O Nascimento do Grande Profeta Samuel – I Samuel 1
O primeiro capítulo do livro de I Samuel destaca a maravilhosa e sobrenatural providência e presciência de Deus trazendo ao mundo um menino que marcaria uma grande diferença na história de Israel, reconduzindo o povo do Senhor aos Seus caminhos, influenciando a muitos em Israel, pelo seu exemplo de santidade e obediência.
Com Samuel, Deus estaria comprovando mais uma vez, tal como fizera no período dos Juízes, que é pela Sua própria soberania e poder, que Ele reconduz o Seu povo à verdade, e que aviva aquilo que estava morrendo, e com isto nós podemos tirar a lição de que podemos confiar inteiramente nEle, de modo a não concluirmos que a situação da Igreja possa ser de desespero, isto é, de não haver qualquer esperança para ela, quando as coisas não caminham segundo a verdade, e quando o povo de Deus se desvia da prática da Sua vontade.
A Igreja prevalecerá como Cristo tem prometido. E isto está sendo demonstrado pelo Senhor ao longo da história.
A Igreja não estava morta na Inglaterra, no País de Gales, na própria América, nos primórdios do século XVIII?
E o que fez Deus a partir de fins da década de 30 daquele século? Ele não reavivou poderosamente a Igreja através do testemunho e da pregação dos homens que levantou?
Os Wesleys e George Whitefield na Inglaterra; Daniel Rowland e Howell Harris, no País de Gales; Jonathan Edwards nos EUA, para não citar outros.
E quando as coisas não iam bem de igual modo, na Igreja antiga de Israel, Ele levantou Samuel, conforme nos é revelado na Sua Palavra, e é isto que devemos aprender principalmente de toda esta história que nos é narrada no livro que estamos estudando: a dependência que os servos de Deus têm da Sua ação direta para promover os consertos de rumo que são necessários na história do Seu povo.
Podemos estar certos de que Ele sempre levantará pastores segundo o Seu coração, que apascentem o Seu rebanho com inteligência e com conhecimento, conforme tem prometido. E Ele tem sido inteiramente fiel no que nos tem prometido, de modo que isto sirva de encorajamento a confiarmos e intensificarmos nossas orações junto ao trono da graça, para que o próprio Deus venha estabelecer o Seu reino entre nós e a capacitar-nos a fazer a Sua vontade.
Comparando a citação do primeiro versículo: “Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efratita.”, com o texto de I Cr 6.33-38, que destacamos a seguir, nós podemos ver que apesar de a família de Samuel residir em Efraim, e se afirmar isto no primeiro versículo de I Sm 1, todos eles eram levitas, e da mesma genealogia de Coate, um dos filhos de Levi, tal como Moisés e Arão o foram.
No texto de I Crôn 6.33-38, nós vemos que Hemã, que foi designado ao lado de Asafe e Etã a entoarem salmos e cânticos no templo (I Cr 15.19), era neto de Samuel, pois era filho de Joel, filho de Samuel.
Concluímos então que a citação a Efraim deveu-se não à naturalidade dos familiares de Samuel como pertencentes àquela tribo, mas como levitas que haviam se fixado na citada tribo, pois como sabemos, os levitas não receberam herança em Canaã, senão quarenta e oito cidades espalhadas em todo Israel, nas quais habitavam; e também já aprendemos especialmente em Josué, que seis destas quarenta e oito cidades eram cidades de refúgio.
Muitas versões traduzem de modo equivocado a palavra do original hebraico, que aparece no final do verso 1: “, efrata, por efraimita, quando a melhor tradução seria efratita ou efrateu, isto é, alguém natural, de Efrata, uma antiga designação de Belém (Rute 1.2).
Como se vê neste primeiro capitulo do primeiro livro de Samuel, a sua família era devotada a Deus, especialmente em razão de serem levitas.
Elcana seu pai, subia de ano em ano a Siló, onde estava o tabernáculo, para apresentar sacrifícios e adorar ao Senhor (v. 3).
E é aqui que é usada pela primeira vez nas Escrituras o nome de Senhor dos Exércitos, Jeová Tzabaoth (v. 3, 11), provavelmente para confortar Israel naquela época em que o seu exército era pequeno e fraco, e era consolador saber que o Deus que serviam era o Senhor de todos os exércitos, quer na terra como no céu.
