A Questão do Divórcio – Mateus 19.3-12
“1 Tendo Jesus concluído estas palavras, partiu da Galileia, e foi para os confins da Judeia, além do Jordão;
2 e seguiram-no grandes multidões, e curou-os ali.” (Mateus 19.1,2)
Nosso Senhor, começou a se deslocar da Galileia para a Judeia, porque o seu alvo era chegar a Jerusalém onde estava o templo e a grande concentração de religiosos de Israel.
Antes de chegar ao coração da Judeia, ainda estando nos confins da mesma, certamente ao Norte, próximo da Galileia, grandes multidões O seguiram e Ele curou os seus enfermos.
Estava chegando a hora de serem intensificadas as perseguições que deveria sofrer da parte dos principais sacerdotes e anciãos de Israel que se encontravam em Jerusalém. E aqui, Mateus nos dá conta do momento em que isto começou a acontecer.
A Questão do Divórcio
“3 Aproximaram-se dele alguns fariseus que o experimentavam, dizendo: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
4 Respondeu-lhe Jesus: Não tendes lido que o Criador os fez desde o princípio homem e mulher,
5 e que ordenou: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne?
6 Assim já não são mais dois, mas um só carne. Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem.
7 Responderam-lhe: Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio e repudiá-la?
8 Disse-lhes ele: Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas não foi assim desde o princípio.
9 Eu vos digo porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, e casar com outra, comete adultério; [e o que casar com a repudiada também comete adultério.]
10 Disseram-lhe os discípulos: Se tal é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.
11 Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem aceitar esta palavra, mas somente aqueles a quem é dado.
12 Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o.” (Mateus 19.3-12)
Nós temos aqui a lei de Cristo para o caso de divórcio, oriunda de uma discussão com os fariseus.
Tão pacientemente Ele suportou as contradições dos pecadores, que as transformou em instruções para os Seus próprios discípulos.
Nós vemos nestes versículos:
O caso proposto pelos fariseus (v.3). Eles lhes perguntaram se era lícito um homem se divorciar da sua mulher, sem que estivessem desejando realmente serem ensinados por Ele.
Algum tempo atrás na Galileia Ele havia também se pronunciado contra o divórcio no Sermão do Monte (Mt 5.31,32).
Eles pensavam que Ele se prenderia aos afetos das pessoas em vez de aos Seus preceitos. Ou pensavam que diria que os divórcios não eram legais, e assim teriam ocasião para dizer que ele estava negando a Lei de Moisés, que os permitia.
Apesar de a Lei de Moisés prever que os divórcios somente poderiam ser admitidos por causas justas, eles estavam tentando ao Senhor com a insinuação de divórcios por quaisquer motivos; e especialmente o desgosto no matrimônio em relação ao cônjuge foi descartado por Jesus, porque o matrimônio é uma instituição universal para cristãos e descrentes, para temperamentos brandos ou fortes, enfim, para quaisquer condições pessoais, então, nada há que justifique a dissolução do laço senão a única razão apresentada por Jesus de fornicação. Evidentemente, não era a ocasião para Ele declarar, como o apóstolo Paulo viria a fazer depois, que há a parte inocente, e livre para contrair novas núpcias, quando a outra parte decide desfazer o laço por qualquer outro motivo.
As Escrituras do Velho Testamento estão repletas de princípios que revelam o quanto Deus detesta o divórcio, o repúdio, o adultério, mas como os fariseus não faziam um uso correto das Escrituras, eles desconsideravam completamente o que nelas estava contido a tal respeito, e seguiam a tradição que eles próprios inventaram para justificarem o divórcio, com base no único preceito de que Deus havia permitido através de Moisés que fosse dada carta de divórcio caso alguém pretendesse desfazer o laço matrimonial. No entanto, eles desconsideravam também o contexto em que tal permissão havia sido concedida, e conforme se encontra registrado no Pentateuco (Dt 24.1).
Citamos apenas a título de exemplo que Deus realmente não aprova o divórcio, a afirmação que consta em Malaquias 2.16: “Porque o Senhor, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio...”.
Os fariseus sempre consideravam tudo pelo ângulo simplesmente jurídico-legal, e as Escrituras, e Cristo, o autor delas, sempre enfatizam o ângulo espiritual, e os princípios espirituais que se encontram por detrás do preceito legal. A letra da Lei é apenas um corpo do espírito que há na Lei. Mas os fariseus não conseguiam ver o espírito, senão apenas a letra, e assim erravam duplamente tanto por desconhecerem o poder de Deus quanto o verdadeiro significado das Escrituras.
