Julgando pela Aparência – 2 Coríntios 10
Tendo dado demonstrações do seu afeto sincero pelos coríntios, nos capítulos anteriores, o apóstolo trataria deste 10º capítulo em diante, das questões ainda pendentes na Igreja por causa de uns poucos rebeldes que insistiam em permanecerem na desobediência, resistindo ao ensino de Paulo, principalmente por darem ouvidos aos judaizantes aferrados à circuncisão, e que estavam pervertendo a fé de alguns, tentando lhes convencer que Paulo não era obediente à Lei de Moisés, e que se alguém desejasse ser salvo de fato deveria cumprir todos os mandamentos da Lei, inclusive os civis e cerimoniais, de forma que vivesse não como viviam os gentios, mas com os mesmos costumes e tradições dos judeus.
Além destes, deveria haver ainda alguns que insistiam em seu raciocínio e conhecimento carnal que não havia nenhum mal em participar dos banquetes que eram oferecidos nos templos pagãos a outros deuses, porque, afinal, segundo o modo de pensar deles, como o ídolo não é um deus verdadeiro, então seria inócua a participação deles juntamente com os ímpios naqueles banquetes que ofereciam aos seus deuses.
Então não era de se admirar que Paulo tivesse muitos opositores em Corinto, porque eles influenciavam a muitos na Igreja a não se submeterem ao ensino do apóstolo, senão ao ensino pervertido deles, que deturpava o verdadeiro significado da graça do evangelho.
Paulo lhes havia falado com benignidade, e sempre se mostrou humilde entre eles, então a sua exortação não era motivada por qualquer tipo de amargura pessoal, senão por puro zelo e amor por eles, para que retornassem do erro para a verdade, assim como ela se encontra no Senhor.
Ele não usaria da sua autoridade apostólica para lhes ordenar com arrogância o que era o seu dever, mas o faria com a mansidão e benignidade de Cristo, rogando em vez de ordenar (v. 1).
Entretanto, quando estivesse presente entre eles, desejava não se ver obrigado a usar com confiança da ousadia que talvez seria necessária ser usada com alguns que estavam abusando da sua paciência e longanimidade, julgando que ele andasse segundo a carne, isto é, vendo-o como mero homem, e assim sendo incapazes de ver que estava revestido do poder e autoridade de Deus para cumprir o seu apostolado.
Apesar de estar no corpo, Paulo não lutava segundo a carne, mas com as armas poderosas de Deus, que não são carnais, mas espirituais, para destruir os principados e potestades das trevas (v. 3,4).
É com este poder que procede de Deus e que se manifesta no corpo mortal dos Seus ministros, que são destruídos os conselhos e toda a forma de altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, de modo que é levado cativo todo entendimento à obediência de Cristo (v. 5).
Paulo estava portanto pronto a exercer a disciplina determinada por Cristo para punir toda a desobediência deliberada que porventura permanecesse em alguns na Igreja, mesmo em face da obediência da maioria dos cristãos de Corinto (v. 6).
Estes poucos desobedientes estavam se gloriando no fato de pertencerem a Cristo, e assim não deveriam dar contas a ninguém de seus maus atos, senão somente a Ele.
Tais pessoas ignoravam que o próprio Cristo deu autoridade aos Seus ministros para exercerem a devida disciplina na Igreja, punindo, e até mesmo excluindo da comunhão, aqueles que pretendessem permanecer na prática deliberada do pecado (v. 7).
É certo que todo cristão foi constituído como sacerdote para Deus neste mundo, mas dentre estes sacerdotes, o próprio Deus levantou líderes aos quais devem se submeter. Desobedecê-los, portanto, nas coisas referentes ao Senhor, significa desobedecer ao próprio Deus.
No entanto o exercício deste poder recebido de Deus pelos Seus ministros visa não à destruição, mas à edificação do corpo de Cristo. O fim da disciplina visa ao amor e não à aniquilação do que é disciplinado.
Vê-se aqui o mesmo princípio que há na disciplina de um filho rebelde por um pai amoroso; que tem sempre em vista a recuperação do filho e não a sua destruição.
Nenhum cristão rebelde de Corinto deveria continuar se referindo a Paulo dizendo que ele tinha o propósito de lhes intimidar com suas cartas, e afirmarem que apesar das cartas serem graves e fortes, a presença do corpo dele entre eles era fraca, e a sua palavra desprezível.
