Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Firmeza da graça e a Fraqueza da Carne
 
Por que nosso Senhor teria alertado aos próprios apóstolos para vigiarem e orarem em todo o tempo, alegando que o espírito está pronto mas a carne é fraca?
Se não houvesse o risco de se decair da Sua graça, que é poderosa para nos firmar na fé até o fim, enquanto consentirmos e cooperarmos com o seu trabalho de santificação, porque teríamos tantos alertas na Bíblia quanto ao perigo de decair da graça?
Em II Pe 3.17 o apóstolo Pedro alerta os cristãos quanto ao perigo de descair da firmeza da graça, por darem ouvidos ao erro doutrinário de falsos mestres.
Paulo afirmou que muitos cristãos gálatas que procuravam se justificar pelas obras da Lei, haviam decaído da graça.
E o mesmo apóstolo exortou a igreja de Corinto a vigiar, para não cair da graça por pensarem estar de pé pelo seu próprio poder, sem se sujeitarem ao trabalho do Espírito Santo.
Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo, em muitas parábolas afirmou o caso de servos infiéis, que foram lançados nas trevas exteriores, como se vê por exemplo na parte final de Lucas 12 e na parábola dos talentos.     
A graça e a obra de salvação é segura, a ponto de nosso Senhor afirmar que não lançará fora de modo algum, a qualquer que venha a Ele.
Isto pressupõe, para muitos, que a salvação de genuínos cristãos é irrevogável. E cremos que, de fato, genuínos cristãos perseverarão até o fim, especialmente em razão do trabalho paciente e poderoso realizado pelo Espírito Santo, em suas vidas.
Todavia, como a igreja visível, neste mundo, está cheia de pessoas que parecem ser cristãos, mas que na verdade não são, torna-se muito difícil para o simples juízo humano saber quem é, e quem não é cristão de fato.    
Por isso, os cristãos devem provar para si mesmos, pela perseverança em fé e santificação, que pertencem realmente ao Senhor, confirmando, ou seja, comprovando assim, a sua eleição.
E a estes que perseveram se aplicam as palavras do autor de Hebreus, quando diz que destes se esperam coisas melhores pertencentes à salvação, e que não pertencem ao grupo dos que recuam na fé, mas sim que pertencem ao grupo dos que permanecem na fé, para a preservação de suas almas.
O próprio Deus afirma que o seu justo viverá pela fé, mas caso recue, a sua alma não tem prazer nele.
O apóstolo João disse em sua primeira epístola que um grupo de pessoas havia abandonado definitivamente a comunhão da igreja, porque não contavam entre os verdadeiros cristãos, e disse também que caso o fossem, teriam permanecido no ajuntamento dos santos.
Ele disse isto, porque é o Espírito Santo, que habita naquele que é realmente cristão, que o faz perseverar até o fim. Ele não recuará na fé, desligando-se definitivamente de Cristo, por nada deste mundo.       
Vemos então, que no que depende de Deus, a salvação é para ser eterna, conforme a Sua divina promessa, de modo que jamais anulará por Sua exclusiva iniciativa a aliança que fez com os cristãos.
Todavia, ainda que pecados, dores de consciência e conflitos espirituais eventuais possam ser perdoados por Deus, mediante confissão e arrependimento, não anulando a aliança, é biblicamente afirmado que cairá da graça, que será queimado o ramo que não permanecer na Videira Verdadeira, que é Cristo, por causa de uma apostasia deliberada, na qual o suposto cristão esteja muito confortável e determinado na prática de uma vida pecaminosa, e contrária à vontade de Deus.
Assim, ainda que Deus seja sempre fiel ao pacto, não poderá garantir a permanência de um  apóstata convicto no mesmo.
Daí se afirmar a necessidade que  temos de perseverança e de confirmar a nossa eleição, através do crescimento na graça e no conhecimento de Jesus, não para que sejamos salvos, porque somos salvos por pura graça e fé, mas para evidenciarmos para nós mesmos, que somos salvos de fato, ou seja, para termos essa certeza.
O trabalho da nossa salvação é totalmente realizado e garantido por Jesus, mas deve ser comprovado mediante a nossa perseverança na fé. Daí Ele mesmo ter afirmado que somente o que perseverar até o fim é que será salvo.
Por isso vemos ser afirmado em Hb 6 tal firmeza e segurança, no que tange ao trabalho do Senhor na nossa salvação, porque afinal não é fraco Aquele que nos concede a Sua graça, todavia, no início do  mesmo capítulo, somos alertados também quanto ao perigo de uma apostasia deliberada pela nossa própria iniciativa.
Assim, é necessário ter sabedoria para se saber discernir tal deliberação pecaminosa, com resistência ao arrependimento, ou seja, à mudança de comportamento carnal para espiritual, porque o próprio Senhor ordena que os apóstatas sejam considerados pela Igreja como  sendo gentios e publicanos.
E é bem sabido que gentios e publicanos que não se arrependem, jamais serão achados no céu.
Estes que estavam na Igreja e que foram iluminados e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, estão expondo Jesus à ignomínia e de novo crucificando-O para si mesmos, porque pelo seu procedimento dão um falso e terrível testemunho de que a graça do Senhor não teria sido o suficientemente forte e poderosa para mantê-los firmes na fé.
No entanto, eles próprios é que não se submeteram a um trabalho contínuo no coração, e daí, se afirmar deles na palavra que o seu último estado se tornou pior do que o primeiro, quando não estavam se submetendo ainda ao contínuo cair da graça sobre eles, por participarem da igreja visível, e ouvirem a pregação do evangelho, sem no entanto permitirem o trabalho da graça em seus corações.
A graça é suficiente para qualquer pecador, mas estes que recuam, preferiram seguir o pendor da carne em vez do pendor do Espírito.
São como Demas, que abandonou o apóstolo Paulo e a obra missionária por ter amado o mundo. 
Mas, como afirmamos antes, nos guardemos de errar por julgarmos que qualquer pecado praticado pelo cristão consiste nesta terrível apostasia que é para a perdição eterna.
Há poder no sangue de Jesus para perdoar pecados e nos purificar de toda injustiça.
E certamente, Ele o fará se não endurecermos a nossa cerviz, a ponto de nunca nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados. 
Lembremos sempre então que temos com o Senhor uma aliança de amor, que Ele se tornou para nós um Pai amoroso e fiel, mas nunca devemos esquecer também que nosso Pai é inteiramente santo e justo, de maneira que se afirma em Hb 10.26-31, o seguinte:
“26  Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados;
27  pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.
28  Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés.
29  De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?
30  Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo.
31  Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.”
E em Hebreus 12.25-29 lemos o seguinte:
“25  Tende cuidado, não recuseis ao que fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram ouvir quem, divinamente, os advertia sobre a terra, muito menos nós, os que nos desviamos daquele que dos céus nos adverte,
26  aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu.
27  Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam.
28  Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor;
29  porque o nosso Deus é fogo consumidor.”
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 09/01/2013
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