Então Jesus os levou a considerar o propósito de Deus na criação do homem e da mulher, e quanto à instituição do matrimônio. Ele remontou até ao primeiro casal no Éden, que se encontrava em perfeição antes da queda no pecado, formando uma perfeita unidade diante de Deus e com Ele. Como poderia então Deus aprovar a separação daquilo que Ele havia unido para durar perpetuamente?
Antes da Queda havia perfeita fidelidade, amor, bondade e todas as demais virtudes em Adão e em Eva e no relacionamento deles, e ainda que não perfeição no sentido de plenitude destas virtudes, havia perfeição no de que não havia nenhuma impureza nelas, como passou a existir depois da queda no pecado.
De maneira que agora, tudo o que herdamos de Adão em relação ao pecado é chamado a morrer na cruz, como por exemplo o mau temperamento, a cobiça irregular e pecaminosa, o adultério, e tudo o mais que seja obra da carne, para que Cristo possa ressuscitar tudo o que havia em Adão antes, da Queda, em perfeição, e que morreu por causa do pecado.
Por exemplo, o egoísmo que passou a existir depois da Queda, e que é a maior causa da separação de casais, deve ser crucificado, para que o amor altruísta, que é divino e espiritual possa ser ressuscitado nos nosso corações, promovendo a fidelidade, a harmonia, o bem querer mútuo, e tudo o mais que for necessário à restauração de uma verdadeira unidade no relacionamento do homem com sua esposa, conforme havia em Adão e Eva antes da Queda, e conforme planejado e segundo o propósito de Deus, desde o princípio. Por isso nosso Senhor disse que no princípio não era assim, quanto ao modo de se pensar em relação ao casamento, especialmente sobre o divórcio (v. 8).
Não seria por um simples ato legal, isto é, baseado no cumprimento da Lei, sem levar em conta as condições previstas na própria Lei, e ainda que estas fossem consideradas, que aos olhos de Deus seria aprovada qualquer separação baseada em motivos injustificados. Na verdade, aos olhos do Senhor não há nada que justifique a separação, e até mesmo o ato de adultério seria uma concessão para liberar a parte inocente da continuidade do laço, no caso de apesar de perdoar a parte culpada, não se sentisse encorajada a continuar confiando na mesma. Assim, estaria liberada até mesmo para contrair novas núpcias sem achar-se com culpa diante de Deus.
Por isso Jesus citou aos fariseus a lei fundamental do matrimônio conforme consta nas Escrituras:
“Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne. Assim não são mais dois, mas uma só carne.” (v. 5, 6).
E concluiu: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (v. 6b).
Ele afirmou assim o princípio de que o matrimônio aos olhos de Deus é uma instituição que Ele criou para durar e não para ser considerada pusilanimemente, por quem quer que seja.
O princípio que norteia a união matrimonial não é se me sinto ou não feliz na mesma. Se sou de temperamento compatível ou não com o meu cônjuge, mas que uma vez consumada a conjunção carnal, passo a ser um com aquele com o qual me ajuntei sexualmente.
Por isso Paulo considera um ato de adultério o de quem se relaciona com uma meretriz, porque fazendo-se um só corpo com ela através do ato sexual, peca contra Cristo, com quem está unido pela fé. Fazendo-se uma só carne com a meretriz, ele é visto aos olhos de Deus tão prostituído quanto a prostituída à qual se uniu.
“15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fa-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo.
16 Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.” (I Cor 6.15,16).
Isto tudo porque a relação matrimonial, para Deus, é mais íntima e próxima do que a existente entre pais e filhos, e se a relação filial não pode ser violada tão facilmente, quanto mais a matrimonial.
Um filho pode abandonar seus pais, ou os pais abandonarem seus filhos senão pelo motivo do casamento destes. Veja então o peso que Deus colocou na instituição do matrimônio que Ele próprio criou. Quantos ignoram isto, e pecam grosseiramente a este respeito? Entretanto, a par da sua ignorância, são achados em culpa perante Deus, porque a própria natureza ensina que a família possui um caráter sagrado para o Criador.
Os filhos trazem a herança genética comum de seus pais, e isto é um grande argumento para que vejam que são realmente marido e esposa, uma só carne diante de Deus. É pela união de ambos que outros seres humanos chegam ao mundo, e não com as características genéticas de outras pessoas, senão somente daqueles que os geraram. Deus poderia gerar as pessoas por outro caminho escolhido por Ele, mas determinou fazê-lo pelo matrimônio para atender a vários propósitos específicos, como o do aprendizado do amor não interesseiro, da submissão, dentre tantos outros revelados na Palavra (vide especialmente Efésios 5.22-33). Então a unidade dos filhos com seus pais, está diretamente dependente da unidade entre os próprios pais. E unidade sobretudo espiritual, em amor, baseada na verdade, conforme Deus havia intentado desde o princípio. Um casamento assim constituído depois que o pecado entrou no mundo, seria portanto o que melhor responderia ao propósito original de Deus.
