A Remoção das Ofensas – Mateus 18.15-20
“15 Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão;
16 mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada.
17 Se recusar ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano.
18 Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu.
19 Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus.
20 Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”
Para que não fosse mal compreendido em Seu ensino sobre o cuidado com os pequeninos, e que isto não implicava de modo algum, ser tolerante com a prática do mal, nosso Senhor apresentou nesta passagem as regras gerais para o exercício da disciplina na Igreja.
No comentário desta passagem nos valeremos de uma adaptação de um estudo de John Macarthur relativo ao assunto, que traduzimos do original em inglês, em domínio público.
“Uma das mais difíceis responsabilidades para os pais é a educação de seus filhos através do exercício da disciplina. Muitos pais evitam confrontar seus filhos e preferem deixar as coisas no estado em que se encontram. Contudo, é necessário agir com amor, mas com firme e consistente disciplina.
Este mesmo princípio é verdadeiro na família de Deus, pois o Senhor tem dado instruções para disciplinar aqueles membros da família que se recusam a se submeter aos padrões de vida santa que Ele tem estabelecido em Sua Palavra. Os que são responsáveis pela liderança da Igreja devem cedo ou tarde captar a sua responsabilidade em exercer a disciplina da família de Deus.
Quando o assunto da disciplina da igreja é mencionado, muitas perguntas vêm imediatamente à mente. O que Deus fala sobre disciplina? A disciplina está destinada a ser aplicada nos dias de hoje? Quais princípios devem estar envolvidos no processo da disciplina? Como começar a aplicar a disciplina quando esta tem sido negligenciada há muito tempo? Quais tipos de repercussões podem ser esperadas se o processo de disciplina é iniciado?
A disciplina nunca é fácil. Ela é difícil tanto para os que são submetidos a ela, quanto para aqueles que administram o processo. Contudo, na família de Deus, seus filhos são chamados a fazer o que é correto mesmo que isto possa ser difícil. Como lemos em Heb 12.11: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza: ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.”. Este fruto é o alvo em toda disciplina – o caráter justo de Cristo produzido na vida do cristão.
A disciplina na igreja é uma evidência do amor cristão.
O livro de Provérbios fala repetidamente da disciplina no contexto familiar. Ao pai é dada a responsabilidade de disciplinar seus filhos. Prov 13.24 diz. “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.”. Se os pais falharem na disciplina de seus filhos, isto é uma evidência de que eles realmente não os amam. Algumas pessoas dizem que elas amam muito seus filhos e que por isso não os disciplinam. Não, a Bíblia diz que não disciplinar significa não amar. É por isso que os filhos de Deus são disciplinados por Ele. Ele os ama. Deixá-los sem disciplina acarretará problemas para eles próprios e para outros.
Quando a disciplina envolve a família de Deus, o princípio é ainda o mesmo. A disciplina é necessária. E é sempre uma manifestação de amor se for aplicada apropriadamente. É fácil verificar os abusos de disciplina, de pais que punem seus filhos de maneira abusiva. Obviamente, não é isto o que a Bíblia incentiva. Casos de disciplina em igrejas que foram administradas de forma não bíblica, também logo vêm à nossa mente.
A disciplina envolve a igreja local. A igreja universal é composta por muitas pessoas que têm compreendido e crido que Jesus Cristo morreu pelos seus pecados.
Uma analogia que é usada frequentemente no Novo Testamento é que a igreja é um corpo, o Corpo de Cristo. I Cor 12 usa esta analogia para mostrar como os cristãos têm sido colocados pelo Espírito de Deus no Corpo de Cristo.
A igreja local é simplesmente o local da representação e da manifestação do corpo universal de Jesus Cristo no qual os cristãos se encontram para adorá-lo e servi-lo.
Quanto à estrutura do Corpo de Cristo, a Bíblia diz que é importante manter a pureza do corpo e manifestar acurada e corretamente o caráter de Cristo. Desde que os cristãos são o Seu Corpo, eles devem manifestar o Seu caráter, santidade e pureza. Para manter a pureza e a santidade, a disciplina é necessária.
