Estamos Santificados? - Parte 1
Esta é a pergunta de maior importância para as nossas almas.
Se a Bíblia é a verdade, e é certo que é, a menos que nós sejamos santificados, nós não seremos salvos.
Há três coisas que de acordo com a Bíblia, são absolutamente necessárias à salvação de cada homem e mulher cristão.
Estas três coisas são a justificação, a regeneração e a santificação.
Aquele em quem falte alguma destas três coisas, não poderá ir para o céu quando morrer.
Onde, então está o dano em perguntar, “estamos santificados ?”.
Onde está o bom senso de rejeitar a inquirição?
Esta é uma questão muito apropriada para ser tratada nos dias atuais.
Estranhas doutrinas têm se levantado ultimamente sobre todo o assunto da santificação.
Alguns parecem confundi-la com a justificação. Outros a fragmentam em nada, sob o pretenso zelo pela livre graça.
Outros levantam um erro de uma santificação padrão diante dos seus olhos, e falham ao tentar alcançá-la em suas vidas através de repetidas mudanças de igreja a igreja, na vã esperança que eles acharão o que eles desejam.
Num dia como este, o calmo exame da pergunta em título, pode ser de grande utilidade para nossas almas.
Em primeiro lugar, nós temos que considerar a natureza da santificação. A que se refere a Bíblia quando fala de um homem “santificado”?
Santificação é o trabalho espiritual interior que o Senhor Jesus Cristo opera no homem pelo Espírito Santo, quando Ele o chama para ser um autêntico cristão, separando-o do seu natural amor ao pecado e ao mundo, e põe um novo princípio em seu coração, e o torna praticamente devoto em sua vida.
O instrumento pelo qual o Espírito efetua este trabalho é geralmente a Palavra de Deus, embora algumas vezes Ele utilize as aflições e visitações providencias.
O sujeito deste trabalho de Cristo pelo seu Espírito, é chamado na Escritura de homem santificado.
Aquele que supõe que Jesus Cristo somente viveu e morreu e ascendeu ao céu para prover justificação e perdão dos pecados do Seu povo, tem ainda muito que aprender.
Enquanto ele não sabe isto, está desonrando o nosso bendito Senhor, e fazendo-lhe somente um Salvador pela metade.
O Senhor Jesus tem se responsabilizado por tudo que as almas do seu povo necessitam; não somente em livrá-las da culpa de seus pecados, através da Sua morte expiatória, mas pelo domínio dos seus pecados, pela habitação do Espírito Santo em seus corações; lhes santificando.
Ele é, assim, não somente sua justiça, mas também sua santificação (I Cor 1.30).
Ouça o que a Bíblia diz em Jo 17.19; Ef 5.25-27; Tt 2.13,14; I Pe 2.24 e Col 1.22.
Deixe-me apresentar o significado destes cinco textos cuidadosamente considerados.
Se palavras significam algo, elas ensinam que Cristo toma para si a responsabilidade pela nossa santificação, não menos do que pela justificação.
Ambas são igualmente providas porque neste pacto eterno está ordenado em todas as coisas e certamente, que o Mediador é Cristo.
De fato, Cristo em Heb 2.11 é chamado “o que santifica”, e Seu povo, “os que são santificados”.
O assunto diante de nós é tão profundo e de vasta importância, que requer, para que seja devidamente entendido, que seja avaliado, clareado e marcado em todos os seus lados.
A santificação, então, é o resultado invariável desta vital união com Cristo que a verdadeira fé dá ao cristão.
“Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5).
O ramo que não produz fruto não é um ramo vivo da videira.
A união com Cristo que não produz efeito no coração e na vida é uma mera união formal, que é sem valor diante de Deus.
A fé que não tem uma influência santificadora sobre o caráter não é melhor do que a fé dos demônios.
Ela é uma “fé morta, porque é somente isto”.
Isto não é o dom de Deus, a fé dos eleitos de Deus.
Em resumo, se não há santificação de vida, não há fé real em Cristo.
A verdadeira fé opera pelo amor.
Ela constrange o cristão a viver no Senhor com um profundo senso de gratidão pela redenção.
