Vencer Oposições para Fazer a Vontade de Deus – Esdras 5
Nós vimos no último versículo do quarto capítulo, anterior a este quinto de Esdras, que estaremos comentando, que as obras do templo foram paralisadas por determinação do rei persa, por instigação dos samaritanos.
Neste quinto capítulo nós vemos os judeus sendo exortados pelos profetas Ageu e Zacarias a reiniciarem as obras que haviam sido paralisadas.
Há muitos princípios a serem aprendidos em relação a tudo isto, e nós estaremos analisando isto de modo detalhado nas linhas seguintes.
Primeiro, devemos considerar que os judeus estavam debaixo do governo e domínio da Pérsia, e seguiram a norma bíblica de obedecerem às autoridades, quando não tentaram se insurgir pelo uso das armas contra a Pérsia, ao serem impedidos de prosseguir na reconstrução do templo, e se sujeitaram à providência divina.
Alguns teriam pegado em armas em nome da fé, mas naquela situação, a fé demandava obediência ao poder governante, no caso a Pérsia, porque era pela permissão divina que os persas estavam dominando o mundo, tal como Babilônia, antes deles.
Isto explica porque Jesus nem os apóstolos proferiram uma só palavra contra a dominação romana, porque ela havia sido prevista nos conselhos de Deus, conforme revelado através do profeta Daniel.
Sobre este princípio de se estar sujeito à autoridade, pela vontade de Deus, ainda temos algumas coisas a falar; entretanto, é necessário enfocar que quando a autoridade terrena tenta impedir uma determinação específica provinda diretamente de Deus, como foi o caso da libertação dos judeus de Babilônia e da reconstrução do templo em Jerusalém, importa antes obedecer a Deus do que aos homens, tal como ocorreu nos dias dos apóstolos, quando as autoridades de Israel, na pessoa dos sacerdotes, tentaram impedi-los de pregar o evangelho.
A construção do templo, naquela ocasião, tal como o evangelho nos dias dos apóstolos e nos nossos próprios dias, configurava o testemunho do cumprimento da vontade de Deus perante todas as nações.
Não admira portanto, que o Senhor tivesse levantado os profetas Ageu e Zacarias, para exortarem os judeus a se lançarem à obra de reconstrução que havia sido paralisada.
Eles deveriam se entregar à execução da tarefa sem se insurgirem contra as autoridades constituídas da Pérsia, porque aos servos de Deus convém serem mansos para com todos, na expectativa que se arrependam e cheguem ao conhecimento da verdade.
Não lhes convém contenderem, especialmente com as autoridades que procedem de Deus.
Como bem se expressou D. M. Lloyd Jones a respeito de ser dever do cristão suportar ofensas sem protestar: “O cristão não deve se preocupar com as ofensas nem com as defesas pessoais. Porém quando é questão de honra, de justiça, da verdade, deve se preocupar e protestar. Quando não se honra a lei, quando ela é violada a olhos vistos, não por interesse pessoal, nem para se proteger a si mesmo, atua como cristão em Deus, como alguém que crê que em última instância toda lei procede de Deus.”.
Ele prossegue dizendo que “nosso Senhor condena todo ressentimento que possamos sentir contra o governo legítimo de nosso país. O governo que está no poder tem o direito de fazer estas coisas, e nosso dever é cumprir a lei. Devemos fazê-lo ainda que estejamos completamente em desacordo com o que se faz, mesmo que o consideremos injusto. Se possui autoridade legal e sanção legitima, nosso dever é fazê-lo.”.
Pedro diz em sua primeira carta:
“Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem.” (I Pe 2.13-14). “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos Senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus.” (I Pe 2.18).
“Se você está fazendo algo e chega um policial e lhe diz que deve levar essa carga por uma milha, não somente deve fazê-lo com alegria, senão estar disposto a caminhar mais uma milha.
O resultado será que quando chegar o policial dirá: “Que pessoa é esta? Que há nele que o faz agir assim? O faz com alegria e mais do que se lhe pede.”. E chegará a esta conclusão: “Este homem é diferente, não parece preocupado por seus próprios interesses. Como cristãos, nosso estado mental e espiritual deveria ser tal, que nada poderia nos ofender.”. (Lloyd Jones)
Foi exatamente esta a atitude dos judeus, conforme podemos observar neste capítulo, quando foram interpelados por aqueles que se dirigiram a eles perguntando com que autoridade estavam desobedecendo o decreto do rei e reconstruindo o templo.
