Endireitando o Pau Torto
O pecador é transformado em santo quando nasce de novo pelo Espírito.
Na sua conversão ele é santificado ao ser transformado em uma nova criatura.
Ele recebe um novo coração, uma nova natureza, a natureza divina, e assim tem acesso à santidade que o faz aceitável a Deus.
Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo se refere aos cristãos em todas as suas epístolas, chamando-os de santos, apesar de muitos deles serem ainda carnais, como, por exemplo, eram muitos dos cristãos coríntios (I Cor 1.2; 6.11; 14.33; II Cor 1.1; 13.12; Ef 1.1; 2.19; Fp 1.1; Col 1.2; Jd 3) que eram santos, separados para Deus, apesar de não serem ainda cristãos espirituais.
Entretanto, aquele que foi santificado pelo Espírito, é chamado a prosseguir em santidade, através do processo de santificação, que não deve cessar ao longo de toda a sua vida (Jo 17.17,19; Ef 4.12;I Tes 5.23; Apo 22.11).
Este processo consiste basicamente no despojamento das obras da carne (natureza terrena) e do revestimento das virtudes de Cristo.
O texto de Hebreus 12.14 diz, “segui a paz com todos e a santificação” – ambas as coisas, tanto a paz quanto a santificação devem ser seguidas de forma prática.
Se a santificação tivesse sido obtida em sua forma plena e final na regeneração (novo nascimento), não haveria necessidade de se mandar segui-la, ordenança que não se aplica à justificação, por ter sido obtida de uma vez para sempre na conversão.
Santificação é conformidade à vontade de Deus, e obediência aos mandamentos do Senhor. Isto é o trabalho do Espírito na alma, pelo qual o homem é feito semelhante a Deus, e torna-se participante da natureza divina, sendo livrado da corrupção que há no mundo através da cobiça.
Não é dito em Heb 12.14 “perfeição de santificação”, mas, “santificação”.
A santificação é uma coisa que cresce.
Ela pode ser na alma como o grão de mostarda, e ainda não estar desenvolvida; ela pode ser uma vontade e um desejo no coração, um suspiro, uma aspiração.
Com as águas do Espírito de Deus, ela crescerá como o grão de mostarda até se tornar uma árvore.
A santificação, no coração regenerado, é como criança, não está madura – está perfeita em todas as suas partes, mas não perfeita no seu desenvolvimento.
Uma criança é um ser perfeito, mas não quanto ao desenvolvimento que ainda terá até ser uma pessoa madura.
Por conseguinte, quando nós achamos muitas imperfeições e muitas falhas em nós mesmos, não devemos concluir que isto significa que não temos interesse na graça de Deus.
A santificação requer que o coração esteja em Deus, e que pulse de amor por Ele.
“Sem santificação ninguém verá o Senhor”.
Isto quer dizer, nenhum homem pode ter comunhão com Deus nesta vida, e na vida por vir, sem santidade.
“Podem dois caminharem juntos se não houver entre eles acordo?”.
Santificação é uma palavra que significa mais do que purificação, porque ela inclui mais do que a ideia de sermos limpos, ela inclui também a necessidade de estarmos adornados com todas as virtudes de Cristo.
“Por causa deles eu me santifico a mim mesmo”. Estas são palavras que foram proferidas por Jesus em Jo 17.
No caso do Senhor não pode significar purificação do pecado, porque ele não tinha pecado.
A santificação do Senhor era sua consagração ao completo propósito divino, sua absorção na vontade do Pai.
Assim, nossa própria santificação também significa a nossa consagração à vontade de Deus, além da nossa purificação, já que somos pecadores.
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Ninguém pode santificar uma alma mas somente o Todo Poderoso Deus, o grande Pai dos espíritos.
Somente aquele que nos fez pode fazer-nos santos.
A regeneração é onde a santificação começa, é totalmente o trabalho do Espírito de Deus.
Cada pensamento sobre santidade, e cada desejo posterior por pureza, vêm somente do Senhor, porque nós, por natureza, somos inclinados ao pecado.
Assim que a última vitória sobre o pecado em nós, e sermos feitos perfeitamente como o nosso Senhor, deve ser inteiramente o trabalho do Senhor Deus, que faz novas todas as coisas, desde que não temos nenhum poder para realizar tão grande trabalho em nós mesmos.
Isto é uma criação (Tg 1.18). Nós podemos criar esta nova vida?
Isto é uma ressurreição. Nós podemos levantar da morte, pelo nosso próprio poder?
Nossa natureza degenerada (terrena) pode estar rumando em direção à putrefação, mas não pode jamais retornar à pureza ou à perfeição por si mesma; por isto está sentenciada à morte, pela nossa identificação com a crucificação de Jesus, e temos recebido uma nova natureza de Deus pela fé, que está realizando em nosso espírito um trabalho de santificação, e isto é de Deus, e de Deus somente.
Uma santificação real é inteiramente do início ao fim o trabalho do Espírito do Deus bendito.
Veja então que grande coisa é a santificação, e como é necessário para isto que o nosso Senhor orasse ao seu Pai: “Santifica-os na verdade”.
Todavia, somente a verdade não santifica o homem.
Ele pode permanecer num credo ortodoxo, mas se isto não tocar o nosso coração e influenciar o nosso caráter, qual é o valor da nossa ortodoxia?
Não é a doutrina que, de si mesma, nos santifica, mas o Pai santifica usando a doutrina como meio.
A verdade é o elemento em que nós devemos viver para sermos santos.
A falsidade (mentira) conduz ao pecado; a verdade conduz à santidade; mas há o espírito mentiroso, e há também o Espírito da verdade, e por estes o erro e a verdade são usados como meios para se atingir o fim, respectivamente.
A verdade deve ser aplicada com poder espiritual à mente, à consciência, ao coração, senão o homem pode receber a verdade, e ainda permanecer na injustiça.
Eu creio que isto é a coroação do trabalho de Deus no homem, que seu povo seja perfeitamente livre do mal.
Ele os escolheu para que sejam seu povo particular, zeloso de boas obras; Ele os redimiu para que fossem livres de toda a iniquidade, e purificados; ele os chamou efetivamente para uma elevada e santa vocação, a saber para a verdadeira santidade.
Todo o trabalho do Espírito de Deus na nova natureza tem em mira a purificação, a consagração, o aperfeiçoamento de todos aqueles que Deus, em amor, tomou para Si.