No entanto, nada justifica a separação, mesmo nos múltiplos casos em que casais têm se unido, onde há por exemplo parte cristão, e parte não cristão, parte santificada (cristão fiel) e não santificada (cristão infiel) etc, porque, pelo poder de Deus, é possível até mesmo que as partes que impedem o cumprimento do Seu propósito original, sejam trazidas à referida condição, pelo arrependimento ou conversão.
Não há impossíveis para o Senhor, e Ele sempre honrará de uma forma ou de outra aqueles que O honram. Caso haja relutância da parte ofensora da Sua vontade em consertar-se, Ele cuidará da parte que se mantiver fiel a Ele. Tudo coopera para o bem dos que amam a Deus. Isto nunca deve ser esquecido, mesmo no caso de uma união conjugal aparentemente desafortunada. Aquele que tem o Senhor por Seu ajudador não tem nada e ninguém a temer neste mundo. E pode aprender, tal como o apóstolo Paulo, a viver contente em toda e qualquer circunstância, inclusive nesta de um jugo desigual imposto por um dos consortes que insista caminhar contrariamente à vontade de Deus. Isto é possível porque o amor de Deus que é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, nos leva a suportar todas as coisas mediante o poder do Senhor que nos fortalece nas circunstâncias difíceis. E este amor sobrenatural, conforme definido em I Cor 13, tudo suporta, tudo sofre, tudo espera, porque é paciente, benigno, longânimo e em nada é egoísta. E tudo fará para agradar e honrar a Deus, cumprindo tudo o que Ele nos tem ordenado em Sua Palavra, e dentre estes mandamentos, o de permanecer casado fazendo todas as coisas por amor, não como para homens, mas para Ele mesmo, e pelo desejo de ser-Lhe obediente em tudo.
A edificação de um lar verdadeiro depende mais da operação de Deus do que dos próprios cônjuges, conforme se afirma nas Escrituras (Sl 127.1). Realmente há poderes terríveis que operam contra a unidade do casal, especialmente os espíritos malignos, que somente o poder do Senhor pode repreender. Especialmente casais cristãos ficarão sujeitos a estes ataques em razão do ódio que o diabo tem contra Deus, e tudo fará para tentar frustrar o plano que Ele determinou para o casamento desde antes da fundação do mundo. Se não houver então um caminhar em fidelidade de ambos os cônjuges com Deus, dificilmente haverá uma comunhão plena entre eles, porque sem levar em conta o próprio pecado deles que ainda opera na carne, há estes espíritos que somente podem ser vencidos quando estamos revestidos com toda a armadura de Deus.
Entretanto, para que não houvesse uma desesperança numa das partes que pretenda edificar a sua casa, enquanto a outra permanece infiel à vontade de Deus, Ele estabeleceu o princípio da parte cristão santificar a não cristão (I Cor 7.14), isto é, eles estarão indiretamente debaixo da proteção de Deus prevista para o matrimônio por causa da fidelidade da parte cristão a Ele. Então vale a pena esforçarmo-nos para buscar a face do Senhor e a Sua vontade, para termos paz em casa, pela retribuição da honra que Lhe devotarmos, pela repreensão que Ele fará aos espíritos que se levantam contra nós.
Esta união matrimonial somente deve ser desfeita pela vontade de Deus, pela morte de um dos cônjuges, mas nunca pela própria vontade do homem, nem mesmo dos magistrados, porque afinal, não foi o homem que planejou a instituição do matrimônio, senão Deus. Por isso Jesus disse que o que Deus ajuntou não o separe o homem.
O profeta Malaquias declarou ao povo de Israel qual havia sido um dos principais motivos de Deus não estar mais se agradando deles, apesar de estarem banhando os seus altares com lágrimas, não porém de arrependimento, mas pela dura condição de vida em que eles se encontravam:
“14 E dizeis: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança.
15 E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade.” (Mal 2.14,15).
Os israelitas estavam endurecidos em seus pecados, e esta foi a mesma razão de Jesus ter dito aos fariseus porque Moisés havia permitido que dessem carta de divórcio às suas esposas debaixo do Antigo Pacto.
Como eles não viam o matrimônio como uma instituição divina, e não cumpriam os propósitos fixados por Deus para ela, o Senhor havia permitido o divórcio, mas não consentindo com isto, porque nunca foi da vontade dEle que fosse separado o que Ele uniu.