Paulo disse aos coríntios para tratarem de remover o pecado do meio da igreja porque “um pouco de fermento leveda a massa toda” (I Cor 5.6). Em Gál 5.9 ele diz a mesma coisa: “um pouco de fermento leveda toda a massa”, e por isso o pecado deve ser tratado porque ele invade o Corpo e afetará aos demais. Assim, se o pecado não é disciplinado, ele se alastrará. E quando se alastra, ele compromete o testemunho que os cristãos dão do caráter e pureza de Cristo. Sua santidade não será manifestada no Seu Corpo.
E a disciplina deve ser aplicada porque os cristãos são companheiros. A grande marca do cristão é o amor porque todos são filhos de Deus. O amor sempre reclama a disciplina. Se o genuíno amor for manifestado na igreja local, a disciplina bíblica será praticada. Guarde em sua mente, dois princípios da disciplina da igreja. O primeiro diz respeito aos cristãos que fazem parte da família da igreja local. A disciplina da igreja diz respeito somente àqueles que são integrantes da família de Deus. Assim, cada igreja local é responsável por seus próprios membros. Os pais não punem os filhos dos vizinhos, e ocorre o mesmo com a disciplina bíblica. Segundo, a disciplina deve ter sempre o objetivo de corrigir o problema. A disciplina é aplicada a cristãos que estão vivendo no pecado para ajudá-los a deixar tal prática.
Em Mateus 18, Jesus apresenta claramente o padrão para a disciplina na igreja. Este padrão é visto nas epístolas do Novo Testamento. Há seis degraus na disciplina bíblica. Quatro deles estão em Mt 18, e os dois restantes em outras porções do Novo Testamento.
Confrontação Pessoal
O primeiro passo é a confrontação pessoal. “Se o teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só.” (Mt 18.15). Um irmão é um membro do Corpo como nós, e que faz parte da família de Deus, um que tem crido em Cristo e que agora faz parte do Seu Corpo. “Irmão” é a palavra usada no texto. Se uma irmã peca, o princípio é o mesmo. A situação descrita é aplicável a qualquer cristão que peque. Basicamente, qualquer área da vida cristã que está abertamente em rebelião com a Palavra de Deus está em vista aqui.
Se um Cristão está em pecado e isto se torna do conhecimento de algum outro cristão, este deve confrontá-lo. Se Deus tem feito o pecado conhecido, Ele está indicando que Ele deseja que o pecado seja confrontado. Ele não permite que um pecado de um cristão se torne conhecido de outro, que não seja capaz de fazer a confrontação. O cristão que foi conscientizado do pecado do outro, é quem deve fazer a confrontação. Deus colocou isto fortemente em Sua Palavra, “vai argui-lo” (Mt 18.15). Uma correção deve ser feita. Assim o cristão se aproximaria apropriadamente do cristão pecador, em amor. Uma igreja carnal não pode praticar isto. É necessário que cristãos amadurecidos no amor existam na igreja, para que possam exercer a sua disciplina. Como Paulo diz em Rom 15.14: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.”. A demonstração deste zelo em manter a pureza do Corpo, por parte dos próprios membros, é uma manifestação prática e visível do amor dos cristãos por Cristo. É uma grande prova do Seu amor por Ele e por sua igreja. E como Ele se agrada disto! Ele derrama bênçãos sobre a igreja que se conduz de tal modo, como confirmação do Seu agrado.
Por isso também lemos em Heb 10.24:
“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestação, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima.”.
Desta passagem tem-se enfatizado muito apenas a obrigação de os cristãos se congregarem, mas podemos observar que o grande foco da passagem é a confrontação pessoal entre os cristãos para viverem no amor praticando boas obras e se exortando mutuamente, para que sejam irrepreensíveis na vinda de Cristo, quando cada um prestará contas de tudo que tiver feito em sua vida a Deus, ainda que não para condenação eterna.
A confrontação deve ser feita privadamente (Mt 18.15).
Não deve ser feita na presença de outras pessoas. Fale ao irmão faltoso sobre o pecado que tem sido revelado. Isto é duro de ser feito, mas é a manifestação do verdadeiro amor do cristão. Confie em Deus para fazer tal confrontação em amor. Não há como prever a reação, mas a confiança em Deus deve operar na vida de seus filhos.
