Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O Significado de Abandonar o Primeiro Amor 
 
As cartas específicas dirigidas a cada uma das igrejas citadas no décimo primeiro versículo do primeiro capítulo foram ditadas a João na mesma ordem em que as igrejas são apresentadas neste segundo capítulo de Apoicalipse (cujos versos 1 a 7 estaremos comentando), bem como no próximo capítulo.
É principalmente em razão desta coincidência de ordem de apresentação, que muitos comentaristas interpretam que cada uma destas igrejas estão relacionadas a períodos específicos da história, e que, por exemplo,  esta primeira Igreja citada, a de Éfeso, corresponde aos três primeiros séculos do cristianismo; que a repreensão recebida de Cristo quanto ao abandono do seu primeiro amor seria uma referência à paganização da Igreja a partir do imperador romano Constantino.
No entanto, devemos considerar que a repreensão foi dirigida pelo Senhor ao problema que estava ocorrendo em Éfeso nos dias do próprio apóstolo João, e não apenas no que viria a ocorrer somente dois séculos depois. Todavia, devemos considerar também que a profecia aponta para coisas que se encontram em forma embrionária, que  crescerão e se intensificarão com o passar do tempo.
Assim, aquela pequena apostasia localizada em Éfeso viria a se tornar grande e universal em dias posteriores.
Isto explica em parte, a ameaça do Senhor de remover o candeeiro da igreja de Éfeso, em face da falta de arrependimento. 
Todavia, a aceitação plena deste tipo de interpretação meramente histórica, cria algumas dificuldades, especialmente a de que a repreensão dirigida a Éfeso, uma vez plenamente consumada na Igreja dos dias de Constantino, nada mais teria a ver, consequentemente, com as demais igrejas dos períodos posteriores da história do cristianismo.
Tomando ainda como exemplo, os cristãos da Igreja fiel de Filadélfia, que é identificada pelos historicistas, com o período dos avivamentos e da criação das sociedades missionárias, notadamente dos séculos XVII e XVIII, nada teriam com que se importar com o perigo de esfriarem no primeiro amor, conforme a advertência que encontramos citada em Apocalipse, relativa à Igreja de Éfeso; como também não haveria a possibilidade de ter tais cristãos de Filadélfia, nos dias em que a Igreja infiel de Laodiceia estivesse predominando no mundo.
Deve também ser considerado que o Senhor não trata com Sua Igreja especificamente, no atacado, em grandes períodos históricos, conforme costumam fazer os historiadores.
Ele tem interesse e trata até mesmo individualmente, com cada membro da Igreja.
Então a advertência é para todas as Igrejas e todos os cristãos, de todas as épocas, para que sigam o exemplo das Igrejas fiéis citadas nestes dois capítulos de Apocalipse (2 e 3), e que vigiem e sejam diligentes para não caírem nos erros que tornaram algumas igrejas dignas da repreensão do Senhor.  
Nós sabemos pelas epístolas de Paulo, especialmente pelas que escreveu a Timóteo, e da profecia que dirigiu aos presbíteros de Éfeso, quanto aos lobos vorazes que penetrariam naquela Igreja depois da sua partida, conforme relato que lemos em Atos 20, que houve de fato um esfriamento do amor cristão, motivado principalmente por desvio doutrinário, conforme se subentende de I Timóteo 1.1-5, tendo Paulo solicitado a Timóteo que fossem ordenados pastores para a Igreja de Éfeso, que não ensinassem outra doutrina, conforme estava ocorrendo naquela Igreja. 
Pelas palavras que são dirigidas pelo Senhor à Igreja de Éfeso, neste texto de Apocalipse, nós podemos inferir que apesar de terem decorrido mais de trinta anos, desde a ação de Timóteo naquela Igreja, até a revelação dada a João, aqui referida, houve uma preocupação em se guardar a sã doutrina, conforme as palavras elogiosas que o Senhor lhes dirigiu no início da carta, afirmando que eles eram operosos e perseverantes, e que não podiam suportar os maus, inclusive colocando à prova os falsos apóstolos, e que não haviam recuado na fé nEle, mesmo em meio aos sofrimentos que estavam padecendo por causa do Seu nome.
Então, qual era o problema com Éfeso, já que eram guardiões da doutrina correta, a ponto de aborrecerem as obras dos nicolaítas, que Cristo afirma também aborrecer?
Ortodoxia fria e morta.
Este era o problema de Éfeso. Eram corretos na defesa da doutrina, mas faltosos no fervor.
É o tipo de Igreja que guarda a Palavra, mas que não tem a unção e governo do Espírito.
Defendem a Cristo e a doutrina. Suportam sofrimentos por Cristo. Pregam a sã doutrina, mas não é Cristo que opera neles porque não oram, ou oram pouco, ou então oram com os motivos errados, sem buscarem a glória de Deus e o avanço da Sua obra na terra, mediante o poder do Espírito.    
Este esfriamento do amor ágape do Espírito na Igreja pode ser visto no esfriamento da manifestação do amor entre os irmãos e nos cultos.
A unidade não é de caráter espiritual e vinculada pelos laços de amor do Espírito, mas pela cortesia e educação cristãs.
Éfeso pregava a verdade, defendia a verdade, mas não podia sustentar o amor a Cristo e entre os cristãos, porque faltava vida de oração fervorosa para dar base e sustentação ao relacionamento com Deus e dos cristãos na Igreja, porque sem isto, é impossível vencer a carne, o diabo e o mundo.
Quando isto sucede, o nome de Deus não pode ser glorificado, pela manifestação da vida de Cristo na Igreja.  
Quando isto ocorre com qualquer Igreja, já não é mais Cristo que faz a obra, mas o homem.
Por isso o Senhor se apresentou na carta que dirigiu à igreja e Éfeso como “aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro”, para que lembrassem que é Ele o Senhor da Igreja, e que os pastores estão em Sua mão direita para serem usados por Ele.