A fidelidade de Elcana é particularmente destacada porque num tempo em que os próprios sacerdotes, Hofni e Finéias, filhos de Eli, eram infiéis a Deus e ao serviço sagrado, que deveriam realizar com zelo e fidelidade; e que tantos em Israel estavam entregues a uma grosseira idolatria.
Mas em meio a tudo isto, Elcana mantinha a sua integridade no dever de adorar ao Senhor, e o fazia com toda a sua família, quando a Lei exigia somente dos homens o dever de subir anualmente ao local onde se encontrasse o tabernáculo, para celebrarem as festas fixas e solenes determinadas pelo Senhor.
E seria no meio desta família devotada, que o Senhor se proveria de um menino, que lhe seria consagrado desde o seu nascimento, conforme inspiraria a Sua mãe a fazê-lo, de modo que purificasse o ofício sagrado do sacerdócio do tabernáculo, pondo-o como sacerdote no lugar de Eli e seus filhos Hofni e Finéias.
A obra de um Deus santo deve ser realizada obrigatoriamente por aqueles que atentam para a necessidade de santidade de suas próprias vidas.
Todavia, mesmo que o ministro seja infiel, Deus permanecerá fiel e fará a sua parte relativamente às bênçãos que tem determinado para o Seu povo, e esta é a razão de derramar a Sua graça sobre aqueles que o buscam, e que se encontram debaixo de um ministério infiel, porque a validade e a eficácia do sacramento não depende da pureza daquele que o administra, senão da sinceridade daquele que os recepciona, com verdadeira fé no Senhor.
É por isso que os sacrifícios oferecidos por Elcana eram aceitáveis a Deus, apesar de os sacerdotes Hofni e Finéias terem estado reprovados aos olhos do Senhor.
Este é o motivo de que mesmo no ministério de pastores, que não honram ao Senhor do modo adequado, pelo qual deve ser honrado, se veja as graças de Deus sendo derramadas sobre o povo que se encontra debaixo da direção deles, porque buscam o Senhor com sinceridade de coração.
Por isso, nenhum crente está impedido de ser abençoado por Deus. ainda que, por força das circunstâncias, esteja debaixo de um mau ministério.
Ainda que os dons da graça não possam ser revogados e impedidos de serem concedidos por Deus em Sua soberania aos Seus escolhidos, por conta de um ministério infiel, descuidado e pecaminoso, certamente aqueles que o ocupam receberão das mãos dEle, no tempo apropriado, a devida paga pelos seus maus atos, tal como sucedera com Eli e seus dois filhos.
O Senhor não terá por inocente aquele que faz a Sua obra relaxadamente, e interpõe uma maldição sobre os tais.
Eles ficam sob a pena de um anátema que trará os juízos do Senhor sobre eles, tal como se refere o apóstolo em Gálatas, quanto àqueles que pregam um evangelho diferente do único e verdadeiro evangelho.
Não se pense portanto, que a dispensação da graça alterou o modo de Deus julgar o Seu próprio povo, pois Jesus fala da remoção de castiçais (Igrejas) cujos anjos (pastores) não levassem a sério as Suas exortações, sobre a necessidade de arrependimento (Apo 2.5).
E isto se aplica às Igrejas de todas as épocas, que tal como a Igreja de Éfeso, citada em Apocalipse, abandonam o primeiro amor e necessitam portanto, de arrependimento.
Não temos deste modo, diante de nós uma história que ilustra a maneira de se gerar um filho quando se é estéril, mas como Deus cumpre os seus propósitos, trazendo ao mundo pessoas até mesmo de mulheres estéreis, como foi o caso não apenas de Ana, mãe de Samuel, mas de Sara, Rebeca, Raquel, da mãe de Sansão e de Isabel, mãe de João, que geraram filhos segundo o propósito estabelecido por Deus para a vida daqueles que seriam por elas gerados.
A lição é que nenhum impedimento natural poderá frustrar o cumprimento do propósito sobrenatural de Deus, conforme bem o ilustra a história de todos os filhos que foram gerados por estas mulheres.
Possivelmente Ana era a primeira e legítima esposa de Elcana, e ele deve ter tomado a Penina como sua segunda esposa pelo fato de Ana não ter gerado filhos.