Mt 18.15 ainda diz: “Se ele te ouvir, ganhastes a teu irmão.”. Se há arrependimento, isto é o fim do assunto. Acabou! Não diga nada a ninguém mais sobre a situação, porque seria pecado. Não faça fofoca ou espalhe rumores. Lembre que Deus ordena que a situação seja tratada em privado. Regozije-se e louve a Deus por Sua graça e Seu trabalho. Isto é para ser tratado estritamente entre você, a pessoa e o Senhor.
Lc 17.3 diz, “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.”. Em Gál 6.1 lemos: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós que sois espirituais, corrigi-o com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.”. Aqui, o verbo “corrigir” é usado, indicando o objetivo da confrontação. Não se aproxime com espírito de superioridade, mas com espírito de gentileza e humildade, pois cada um deve olhar por si mesmo para que não seja também tentado. Não vá com atitude arrogante, mas com sincero desejo de ajudar. Tenha cuidado para não cair no pecado.
Confrontação com Testemunhas
Se o irmão responder negativamente à confrontação, sua responsabilidade ainda não terminou. É hora do segundo passo. Se não há resposta à confrontação pessoal, o segundo passo é confrontá-lo com testemunhas. “Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça.” (Mt 18.16). Está claro que o amor cristão exige trabalho. É duro exercitar a disciplina bíblica, mas o amor busca o que é melhor para todos, independente do custo pessoal. Se não há arrependimento após a confrontação pessoal, traga um ou dois cristãos maduros para que juntamente com você possam testemunhar o confronto contra o pecado do irmão que recusou se arrepender.
As testemunhas são para os seguintes propósitos: Primeiro, para que eles também testifiquem contra o pecado. O segundo, para que no caso de não aceitação da admoestação, eles possam dar seu testemunho na continuação do processo. Mas, caso haja arrependimento, o caso está terminado, e deve-se proceder em relação ao resguardo do caso, da mesma maneira como no primeiro passo da confrontação pessoal.
Mas se a confrontação com testemunhas não der resultado positivo, a responsabilidade ainda não terminou, e deve ser dado um terceiro passo, a saber:
Confrontação com a Igreja
O terceiro passo está em Mt 18.17: “E, se ele não os atender, dize-o à igreja: e, se recuar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.”. O pecado agora deve ser confrontado pela igreja. Duas tentativas não reconciliaram o cristão – uma privada e outra com um pequeno grupo de testemunhas. A igreja local deve agora tratar com o pecado.
O Conselho de Anciãos.
Isto pode ser feito diretamente ou em duas fases. Há igrejas que usam como primeira fase o Conselho de Anciãos que representam e tratam da disciplina na igreja local. Eles devem avaliar a situação, indicando os passos que ainda deverão ser tomados. Os anciãos contataram com a pessoa envolvida. Eles farão um confronto pessoal para tratar do pecado em questão. Eles encorajarão a pessoa a ver a gravidade da situação e a tratarão com propriedade. Se a pessoa reconhecer a gravidade do pecado e arrepender-se, então, o assunto está encerrado.
Toda a Igreja.
Se não houver uma resposta apropriada, a segunda fase é iniciada. Toda a igreja, como corpo fica ciente da pessoa e seu pecado. A igreja estaria em oração sobre o assunto e pela pessoa por um período de tempo específico, talvez duas ou três semanas, antes do julgamento. Se no tempo aprazado a pessoa reconhecer a gravidade do seu pecado e mostrar-se arrependida, ela deve ser perdoada e o processo está encerrado.
Cortado de Toda Associação
Se a pessoa ainda recusar-se ao arrependimento, o quarto e último passo deve ser dado, como lemos em Mt 18.17: “e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.”.
Isto significa que a pessoa está cortada de toda associação com a igreja local. Os cristãos estão obrigados a se separarem completamente de se associarem com tal indivíduo. Deve ser um rompimento total.
Repare a seriedade disto em Mt 18.18: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu.”.
O mandamento é dado à igreja local, não à hierarquia da igreja.
A disciplina é operada no contexto da igreja local.
