Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Palavras que São Espírito e Vida – 2 Coríntios 3
 
Somente pelas palavras de Paulo no 3º capítulo de 2 Coríntios, pode-se dizer em sua defesa que não havia nenhum tipo de amargura em seu coração contra os coríntios, até mesmo porque o coração do apóstolo não era dominado por esta fraqueza pecaminosa, senão pelo amor de Cristo.
Ele possuía de fato um coração perdoador e pronto a sofrer todas as coisas por amor a Cristo.
Pelas suas muitas aflições e tribulações, o Espírito havia forjado nele as virtudes da longanimidade, da misericórdia, da paciência e sobretudo do amor.  
 Não se pode portanto fazer um juízo apressado sobre o caráter do apóstolo, baseado nesta ou naquela citação que fizera em suas epístolas, porque ele estava inteiramente tomado do zelo e amor pela causa do evangelho, que é sobretudo boas novas de salvação para os que creem.
Uma Nova Aliança através da qual Deus não está levando em conta as transgressões passadas, de modo a poder perdoar totalmente e reconciliar consigo mesmo, todos os que se arrependem de seus pecados e que creem no Seu Filho amado.
Tal era a humildade do apóstolo perante o Seu Senhor,  sabendo que tudo o que era, tinha e fazia, provinha dEle, que era grande o seu constrangimento quando se sentia impelido a ter que dizer algo em sua própria defesa.
Ao lhes dizer que ele era o bom perfume de Cristo e sobre a sua sinceridade no ministério, no final do capítulo anterior, não tinha portanto o propósito de se auto elogiar, mas lhes deixar bem claro que as marcas do seu apostolado eram o seu trabalho, dedicação, empenho na obra de Cristo, que resultavam em conversões verdadeiras, tal como se dera entre eles, os coríntios, e assim não precisava de títulos, ou cartas de recomendação como alguns costumam fazer para afirmarem a autoridade que têm recebido dos homens para terem a comissão de pregar o evangelho. 
A carta de recomendação de Paulo eram os próprios coríntios que haviam se convertido, e cujos nomes estavam escritos no seu coração, porque afinal fora ele que os alcançou para Cristo, e cujo testemunho de vidas transformadas podia ser observado por todos os homens. 
O Espírito de Deus havia escrito as suas leis nos seus corações através do ministério de Paulo, de forma que podia ser lido por todos que pertenciam de fato a Cristo.   
Paulo, portanto afirmou que era por causa de Cristo e por meio dEle, que tinha tal confiança em Deus (v. 4). E detalhou e reforçou esta afirmação ao dizer que não era capaz, por si mesmo, de pensar coisa alguma que fosse proveitosa para a Igreja, como se isto partisse dele próprio, uma vez que toda a capacidade de qualquer cristão vem da parte de Deus (v.5).
Porque é Ele quem habilita seus ministros a serem capazes para a obra do ministério do Novo Testamento, que não é uma mera exposição da letra das Escrituras, ou mera transmissão de palavras, mas a ministração do Espírito aos espíritos, porque somente a letra mata, porque não pode gerar a vida de Cristo nos corações, senão apenas o espírito, porque quando o espírito do ministro é liberado juntamente com a unção do Espírito Santo, é isto que gera vida espiritual nos corações.       
Os sacerdotes do Antigo Testamento não foram capacitados e chamados a cumprir um tal ministério em todas as nações, mas é exatamente este o ministério desde que Cristo inaugurou um Novo Testamento (aliança), no Seu sangue.
Não foi Paulo que inventou a doutrina de que é o espírito que vivifica, mas isto foi uma revelação de nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno: 
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.” (Jo 6.63)
Quando Jesus disse que as palavras que ele havia dito eram espírito e vida, isto significa que Suas palavras foram proferidas pelo Seu espírito.
Daí ter dito antes que é o espírito o que vivifica e que a carne para nada aproveita. 
É fácil observarmos isto quando lemos os discursos que Ele proferiu e que foram registrados nos evangelhos. Nós logo vemos que há espírito e vida, por exemplo, nas palavras do Sermão do Monte, nos discursos do evangelho de João e em tudo mais que o Senhor fez e ensinou, não somente porque se trata da verdade, mas também porque foram proferidas pelo espírito e não pela carne.
Esta é a razão de muitos lerem a Bíblia no culto público, ou pregarem a verdade, e não transmitirem vida aos seus ouvintes, porque o fazem na carne, e não no espírito.   
O que podemos entender então é que sempre que as palavras que são proferidas forem procedentes de um espírito liberado em comunhão com o Espírito Santo, o resultado será que a palavra transmitirá vida espiritual àqueles que as lerem ou ouvirem.
Por exemplo, os sermões de Spurgeon ainda falam com vida porque Ele andava no Espírito e pregava no Espírito, e ainda hoje nós podemos sentir o espírito e a vida que há nos seus sermões, porque foram pregados com palavras ensinadas pelo Espírito e com a unção do Espírito. Nós podemos sentir que são palavras que procederam de um espírito que estava liberado dos grilhões do velho homem, ou homem exterior, que ele havia mortificado.
O mesmo pode ser dito dos escritos da quase totalidade dos puritanos, especialmente de John Owen, Richard Sibbes, Richard Baxter, Thomas Manton, Thomas Watson, dentre outros.
Não há nada de influência ressecante nestes escritos, ao contrário, eles transmitem vida espiritual  porque foram produzidos em espírito, pela inspiração do Espírito Santo, em pessoas cujos espíritos estavam santificados e liberados para transmitirem vida a outros.