Então se um homem trataria severa e duramente a sua esposa, sem qualquer consideração para com ela, ficando muito longe do amor que deveria devotar a ela, como o que Cristo tem pela Igreja, e se na dureza de seu coração, nada melhor poderia ser esperado desta pessoa, seria então conveniente que se separasse, mas não sem deixar de atender às necessidades legais da repudiada, daí a razão da carta oficial de divórcio que deveria ser passada pelas autoridades, para garantir o direito daquela que tivesse sido deixada sem causa pelo seu marido.
Deus não somente vê, mas prevê a dureza dos corações dos homens, e por isso vestiu os mandamentos do Velho Testamento ajustando-os ao caráter das pessoas, que ele sabia previamente, viveriam entregues à dureza de seus corações, sem arrependimento, por causa do pecado que há no mundo.
Mas um cristão que conhece a vontade de Deus a respeito do matrimônio, não deve seguir esta norma concessiva que Ele havia dado desde Moisés, mas seguir o mandamento de amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja, e a esposa amar e respeitar o marido sendo submissa a ele. E mesmo no caso de alguém ser cristão e estando em jugo desigual, há a possibilidade de se contar com o favor e proteção de Deus, conforme comentamos antes, por um viver fiel a Ele.
Se a lei de Moisés considerou a dureza dos corações dos homens, a graça de Cristo no evangelho a cura, e pode transformar corações de pedra em corações de carne.
Se pela lei vem o pleno conhecimento do pecado, pelo evangelho, este é dominado e vencido.
É interessante observar que se por uma lado a Lei procurava mitigar a dureza de coração permitindo o divórcio, por outro lado condenava o crime de adultério com a punição de morte (Dt 22.22). Mas o evangelho de Jesus Cristo mitiga o rigor da pena do adultério, e prescreve o divórcio como uma possível penalidade se a parte ofendida assim o desejar.
É importante também observar que a palavra usada por Jesus em nosso texto, no original grego, não é adultério, mas fornicação (de porneia), designando provavelmente uma impureza cometida antes do matrimônio, e que viesse a ser descoberta posteriormente.
A lei de Cristo tende a restaurar o homem na sua integridade primitiva, tal como estava no Éden, antes da entrada do pecado no mundo. E a lei do amor e perpetuidade conjugal não é nenhum novo mandamento, porque foi instituída por Deus desde o princípio. Então esta lei, conforme reafirmada por Cristo é para o nosso próprio bem e de toda a sociedade, inclusive para o próprio mundo secular, haja vista que na maior parte dos casos não serão apenas os cônjuges as partes afetadas por um divórcio, mas também os filhos oriundos do seu casamento.
Os próprios discípulos de Jesus não haviam entendido ainda o princípio sábio e bom que há na lei do amor e da perpetuidade do matrimônio, e se precipitaram concluindo que se um homem não podia, aos olhos de Deus se separar da sua esposa quando bem lhe agradasse, sabendo eles, que se o fizessem, a consequência seria a de terem que prestar contas com Deus no futuro tribunal de Cristo, então, segundo eles seria melhor não casar nunca e permanecerem solteiros.
Entretanto, desde o princípio, quando nenhum divórcio foi permitido, Deus disse que não é bom que o homem esteja só, e os abençoou, o homem e sua esposa, em sua união conjugal.
E apesar de o casamento trazer consigo muitas cruzes, não é apenas nele que acharemos cruzes neste mundo, mas em todas as áreas de atividade e de relacionamentos. Estas cruzes, num mundo de pecado, nos ajudarão no nosso aperfeiçoamento em santidade, especialmente, em ensinar-nos a orar a Deus sem cessar e a depender dEle, conforme sempre foi da Sua vontade. Assim aquilo que parece ser contra nós, é a nosso favor, na modelagem do nosso caráter à semelhança ao de Cristo. E o modo de carregar estas cruzes é com paciência e gratidão a Deus em nossos corações.
É nosso dever carregar nossa cruz depois de termos nos auto negado perante o Senhor. Não importa o que sintamos ou qual seja a nossa vontade, senão a vontade de Deus para nossa vida.
O matrimônio é um laço, um jugo que voluntariamente tomamos, e que segundo a vontade de Deus, devemos continuar carregando com amor, paciência, mansidão e voluntariamente, isto é, de livre e boa vontade.
Entretanto, o Senhor afirmou que há realmente casos em que as pessoas permanecerão solteiras, não pela mera vontade delas, mas por ter sido esta a vocação escolhida por Deus para elas, para atender a propósitos específicos, tal como foi o caso do profeta Jeremias e do apóstolo Paulo.