Foi com mansidão que responderam com verdade aos seus inimigos, que tinham aquele direito e que ele havia sido assegurado pelo próprio rei Ciro, quando saíram de Babilônia.
Isto fez com que pedissem para que fosse investigado na corte da Pérsia se era realmente verdade o que estavam dizendo, e isto daria oportunidade para que a defesa deles viesse pela mão dos seus próprios inimigos, porque foram os seus interlocutores junto ao rei Dario, ainda que não para defendê-los, mas para confirmar se era verdade o que haviam alegado, e isto daria ocasião para que fosse descoberto o decreto imperial de Ciro em favor dos judeus, conforme veremos no capítulo seguinte.
Aqueles judeus haviam agido de acordo com a norma bíblica de se estar sujeito à autoridade e puderam assim contar com a proteção de Deus, para levarem adiante o cumprimento da Sua santa vontade.
Os que estão no ministério devem combater segundo as regras, disse o apóstolo Paulo a Timóteo, e muitas coisas estão incluídas nisto, inclusive a que nos temos referido.
Quando os ministros atuam contra a Palavra revelada de Deus, mesmo naquelas coisas ordenadas por Ele, não podem esperar ser bem sucedidos no que fizerem, porque não podemos contar com a aprovação e a assistência do Senhor, quando agimos contra a Sua vontade.
Agora, tal como Jesus elogiou o que devia ser elogiado nas sete Igrejas (Apocalipse 2 e 3), ao mesmo tempo que repreendeu o que deveria ser repreendido, de igual modo ressaltamos o que houve de bom no comportamento dos judeus dos dias de Zorobabel.
Mostraremos agora, no que eles haviam falhado e por isso se tornaram dignos da repreensão divina, através dos profetas Ageu e Zacarias.
Ageu e Zacarias começaram a profetizar no segundo ano do reinado de Dario, conforme se afirma nos primeiros versículos dos seus livros, respectivamente.
Umas poucas coisas tinha o Senhor contra eles, conforme nós vemos especialmente nas repreensões feitas através do profeta Ageu.
É dito que debaixo desta palavra de exortação de Ageu, se animaram e reiniciaram as obras de reconstrução a partir do quarto dia, do sexto mês, do segundo ano do rei Dario (Ag. 1.1).
Nós veremos no capítulo seguinte a este, em Esdras 6.15 que a obra foi concluída no terceiro dia do décimo segundo mês (Adar), no sexto ano do reinado de Dario, portanto, quatro anos após terem sido reiniciadas.
O motivo afirmado pelo Senhor como sendo a causa deles terem ficado paralisados naqueles dezesseis anos, não foi tanto o decreto imperial de Artaxerxes determinando a paralisação, mas o fato de não terem priorizado o reino de Deus e sua justiça.
E, nem mesmo com as manifestações do desagrado divino através das visitações na forma de produção de condições desfavoráveis que são descritas em Ag 1.6-11, por causa da sua indolência espiritual.
Mesmo debaixo de toda a forma de oposição que estavam sofrendo por parte dos samaritanos e que culminou com o decreto de Artaxerxes determinando a paralisação das obras.
Os judeus estavam se ocupando apenas de cuidar de suas vidas pessoais e de suas casas, ainda que estas necessitassem de ser construídas, porque haviam vindo de Babilônia, não somente para reconstruírem o templo como também suas casas.
Mas, como haviam mudado a ordem correta das prioridades, estavam fazendo pouco progresso em seus projetos, pois estavam cuidando primeiro das suas próprias necessidades, sem levarem em conta que importa em primeiro lugar cuidar dos interesses de Deus.
Este era o problema com os judeus nos dias de Zorobabel: Uma pequena fé que não lhes estava permitindo fazer a vontade de Deus em meio às oposições e a colocarem o Seu reino em primeiro lugar em suas vidas.
Uma grande fé nos levará a viver mais para Deus do que para nós mesmos; a amarmos a Sua vontade acima da nossa própria vontade, a nos regozijarmos nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por amor a Cristo (II Cor 12.10).
É fé que descansa no Senhor e faz a Sua vontade e não a própria, em toda e qualquer circunstância.
Tal é a intervenção de Deus, especialmente na vida do Seu povo, que nós vemos isto ilustrado no caso dos judeus dos dias de Zorobabel, que naqueles 16 anos de paralisação das obras de reconstrução do templo, não permitiu que prosperassem em seus projetos pessoais, como uma forma de alertá-los que algo não ia bem na relação deles com Ele, porque não haviam lhe obedecido quanto a que não deviam parar de construir o templo, a par de toda a oposição que estavam sofrendo.
