Pedro e o Galo – Mateus 26.31-35
“31 Então Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis de mim; pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão.
32 Todavia, depois que eu ressurgir, irei adiante de vós para a Galileia.
33 Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem de ti, eu nunca me escandalizarei.
34 Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante três vezes me negarás.
35 Respondeu-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te negarei. E o mesmo disseram todos os discípulos.”
O evangelho de João acrescenta muitas outras informações sobre as coisas que Jesus disse aos Seus discípulos na noite da ceia em que seria preso.
Ele falou sobretudo do amor que os discípulos deveriam ter uns pelos outros. E isto explica em parte a atitude de Pedro, em querer demonstrar que tinha um amor pelo Senhor maior do que todos os demais.
Nosso Senhor lhes havia dado o novo mandamento de se amarem uns aos outros assim como Ele lhes havia amado; isto é, eles deveriam se amar com o mesmo amor de comunhão espiritual que sempre existiu entre Ele e o Pai.
Seria por este amor divino, celestial, que o mundo saberia que eles eram de fato Seus discípulos.
Eles sairiam com uma missão ao mundo. Eles teriam uma mensagem para pregar. Eles receberiam poder do Espírito para testemunhar dEle. Mas caso faltasse este amor entre eles, faltaria tudo o mais, e Ele não seria glorificado.
Deus não pode ser glorificado quando falta a unidade e a comunhão espiritual, no Espírito, que deve estar presente em todas as reuniões da igreja.
Os apóstolos haviam aprendido do Senhor o modo como deveriam viver neste amor, mas deveriam crescer nisto.
Deveriam avançar para o alvo da maturidade em Cristo, que é sobretudo amadurecimento no Seu amor divino.
Isto não se aprende nos livros, mas na prática da vida.
Na submissão à vontade do Senhor e à Sua Palavra, num espírito quieto e manso que é agradável a Deus.
O brilho da face de Cristo deve ser visto também nos rostos dos cristãos, porque sem isto, não é possível cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
É importante lembrar que Ele falou deste novo mandamento do amor no contexto das palavras que havia proferido acerca da Sua glorificação nos céus, e no ajuntamento futuro de todos os Seus discípulos no céu para participarem da Sua glória.
Então o mandamento do amor que Ele proferiu nada tem efetivamente a ver com simples afeto natural, que não somente todos os homens possuem, como até mesmo animais irracionais, mas com o amor celestial e divino que é o único que pode trazer glória para o nome do Senhor.
Pedro não entendeu a que tipo de amor Jesus estava se referindo, e tentou demonstrar que o seu amor por Ele era maior do que o de todos os demais discípulos. Já que Jesus havia falado de amor, então Pedro na sua sinceridade quis lhe demonstrar até que ponto ia o seu amor por Ele.
Ele insistiu em dizer que seguiria Jesus mesmo depois dEle ter-lhe falado que não poderia segui-lO para onde Ele iria naquela ocasião, a saber, para o céu, mas como não disse a Pedro para onde iria, Pedro disse que iria segui-lO até mesmo dando a própria vida por Ele.
Mas Jesus lhe respondeu que o galo não cantaria naquela noite antes que Pedro lhe tivesse negado três vezes.
O amor natural de Pedro não seria suficiente para mantê-lo firme na fé e perseverante em confessar o Senhor mesmo diante do perigo de perder a sua própria vida.
Mas Pedro não havia aprendido esta lição, e teria que passar por ela de uma maneira muito dolorosa, para que jamais confiasse na carne.
Afetos, sentimentos, emoções, vontade, tudo isto faz parte da alma e não do espírito. Portanto, nada tem a ver com o amor sobrenatural de Deus que é fruto do Espírito e que é gerado no nosso espírito, apesar de poder ser manifestado através da alma.
Pedro deveria aprender a andar no Espírito, e a não confiar na carne, isto é, pelo seu ego (alma).
É somente estando fortalecido no Espírito, pela graça do Senhor que podemos cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
Por isso quando o Senhor restaurou Pedro depois de tê-lo negado, perguntando-lhe também por três vezes se ele O amava. No grego, ele usou a palavra ágape (amor divino) nas duas primeiras vezes, e como Pedro respondeu com a palavra filéo (amor de amizade natural), Jesus usou esta palavra filéo na última pergunta que fez e Pedro tornou a responder em sua insegurança também com filéo, porque não estava certo ainda de possuir o amor divino.
Jesus queria portanto demonstrar a Pedro que importa ser amado com o amor espiritual, celestial e divino, e não meramente com o amor natural, que é resultante de nossos afetos naturais, porque não O conhecemos mais segundo a carne, mas segundo o espírito.
Então o amor ao qual Jesus havia se referido é um amor de comunhão no Espírito Santo, que se manifesta nos cristãos quando eles estão reunidos, estando cheios do Espírito, que é quem promove tal unidade, comunhão e amor entre eles.
Independentemente disto, por maior que fosse o amor de Pedro e sua disposição de morrer por Cristo, isto não lhe seria concedido por Deus, Ele não receberia autoridade para fazê-lo porque importava que se cumprissem as Escrituras, conforme nosso Senhor lhes havia dito que: “Todos vós esta noite vos escandalizareis de mim; pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão.” (v. 31).
Isto está profetizado em Zac 13.7:
“Ó espada, ergue-te contra o meu pastor, e contra o varão que é o meu companheiro, diz o Senhor dos exércitos; fere ao pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas; mas volverei a minha mão para os pequenos.”
Portanto, todas as ovelhas de Jesus seriam dispersas na hora que Ele fosse ferido pela espada que seria erguida contra Ele para que fosse executada a justiça de Deus, por morrer no lugar dos pecadores.
Ele seria ferido de morte porque foi feito pecado e maldição por nós.
Então, nem a Pedro, nem a qualquer outro seria dado seguir a Jesus naquela hora da Sua prisão, motivo porque Ele disse tais palavras a Pedro, que já que estava determinado em segui-lO, como de fato fizera, indo após Ele até a casa do sumo sacerdote, depois que fora preso, acabaria lhe traindo por três vezes, negando conhecê-lO, porque aquela hora seria uma hora de solidão absoluta para Ele, e nenhuma de Suas ovelhas poderia confortá-lO, em razão dos juízos que estava levando sobre Si mesmo, por amor de nós.