Isto o faz sentir que ele nunca pode fazer muito por Ele, que morreu no seu lugar.
Sendo muito perdoado ele ama muito.
Aquele que é lavado pelo sangue caminha na luz.
Aquele que tem uma real e viva esperança em Cristo, purifica-se a si mesmo assim como Ele é puro (Tg 2.17.20; Tt 1.1; Gál 5.6; I Jo 1.7; 3.3).
Quanto maior a santificação, maior a consciência espiritual de que se estava morto, separado da vida de Deus, e da comunhão com Ele, porque o oposto disto, ou seja, vida e comunhão, crescem à medida que a santificação aumenta em graus.
A santificação, também, é a inseparável consequência da regeneração.
Aquele que é nascido de novo do Espírito, que foi feito nova criatura, recebe uma nova natureza e um novo princípio, e sempre vive uma nova vida.
A regeneração que um homem pode ter, e ainda viver descuidadamente no pecado ou de forma mundana, é uma regeneração que nunca é mencionada na Escritura.
Ao contrário, João expressivamente diz que aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado, mas pratica a justiça, ama os irmãos, guarda-se a si mesmo e vence o mundo (I Jo 2.29; 3.8-14; 5.4-18).
Numa palavra, onde não há santificação, não há regeneração, e onde não há vida santa não há novo nascimento.
Isto é, sem dúvida, uma dura coisa para se dizer a muitas almas; mas, dura ou não, isto é simplesmente a verdade bíblica.
De modo que ninguém dê descanso à sua alma enquanto não tiver obtido isto. Porque caso se satisfaça com uma mera confissão religiosa, corre o grande perigo de permanecer ainda sujeito à condenação eterna, por nunca ter sido redimido por Cristo, ainda que pense que o tenha sido.
Por isso, em Sua misericórdia, Deus nos dá evidências seguras na Bíblia, para que possamos saber se fomos ou não regenerados, e por conseguinte, se estamos sendo santificados, porque esta sempre se seguirá em todos os que nasceram de novo do Espírito, por terem crido em Cristo.
Assim o engano ou o auto engano poderão ser evitados, a bem do futuro eterno de nossas almas.
Isto está escrito claramente, que aquele que é nascido de Deus é um cuja “semente permanece nele, e ele não pode viver pecando porque ele é nascido de Deus.” (I Jo 3.9).
A santificação, ainda, é a única e certa evidência da habitação do Espírito Santo que é essencial à salvação.
“Se alguém não tem o Espírito de Cristo esse tal não é dEle.” (Rm 8.9).
Muitos se iludem por sentimentos, dizendo que sentem algo lhes dizendo no seu interior que são salvos.
Apesar de o Espírito Santo testificar com o nosso espírito que fomos salvos, não se pode ter por seguro que toda voz ouvida no coração seja do Espírito, porque a carne ou o Inimigo poderão nos enganar.
Então essa testificação do Espírito Santo, aumenta em graus, naqueles que se santificam.
E é especialmente pela constatação pessoal do aumento das suas graças transformadoras em nós, que podemos ter a plena certeza que somos de fato de Cristo (pelo aumento da longanimidade, do amor aos irmãos e a Deus, da benignidade, paciência etc).
O Espírito nunca permanece adormecido e ocioso na alma: Ele sempre faz Sua presença conhecida pelo fruto que Ele produz no coração, no caráter e na vida.
“O fruto do Espírito”, diz Paulo, “é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio,” (Gál 5.22,23).
Quando estas coisas são encontradas, há o Espírito: quando estas coisas não existem, os homens estão mortos diante de Deus.
O Espírito é comparado ao vento, e, como o vento, Ele não pode ser visto pelos nossos olhos de carne.
Mas assim como nós conhecemos o efeito que o vento produz nas ondas, nas árvores, na fumaça, assim nós podemos saber que o Espírito está no homem pelos efeitos que Ele produz na conduta dos homens.
É possível supor que nós temos o Espírito, se nós também “andarmos no Espírito” (Gál 5.25), produzindo o fruto que é consequente dessa santa
Assim, os que são realmente “guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.” (Rom 8.14).