Nestes casos excepcionais dirigidos pela vontade de Deus é de se supor que é melhor o aumento da graça do que o aumento da família, e o relacionamento com o Pai e seu Filho Jesus Cristo será preferido antes de qualquer outro tipo de companheirismo.
Mas Jesus desaprovou totalmente como sendo danoso, proibir matrimônios, porque nem todos estão vocacionados para permanecerem solteiros, e devem portanto suportar o jugo do estado de casado, sem estar debaixo da tentação de evitar ou fugir do jugo que é imposto pela vocação recebida de Deus neste mundo.
Assim, aqueles que sofreram a calamidade de terem sido feito eunucos pelos homens, ou por um defeito de nascença, sendo impossibilitados fisicamente de contraírem núpcias, não deveriam de fato se casarem, mas recorrerem à providência de Deus para superarem a condição que lhes foi imposta, independentemente da vontade deles. Apesar desta calamidade, há a oportunidade de servirem melhor e desimpedidamente a Deus no estado de solteiros.
De modo que é uma virtude e graça divinas aqueles que se fizeram eunucos por amor ao reino de Deus, atendendo à vocação recebida do próprio Deus para servi-lo em tal estado de solteiro. Estes que foram capacitados a terem uma indiferença santa a todos os prazeres do estado de casado, serão honrados pelo Senhor no voto de celibato que fizeram, em obediência à vontade de Deus, que correspondeu à própria vontade deles.
Por isso Jesus disse que este estado de solteiro é uma condição que pode ser suportada somente por aqueles a quem é dada tal capacitação pelo próprio Deus.
Finalmente, gostaríamos de registrar um fato real para ilustrar a possibilidade de alguém ser feliz apesar de não ter um casamento nos moldes que Deus planejou para esta instituição desde o princípio. Trata-se de uma esposa que chamaremos de “J” cujo marido chamaremos de “M”. Eles se encontram casados há mais de trinta e cinco anos, tendo dois filhos com cerca de trinta anos de idade. “J” se converteu a Jesus depois de alguns anos de casada, tendo seu esposo “M” permanecido incrédulo até o presente. Ele se opôs duramente a ela quanto ao fato de ter que deixá-lo em casa, ainda que uma só vez aos domingos, para ir à igreja. Ela ficou por um bom tempo em oração para que Deus trabalhasse no coração de “M” porque não queria agir de forma insubmissa. Ela tanto orou que ele consentiu que assistisse somente os cultos das noites de domingo. Isto foi uma grande alegria e vitória para ela. Sabemos que continua orando para que ele aceite a sua participação nas demais programações de sua igreja. Mas o que é digno de registro é o fato de que ao exigir que ela permaneça em casa no domingo pela manhã, ele não fica em casa porque sempre se reúne com um grupo de companheiros para ficarem bebendo num bar da esquina onde residem. Você perguntará qual é o perfil de cristão de “J”: uma mulher infeliz? Desgostosa da vida e com o seu Deus? Ao contrário, ela se esforça para ser uma boa esposa, apesar de tudo, conforme ordenado pela Bíblia, e é uma mulher feliz, cheia de fé e a alegria no Senhor Jesus. Ela conta o modo sobrenatural como Deus exerce governo sobre o seu marido, de forma que ele tem sido, apesar de suas fraquezas, cada vez mais atencioso para com ela, e suas idas para o bar estão ficando menos frequentes. Ela sabe que é por amor a ela, que Deus não permite que os espíritos malignos tenham livre acesso ao seu lar, e assim ela sempre tem desfrutado em casa da paz de Jesus em sua vida. Sempre apegada à Palavra de Deus é uma fonte de inspiração e socorro para muitas vidas, sempre compartilhando com seus irmãos em Cristo porções da Palavra de Deus com fé e alegria no Espírito. Estas jóias são exemplos que Deus nos dá para seguirmos e para que nos consolemos nas aflições que teremos que experimentar enquanto neste mundo.
A vocação natural portanto, da humanidade é a do casamento, mas há situações excepcionais em que muitos são impedidos de se casarem porque são tornados eunucos, quer pela violência dos homens, quer por incapacitações em sua constituição sexual, mas há também aqueles que o são, tal como foi o caso de Jeremias e de Paulo, que foram chamados por Deus para viverem como eunucos por amor ao reino dos céus, e à obra específica que teriam que realizar, em total consagração a Ele, de modo que não poderiam dividir o seu tempo com os cuidados que uma esposa e uma família requerem. O mesmo se aplica ao caso de mulheres que são também chamadas de tal maneira especial por Deus a uma consagração completa a Ele de suas vidas, na qual implique a necessidade de viverem no celibato.