Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Santificação de Espírito, Alma e Corpo 
 
O conjunto de exortações que Paulo dirigiu aos tessalonicenses neste capítulo, não deixa nenhum espaço para uma interpretação de que estivesse dizendo que os cristãos de Tessalônica não se preocupassem com o assunto da segunda vinda do Senhor, porque afinal todos não eram da noite, senão do dia, e assim, poderiam ter por certo que seriam arrebatados na volta do Senhor, e que tudo iria bem tanto para os cristãos que estavam sendo constantes em sua vigilância espiritual, quanto para aqueles estavam sendo negligentes.
Uma interpretação deste tipo está completamente incorreta e destrói tudo quanto não somente o apóstolo Paulo se esforçou quanto o próprio Senhor Jesus Cristo e os Seus demais apóstolos se esforçaram, para nos ensinar, no sentido de que os cristãos vigiem e se santifiquem para que sejam achados vivendo de modo digno da vocação deles no dia da   volta do Senhor para arrebatar a Sua Igreja.
Assim, as palavras de Paulo devem ser interpretadas da seguinte forma, como se ele tivesse dito: “Jesus voltará e vocês sabem disso, e assim como foram chamados para encontrarem com Ele para estarem para sempre na Sua santa presença, vocês devem vigiar e se esforçar para viverem de tal modo, que sejam sempre achados na condição de santidade, na qual devem se encontrar com Ele quando da Sua vinda.”  
Foi para que nenhum cristão pensasse que o livramento deles da ira vindoura seria por qualquer mérito deles, e não pela exclusiva graça de Jesus, que Paulo disse aos tessalonicenses no verso 10 que:
“Jesus morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele.”
Isto é de suma importância para ser lembrado, para que saibamos sempre qual é o caráter da nossa vigilância e santificação. Ele é evangélico.
Isto significa que sempre haverá alguma imperfeição nas nossas obras, mas Deus não nos condenará porque Cristo morreu por nós. E nos ressuscitou juntamente com Ele para uma nova vida, que já não morre eternamente.
Entretanto, isto não significa que estamos desobrigados de nos empenharmos em plena diligência na busca de uma santificação completa de espírito, alma e corpo (v. 23).
Até mesmo porque esta nova vida sobrenatural deve ser mantida e aumentada por tal santificação, sem o que, ela morrerá, ainda que, como já dissemos, não para uma morte eterna, mas para um viver sem a plenitude e o mover do Espírito, enquanto estivermos neste mundo.  
Para evitar ainda uma distorção deste seu ensino, Paulo disse logo no verso seguinte (v. 11), que os tessalonicenses deveriam se exortar mutuamente, e também edificar uns aos outros, como vinham fazendo até então. Isto é, apesar da salvação não ser pelo mérito, é exigido perseverança, diligência e santificação de todos os cristãos.
Deus não afrouxa o padrão para nenhum dos Seus filhos, quanto ao modo como devem viver. Porque assim o exige a Sua perfeita justiça e santidade. O grande motivo para a santidade é que o cristão estava morto em delitos e pecados antes da conversão, mas Cristo lhe deu vida. E esta vida foi recebida para ser vivida de modo inteiramente santo. 
Há muitas coisas que os cristãos devem obedecer e guardar.
Por isso, depois de ter apontado alguns dos deveres da Igreja quanto à necessidade de vigilância e santificação, com vistas ao encontro com o Senhor, Paulo lhes exortou que se submetessem aos líderes que o Espírito Santo constituiu sobre eles, para velarem por suas almas, uma vez que Deus lhes tem preparado e suprido com dons e talentos espirituais, para regerem o Seu povo, e cuidarem dos interesses do Seu Reino através da Igreja. 
Eles devem reger, não com rigor, mas com amor. Eles não devem exercer domínio como senhores temporais; mas reger como guias espirituais, servindo de exemplo para o rebanho.
Eles estão em governo sobre os cristãos não como os magistrados civis, porque eles são auxiliares de Cristo, e devem reger pelas leis de Cristo, e não pelas próprias leis deles.
Então, com vistas a facilitar o trabalho destes líderes relativo ao aperfeiçoamento dos cristãos para a obra do ministério,  Paulo exortou os tessalonicenses a terem aqueles que presidiam sobre eles, em máxima consideração, isto é, lhes dando a devida honra que devem receber, conforme é da vontade de Deus.
O trabalho dos pastores deve ser reconhecido, porque como está no original grego, a expressão “que trabalham entre vós”; significa trabalhar até à exaustão.
Os que presidem o rebanho, no Senhor, devem trabalhar desta forma, e fazer isto entre os irmãos, na convivência com eles, e não distantes como supervisores seculares.
Muito do trabalho destes líderes consiste em admoestar, isto é, disciplinar o rebanho através de conselhos e repreensões (v. 12).   
Como velam pela alma dos cristãos devem receber grande estima e amor de suas ovelhas por causa do trabalho que realizam. Este trabalho deve ser feito em paz entre os pastores e as ovelhas (v. 13).  
