Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
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A Fé do Rei Ezequias É Provada – II Reis 18
 
A Assíria havia sido levantada nos dias do rei Ezequias, como o grande instrumento dos juízos de Deus sobre os pecados das nações, assim como seria levantada Babilônia depois deles, e a Média e a Pérsia depois de Babilônia; a Grécia, depois destes, e finalmente os romanos.
Nós vimos nos capítulos anteriores a este 18º de II Reis, que estaremos comentando, que a Síria e Israel haviam sido levados em cativeiro pelos reis assírios.
Nós vimos também que o rei Acaz, pai do rei Ezequias havia sido livrado da destruição pela pura misericórdia do Senhor, e pelo fato de que não havia chegado ainda a hora de Judá ser levado ao cativeiro, consoante o Seu propósito.
Este capítulo 18º de II Reis nos dá conta do modo como se elevou o coração do rei Assírio Senaqueribe, em razão do grande poder que o seu país estava tendo sobre as demais nações, e esquecido que isto havia sido dado diretamente a eles por Deus, começaram a se exacerbar nas suas ações, usando de extrema crueldade para com os povos conquistados e se exaltando contra o próprio Deus de Israel, uma vez que já haviam levado o Reino do Norte para o cativeiro, quando Senaqueribe veio afrontar o Senhor, nos dias de Ezequias, sem saber o grande juízo que Ele estava forjando contra os assírios.
Não havia melhor ocasião do que aquela para visitar o orgulho dos assírios com juízos, porque a santidade do Senhor estava sendo vindicada pelo piedoso rei Ezequias, que não somente empreendeu uma grande reforma religiosa em Judá, restaurando tudo o que havia sido destruído pelo seu pai (Acaz), e de Ezequias se diz o que nós lemos no verso 3: “Ele fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai.”, isto é, ele era um crente verdadeiro tal como fora Davi antes dele, e ainda nós lemos sobre quem ele havia sido no verso 5: “Confiou no Senhor Deus de Israel, de modo que depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.”.
Isto significa que não houve nenhum rei no período do reino dividido em Judá, que tivesse confiado tanto no Senhor como Ezequias.
E a grande fé dele seria honrada por Deus de várias formas, e especialmente na derrota que imporia aos assírios, sem o auxílio de mãos humanas, conforme veremos no capítulo seguinte.
E a qualidade da fé de Ezequias era tanto subjetiva quanto objetiva, porque não era fé na fé, ou mera confiança em Deus baseada em sentimentos e emoções, mas fé na Sua Palavra e na disposição de cumpri-la integralmente, como se afirma no verso 6: “Porque se apegou ao Senhor; não se apartou de o seguir, e guardou os mandamentos que o Senhor ordenara a Moisés.”.
E o resultado disto não poderia ser outro senão o que se diz no verso 7: “Assim o Senhor era com ele; para onde quer que saísse prosperava.”.
Comunhão com Deus, poder contar com Suas bênçãos, prosperidade, isto é, poder avançar contando com a boa mão do Senhor sendo-lhe favorável em tudo, dando vitória sobre os inimigos, a mesma prosperidade que Josué havia experimentado no passado, e que lhe foi prometida pelo Senhor, caso andasse nos Seus caminhos, não se desviando deles, por um estrito cumprimento dos Seus mandamentos.
De outro modo, como a pequena Judá poderia resistir ao poder da Assíria, se o Senhor não fosse com eles?
Por isso se diz ainda na parte “b” do verso 7, em que consistiu também a prosperidade de Ezequias: “Rebelou-se contra o rei da Assíria, e recusou servi-lo.”.
Com a mesma fé e obediência de Ezequias nós podemos também resistir ao pecado e ao diabo e recusarmo-nos a servi-los, porque certamente o Senhor dar-nos-á vitória sobre ambos.  
 Foi de tal ordem a reforma empreendida por Ezequias, que somente ele teve a ousadia que ninguém havia tido antes dele de despedaçar a serpente de bronze que Moisés havia feito no deserto (v. 5), e que os israelitas haviam transformado em objeto de adoração, porque não somente discerniu que aquilo configurava uma idolatria, como também percebeu que não valeria a pena manter aquele objeto como uma relíquia preciosa, porque sempre conduziria a uma possível idolatria, e Ezequias estava bem convicto do quanto isto desagradava a Deus.
Aquela serpente foi usada num momento específico, para curar os israelitas das feridas das serpentes abrasadoras do deserto, mas muitos israelitas deviam continuar atribuindo ao objeto propriamente dito o poder de curá-los de suas enfermidades, quando que na verdade foi o Senhor e não a serpente de bronze quem havia curado os israelitas no deserto nos dias de Moisés.
Esta foi feita a mando de Deus, para servir de figura ao modo de salvação, que é por se olhar com os olhos da fé para Cristo, que se fez maldição no nosso lugar.