Este padrão é visto também em Coríntios, Tessalonicenses e Timóteo. Quando a disciplina é administrada, os cristãos são excluídos, e Deus reconhece esta disciplina. Isto é parte da Sua operação através da igreja local, e o Seu nome é exaltado e glorificado nos cristãos, que revelam amor e zelo por Sua santidade.
Uma Objeção Comum
Frequentemente, quando o assunto da disciplina da igreja é levantado, João 8.7 é citado: “”Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra.”. As pessoas utilizam este versículo como justificativa para não aplicarem a disciplina na igreja, conforme prevista em Mt 18. Contudo, isto é decorrente de um entendimento inadequado da situação nem João 8, porque está em foco uma pessoa que estava presumivelmente se convertendo ao Senhor, que seria ainda incluída no Seu corpo. E a disciplina na igreja trata com aqueles que já fazem parte do Corpo de Cristo. É evidente que o pecado de um descrente arrependido deve ser perdoado por Deus e pela igreja, e tal pessoa deve ser recepcionada como novo membro do Corpo. Mas, quando se torna um cristão está sujeito à disciplina a que todos estão sujeitos na igreja. Mesmo à igreja carnal de Corinto Paulo exigiu que exercessem a disciplina, apesar de serem bebês em Cristo, e de suas imperfeições. O pecado deliberado não deve ser tolerado na igreja. Uma rebelião aberta contra a Palavra de Deus na vida dos cristãos deve ser tratada de acordo com a Escritura.
Entregue a Satanás.
Algumas passagens das epístolas também relatam a exclusão de cristãos que estavam em rebelião contra Deus. Em I Cor 5 é citado um pecado deliberado. Esta passagem apresenta um homem que estava envolvido em imoralidade sexual com sua madrasta. A igreja de Corinto estava ignorando o assunto. Note a ênfase em I Cor 5.4,5. A disciplina deve ser exercida no nome e poder de Jesus. Entregar alguém a Satanás, em outras palavras quer significar o corte da associação com todos os demais cristãos. Lembre que o objetivo final é a restauração dos cristãos, mas o corpo da igreja local deve também ser protegido da corrupção.
Os coríntios não tinham tomado nenhuma ação contra o homem em seu meio porque eles tinham se equivocado quanto a uma carta anterior de Paulo. O apóstolo havia dito para não se associarem com pessoas imorais. A igreja pensou que ele estava se referindo a não se associarem com o mundo. Isto não é possível. Paulo clareou o assunto em I Cor 5.11.
Um cristão deve ser tratado como um cristão, em razão de sua condição de filho de Deus. Quem professou ser um cristão, deve ser disciplinado como um cristão.
Expulsar o Malfeitor.
A ênfase da severidade prossegue em I Cor 5.13: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.”. Isto é outra maneira de dizer que deve ser entregue a Satanás. Cortar a pessoa da associação com a igreja torna-a sujeita ao reino do Inimigo. Isto é uma coisa terrível. Em I Jo 5.19 nos é dito, “que o mundo inteiro jaz no malígno,”. O que ocorre quando um cristão em pecado é excluído da igreja? Ele é deixado no reino dos malígnos. Isto dá a Satanás certas liberdades físicas em relação ao cristão. Entregar alguém a Satanás não é para a sua destruição final. Mas tem em vista o que ele pode aprender da disciplina quando é exposto a Satanás. Que a disciplina é muito, muito severa, nós vemos em I Tim 1.20: “E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem.”.
Em II Tim 2.16-18 lemos que Himeneu e Fileto estavam usando um ensino que estava contrariando a verdade de Deus, e assim estava gangrenando o corpo de Cristo, e por isso foi necessário submetê-los à disciplina da exclusão, especialmente para preservar a igreja. O único remédio para tratar uma gangrena é cortar a parte afetada do corpo. Os cristãos não manifestam amor a Deus e à igreja quando deixam a gangrena se espalhar pelo corpo.
Em II Tes 3.6 lemos: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes;”.
Afastar-se.
