A Revelação do Tempo do Fim – Apocalipse 1
Em muitos sentidos se aplica e se cumpre a bênção prometida no terceiro versículo do Primeiro capítulo do livro de Apoclipse, que estaremos comentando:
“Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.”
Primeiro e antes de tudo, porque aponta para a vitória certa e segura do reino de Cristo sobre o império das trevas, que opera presentemente no mundo.
Segundo, porque é um alerta para as igrejas quanto às muitas tentações e apostasias a que estarão expostas, especialmente no tempo do fim.
Assim, isto serve para que os cristãos atendam à convocação ao arrependimento (mudança de vida e constância no testemunho fiel), e a se ouvir o que o Espírito está dizendo às igrejas, bem como a se disporem a serem diligentes e a perseverarem nas tribulações e provações, que terão que enfrentar enquanto aguardam o triunfo final de Cristo.
Além destes, há inúmeros fatores que demonstram que, de fato, são bem-aventurados todos os que leem e ouvem a profecia desta Revelação (tradução da palavra grega Apocalipse, usada logo no início do primeiro versículo deste livro) e que guardam as coisas que estão nela escritas.
Se lermos, portanto, este livro profético, procurando conhecer em minúcias a quais épocas e personagens se aplicam cada uma das realidades nele apresentadas em linguagem simbólica, erraremos certamente o objetivo para o qual foi escrito, que foi o de fortalecer a nossa fé e confiança, nos dias difíceis do tempo do fim, e a firmamos um testemunho de vida cada vez mais firme na fé em Jesus.
A extensa saudação inicial dos versos 4 a 6 é na verdade, uma grande afirmação do sacerdócio, do reinado, da redenção, da fidelidade, da essência e do testemunho eterno de Jesus Cristo.
Aquele “que é, que era e que há de vir” é um dos modos de se referir ao Salvador e Senhor eterno, do qual somente por meio dEle é possível ser redimido do pecado e ser adotado como filho de Deus.
Nunca é demais lembrar que isto foi revelado por Deus desde Adão, quando disse a Eva que seria dela que descenderia no futuro Aquele que esmagaria a cabeça da serpente e do qual foi prometido a Abraão que nEste seu descendente seriam benditas todas as nações da terra.
O próprio Abraão foi justificado pela fé nEle. O modo de Deus salvar sempre foi pela fé no Seu Filho Jesus Cristo e no Seu sacrifício por nós, prefigurado nos sacrifícios de animais oferecidos por Adão, Abel, Abraão, e pelo povo de Israel, que lhes foram exigidos por Deus na Antiga Dispensação, para servirem de figura dAquele único e Grande Sacrifício pelo qual somos redimidos, perdoados e reconciliados com Deus.
Então, é afirmado no verso 6 que é por Cristo, e pelo Seu sangue, que somos feitos reino e sacerdotes para Deus Pai, porque toda a nossa aceitação por Deus é decorrente de termos a Cristo por causa da fé nEle.
Tudo o que temos e somos procede dEle; é por meio dEle, de modo que se afirma no verso primeiro deste livro que a revelação que está sendo feita nele foi dada pelo Pai ao Filho, para ser mostrada aos seus servos, porque somente Jesus é o único Mediador e Fiduciário da aliança que foi feita entre Deus e o Seu povo.
Ele não é somente o autor da salvação e da fé, como também o Seu consumador. Isto implica que é Ele que começa a nossa salvação; é Ele mesmo que a confirma, aperfeiçoa e completa.
Como veremos, especialmente nos capítulos segundo e terceiro deste livro de Apocalipse, esta fé deve ser expressada num viver condigno com a condição de filhos de Deus, que foi alcançada por meio da união com Cristo.
Ele é quem faz Sua obra avançar e que triunfa sobre os poderes das trevas, mas é exigido dos seus servos que se consagrem a Ele, para que possam ser os canais por meio dos quais fará a Sua obra avançar no mundo.
Esta consagração inclui arrependimento, amor, oração, serviço, fidelidade, santidade e tudo o mais que nos é ordenado por Deus em Sua Palavra; especialmente obediência à Palavra e vida de oração, porque é por meio de ambas que se pode ter comunhão com Deus, conhecimento da Sua vontade e poder para poder realizá-la.
De modo que nenhuma obra de Deus prevalecerá onde não houver cobertura de oração para a pregação da Palavra no poder do Espírito.
Esta é a fé que vence o mundo. Uma fé que se manifesta vencedora sobre as tentações, o diabo, a carne e o mundo, e que se aplica às obras de justiça segundo o evangelho.