 Como Samaria havia sido tomada pelos assírios no 6º ano do reinado de Ezequias, pelo rei Salmanasar (v. 9, 10), Senaqueribe, que reinou depois dele, sentiu-se incentivado cerca de oito anos depois, isto é no 14º ano do reinado de Ezequias, a invadir Judá (v. 13), e como havia conseguido se apoderar das cidades fortificadas de Judá, Ezequias por prudência propôs-lhe ser seu tributário, e o rei da Assíria lhe cobrou 300 talentos de prata e trinta de ouro (v. 14,15), e Ezequias não sabia que a sua fé viria a ser provada nisto tudo de maneira que o grande nome do Senhor viesse a ser exaltado.
O diabo parecia já ter vencido a guerra por esta única batalha, mas esta vantagem inicial somente serviria para trazer maior honra ao Senhor, porque estava comprovado que Judá jamais poderia se livrar do poder da Assíria, pela sua própria força.
Ezequias aprenderia que não adianta negociar com o inimigo, não adianta fazer concessões ao diabo, para que ele não nos prejudique ainda mais, porque sempre desonrará os seus tratos, conforme é próprio à sua natureza mentirosa, enganosa, destruidora, e sempre desejará muito mais de nós, e foi exatamente isto o que ocorreu com Ezequias, porque não honrando o que havia sido negociado, Senaqueribe subiu a Jerusalém com um grande exército e enviou três dos seus principais generais para afrontarem o exército de Judá e o Deus de Israel (v. 17).
Naquela ocasião o Egito devia estar tentando efetuar uma aliança com outras nações, para poder fazer frente ao poder da Assíria, e esta foi uma das razões apresentadas por Senaqueribe através de seus três generais para ter se antecipado invadindo Judá, sob a alegação de que seria vão os israelitas esperarem receber auxílio do Egito em carros e cavaleiros, e ainda que a própria Assíria desse 2.000 cavalos a Judá, Ezequias não teria cavaleiros suficientes para colocar sobre eles (v. 23).
Então ele conclui com o seguinte argumento: De que valeria confiarem no Egito? (v. 21). De que adiantaria adorarem ao Deus cujo altar havia sido restaurado pelo rei de Judá no templo de Jerusalém? (v. 22).
E então os três generais mensageiros de Senaqueribe mentiram aos judeus dizendo que foi o próprio Senhor que lhes havia ordenado subir contra Judá para destruí-la (v. 25).
Eles não disseram isto sequer por confiarem no Senhor e temê-lo, mas simplesmente para intimidarem os judeus e queriam dizer que o próprio Deus de Israel estava do lado dos assírios, juntamente com os demais deuses deles.
Percebendo qual era o intento deles, a embaixada que Ezequias enviou aos generais assírios pediu que lhes falasse em aramaico e não em hebraico, de modo que os judeus que estavam ao redor não compreendessem o que eles estavam dizendo, para que suas mãos não ficassem frouxas para a guerra (v. 26).
E tendo percebido isto, Rabsaqué, que falava pelo rei da Assíria, liderando o grupo de três generais, começou a afrontar diretamente todos os judeus, dizendo que era exatamente este o propósito da sua mensagem, e por isso lhes estava falando na própria língua deles, de maneira que entendessem quais eram as intenções da Assíria em relação a eles, que era a de conduzi-los em cativeiro, sem que lhes opusessem qualquer resistência.
E eles passaram a afrontar os deuses das demais nações e o próprio Deus de Israel, dizendo que nenhum deles puderam livrar os seus povos das mãos da Assíria.
Estas palavras foram bastante perturbadoras a ponto de fazer com que os homens que Ezequias havia enviado a ter com os assírios retornassem a ele com suas vestes rasgadas, e lhe contaram tudo o que Rabsaqué lhes havia dito.    
Qual foi a razão de tanta fúria do diabo?
A resposta está no texto paralelo de II Crônicas 29, no qual nós vemos que o povo havia sido reconduzido ao Senhor por Ezequias, e tornaram a adorá-lo de acordo com as prescrições da Lei de Moisés.
E Ezequias havia feito uma restauração do ofício dos sacerdotes e dos levitas, que louvavam e ofereciam sacrifícios a Deus.
Tudo o que o diabo havia conseguido fazer através de Acaz, Deus havia desfeito através de Ezequias, e esta era a razão do Inimigo estar se levantando tão furiosamente contra tudo isto, tentando intimidar os judeus para que não perseverassem na sua fidelidade ao Senhor.      
Mas nós veremos no capitulo seguinte qual foi a atitude de Ezequias em relação às ameaças do inimigo e qual foi a resposta que Deus deu à fé demonstrada pelo Seu servo.
 
 
“1 Ora, sucedeu que, no terceiro ano de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá.
2 Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Abi, filha de Zacarias.
3 Ele fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai.
4 Tirou os altos, quebrou as colunas, e deitou abaixo a Asera; e despedaçou a serpente de bronze que Moisés fizera (porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso), e lhe chamavam Neustã.
5 Confiou no Senhor Deus de Israel, de modo que depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.
6 Porque se apegou ao Senhor; não se apartou de o seguir, e guardou os mandamentos que o Senhor ordenara a Moisés.
7 Assim o Senhor era com ele; para onde quer que saísse prosperava. Rebelou-se contra o rei da Assíria, e recusou servi-lo.
