Porque Deus Não Executa Logo o Juízo – Jó 24
Depois de ter exposto no capítulo anterior a este 24º, que estaremos comentando, a sua total confiança em Deus, quanto ao julgamento da sua causa justa, Jó retorna agora à controvérsia doutrinal entre ele e os seus amigos relativa à prosperidade dos ímpios.
Desconhecendo a causa de os ímpios não serem logo julgados em suas iniquidades, por Deus (que é a Sua longanimidade, conforme viria a revelar posteriormente em Sua Palavra), Jó no entanto, não desconhecia a realidade de que algo em Deus fazia com que adiasse o julgamento dos ímpios, porque era fato notório, conforme eles prosperam na terra.
Por ser tão grande a iniquidade Jó aspirava que Deus estabelecesse tempos de julgamentos, nos quais Ele próprio estabelecesse diante de todos, as penas devidas aos ímpios, na frente de todos os Seus santos, de forma que não houvesse dúvidas de quem era ímpio e de quem não era, e quais eram as impiedades que eram praticadas na terra (v. 1).
Isto daria ensejo a que se visse que ele era justo, e que os seus três amigos que o acusavam de iniquidade, eles sim que eram ímpios.
Tudo não ficaria esclarecido? Por que então Deus não estabelecia tribunais de julgamentos de tempos e tempos? Esta era uma pergunta que não queria calar no peito de Jó, especialmente naquela ocasião em que estava sendo atacado tão dura e injustamente por seus amigos.
A pergunta de Jó não pode ser respondida com uma única e simples resposta, mas sem dúvida, uma das razões do juízo ser adiado, e não executado conforme ele o desejava, é a de que há muitos ímpios que vêm a se arrepender de seus pecados, e a se converterem no futuro, por causa da longanimidade que Deus exibe para com eles, e uma outra razão que também poderíamos citar é a de que, de outra sorte, os justos não aprenderiam a ser longânimos para com os ímpios tal como Deus é para com eles. E certamente, é o desejo de Deus que sejamos longânimos para com todos os homens (I Tes 5.14).
Todavia, aqueles que são inimigos da luz e que não permanecem nos caminhos do Senhor, porque insistem em abusar para sempre da longanimidade de Deus, terão que Lhe prestar contas no dia do Juízo, e serão condenados eternamente.
Há muitos que abusam da longanimidade do Senhor chamando o mal de bem.
O problema básico com o ímpio não é a sua impiedade propriamente dita, porque pode ser curado por Cristo deste seu mal. O problema está em não reconhecer que a sua impiedade o torna inimigo de Deus e passível do Seu juízo.
Não é por ser poupado por Deus de aflições neste mundo que isto signifique que Ele está de braços cruzados em relação à impiedade que pratique, ou então que não o julgará um dia, ou até mesmo, o que é pior, pensar que isto signifique que tem agradado a Deus, apesar de continuar vivendo no pecado, segundo o curso do mundo, confundindo a ausência de juízos imediatos de Deus sobre Ele, como uma forma de aprovação indireta da sua conduta.
“1 Por que o Todo-Poderoso não designa tempos de julgamento? E por que os que o conhecem não veem tais dias?
2 Há os que removem os limites, roubam os rebanhos e os apascentam.
3 Levam do órfão o jumento, da viúva, tomam-lhe o boi.
4 Desviam do caminho aos necessitados, e os pobres da terra todos têm de esconder-se.
5 Como asnos monteses no deserto, saem estes para o seu mister, à procura de presa no campo aberto, como pão para eles e seus filhos.
6 No campo segam o pasto do perverso e lhe rabiscam a vinha.
7 Passam a noite nus por falta de roupa e não têm cobertas contra o frio.
8 Pelas chuvas das montanhas são molhados e, não tendo refúgio, abraçam-se com as rochas.
9 Orfãozinhos são arrancados ao peito, e dos pobres se toma penhor;
10 de modo que estes andam nus, sem roupa, e, famintos, arrastam os molhos.
11 Entre os muros desses perversos espremem o azeite, pisam-lhes o lagar; contudo, padecem sede.
12 Desde as cidades gemem os homens, e a alma dos feridos clama; e, contudo, Deus não tem isso por anormal.
13 Os perversos são inimigos da luz, não conhecem os seus caminhos, nem permanecem nas suas veredas.
14 De madrugada se levanta o homicida, mata ao pobre e ao necessitado, e de noite se torna ladrão.
15 Aguardam o crepúsculo os olhos do adúltero; este diz consigo: Ninguém me reconhecerá; e cobre o rosto.
16 Nas trevas minam as casas, de dia se conservam encerrados, nada querem com a luz.
17 Pois a manhã para todos eles é como sombra de morte; mas os terrores da noite lhes são familiares.
18 Vós dizeis: Os perversos são levados rapidamente na superfície das águas; maldita é a porção dos tais na terra; já não andam pelo caminho das vinhas.
19 A secura e o calor desfazem as águas da neve; assim faz a sepultura aos que pecaram.
20 A mãe se esquecerá deles, os vermes os comerão gostosamente; nunca mais haverá lembrança deles; como árvore será quebrado o injusto,
21 aquele que devora a estéril que não tem filhos e não faz o bem à viúva.
22 Não! Pelo contrário, Deus por sua força prolonga os dias dos valentes; veem-se eles de pé quando desesperavam da vida.
23 Ele lhes dá descanso, e nisso se estribam; os olhos de Deus estão nos caminhos deles.
24 São exaltados por breve tempo; depois, passam, colhidos como todos os mais; são cortados como as pontas das espigas.
25 Se não é assim, quem me desmentirá e anulará as minhas razões?” (Jó 24)