Se Fez Pecado Para Sermos Justiça
Jesus se fez pecado para que nós fôssemos feitos justiça de Deus.
Ele foi ferido para que nós fôssemos sarados.
Ele carregou sobre si os nossos pecados e as consequências do pecado, como enfermidades, dores e sofrimentos, para que fôssemos libertados tanto do pecado, quanto destas e outras consequências.
Agora, o modo de aplicação destes benefícios não é absoluto e final, enquanto estivermos neste mundo, porque, ainda estamos sujeitos à ação do pecado na nossa natureza terrena, e às suas consequências, para propósitos específicos determinados por Deus, especialmente para exercício da nossa fé, e para o dever de nos aplicarmos diligentemente a buscar o Senhor, para mortificação dos resquícios do pecado que permanecem na carne.
Por isso, Jesus disse aos apóstolos, apesar de já serem convertidos, que vigiassem e orassem para não caírem em tentação, porque apesar de o espírito estar pronto, a carne é fraca.
Quando lhes lavou os pés mostrou que isto deveria ser feito constantemente, apesar de já terem sido lavados pela palavra que lhes havia falado.
Os cristãos já estão regenerados e santificados pela habitação do Espírito Santo, e pela Palavra de Deus, mas devem progredir em santificação, mortificando o pecado e se revestindo das virtudes de Cristo.
Para este propósito, Deus pode usar de meios diversos em Sua soberania, inclusive das enfermidades que Cristo levou sobre si no madeiro, como forma de correção e disciplina daqueles que pretende aperfeiçoar em seu crescimento espiritual.
Não há qualquer paradoxo ou contradição nisto, porque apesar de terem os cristãos sido libertados da escravidão ao pecado, não há na Nova Aliança, qualquer promessa que seriam perfeitamente livres de pecados, e de uma das consequências do pecado, que são as enfermidades físicas, enquanto viverem neste mundo.
O que é prometido abundantemente na Nova Aliança é que terão esta perfeição do corpo e do espírito na vida do porvir, e mesmo quanto ao corpo deve ser dito que será ressuscitado, não em corpo de carne e sangue, mas em corpo celestial, glorificado.
Muitas lições são aprendidas pelos cristãos em razão do fato de Deus não lhes ter concedido a perfeição total neste mundo, porque podem aprender daí, a se exercitarem em humildade, dependência, intercessão, clamor, compaixão e em muitas outras coisas úteis, que devem aprender em sua jornada terrena.
Assim, o fato de os pecados terem sido levados pelo bode emissário para o deserto do esquecimento, o que, como já dissemos era uma figura da obra de Cristo em nosso favor, não temos no entanto uma aplicação absoluta deste beneficio obtido pelos méritos exclusivos de Cristo, enquanto estivermos ainda neste mundo, porque a plenitude do cumprimento desta bênção será obtida somente na glória vindoura.
O mesmo se pode dizer da libertação do pecado por meio da fé em Cristo, e como se lê nas Escrituras, especialmente na epístola de Paulo aos Romanos.
O cristão não é mais um escravo do pecado, mas não está livre, como já dissemos antes, de modo absoluto da influência do pecado enquanto estiver neste mundo, pois apesar de não estar mais sujeito ao pecado, como um escravo, não necessitando obedecê-lo, entretanto, estará numa guerra constante entre a carne e o Espírito, que será maior ou menor, dependendo do grau da sua santificação e consagração.
Com isto, os que se santificam são incentivados a prosseguirem no trabalho de mortificação da carne pelo Espírito, pelos bons resultados que observam na sua obediência e dependência de Deus, e nisto são exercitados pelo Senhor, em seu discernimento relativo ao seu progresso espiritual.
Não podemos tomar como promessa aquilo que não é prometido nas Escrituras.
Todas as bênçãos e vitórias que foram obtidas pelos cristãos por meio de Cristo, devem ser submetidas às condições e afirmações que são feitas a respeito delas nas Escrituras, de modo que saibamos discernir de que forma elas nos estão sendo concedidas por Deus, especialmente se de modo absoluto ou em graus.
Por exemplo, a redenção, a justificação e a regeneração nos foram concedidas de modo absoluto, mas a santificação nos tem sido dada em graus, e por isso somos chamados a fazer progresso em santidade.
A glorificação é também proporcional ao nosso avanço em santificação, pois se diz que somos transformados de glória em glória.
Concluímos também que não a temos recebido de modo absoluto, e sabemos perfeitamente que esta glória só será plena no céu.
No entanto, a santificação e a glorificação são também promessas da Nova Aliança para os cristãos.
Por isso, o apóstolo João afirma em relação aos cristãos, que caso afirmem que não têm mais pecado, estarão mentindo e a verdade não estará neles.
Pois ainda que o propósito de Deus seja o de que não vivam de fato pecando, por mais que se esforcem neste sentido, estarão sujeitos ainda a pecar, ainda que involuntária e eventualmente, pelo fato de permanecerem na carne, e esta é fraca.
O trabalho de mortificação da carne é um trabalho contínuo que dura toda a vida, pois o pecado uma vez vencido deve ser vigiado, porque está sempre pronto a se levantar, tal como a erva daninha que foi cortada no campo, e que sempre volta a brotar.
Então é um trabalho para todos os dias da vida, porque por falta de vigilância e oração, o pecado poderá levar vantagem sobre os cristãos.
Daí se ordenar que se ande no Espírito para que não sejam satisfeitos os desejos da carne.
Vemos então que aquele perdão total de pecados, por mais um ano, provido no Dia da expiação nacional na Antiga Aliança, revela a longanimidade e misericórdia de Deus em relação às nossas muitas transgressões, se confiamos em Cristo como nosso substituto e expiação, e se Lhe confessamos os nossos pecados, sem que isto signifique que Deus deixaria de visitar em Sua soberania os pecados que viessem a ser praticados pelo povo de Israel no Antigo Pacto, ou mesmo pela igreja na Nova Aliança.
Reenfatizamos a bondade e a misericórdia de Deus, demonstradas particularmente para Arão e sua casa, com a instituição do dia da expiação, para que lhe servisse de consolo e segurança de que o nosso Deus não é um Senhor cruel legalista pronto a nos ferir e destruir em face de sermos pecadores, e transgressores, ainda que involuntariamente, dos Seus mandamentos.
Ao contrário Ele se mostra simpático às nossas dores e sofrimentos.
Ele se compadece das nossas fraquezas, e revelou isto na própria Lei.
Jesus tomou sobre si os nossos sofrimentos como se fossem Seus próprios sofrimentos.
Tomou sobre Si as dores das nossas enfermidades como se fossem as Suas próprias enfermidades.
Enfim, Ele se identificou plenamente com os nossos sofrimentos, de forma que lemos o seguinte em Is 63.9:
“Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; no seu amor, e na sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os carregou todos os dias da antiguidade.”