Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Estamos Santificados?  Parte 2
 
A santificação, ainda, é a única e clara marca da eleição de Deus.
Os nomes e números dos eleitos são uma coisa secreta, sem dúvida, que Deus tinha sabiamente guardado em Seu próprio poder, e não revelou ao homem.
Não é dado a nós neste mundo estudar as páginas do livro da vida, e ver se nós estamos inscritos nele.
Mas se há uma coisa claramente estabelecida sobre a eleição, é esta, que os homens e mulheres eleitos podem ser conhecidos e distinguidos pelas suas vidas santas.
Isto está expressamente escrito que eles são “eleitos através da santificação do Espírito (I Pe 1.2); predestinados para serem conformes à imagem do Filho de Deus (Rom 8.29); escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo para serem santos e irrepreensíveis (Ef 1.4).
Portanto, quando Paulo viu a operosidade da fé, a abnegação do amor, e a firmeza da esperança dos cristãos  tessalonicenses (I Tes 1.3), ele disse, que reconhecia através disso a eleição deles por Deus (I Tes 1.4).
Aquele que se vangloria em ser eleito de Deus, enquanto ele está deliberada e habitualmente vivendo no pecado, está somente enganando a si mesmo, e dizendo uma perversa blasfêmia, porque com isso desonra a santidade de Deus, pois não há qualquer sombra de pecado em Deus.
Mas onde não há, pelo menos, alguma aparência de santificação, nós podemos estar completamente certos de que não há eleição.
A verdade da Palavra é que o Espírito Santo santifica todos os eleitos de Deus.   
A santificação, ainda, é uma coisa que sempre será vista, assim como a Grande Cabeça da Igreja, de quem isto procede, não pode ser escondida.
Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto (Lc 6.44).
Uma pessoa verdadeiramente santificada pode ser tão vestida de humildade, que ela pode ver em si mesma, nada além de fraquezas e defeitos.
Como Moisés, quando ele veio ao monte, ele pode não ter tido consciência que sua face brilhava.
Como os justos na importante parábola das ovelhas e dos bodes, que não podiam ver que eles tinham feito algo para o seu Mestre quando o fizeram a outros (Mt 25.37). 
Mas ainda que não vejam isto em si mesmos ou não, outros sempre verão neles, um tom, um caráter e uma forma de vida não vista em outros homens.
A luz pode ser muito turva, mas se houver somente uma centelha num quarto escuro, ela será vista.
A vida pode estar muito débil, mas se houver pulsação, ainda que fraca, isto será percebido.
É exatamente o mesmo que ocorre com o homem santificado: sua santificação será algo sentido e visto, embora ele mesmo não possa compreender isto.
Um santo em quem nada pode ser visto mas mundanismo ou pecado, é um tipo de monstro não reconhecido pela Bíblia.
A santificação, ainda, é uma coisa pela qual cada cristão é responsável.
Cada homem na terra é responsável diante de Deus, e todos os perdidos estarão mudos e sem desculpas no último dia.
Cada homem tem poder para “perder sua própria alma” (Mt 16.26).
Deus tem dado aos cristãos graça e um novo coração, e uma nova natureza, de modo que tem negado a eles toda a desculpa, caso não vivam para o Seu louvor.
Este é um ponto que é muito esquecido.
Um homem que professa ser um verdadeiro cristão, enquanto se assenta ainda, contente com um muito baixo grau de santificação (se de fato ele tem alguma), e friamente diz que ele “nada pode fazer quanto a isto”, é de fato uma muito lamentável visão, de um homem muito ignorante.
Contra esta ilusão deixem-nos vigiar e estar em guarda.
Se o Salvador de pecadores nos der uma graça renovadora, e nos chamar, pelo Seu Espírito, nós podemos estar certos que Ele espera que usemos a nossa graça, e que não venhamos a dormir como os demais.
É o esquecimento disto a causa de muitos cristãos entristecerem o Espírito Santo, e se tornarem inúteis.       
A santificação, ainda, é uma coisa que permite o crescimento e o progresso.
Um homem pode escalar um degrau após outro em santidade, e ser mais santificado num período de sua vida do que em outro.
Mais perdoado e mais justificado do que era quando creu no princípio ele não pode ser, embora ele possa sentir isto com mais intensidade.
Mais santificado ele certamente pode ser, porque cada graça em seu novo caráter pode ser fortalecida, ampliada e aprofundada.
Este é o evidente significado da última oração de  nosso Senhor por seus discípulos, quando ele usou as palavras, “santifica-os” (Jo 17.17), e Paulo orou pelos tessalonicenses “o mesmo Deus da paz vos santifique em tudo” (I Tes 5.23).
Em ambos os casos a expressão claramente implica a possibilidade de aumento da santificação; enquanto que uma expressão paralela como “justifica-os” nunca é encontrada uma só vez nas Escrituras, aplicada aos cristãos, porque eles não podem ser mais justificados do que eles já estão.
A justificação é recebida de uma vez para sempre na conversão e não é portanto um processo.
Já a santificação é um processo que dura toda a vida.
A ideia de uma “santificação imputada” numa experiência de poder em avivamento do Espírito não tem respaldo bíblico e contraria a verdade da Palavra e da própria experiência prática, porque não existe uma santificação completa que se receba de uma vez para sempre em determinado momento da vida.
O que pode ocorrer é um renovo espiritual que desperte a santidade que estava adormecida, mas esta necessitará ser sempre mantida e renovada e aumentada. 
A ordem de Cristo em Apocalipse é que o que é santo, santifique-se mais ainda.
Isto denota a necessidade de exercício espiritual, de disciplina, de esforço, de vigilância constante, perseverança e diligência.
Há necessidade de formação progressiva de um hábito de santidade na vida, em todas as suas áreas.
Se há um ponto em que os santos mais consagrados a Deus concordam, é este que eles veem mais, e conhecem mais, e sentem mais, e fazem mais, e se arrependem mais, e creem mais, à medida que avançam na vida espiritual, e em proporção à intimidade da sua caminhada com Deus.
Em resumo, eles crescem na graça, como Pedro exorta os cristãos a fazerem (II Pe 3.18), e progridem cada vez mais, conforme as palavras de Paulo em I Tes 4.1.      
A santificação, ainda, é uma coisa que depende grandemente do diligente uso dos meios das Escrituras.
Quando eu falo “meios” eu me refiro à leitura da Bíblia, à sua prática na vida, à presença regular à adoração pública, a regular escuta da Palavra de Deus, a constância na oração, e a regular recepção da Ceia do Senhor.
Eu não posso achar qualquer exemplo de algum santo eminente que sempre tenha negligenciado tais coisas.
Elas são apontadas como canais através dos quais o Espírito Santo conduz novos suprimentos da graça à alma, e fortalece a obra que ele tem começado no homem interior (nova criatura, nova natureza).
Deixem os homens chamarem isto de deveres legalistas. Que o façam se lhes agrada, mas eu nunca recuarei em declarar minha crença de que não há ganhos espirituais sem esforço ou sofrimento. Eu seria como um agricultor que espera prosperar em seu negócio, se contentando em semear seu campo e nunca cuidar dele até a colheita.
Assim é o cristão que espera alcançar muita santidade mas que nunca foi diligente na leitura da sua Bíblia, em suas orações, e no uso do dia do Senhor, para a adoração e serviço.
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/12/2012
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