Grande parte deste trabalho dos pastores consiste em prevenir o rebanho dos muitos perigos espirituais, através da Palavra de Deus.
Os pastores foram preparados por Deus para manejarem bem a Sua Palavra, especialmente para este fim.
Por isto não somente o pastor deve conhecer suas ovelhas, como estas devem conhecê-lo, para que possam dar a devida consideração ao seu ensino e exortações, sabendo que procedem de fato do Senhor, por causa do testemunho da sua vida. 
O trabalho na Igreja deve ser feito em paz tanto entre os líderes e as ovelhas, como estas entre si.
Para tanto há necessidade de que se ande na verdade; que se viva e que se ande no Espírito, de modo que é dever de todos, em exercício de amor, e estando amadurecidos no amor, admoestar os insubordinados, consolar os desanimados, amparar os fracos, e usar de longanimidade para com todos, isto é, com todas estas pessoas e com quaisquer outras que estejam vivendo numa condição que demande o auxílio dos seus irmãos em Cristo.
Muitos vêm nesta exortação do apóstolo, uma oportunidade para ferir os seus irmãos, mas não é este de modo algum o propósito desta sua exortação; porque visa à manutenção da paz na Igreja; e não promover divisões.
Visa à restauração do cristão insubordinado, isto é, daquele que tem resistido à prática da Palavra de Deus, que em última instância é o mesmo que resistir ao Espírito Santo, porque é o autor desta Palavra para que seja obedecida por nós. Estes devem então ser admoestados, isto é, serem aconselhados e  repreendidos em amor, para que se arrependam.
A exortação do verso 14 visa também a consolar os desanimados, que podem estar recuando na fé por causa das suas perplexidades diante das tribulações e provações que estejam experimentando; ou que por qualquer outro motivo estejam perdendo o seu fervor por Cristo.
Estes devem ser ajudados a ver o propósito de Deus nas coisas que estão padecendo, que não visam à sua destruição, senão a lhes ensinar a serem perseverantes e para que possam ser amadurecidos espiritualmente.
Eles devem ter um ombro amigo ao seu lado, para ajudá-los a atravessar os seus vales de aflição.
É aplicando o mandamento de chorar com os que choram, que cumprimos esta exortação do apóstolo de consolar os desanimados.    
Os fracos que devem ser amparados são aqueles que têm dúvidas quanto à certeza da sua salvação, porque não conseguem ser diligentes em toda a vontade de Deus.
Eles são fracos, porque não aprenderam ainda a confiar inteiramente em Cristo, em sua caminhada neste mundo.
Estes devem ser amparados, e não admoestados. Devem ser amparados especialmente por nossas orações, até que aprendam a prevalecer com a própria fé deles. 
Quando disse que devemos ser longânimos para com todos, o apóstolo estava falando da necessidade de se usar da prática da longanimidade em todas estas ações referidas anteriormente, isto é, este trabalho deve ser feito com paciência, sem que percamos a nossa paz ou então que nos irritemos com aqueles que necessitam ser admoestados, consolados e amparados.   
Por princípio básico na vida de um cristão, ele nunca deve retribuir o mal que receber de outros, antes deve permanecer na prática do bem, não apenas em relação para com os que são da Igreja, como também em relação aos que não pertencem a ela (v. 15).  
Todas estas exortações que foram dadas por Paulo aos tessalonicenses, até este ponto da epístola e mais as que encontramos nos versos 16 a 22, configuram a base da santificação total a que ele se refere no verso 23, de todo o espírito, alma e corpo.
Assim, a santificação consiste na conexão de todas estas exortações, na prática de tudo o que nos tem sido ordenado por Deus na Sua Palavra. 
O regozijo constante ordenado no verso 16 não é uma alegria carnal, mas uma atitude espiritual, que é promovida pela graça no coração.
Aflições e tristezas acompanham o cristão neste mundo, mas ele deve ter bom ânimo em todas as aflições que experimentar, por meio deste regozijo espiritual em seu íntimo, no Senhor.
A certeza da salvação, a operosidade no mundo espiritual especialmente pela dedicação à obra do evangelho, trará ao cristão este regozijo no seu espírito, apesar das aflições que possa estar experimentando no seu homem exterior, isto é, na sua alma e corpo.   
Para este regozijo e a atitude de gratidão permanente a Deus em toda e qualquer circunstância (v. 18) é preciso orar sem cessar (v. 17). 
  É importante considerar que ao falar sobre o dever de não se extinguir o Espírito Santo (v. 19), Paulo disse logo adiante no verso 20, que não se deve desprezar profecias, com o dever de colocar tudo à prova, para reter o que é bom.
Isto porque, muito do ato de não se resistir ao trabalho do Espírito, em plena cooperação com este trabalho consiste, sobretudo, no exercício dos dons espirituais, e por isto Paulo nomeou o de profecia, que é um dos principais dons sobrenaturais extraordinários do Espírito para a Igreja.