Então, o livro de Apocalipse vai revelar em quão grande batalha espiritual estão envolvidos os servos de Cristo, especialmente os que estiverem presentes no mundo no tempo do fim, para que possam vigiar e se empenharem em viver em santificação diante de Deus, para que todos os inimigos que se levantam contra Cristo, contra a Sua obra e os cristãos possam ser vencidos, porque somente aos vencedores são feitas promessas de reinarem juntamente com Cristo.
É importante frisar que a revelação dada a João neste livro é destinada às sete igrejas que estão na Ásia, conforme referido no verso 4, as quais são especificadas no verso 11, e detalhadas nos capítulos segundo e terceiro.
Todavia, é óbvio que ao ter falado àquelas sete igrejas que existiam na Ásia Menor nos dias de João, o Senhor não estava limitando a mensagem do livro às mesmas, porque as coisas que nele são referidas, especialmente a partir do quarto capítulo dizem respeito ao período da Grande Tribulação, sob o Anticristo, que antecederá a Segunda Vinda de Jesus.
Assim, aquelas sete igrejas são representativas de todas as igrejas da história cristã, mais particularmente, das igrejas do tempo do fim.
Nós veremos que há uma constante chamada ao arrependimento às igrejas que estão mortas, mornas, afastadas, que abandonaram seu primeiro amor, que estão tolerando mundanismo e heresias.
Disto, concluímos que o livro tem o propósito de mostrar às igrejas de todas as épocas, especialmente às do tempo do fim, a necessidade de vigilância e de um constante arrependimento.
Das coisas que são reveladas no livro, se diz que são as coisas que em breve devem acontecer (v. 1), e que o tempo deste acontecimento está próximo (v. 3).
A Dispensação do Evangelho é a última dispensação até a consumação de todas as coisas.
É a dispensação dos dias difíceis nos quais opera o mistério da iniquidade (II Tes 2.7).
A perseguição à igreja e a multiplicação da iniquidade se intensificarão, quanto mais se aproxima o tempo do fim.
Então, do ponto de vista de Deus tudo está praticamente consumado desde que Jesus morreu, ressuscitou e subiu ao céu, inaugurando uma Nova Aliança e dispensação, com o derramar do Espírito; porque desde então, foi precipitada a contagem regressiva para a manifestação do Seu reino e de todas as coisas que são relativas a Ele, o qual está sendo implantado nesta presente dispensaçã, e que será consumada com a Sua segunda vinda.
Todavia, esta glória será seguida por sofrimentos da Igreja, assim como Cristo padeceu antes de entrar na Sua glória.
Por isso, João destaca seu próprio exemplo de companheirismo com os demais cristãos na aflição que sofriam neste mundo, mas também no reino de Deus, e na perseverança, pois se encontrava deportado e preso na Ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus (v. 4).
No entanto, a glória vindoura da Igreja é certa, porque João viu Jesus vindo com as nuvens em grande glória, e todo olho O verá, quer de justos, quer de ímpios (v. 7).
Por isso o próprio Senhor se proclama no verso 8, o Alfa e o Ômega (primeira e última letras do alfabeto grego), ou seja, o princípio e o fim de todas as coisas, porque é nEle que tudo subsiste, e mais uma vez é afirmado por Ele ser o Deus Todo-Poderoso que é, que era e que há de vir.
Jesus afirma claramente ser o Deus Todo-Poderoso neste versículo, e há ainda muitos debatendo acerca da divindade de Jesus.
Deixem que debatam, enquanto simplesmente creiamos nisto como um fato consumado, porque somente quem fosse divino poderia realizar tão grande obra de salvação, conforme a que Jesus realizou em nosso favor, e reinando e transformando os corações de milhões, ao longo da história do mundo.
Afinal, de qual outro ser, senão de quem é divino se poderia afirmar as coisas que são referidas nos versos 10 a 20?
Porque João ouviu a Sua voz como de trombeta (v. 10), e de muitas águas (v. 15).
Os olhos como chamas de fogo (v. 14).
O rosto como o sol em toda a sua força (v. 16).
Tendo em sua mão direita sete estrelas e uma espada afiada de dois gumes saindo de sua boca (v. 16), além de outras características maravilhosas, que são destacadas nos versos 10 a 20.
Quem, senão somente o próprio Deus pode receber tais descrições?
E, de quem se dizem tais coisas é afirmado ser aquele que vive e que foi morto, mas que está vivo para todo o sempre, e que tem as chaves da morte e do inferno.
Quem, senão somente Jesus Cristo pode ser Aquele que falou com João tais palavras?
Não restou a João, como não resta a nenhum de nós, senão cairmos prostrados aos Seus pés.