Então, em vez do atendimento das necessidades materiais, no nível das suas expectativas, Deus fez exatamente o oposto do que esperavam, para que os seus olhos fossem abertos para o fato de que não deveriam viver com as mesmas expectativas que os gentios tinham em relação aos seus deuses, como se fossem meros instrumentos de realização dos seus desejos pessoais.
Deus quer ser conhecido, amado e servido. Não é propriamente a nossa vontade que devemos ver cumprida na nossa aproximação dEle, senão a Sua vontade.
Nossa visão fundamental da vida neste mundo irá determinar nossa forma de viver, e controlar toda a nossa conduta.
“Porque assim como é o homem em seu pensamento, em seu coração, tal ele é”.
Sempre se pode dizer qual é a filosofia de um homem pela maneira pela qual ele vive, e pela maneira pela qual ele reage diante das coisas que sucedem ao seu redor.
Por isso, os tempos de crise peneiram as pessoas.
Sempre revelamos exatamente nossa posição com o que dizemos, por isso Jesus disse que seremos julgados de acordo com as nossas palavras (Mt 12.36).
Fala-se em viver intensamente cada momento.
É o que estamos vendo ao nosso redor, e esta é a forma pela qual a maioria das pessoas parece viver hoje em dia.
Estas pessoas não dão muita atenção às consequências e não se preocupam com o seu destino eterno.
Jesus se referiu a isto com esta expressão: “os gentios buscam todas estas coisas”.
Esta palavra “buscar” é uma palavra muito forte, porque indica que isto é buscado com intenso desejo e constantemente. Isto é, a vida consiste nestas coisas que eles buscam.
E se estas coisas sucedem com um cristão, nas palavras de Jesus ele não está sendo melhor aos olhos de Deus do que um pagão. Porque estará vivendo como um pagão e não como um verdadeiro israelita, cuja vida e procedimento estão definidos na Bíblia.
Se como cristãos deixamos que estas coisas ocupem o primeiro lugar na nossa vida, e se monopolizam nossa vida e nosso pensamento, então somos como os pagãos, somos mundanos e com mentes mundanas.
É possível ser um cristão com ideias corretas acerca da salvação e ao mesmo tempo ter uma mente mundana, com uma filosofia pagã, que poderá ser revelada na sua conversação diária, preocupando-se sempre com comida e bebida, e sempre buscando riqueza, posição e possessões temporais.
Estas coisas os dominam. São elas que os tornam felizes ou infelizes. São elas que lhes dão prazer ou desgosto, e sempre estão pensando nelas e falando sobre elas.
Um cristão, conforme Jesus ensina, não deveria estar dominado por estas coisas.
Qualquer que seja a posição que assuma diante delas, não deve ser controlado por elas, e elas não deveriam na realidade fazê-lo feliz ou infeliz, porque esta é a situação típica do pagão.
A alegria do cristão deve estar centrada na sua vida devotada a Deus, e no uso que Deus faz dele no Seu serviço.
Especialmente vendo vidas sendo salvas e edificadas pelo evangelho.
Nós vimos que quando os judeus chegaram na Palestina vindos de Babilônia, logo se apressaram em construir o altar dos holocaustos, para apresentarem continuamente nele sacrifícios a Deus, e a motivação principal que os conduziu a isto é declarada no contexto imediato ao que cita a edificação do altar: eles estavam procurando a proteção de Deus em razão de temerem os seus inimigos.
Enquanto a obra de reconstrução do templo permaneceu paralisada, eles continuaram no entanto oferecendo holocaustos no altar que haviam edificado, e ao que tudo indica, parecia aos seus olhos que aquilo era suficiente para garantirem a provisão divina especialmente a relativa à segurança do seu futuro.
O temor daqueles judeus quanto ao seu futuro havia lhes paralisado, o que estava bem tipificado na paralisação da reconstrução do templo.
De igual modo, quando um cristão se permite dominar por este sentimento de temor do seu futuro, que o leva a se inquietar cada vez mais em fazer provisões relativas às coisas do mundo para a sua segurança, o resultado imediato disto é que ele paralisa o seu crescimento espiritual e a sua fé fica enfraquecida em vez de aumentar.
