrar que a sua paciência cristã está sendo colocada à prova através daquela vida. Você se lembra da paciência de Jesus com os seus discípulos ? Você deve imitá-la. O que faremos com eles? Eles nos causam sofrimentos. Seja paciente, sofra com eles, seja igual a Deus que há muito tempo sofre com você, esperando transformá-lo em alguém melhor, mais parecido com Cristo.
E finalmente o mau. Eles são o assunto do verso 15. "Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem, entre vós e para com todos.”. Aqui você tem o mal, kakos, as pessoas que fazem coisas más. E este é o mais difícil, o problema mais sério de todos são estas pessoas que praticam o mal. Eles prejudicam diretamente com palavras más que atingem a igreja e as pessoas que atacam. Eles prejudicam indiretamente por fofoca e difamação. Eles prejudicam colocando alguém para fora do companheirismo, sendo ciumentos, odiosos, amargos, invejosos, irados. Eles dizem coisas que não são verdades. Eles semeiam discórdia. Eles roubam a virtude. Eles conduzem as pessoas em pecado. Eles cometem iniqüidades que poluem a igreja. Eles operam o dano malicioso.
O que faz você com eles? Paulo diz "Não retribua mal por mal; pelo contrário segui sempre o bem.”. Busque o que é bom para eles. Não busque a vingança, a vingança pessoal. O que você faz? Você busca o que é bom. O que é bom? Procure levá-los ao arrependimento.
O único que tem direito para retaliar é Deus. Você deve buscar a restauração deles. Você deve sempre buscar o que é bom para eles. Sempre procure o que é bom, nobre, bonito. Você lhes dá atos de amor em face da hostilidade deles. Você acha o caminho da bondade, não o caminho da vingança.
Aprender a fazer isto é uma coisa muito importante. Sempre que alguém o maltratar e alguém estiver causando problemas, alguém que é injusto, você tenta achar o caminho da bondade. Agora se eles continuam naquele pecado há um padrão de disciplina do Novo Testamento que deverá ser colocado em prática (Mt 18). Mas em sua aproximação você faz tudo que estiver ao seu alcance para trazê-los ao lugar de arrependimento, de forma que eles possam ter a oportunidade de desfrutar a bondade de Deus na obediência deles.
O crescimento de um rebanho precisa de grande cuidado porque a igreja está cheia de pessoas com problemas. E uma das atitudes que nós temos que ter em relação a eles, além da atitude de perdão, de amor, de bondade, é especialmente uma atitude de compaixão, misericórdia, longanimidade, paciência.
O trabalho do pastor no meio das ovelhas, lembra muito o trabalho de um pastor no campo com o seu rebanho. Por isso a Bíblia chama o povo de Deus de rebanho de ovelhas. Porque estas exigem muito cuidado, atenção, paciência, trabalho, para serem apascentadas. No caso da igreja, que é formada por pessoas, e pessoas que são pecadoras, e por conseguinte, têm muitas falhas, este trabalho é ainda maior e exige sabedoria, dedicação, e aplicação especialmente por parte daqueles que têm a responsabilidade de cuidar do rebanho, mas exige, como já dissemos, principalmente do exercício da misericórdia, não como um mero sentimento, mas com as atitudes práticas que foram apresentadas ao longo deste nosso estudo.
Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, em domínio público, de autoria do Pr John Macarthur Jr