Fazendo o Bem a Maus – Jó 30
A aflição trouxe mais sabedoria a Jó, porque por ela pôde aprender que mesmo muitos daqueles que ajudamos nos dias da nossa prosperidade, se levantam contra nós para nos insultarem e zombarem de nós, quando estamos em condições aflitivas, que são consideradas pelo mundo como sendo uma situação de desprezo e miséria.
Jó não abdicaria de continuar fazendo o bem, mesmo a estes que agora lhe faziam o mal, porque aprendera na sua aflição, qual é a real essência da natureza terrena humana. Ela é ingrata, traiçoeira, indigna e não dá honra a quem se deve honra, quando esta pessoa perde toda a fama e poder terreno que possuía dantes perante eles.
A natureza humana é naturalmente inimiga de Deus, porque o espírito do homem está morto em delitos e pecados. Não tem comunhão com Deus, e por isso não pode se firmar na justiça, verdade, bondade, longanimidade e amor, conforme se encontram no próprio Deus.
Somos chamados a pregar o evangelho no meio de lobos devoradores, com a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes. A amarmos os nossos inimigos. A orarmos pelos nossos perseguidores. A abençoarmos os que nos maldizem.
Porque a sabedoria divina nos ensina que não devemos fazer o bem olhando para a natureza terrena, mas olhando os homens, lhes servindo como estivéssemos servindo ao próprio Cristo.
De outra sorte, o mal nos vencerá, e não poderemos vencer o mal com o bem, dando de comer e beber aos nossos inimigos, quando tiverem fome e sede.
Ah! Amados! Quão fácil é nos desviarmos do alvo da verdadeira vida cristã!
Que o exemplo de Jó seja uma inspiração a prosseguirmos na prática do bem, mesmo quando nossos olhos são abertos para sabermos a quem somos de fato chamados a abençoar: pessoas não gratas e santas, mas pecadores sujeitos a todas as obras que operam na carne.
Somos chamados a amá-los visando ao aperfeiçoamento paciente deles e nosso, em Deus, e na Sua sabedoria, que não é deste mundo, assim como o Seu reino não é também deste mundo.
Continuemos na prática do bem, ainda que, tal como Jó, recebamos visitações de aflições como uma espécie de estranha recompensa pelo bem que praticamos, sabendo que elas estão contribuindo para nos manter humildes e tementes a Deus, de modo que possamos continuar sendo instrumentos úteis em suas mãos.
“1 Mas agora zombam de mim os de menos idade do que eu, cujos pais teria eu desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho.
2 Pois de que me serviria a força das suas mãos, homens nos quais já pereceu o vigor?
3 De míngua e fome emagrecem; andam roendo pelo deserto, lugar de ruínas e desolação.
4 Apanham malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento são as raízes dos zimbros.
5 São expulsos do meio dos homens, que gritam atrás deles, como atrás de um ladrão.
6 Têm que habitar nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da terra e dos penhascos.
7 Bramam entre os arbustos, ajuntam-se debaixo das urtigas.
8 São filhos de insensatos, filhos de gente sem nome; da terra foram enxotados.
9 Mas agora vim a ser a sua canção, e lhes sirvo de provérbio.
10 Eles me abominam, afastam-se de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir.
11 Porquanto Deus desatou a minha corda e me humilhou, eles sacudiram de si o freio perante o meu rosto.
12 À direita levanta-se gente vil; empurram os meus pés, e contra mim erigem os seus caminhos de destruição.
13 Estragam a minha vereda, promovem a minha calamidade; não há quem os detenha.
14 Vêm como por uma grande brecha, por entre as ruínas se precipitam.
15 Sobrevieram-me pavores; é perseguida a minha honra como pelo vento; e como nuvem passou a minha felicidade.
16 E agora dentro de mim se derrama a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim.
17 De noite me são traspassados os ossos, e o mal que me corrói não descansa.
18 Pela violência do mal está desfigurada a minha veste; como a gola da minha túnica, me aperta.
19 Ele me lançou na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza.
20 Clamo a ti, e não me respondes; ponho-me em pé, e não atentas para mim.
21 Tornas-te cruel para comigo; com a força da tua mão me persegues.
22 Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e dissolves-me na tempestade.
23 Pois eu sei que me levarás à morte, e à casa do ajuntamento destinada a todos os viventes.
24 Contudo não estende a mão quem está a cair? ou não clama por socorro na sua calamidade?
25 Não chorava eu sobre aquele que estava aflito? ou não se angustiava a minha alma pelo necessitado?
26 Todavia aguardando eu o bem, eis que me veio o mal, e esperando eu a luz, veio a escuridão.
27 As minhas entranhas fervem e não descansam; os dias da aflição me surpreenderam.
28 Denegrido ando, mas não do sol; levanto-me na congregação, e clamo por socorro.
29 Tornei-me irmão dos chacais, e companheiro dos avestruzes.
30 A minha pele enegrece e se me cai, e os meus ossos estão queimados do calor.
31 Pelo que se tornou em pranto a minha harpa, e a minha flauta em voz dos que choram.” (Jó 30)