E assim, transgredindo a instituição original do matrimônio (Mt 19.5,8), ele ficou sujeito ao mesmo dano de divisões a que haviam ficado sujeitos no passado tanto Jacó, quanto Abraão.
No entanto, as divisões não puderam impedir a devoção daquela família.
E por certo, nenhum tipo de divisão na Igreja pode impedir a nossa devoção ao Senhor, caso estejamos determinados a isto, tal como Elcana.
Na verdade, a devoção de uma família deve acabar com as suas divisões.
Daí a importância do chamado culto doméstico, que é um poderoso instrumento para acabar com as divisões num lar, pelas intervenções e operações do Espírito Santo, que gera unidade nos corações daqueles que buscam a Deus.
Se as devoções de uma família não conseguem acabar com suas divisões, contudo não deixe as divisões acabarem com as devoções.
Nós vemos no verso 5 que tal como no caso de Jacó, Penina era como Léia, que deu muitos filhos a Jacó, mas Ana, como Raquel, apesar de estéril era mais amada por Elcana, e ele procurava compensá-la com agrados e atenções maiores do que os que dispensava a Penina, para mostrar o maior afeto que sentia por ela.
Isto certamente provocava ciúmes em Penina, que se tornou arrogante e insolente, pois procurava ocasião para humilhar Ana, pelo fato de ser estéril (v. 6,7).
E isto sucedia especialmente quando iam anualmente a Siló para apresentarem sacrifícios ao Senhor e adorá-lo; pois era uma forma que Penina encontrava para tentar impedir a devoção de Ana a Deus.
A provocação que lhe era dirigida a entristecia de tal modo que se sentia impedida de comer da oferta pacífica que era oferecida ao Senhor.
A Lei determinava que a parte que cabia ao ofertante deveria ser comida na presença do sacerdote, com alegria.
Então a tristeza seria um impedimento para se comer como sinal de gratidão a Deus (Lev 10.19; Dt 26.14).
Certamente Penina sabia disto e era por este motivo que irritava Ana.
Apesar de receber uma porção maior da parte de Elcana, ela ficaria impedida de comê-la, por causa da tristeza que era produzida por Penina no seu coração.
Veja que isto sucedeu por anos sucessivos até que Ana resolveu derramar a sua alma na presença de Deus.
Vale a pena destacar o modo pelo qual ela o fizera, e quais foram as consequências imediatas daquela oração, pois se diz que o seu rosto já não era triste e ela pôde assim demonstrar a Sua gratidão a Deus, mesmo em meio ao seu sofrimento, porque agora havia esperança em seu coração de que o Senhor faria algo em seu favor. Isto nós vemos nos versos 10 a 18.
Ela orou com amargura de alma e chorou muito (v. 10), e fez um voto, dizendo que se Deus atentasse para a sua aflição e lhe desse um filho varão, ao Senhor ela o dedicaria por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passaria navalha, por consagrá-lo para sempre como nazireu a Deus (v. 11).
Ela orava com o seu coração, movendo apenas os lábios, de modo que sua voz não fosse ouvida, e para não ser revelado a ninguém a amargura da sua alma e o voto que estava fazendo a Deus (v. 12,13).
Tendo o sacerdote Eli observado o seu comportamento pensou que estivesse embriagada e a repreendeu (v. 14), e não era fácil para ele distinguir entre mulheres sinceramente devotadas e o contrário, porque era muito mais comum os casos de prostituição desenfreada promovida pelos seus próprios filhos, que se prevaleciam do cargo que ocupavam, para se deitarem com mulheres que serviam no tabernáculo (2.22).
Entretanto, Ana não levou em conta a repreensão de Eli e revelou a ele a tribulação do seu espírito (v. 15 e 16). Contudo, não lhe disse nada sobre o voto que fizera.
Mas tendo Eli visto a sua sinceridade, disse-lhe que fosse em paz e que o Deus de Israel lhe concedesse a petição que fizera (v. 17).
E ela acrescentou o seu amém à bênção de Eli dizendo que esperava achar graça aos seus olhos, e tendo sido revigorada em sua alma, pela oração que fizera, saiu da presença de Eli e comeu a parte da oferta pacífica que lhe cabia, e se afirma que o seu semblante já não era triste (v. 18).
A submissão de Ana e seu respeito ao ofício sumo sacerdotal, do qual Eli estava investido, fez com que a repreensão dele se transformasse em bênção.