Por isso se diz mão direita, porque é normalmente a mão que é usada para fazermos a maioria das coisas.
Quando se esquece isso, deixamos de depender do governo do Senhor em nosso espírito, para podermos conhecer Sua vontade, e permitirmos que Ele faça Sua obra através de nós.
Por isso Jesus diz que as obras de Éfeso são numerosas, mas não as Suas  próprias obras através daquela Igreja. São as obras da Igreja feitas em Seu nome, mas que têm a marca do homem, e não a do Espírito Santo.
Há grande perigo, portanto, em nos iludirmos pensando que por simplesmente pregar a sã doutrina, temos cumprido todo nosso dever para com Cristo.
Não basta pregar a sã doutrina, porque importa viver o que pregamos. Daí Paulo descrever o dever dos ministros como sendo não apenas o de pregar, mas também de instar (aplicar), admoestar, repreender e exortar a Igreja (II Tim 4.2).
Por exemplo, em Lc 18.1 Jesus diz que a oração importuna e incesssante, sem esmorecer é um dever de cada cristão. Entre saber este dever e cumpri-lo, vai uma distância que corresponde ao infinito.
Sabemos o quão difícil é para muitos manter uma vida de oração conforme nos é ordenado por Cristo.
Se não fazemos isto, não O amamos, porque Ele diz que aquele que O ama é o que guarda os Seus mandamentos.
Este é um dos Seus principais mandamentos, porque sem vida de oração não pode haver comunicação real e espiritual entre o cristão e Deus.  
Os cristãos e Igrejas que se encontram na condição de Éfeso, são exortados por Cristo a se lembrarem de onde caíram, isto é, no que têm falhado, e no que se exige além de serem ortodoxos e operosos.
Eles necessitam comparar a sua condição presente com a que existia na Igreja Primitiva, para se arrependerem, ou seja, voltarem à prática da vida cristã, conforme o Senhor nos ensinou o modo pelo qual ela deve ser vivida.
  Retornar ao primeiro amor, às primeiras obras, significa ter humildade para reconhecer que é necessário recomeçar tudo, desde o princípio. É admitir que a casa não está estabelecida sobre um firme fundamento, e que é necessário não fazer reparos, mas reconstruir tudo a partir do zero.
Bem-aventurados são aqueles que atendem a tal ordem de Cristo, porque a estes é prometido, caso deem ouvidos ao que o Espírito Santo está lhes dizendo, que serão vencedores do mal e tudo aquilo que se opõe a uma vida verdadeira com Cristo, de forma que Ele lhes dará que comam da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Aos que se humilham, e permitem o governo real de Cristo em seus corações é dada a vida abundante do próprio Cristo, que é a Videira Verdadeira, a Árvore da Vida, sem a qual não é possível ter a vida plena, que foi projetada por Deus para  Seus filhos.   
Às Igrejas que se encontram na condição da Igreja de Éfeso, Cristo dá um tempo para arrependimento, e caso não se lembrem de onde caíram, e não se arrependam para praticarem as primeiras obras da Igreja Primitiva dos primeiros dias, Ele ameaça de vir brevemente a tais igrejas, não para abençoar, mas para remover o seu castiçal do seu lugar, pela falta de arrependimento (v. 5).
Se a função do castiçal é iluminar, isto significa que ficariam sem a iluminação do Espírito Santo, portanto, uma vez que o Espírito não opera mais na Igreja, ela passa a ser uma igreja morta, sem vida; logo, incapaz de cumprir a Sua missão, que é a de ser luz do mundo.
O Senhor não deixa de ser doce, manso, cordial e terno ao nos repreender, mas Ele nunca deixará de fazê-lo, porque sempre haverá nEle o sim, sim e o não, não, que nos exortou a também praticarmos, para não sermos achados nos laços do maligno.  
Jesus disse que próximo da Sua volta, o mundo estaria tal como nos dias de Noé, antes do dilúvio, ou seja, tudo correria com aparência normal na vida das pessoas, mas, será apenas uma aparência de que tudo sempre continuará como antes, no entanto a terra estava cheia de violência nos dias de Noé, tal como se encontra em nossos dias.
Violência é uma palavra derivada do verbo violar (transgredir). A violação à qual o Senhor se refere na Sua Palavra não é meramente transgressão dos Seus mandamentos morais, como por exemplo, o adultério, a mentira, o homicídio, mas, sobretudo, violação da santidade que lhe é devida num viver verdadeiramente piedoso.
Para se vencer um mundo que tem aparência de piedoso, uma igreja que tem aparência de piedosa, mas que está no fundo, cheia de violência contra a vontade de Deus, isto jamais poderá ser feito por uma igreja como a de Éfeso, que abandonou o primeiro amor.  
Porque não se vence a mentira somente com a verdade. A mentira e o erro são vencidos somente com a vida do próprio Cristo em nós. A morte é vencida pela vida de Deus. Onde faltar, portanto, esta vida, quem prevalecerá será sempre o mal, ainda que preguemos contra o mal ou façamos várias obras de caridade, porque somente o poder da vida do Espírito pode desarraigar o pecado que opera na carne, ou seja, arrancá-lo pelas raízes, combatendo-o na fonte de onde procede todo o mal, a saber, no nosso próprio coração. 
 
 
 
“1 Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro:
2 Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos;
3 e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste.
4 Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
5 Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres.
6 Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço.
7 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus. (Apocalipse 2.1-7)
 

 
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A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/

A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/ 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 29/12/2012
Alterado em 10/07/2014
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