8 Feriu os filisteus até Gaza e os seus termos, desde a torre dos atalaias até a cidade fortificada.
9 No quarto ano do rei Ezequias que era o sétimo ano de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, Salmanasar, rei da Assíria, subiu contra Samaria, e a cercou
10 e, ao fim de três anos, tomou-a. No ano sexto de Ezequias, que era o ano nono de Oseias, rei de Israel, Samaria foi tomada.
11 Depois o rei da Assíria levou Israel cativo para a Assíria, e os colocou em Hala, e junto ao Habor, rio de Gozã, e nas cidades dos medos;
12 porquanto não obedeceram à voz do senhor seu Deus, mas violaram o seu pacto, nada ouvindo nem fazendo de tudo quanto Moisés, servo do Senhor, tinha ordenado.
13 No ano décimo quarto do rei Ezequias, subiu Senaqueribe, rei da Assíria, contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou.
14 Pelo que Ezequias, rei de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro.
15 Assim deu Ezequias toda a prata que se achou na casa do Senhor e nos tesouros da casa do rei.
16 Foi nesse tempo que Ezequias, rei de Judá, cortou das portas do templo do Senhor, e dos umbrais, o ouro de que ele mesmo os cobrira, e o deu ao rei da Assíria.
17 Contudo este enviou de Laquis Tartã, Rabe-Sáris e Rabsaqué, com um grande exército, ao rei Ezequias, a Jerusalém; e subiram, e vieram a Jerusalém. E, tendo chegado, pararam ao pé do aqueduto da piscina superior, que está junto ao caminho do campo do lavandeiro.
18 Havendo eles chamado o rei, saíram-lhes ao encontro Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o cronista.
19 E Rabsaqué lhes disse: Dizei a Ezequias: Assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa em que te estribas?
20 Dizes (são, porém, palavras vãs): Há conselho e poder para a guerra. Em quem, pois, agora confias, que contra mim te revoltas?
21 Estás confiando nesse bordão de cana quebrada, que é o Egito; o qual, se alguém nele se apoiar, entrar-lhe-á pela mão e a traspassará; assim é Faraó, rei do Egito para com todos os que nele confiam.
22 Se, porém, me disserdes: No Senhor nosso Deus confiamos; porventura não é esse aquele cujos altos e altares Ezequias tirou dizendo a Judá e a Jerusalém: Perante, este altar adorareis em Jerusalém?
23 Ora pois faze uma aposta com o meu senhor, o rei da Assíria: dar-te-ei dois mil cavalos, se tu puderes dar cavaleiros para eles.
24 Como, então, poderias repelir um só príncipe dos menores servos de meu senhor, quando estás confiando no Egito para obteres carros e cavaleiros?
25 Porventura teria eu subido sem o Senhor contra este lugar para o destruir? Foi o Senhor que me disse: sobe contra esta terra e a destrói.
26 Então disseram Eliaquim, filho de Hilquias, e Sebna, e Joá, a Rabsaqué: Rogamos-te que fales aos teus servos em aramaico, porque bem o entendemos; e não nos fales na língua judaica, aos ouvidos do povo que está em cima do muro.
27 Rabsaqué, porém, lhes disse: Porventura mandou-me meu senhor para falar estas palavras a teu senhor e a ti, e não aos homens que estão sentados em cima do muro que juntamente convosco hão de comer o seu excremento e beber a sua urina?
28 Então pondo-se em pé, Rabsaqué clamou em alta voz, na língua judaica, dizendo: Ouvi a palavra do grande rei, do rei da Assíria.
29 Assim diz o rei: Não vos engane Ezequias; porque não vos poderá livrar da minha mão;
30 nem tampouco vos faça Ezequias confiar no Senhor, dizendo: Certamente nos livrará o Senhor, e esta cidade não será entregue na mão do rei da Assíria.
31 Não deis ouvidos a Ezequias; pois assim diz o rei da Assíria: Fazei paz comigo, e saí a mim; e coma cada um da sua vide e da sua figueira, e beba cada um a água da sua cisterna;
32 até que eu venha, e vos leve para uma terra semelhante à vossa, terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas, terra de azeite de oliveiras e de mel; para que vivais e não morrais. Não deis ouvidos a Ezequias, quando vos envenena, dizendo: O Senhor nos livrará.
33 Porventura os deuses das nações puderam livrar, cada um a sua terra, das mãos do rei da Assíria?
36 Que é feito dos deuses de Hamate e de Arpade? Que é feito dos deuses de Sefarvaim, de Hena e de Iva? porventura livraram Samaria da minha mão?
35 Dentre todos os deuses das terras, quais são os que livraram a sua terra da minha mão, para que o Senhor livre Jerusalém da minha mão?
36 O povo, porém, ficou calado, e não lhe respondeu uma só palavra, porque o rei ordenara, dizendo: Não lhe respondais.
37 Então Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o cronista, vieram a Ezequias com as vestes rasgadas, e lhe fizeram saber as palavras de Rabsaqué.” (II Rs 18.1-37).
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 03/01/2013
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