Há outra passagem para ser considerada no assunto da dissociação. Rom 16.17,18, que pode ser tanto aplicada a cristãos quanto a descrentes. Os cristãos devem evitar os falsos mestres. A Palavra é clara. Isto não se trata de disciplina, mas é uma ordenança para a vida cristã. Em Rom 16.17, 18 lemos: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes: afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo nosso Senhor, e, sim, a seu próprio ventre: e, com suaves palavras e lisonjas enganam os corações incautos.”.
O padrão é claro e inegável. Está descrito em muitas passagens das Escrituras. Um cristão que vive no pecado deve ser cortado da associação com os demais cristãos. Isto é duro de ser feito, mas é o padrão bíblico que deve ser mantido para a pureza da igreja e a manifestação do amor cristão.
Posto em Vergonha.
O problema identificado em II Tes 3.11 era que alguns não estavam trabalhando. “Pois, de fato, estamos informados de que entre vós há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes se intrometem na vida alheia.”. Eles estavam ociosos, vivendo indisciplinadamente e pensando que outros deveriam sustentá-los. II Tes 3.14,15 diz: “Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.”. O cristão não é um inimigo. Paulo diz que se alguém entre os cristãos tessalonicenses não obedecesse às instruções de sua carta, para não se associarem com ele.
O Alvo é a Restauração.
Frequentemente ocorre que quando a pessoa é cortada de toda associação com os cristãos, que a seriedade do pecado é reconhecida. A pessoa não tem qualquer outra alternativa, senão retornar para Deus. Se ela se arrepende, a igreja deve dar as boas vindas ao cristão imediatamente.
II Cor 2.7 diz que a resposta correta é receber imediatamente o retorno do cristão. Pensamentos de punição e sofrimento não são apropriados. Lembre que o alvo é a restauração, não a punição. Tão logo que o pecado seja deixado para trás, a pessoa deve ser restaurada à comunhão. Este é o caso citado em II Cor 2.7: “De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza.”. Esta restauração e acolhimento pela igreja é uma demonstração prática do amor cristão.
Em II Cor 2.10,11 Paulo prossegue: “A quem perdoais alguma cousa, também eu perdôo; porque de fato o que tenho perdoado, se alguma cousa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios.”.
Tenha cuidado!
Satanás tentará corromper o processo, mesmo por prevenir o exercício da disciplina ou por prolongar a disciplina quando isto não é necessário. Espera-se que depois do quarto passo de ser confrontado e excluído pela igreja, que a gravidade da situação se torne visível, e que a pessoa se arrependa.
Mas quando os quatro passos não produzem o arrependimento, há mais dois passos, pois Satanás é usado por Deus como instrumento de disciplina.
Caso não haja arrependimento com os quatro passos que são da responsabilidade da igreja, o cristão estará sujeito às seguintes confrontações:
Confrontação pela Fraqueza e pela Doença
Isto é o que ocorrerá com o cristão rebelde depois do quarto passo tomado pela igreja para a sua disciplina. Isto está descrito em I Cor 11. Muitos na igreja estavam incorrendo no pecado enquanto lembravam a morte do Senhor na santa ceia. Eles estavam perpetuando o pecado, em razão do qual Cristo havia sido crucificado.
E Paulo lhes diz em I Cor 11.30: “Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes,”. Estas duas condições são o quinto passo, que está no domínio exclusivo de Deus, quanto à disciplina da igreja.
Fraqueza é uma palavra abrangente que inclui toda sorte de problemas trazidos à vida dos cristãos. Por exemplo, Jó não sofreu somente doenças físicas, mas também perda de possessões, a morte de seus filhos, e ele estava atormentado com muitos problemas, e veja, isto não em razão de pecados praticados, mas porque estava sendo disciplinado por Deus para que pudesse ser melhor conhecido por Jó.
Enquanto em João 9 vemos que nem todos os sofrimentos são resultantes de pecados pessoais, a doença mencionada em Tiago 5 é o resultado do pecado. Se um cristão se rebela contra Deus e continua a viver no pecado, a doença pode ser atribuída à correção que procede da mão de Deus. Se um cristão estiver doente por causa do pecado, ele o saberá. Tenha cuidado. Outros cristãos nem sempre podem reconhecer isto.