Estes dons exaltam a Cristo porque trazem a firme convicção de suas operações quando o Seu povo está reunido na Igreja para a adoração do Seu santo nome. 
Reter os dons é o mesmo que apagar o Espírito. Reter os dons é uma forma de pecado, e sabemos que todo tipo de pecado entristece o Espírito, por conseguinte apaga as Suas operações. Extinguir o Espírito é o mesmo que deixá-lo do lado de fora da congregação.
Por nossa atitude de não se dar receptividade e boa acolhida ao Espírito, deixando de se dar liberdade às suas operações, nós O extinguimos, e  ninguém deveria ser achado culpado de tão grande pecado.
É dito que os cristãos seriam batizados com o Espírito Santo e com fogo. O Espírito trabalho como o fogo, iluminando, estimulando e purificando as almas dos homens. Nós devemos então ter o cuidado de não extinguir este fogo santo.
Não podemos julgar a obra do Espírito pela medida das nossas convicções teológicas, que não tenham verdadeiro apoio nas Escrituras.
Estas resistências são como baldes de água fria que apagarão ou impedirão que o Espírito queime como fogo no nosso espírito, purificando-nos e capacitando-nos para a obra do Senhor. 
Nós devemos ter cuidado para não apagar o fogo do Espírito com luxúrias e afetos carnais, e por dar somente atenção às coisas que são terrenas.
Para não se aceitar tudo como sendo a manifestação real do Espírito Santo, porque o Inimigo pode imitar os dons sobrenaturais extraordinários citados nos capítulos 12 e 14 de I Coríntios, onde Paulo disse para examinarmos todas as coisas, corrigindo ou descartando as imitações e os excessos, que podem ocorrer quando a congregação está debaixo do mover do Espírito.
Deus é de paz e de bem. Não pode de maneira alguma promover o que não é de paz ou o que seja mau. Deste modo, todos os cristãos devem se abster de toda forma de mal (v. 22), inclusive da aparência do mal.
Se os cristãos devem ser conservados plenamente irrepreensíveis pela santificação total de espírito, alma e corpo, para a vinda do Senhor (v. 23), como podem então ter isto sem praticar tudo o que lhes tem sido ordenado por Deus em Sua Palavra?  
Os cristãos foram salvos pelo Senhor para serem santificados, porque na condição de filhos de Deus, serão submetidos ao trabalho da graça, pelas operações do Espírito, que os conduzirá à perfeita imagem e semelhança de Cristo, de modo que serão achados na glória em plena santidade, assim como Ele é santo.
Este trabalho de santificação é todo realizado pelo Espírito Santo, pela aplicação da Palavra, que é o meio da nossa santificação, para a mortificação do pecado e para o revestimento das virtudes de Cristo.
Desta forma, Deus que chamou os cristãos para este propósito, haverá de cumpri-lo com certeza (v. 24).
Todo cristão tem o dever de se santificar, e faria bem em se dedicar a isto com toda diligência, porque este é o grande propósito de Deus para a sua vida, e foi para isto que foi salvo por Cristo. 
Tal é a importância da aplicação a este dever, que Paulo exortou os tessalonicenses debaixo de conjuração, que todos lessem esta epístola (v. 27), e não somente eles, como também nós, faremos bem em lê-la para colocar em prática as coisas que nos são aqui ordenadas, para que tudo vá bem com nossas vidas, lares e Igreja. 
Ao fechar a epístola ele pediu que os tessalonicenses orassem por ele, e que saudassem a todos os irmãos com ósculo (beijo) santo (v. 25,26).
Como tudo o que deve ser vivido e praticado pela Igreja depende inteiramente de que os cristãos estejam fortalecidos na graça de Jesus, ele encerra a epístola desejando que a graça do Senhor fosse com eles (v. 28). 
 
 
“1 Mas, irmãos, acerca dos tempos e das épocas não necessitais de que se vos escreva:
2 porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor virá como vem o ladrão de noite;
3 pois quando estiverem dizendo: Paz e segurança! então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão.
4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que aquele dia, como ladrão, vos surpreenda;
5 porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas;
6 não durmamos, pois, como os demais, antes vigiemos e sejamos sóbrios.
7 Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite;
8 mas nós, porque somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação;
9 porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,
10 que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele.
11 Pelo que exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros, como na verdade o estais fazendo.
12 Ora, rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam;
13 e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós.
14 Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos.
15 Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, uns para com os outros, e para com todos.
16 Regozijai-vos sempre.
17 Orai sem cessar.
18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
19 Não extingais o Espírito;
20 não desprezeis as profecias,
21 mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom;
22 Abstende-vos de toda espécie de mal.
23 E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
24 Fiel é o que vos chama, e ele também o fará.
25 Irmãos, orai por nós.
26 Saudai a todos os irmãos com ósculo santo.
27 Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os irmãos.
28 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.”. (I Tessalonicenses 5.1-28)
 
 
 
 
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 25/12/2012
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