O problema dos judeus não era portanto o de simplesmente construírem o templo, mas de terem a sua confiança restaurada em Deus, a ponto de obedecê-lo, mesmo em meio às oposições que estavam sofrendo, e em face das condições de escassez material que o próprio Deus estava lhes impondo, em face da sua desobediência.
Seria neste contexto que teriam que se levantar, e restaurando a sua confiança e fé no Senhor, lançarem mãos à obra, tendo o cuidado de antes, santificarem suas vidas, conforme Deus lhes exigiu através dos profetas Ageu e Zacarias.
Então precisavam ser tratados na sua preocupação em relação ao futuro, que é o que se chama de ansiedade.
Deus tem um cuidado especial com os cristãos, especialmente pelo zelo pela nova natureza que Ele implantou neles na regeneração, que é completamente santa, assim como Ele é santo, e não permitirá por motivo da Sua própria honra e glória, que a nova natureza seja suplantada pela natureza terrena, decaída no pecado, que ainda permanece em seus filhos, enquanto estiverem neste mundo.
Esses que são novas criaturas em Cristo Jesus podem estar certos do permanente cuidado de Deus em relação a eles, de modo que não vivam a temer o que o futuro possa lhes reservar.
Eles estarão dando grande honra ao seu Pai, confiando inteiramente nas promessas que tem feito a respeito deles, quanto a que jamais lhes deixará ou desamparará.
“1 Ora, os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém; em nome do Deus de Israel lhes profetizaram.
2 Então se levantaram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Josué, filho de Jozadaque, e começaram a edificar a casa de Deus, que está em Jerusalém; e com eles estavam os profetas de Deus, que os ajudavam.
3 Naquele tempo vieram ter com eles Tatenai, o governador da província a oeste do Rio, e Setar-Bozenai, e os seus companheiros, e assim lhes perguntaram: Quem vos deu ordem para edificar esta casa, e completar este muro?
4 Ainda lhes perguntaram: Quais são os nomes dos homens que constroem este edifício?
5 Os olhos do seu Deus, porém, estavam sobre os anciãos dos judeus, de modo que eles não os impediram, até que o negócio se comunicasse a Dario, e então chegasse resposta por carta sobre isso.
6 A cópia da carta que Tatenai, o governador da província a oeste do Rio, e Setar-Bozenai, e os seus companheiros, os governadores, que estavam deste lado do Rio, enviaram ao rei Dario;
7 enviaram-lhe um relatório, no qual estava escrito: Ao rei Dario toda a paz.
8 Saiba o rei que nós fomos à província de Judá, à casa do grande Deus, a qual se edifica com grandes pedras, e já a madeira está sendo posta nas paredes, e esta obra vai-se fazendo com diligência, e se adianta em suas mãos.
9 Então perguntamos àqueles anciãos, falando-lhes assim: Quem vos deu ordem para edificar esta casa, e completar este muro?
10 Além disso lhes perguntamos pelos seus nomes, para tos declararmos, isto é, para te escrevermos os nomes dos homens que entre eles são os chefes.
11 E esta é a resposta que nos deram: Nós somos servos do Deus do céu e da terra, e reedificamos a casa que há muitos anos foi edificada, a qual um grande rei de Israel edificou e acabou.
12 Mas depois que nossos pais provocaram à ira o Deus do céu, ele os entregou na mão de Nabucodonosor, o caldeu, rei de Babilônia, o qual destruiu esta casa, e transportou o povo para Babilônia.
13 Porém, no primeiro ano de Ciro, rei de Babilônia, o rei Ciro baixou decreto para que esta casa de Deus fosse reedificada.
14 E até os utensílios de ouro e de prata da casa de Deus, que Nabucodonosor tinha tomado do templo que estava em Jerusalém e levado para o templo de Babilônia, o rei Ciro os tirou do templo de Babilônia, e eles foram entregues a um homem cujo nome era Sesbazar, a quem ele tinha constituído governador;
15 e disse-lhe: Toma estes utensílios, vai, e leva-os para o templo que está em Jerusalém, e reedifique-se a casa de Deus no seu lugar.
16 Então veio o dito Sesbazar, e lançou os fundamentos da casa de Deus, que está em Jerusalém; de então para cá ela vem sendo edificada, não estando ainda concluída.
17 Agora, pois, se parece bem ao rei, busque-se nos arquivos reais, ali em Babilônia, para ver se é verdade haver um decreto do rei Ciro para se reedificar esta casa de Deus em Jerusalém, e sobre isto nos faça o rei saber a sua vontade.” (Ed 5.1-17).