Então é um excelente critério para nortearmos a seleção dos louvores e dos sermões que ouvimos, dos livros e das mensagens que lemos, procurar identificar se é a carne ou o espírito que os produziram. Se foi a carne, gerará o que é carnal, natural, desta criação, porque o que é nascido da carne é carne. Mas se foi o espírito, gerará vida espiritual.         
Por isso se diz que o ministério da Igreja é o ministério do espírito (veja que é usado espírito com inicial minúscula no texto de II Cor 3.6,8):
 “o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.” (II Cor 3.6).
“como não será de maior glória o ministério do espírito?” (II Cor 3.8).
Então a glória da Nova Aliança excede a glória que havia no Velho Testamento, o qual foi inaugurado pela mediação de Moisés, e que por não possuir este caráter vivificador da Nova Aliança, fora substituído pela excelente glória do evangelho, por causa do caráter permanente deste, pelo qual muitos têm sido transformados e reconciliados com Deus para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo. 
A dispensação do Espírito é a melhor dispensação e o período mais luminoso da história do mundo.
Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não reconheceram o ministério do Messias e O rejeitaram, porque é possível estar totalmente alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes ocorrido em Jerusalém, neste período que chamamos de dispensação da graça, que podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.
É de suma importância portanto que nos inteiremos de tudo o que se refira à Pessoa e obra do Espírito, tanto na história da Igreja como também e principalmente em nossos próprios dias, de modo a que nos empenhemos e sejamos achados como Seus cooperadores no trabalho que Ele está realizando no mundo.
Se é por meio do Espírito que tem sido derramado em todas as nações da terra, desde a morte e ressurreição de Jesus, que é produzida a vida de Deus nos corações, pela justificação que há em Cristo, e pelo novo nascimento do Espírito, então este ministério do Espírito não pode ser chamado de ministério de morte e de condenação, tal como a Antiga Aliança, porque não é este o seu propósito primordial, senão o de salvar, de dar vida, de reconciliar o pecador com Deus, de livrá-lo da morte espiritual e eterna, para que possa ter a vida abundante e eterna que há em Cristo.
Este é o ministério do qual estão incumbidos os ministros do evangelho. Não de ministrarem a morte e a condenação, mas a vida espiritual e a justiça que há em Cristo, e que estão sendo proclamadas e operadas pelo Espírito Santo através da sua ministração nesta Nova Aliança, que transforma pecadores em santos, pela sua santificação em graus cada vez maiores da manifestação da glória de Deus em suas vidas, para que sejam transformados cada vez mais à imagem e semelhança do próprio Cristo. 
Havia e ainda há um véu no Antigo Testamento, que impedia que se visse claramente o significado das realidades espirituais relativas ao evangelho de Cristo, que está revelado no Velho Testamento em sombra, mas claramente revelado no Novo Testamento.
É somente quando o Espírito Santo remove este véu que podemos entender o mistério de Deus para o homem, que é Cristo, pela conversão de suas almas a Ele.
Paulo não estava falando da liberdade que os cristãos têm no Espírito (v. 17), por motivo de lhes ensinar esta verdade espiritual, mas também para refutar o falso ensino dos judaizantes que haviam se infiltrado também na Igreja de Corinto, como podemos ver no contexto desta epístola, e especialmente no seu décimo primeiro capitulo.
Ele já havia feito anteriormente  uma defesa desta liberdade no Espírito na epístola que havia escrito aos Gálatas, conforme podemos ver a seguir:
   “1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.” (Gál 5. 1-3).
O argumento aqui é da mesma essência do terceiro capítulo de II Coríntios, porque não é pela Lei que somos justificados e salvos, mas pela graça de Cristo, mediante o poder do Espírito. 
E em Cristo a Antiga Aliança que vigorava no Velho Testamento foi revogada, de forma que os cristãos foram libertados do jugo civil e cerimonial da Lei de Moisés. 
Em Cristo o cristão é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.
É portanto, somente pelo trabalho de libertação do Espírito Santo quanto à mortificação do velho homem, que podemos viver não mais escravizados à energia da carne, mas ao poder de Deus. 
 
 
 
“1 Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?
2 Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens.
3 Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.
4 E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;
5 Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,
6 O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.
7 E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória,
8 Como não será de maior glória o ministério do Espírito?
9 Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.
10 Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória.
11 Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece.
12 Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar.
13 E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
14 Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido;
15 E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o seu coração.
16 Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará.
17 Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
18 Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”. (2 Coríntios 3)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/01/2013
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