Tiago dá esta instrução, “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados.” (Tg 5.14-16). Se um cristão reconhece que a mão de Deus está sobre sua vida, usando Satanás para que o enferme, e assim traga arrependimento à sua vida, por chamar os presbíteros para orarem por ele, então a disciplina é removida quando o arrependimento ocorre, e ele é também curado de sua enfermidade física que tinha por causa do pecado.
Confrontação pela Morte
O último passo na disciplina da igreja, é dado por Deus, com a morte física do cristão.
Deus frequentemente usa Satanás como instrumento. Em I Jo 5.16 lemos: “Há pecado para morte e por esse não digo que rogue.”. Os presbíteros não podem orar por uma pessoa que está enferma para a morte em razão do pecado. Em I Cor 11.30 Paulo diz que além dos que estavam fracos e enfermos, muitos estavam dormindo, referindo-se com isto, à morte física dos cristãos, como castigo pelo pecado.
Ainda que o custo altíssimo da disciplina não seja percebido nesta vida, certamente isto trará perda de recompensas e bênçãos e será visto na eternidade. Não é uma tragédia um cristão morrer jovem ou velho quando é o tempo de Deus. Mas é uma tragédia quando é disciplinado por Deus com o castigo da morte física. Pois isto é um indicativo de que ficou endurecido em seu pecado e recusou-se a se arrepender enquanto em vida neste mundo. E isto ficará marcado para sempre, e será revelado especialmente no Tribunal de Cristo, quando sua vida for julgada pelo Senhor, ainda que não para condenação eterna.
A Disciplina é para o Nosso Deus.
“Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade.” (Hb 12.9,10).
A disciplina é para o bem dos cristãos, de modo que possam participar da santidade de Deus.
Em Hb 12.11 lemos que o alvo da disciplina é produzir o fruto da justiça. Assim, o objetivo em vista é a justiça. A disciplina, quando aplicada não é motivo de alegria, mas de tristeza, mas produz a justiça que é segundo Deus em sua igreja. Esta disciplina é parte do processo de amadurecimento dos cristãos. Por isso a Palavra ordena que os cristãos se disciplinem mutuamente, em amor.
Por isso os cristãos necessitam orar a Deus para que Ele lhes dê sabedoria, coragem e amor para exercerem a disciplina na maneira bíblica, sempre que isso for necessário.
Quando falamos sobre punição divina ou disciplina ou correção divina, no caso de cristãos, não estamos falando sobre uma punição judicial dos pecados para nossa salvação.
Nós estamos falando de punição, correção e disciplina com vistas à nossa santificação.
Deus já puniu em Cristo todos os nossos pecados. Mas, Deus tem nos punido pelos nossos pecados aqui neste mundo para nos conformar mais e mais à santidade e à justiça, que nos trarão maiores bênçãos e utilidade.
Na disciplina, o objetivo é a santidade, para conformar o cristão à pureza.
Na punição do ímpio, a condenação é o alvo, e na disciplina do cristão, a justiça é o alvo.
Agora, devemos distinguir os sofrimentos que nos sobrevêm como cristãos, por conta da perseguição do mundo e do diabo, contra a nossa fidelidade a Cristo, de modo, que em nós se cumpre a Palavra de que todo o que quiser viver piedosamente em Cristo padecerá perseguições, dos sofrimentos que nos sobrevêm por estarmos sendo disciplinados por Deus.
No primeiro caso há honra e glória, e no segundo, há desonra e vergonha, pois neste último, estamos sofrendo por causa dos nossos pecados, e no primeiro, em razão da nossa fidelidade.
Assim, tanto num quanto noutro caso, estamos sujeitos às aflições que temos que sofrer neste mundo, por sermos cristãos. Ou estamos sendo corrigidos por Deus, ou perseguidos por conta de nossa fidelidade a Ele.
Uma vida cristã vitoriosa não pode significar portanto ausência de perseguições, de sofrimentos. Não pode ser traduzida por comodidade e conforto ao longo de toda a nossa jornada. Porque se nos amoldarmos ao mundo, Deus nos corrigirá. E se vivermos fielmente a Deus, seremos perseguidos.”