E há nisto uma grande lição para todos nós no sentido de que pela nossa atitude submissa e humilde diante da repreensão injusta que sofremos por parte daqueles que estão investidos de autoridade, podemos torná-los favoráveis a nós, e transformar as suas censuras, em orações em nosso favor.
Aqui cabe assinalar que a palavra templo é usada pela primeira vez em relação ao tabernáculo no verso 9, porque agora ele estava instalado de forma fixa em Siló, e já não era mais transportado de lugar a lugar, como nos dias da peregrinação no deserto.
A palavra para tabernáculo é mishekan, que significa morada habitação, e a que encontramos aqui no verso 9, para templo é heykal, que significa um lugar público espaçoso, um palácio, um templo propriamente dito.
Ana era realmente uma mulher consagrada ao Senhor, e esta era a razão pela qual Satanás a provocava através de Penina, pois ele sempre procura interferir na adoração dos filhos de Deus, tentando desfigurá-la ou mesmo impedi-la. Mas a vigilância, a perseverança na oração sempre o vencerá, tal como sucedeu com Ana.
Por isso nós lemos em Jó 1.6 que quando os filhos de Deus vieram se apresentar ao Senhor, Satanás veio entre eles.
Como o voto das mulheres, segundo a lei, deveriam ser confirmados pelos maridos, certamente Elcana foi informado por Ana do voto que fizera e este o confirmara com o seu silêncio ou com sua aprovação positiva, conforme prescrito na Lei de Moisés.
E é um direito dos pais o de dedicarem seus filhos a Deus, especialmente para que venham a servi-lo como seus ministros, quando crescerem e se converterem a Ele, pela instrução recebida de seus pais, quanto ao modo que o Deus vivo deve ser adorado e servido.
É uma ordenança de Deus de que os pais ensinem a seus filhos o caminho do Senhor, e especialmente a Sua Palavra.
E nenhuma consagração que não leve em conta este dever, terá sido uma consagração verdadeira, porque aquele que não honra e não teme a Deus e não obedece a Sua Palavra, não está em condições de dedicar nenhum outro ser, enquanto o seu próprio não Lhe está consagrado.
No verso 19 é dito que antes de regressar à sua residência em Ramá, Elcana e sua família se levantaram de madrugada para adorarem perante o Senhor.
E se diz também que Elcana conheceu a Ana e o Senhor se lembrou dela, isto é, da petição que ela lhe havia dirigido, e decorrido o tempo devido, Ana concebeu e teve um menino ao qual chamou de Samuel, Shemuel, que no hebraico significa pedido a Deus (v. 20).
Depois do nascimento de Samuel, Elcana retornou a Siló com sua família no tempo designado, para oferecer o sacrifício anual e cumprir o seu voto (v. 21). Entretanto, Ana decidiu não subir até que o menino fosse desmamado, ocasião em que compareceria perante o Senhor para cumprir o voto de dedicação que havia feito, de modo que Samuel ficaria no tabernáculo para sempre (v. 22).
Nós vemos nisto tudo a mão do Senhor, porque humanamente falando, é totalmente contrário à natureza materna, especialmente no caso de uma mulher piedosa como Ana, abrir mão de um filho, e ainda mais em se tratando de um filho único que fora concebido em meio a uma esterilidade, sem que houvesse sequer o vislumbre da possibilidade de uma nova gravidez.
Ela dera um passo pela fé, sem a qual é impossível agradar a Deus, e como agira pela fé, o Senhor que é bom e gracioso viria a conceder que ela engravidasse no futuro e ela teve mais três filhos e duas filhas (2.21).
Mas tudo isto estava encoberto a Ana quando agiu contra a sua própria natureza, por inspiração e capacitação recebida de Deus para dar-lhe por devolvido aquele que a história de Israel haveria de comprovar, que pertencia de fato ao Senhor e não a Ana.
Ela pôs este nome no menino (pedido a Deus) para certamente recordar da obrigação que tinha se comprometido a cumprir por meio de voto, de dedicá-lo para sempre ao Senhor, pois fora recebido dEle como resposta de oração, para o propósito afirmado em seu coração de dá-lo de volta ao Senhor, de quem ela o havia recebido de modo sobrenatural, pois não poderia concebê-lo de outro modo porque era estéril.