Mas em Seu infinito amor, bondade e misericórdia a nós, Seus servos, Ele nos dirá o mesmo que disse a João quando nos prostrarmos diante dEle:
“Não temas, eu sou o primeiro e o último.”
Qual anjo, arcanjo, querubim ou serafim pode afirmar ter em seu poder as chaves da morte e do inferno?
Somente Jesus, sendo Deus, pode afirmá-lo, porque de fato recebeu da parte do Pai autoridade para julgar vivos e mortos.
E também qual anjo, arcanjo, querubim ou serafim pode ter em suas mãos os pastores das igrejas de todas as épocas, conforme representados nas sete estrelas que o Senhor tem em sua mão direita?
Quem tem o poder de estabelecer ou remover os sete candeeiros, que são representativos de todas as igrejas, senão somente o próprio Deus Filho?
Nós não poderíamos fechar o comentário deste primeiro capítulo sem afirmar que João recebeu esta revelação, porque estava em espírito no dia do Senhor, ou seja, ele estava certamente orando em Espírito, num dia de domingo, quando recebeu as visões, porque coisas espirituais só podem ser recebidas e discernidas, espiritualmente.
Não foi com os olhos naturais da carne que João viu, mas com os olhos do espírito, porque estava em espírito, e foi arrebatado em espírito para poder receber as revelações deste livro (v. 10).
O Senhor disse que a revelação não era somente para João, mas para as sete igrejas da Ásia que são nomeadas no verso 11, as quais representam as igrejas de toda a história do cristianismo, conforme já comentamos anteriormente.
Destas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia, falaremos pormenorizadamente nos dois capítulos seguintes.
João deveria escrever num livro a revelação recebida, para ser enviada às sete Igrejas, e cremos que não foi enviada apenas a parte relativa a cada igreja, conforme consta nos segundo e terceiro capítulos, mas todo este livro de Apocalipse.
João escreveria em livro aquilo que ouviu como uma voz de trombeta, porque esta mensagem de Apocalipse é um toque de alerta para todas as igrejas de Cristo, para que vejam principalmente aquelas coisas das quais Ele as convoca ao arrependimento, e aquelas coisas contra as quais devem vigiar, especialmente, as muitas tribulações e tentações, que se intensificarão à medida que o tempo da Sua volta se aproximar.
As igrejas são comparadas a castiçais, porque elas exibem a luz de Cristo e do evangelho.
Os anjos das igrejas, isto é, seus pastores ou ministros, são comparados a estrelas, porque devem brilhar como estrelas e não como velas, pois o brilho da luz de Cristo é grande e intenso como o das estrelas, e é esta luz que deve ser refletida por eles.
A glória com a qual Jesus apareceu a João é a glória que Ele tinha com o Pai antes da fundação do mundo, na qual Ele entrou de novo em Sua posse depois de ter consumado Sua obra de redenção na terra.
Portanto, pastores que tentam apontar às suas ovelhas uma glória que devem alcançar neste mundo, e que se referem à simples conquista de posições e coisas terrenas, que estão destinadas a desaparecer, estão errando completamente o alvo quanto a Cristo e à glória que estão encarregados de pregar, que é celestial e não terrena; que é divina e não humana.
A João foi exibida a glória que se seguiu aos sofrimentos de Cristo, que é a mesma glória que está reservada para os cristãos fiéis, que guardarem até o fim a confiança da sua esperança, que é a de que aquilo que é mortal seja revestido pelo que é imortal; e o que é terreno, pelo que é celestial; e o natural pelo espiritual; conforme a esperança da palavra do evangelho que deve ser pregado em todo o mundo.
“1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e, enviando-as pelo seu anjo, as notificou a seu servo João;
2 o qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, de tudo quanto viu.
3 Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.
4 João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça a vós e paz da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono;
5 e da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados,
6 e nos fez reino, sacerdotes para Deus, seu Pai, a ele seja glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém.
7 Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém.
8 Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso.
9 Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na aflição, no reino, e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
10 Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta,
11 que dizia: O que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodiceia.
12 E voltei-me para ver quem falava comigo. E, ao voltar-me, vi sete candeeiros de ouro,
13 e no meio dos candeeiros um semelhante a filho de homem, vestido de uma roupa talar, e cingido à altura do peito com um cinto de ouro;
14 e a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve; e os seus olhos como chama de fogo;
15 e os seus pés, semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa fornalha; e a sua voz como a voz de muitas águas.
16 Tinha ele na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois gumes; e o seu rosto era como o sol, quando resplandece na sua força.
17 Quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último.
18 Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! e tenho as chaves da morte e do inferno.
19 Escreve, pois, as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de suceder.
“20 Eis o mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete candeeiros de ouro: as estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.” (Apocalipse 1.1-20)