Ao conceder-lhe que concebesse, o Senhor retirou de sobre ela a vergonha que sentia no seio de sua família, e o motivo das acusações cruéis de Penina, e estaria agora, em reconhecida gratidão, cumprindo o voto que se sentira inspirada a fazer a Deus, pois este fizera com que concebesse um menino muito especial, que Ele conhecera antes mesmo de formá-lo no seu ventre, de forma que seria grandemente usado para fazer aquilo que nenhum dos juízes de Israel havia conseguido, num período superior a trezentos anos, a saber, reestruturar a vida religiosa de Israel segundo a Lei de Moisés, e fazer com que retornassem os dias áureos vividos por Israel enquanto vivia Josué.
Nada disto fora revelado a Ana, e Deus cumpriu o Seu propósito em meio ao que parecia uma simples questão de atendimento de uma necessidade pessoal.
Interesses muito mais elevados e de toda uma nação estavam em jogo em tudo aquilo.
Certamente o mesmo se dá conosco em obras, que começamos a fazer pela vontade de Deus, e que culminam em resultados extraordinários, que jamais seríamos capazes de conceber, que já se encontravam no coração de Deus desde antes do início da chamada que nos fizera para dar os primeiros passos de um empreendimento que haveria de culminar em obras muito maiores do que a simples imaginação humana seria capaz de conceber.
E quando Samuel foi desmamado, quando era ainda muito criança, Ana tomou consigo um novilho de três anos para ser oferecido em sacrifício ao Senhor, uma efa de farinha e um odre de vinho como oferta pacífica e libação, e tendo apresentado tais ofertas em Siló trouxe Samuel a Eli e somente então lhe revelou qual era o pedido que havia feito ao Senhor, quando ele, Eli, lhe havia abençoado, e que havia consagrado Samuel ao Senhor por todos os dias da sua vida.
Tendo feito isto, ambos adoraram ali mesmo ao Senhor (v. 24 a 28).
“1 Houve um homem de Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efratita.
2 Tinha ele duas mulheres: uma se chamava Ana, e a outra Penina. Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.
3 De ano em ano este homem subia da sua cidade para adorar e sacrificar ao Senhor dos exércitos em Siló. Assistiam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.
4 No dia em que Elcana sacrificava, costumava dar porções deste a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas;
5 porém a Ana, porque a amava, dava porção dupla, ainda mesmo que o Senhor a houvesse deixado estéril.
6 Ora, a sua rival muito a provocava para irritá-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a madre.
7 E assim sucedia de ano em ano que, ao subirem à casa do Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta chorava e não comia.
8 Então Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? e por que não comes? e por que está triste o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?
9 Então Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava sentado, numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor.
10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou muito,
11 e fez um voto, dizendo: ó Senhor dos exércitos! se deveras atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não passará navalha.
12 Continuando ela a orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca;
13 porquanto Ana falava no seu coração; só se moviam os seus lábios, e não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada,
14 e lhe disse: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.
15 Mas Ana respondeu: Não, Senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte, porém derramei a minha alma perante o Senhor.
16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora.
17 Então lhe respondeu Eli: Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.
18 Ao que disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e já não era triste o seu semblante.
19 Depois, levantando-se de madrugada, adoraram perante o Senhor e, voltando, foram a sua casa em Ramá. Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.
20 De modo que Ana concebeu e, no tempo devido, teve um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.
21 Subiu, pois aquele homem, Elcana, com toda a sua casa, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto.
22 Ana, porém, não subiu, pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre.
23 E Elcana, seu marido, lhe disse: faze o que bem te parecer; fica até que o desmames; tão-somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e amamentou seu filho, até que o desmamou.
24 Depois de o ter desmamado, ela o tomou consigo, com um touro de três anos, uma efa de farinha e um odre de vinho, e o levou à casa do Senhor, em Siló; e era o menino ainda muito criança.
25 Então degolaram o touro, e trouxeram o menino a Eli;
26 e disse ela: Ah, meu Senhor! tão certamente como vive a tua alma, meu Senhor, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, orando ao Senhor.
27 Por este menino orava eu, e o Senhor atendeu a petição que eu lhe fiz.
28 Por isso eu também o entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor está entregue. E adoraram ali ao Senhor.” (I Sm 1.1-28).