Se diziam isto, era prova de que eram carnais, e julgavam Paulo segundo a carne, e não segundo o Espírito.
Eles queriam talvez oradores eloquentes, líderes de porte forte e esbelto, e não alguém como Paulo que era rodeado de fraquezas por todos os lados, para que o poder de Deus se manifestasse pela sua graça nesta fraqueza humana que tanto desprezavam, e que na verdade apreciariam caso se arrependessem e andassem no Espírito, porque o que Deus fizera com Paulo, quanto ao quebrantamento do seu homem exterior é o mesmo que Ele pretende fazer com todos os seus filhos, de modo que fixou no apóstolo um exemplo para todos eles, quanto ao modo pelo qual convém caminharem diante dEle e dos homens, neste mundo.
Paulo lhes advertiu portanto a refletirem que seria para com eles, quando estivesse em sua presença, o mesmo que julgavam ser em suas cartas, isto é, forte, inspirado pelo Espírito, sendo em ações, aquilo que certamente a carne deles não gostaria de enfrentar (v 11).
Paulo nunca se comparou com ninguém, e nem sequer se considerava alguma coisa a seu próprios olhos, porque sabia que toda a sua suficiência vinha da graça do Senhor.
Então quem não age tal como ele é porque está sem entendimento quanto aos caminhos do Senhor.
Aqueles falsos mestres nos quais estes coríntios rebeldes estavam se gloriando, estavam trabalhando em campo alheio, porque não haviam sido eles que levaram os coríntios ao conhecimento de Cristo Jesus, senão o apóstolo, inclusive estes que estavam agora se rebelando contra ele, e na verdade não apenas contra ele, mas contra a graça de Deus que fora concedida ao apóstolo e que operava eficazmente através dele, não como faziam os seus opositores, em campos alheios, mas fundando igrejas, onde o evangelho nunca antes havia sido pregado.
Então esta glória não poderia jamais ser furtada do apostolo, por meio de argumentos, porque ele tinha a seu favor a realidade e o testemunho de Deus quanto ao trabalho que estava realizando.
A propósito foi o próprio Deus quem lhe havia conduzido até eles, e que lhe havia ordenado que permanecesse em Corinto porque tinha muito povo naquela cidade.
Como poderiam então, estarem estes coríntios se gloriando em outros que estavam procurando lhes afastar daquele que lhes havia conduzido ao conhecimento de Cristo?
Eles não deveriam portanto se gloriar em homem algum, senão somente no Senhor (v. 17); de forma que não é aprovado quem a si mesmo se louva, senão somente aquele a quem o Senhor louva, por ser obediente à Sua vontade, tal como lhe era o apóstolo Paulo, a quem estavam desprezando, em favor de louvarem pessoas reprovadas aos olhos de Deus e que não haviam sido enviadas por Ele a eles.
“1 Além disto, eu, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado para convosco;
2 Rogo-vos, pois, que, quando estiver presente, não me veja obrigado a usar com confiança da ousadia que espero ter com alguns, que nos julgam, como se andássemos segundo a carne.
3 Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne.
4 Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas;
5 Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo;
6 E estando prontos para punir toda a desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.
7 Olhais para as coisas segundo a aparência? Se alguém confia de si mesmo que é de Cristo, pense outra vez isto consigo, que, assim como ele é de Cristo, também nós de Cristo somos.
8 Porque, ainda que eu me glorie mais alguma coisa do nosso poder, o qual o Senhor nos deu para edificação, e não para vossa destruição, não me envergonharei.
9 Para que não pareça como se quisera intimidar-vos por cartas.
10 Porque as suas cartas, dizem, são graves e fortes, mas a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível.
11 Pense o tal isto, que, quais somos na palavra por cartas, estando ausentes, tais seremos também por obra, estando presentes.
12 Porque não ousamos classificar-nos, ou comparar-nos com alguns, que se louvam a si mesmos; mas estes que se medem a si mesmos, e se comparam consigo mesmos, estão sem entendimento.
13 Porém, não nos gloriaremos fora da medida, mas conforme a reta medida que Deus nos deu, para chegarmos até vós;
14 Porque não nos estendemos além do que convém, como se não houvéssemos de chegar até vós, pois já chegamos também até vós no evangelho de Cristo,
15 Não nos gloriando fora da medida nos trabalhos alheios; antes tendo esperança de que, crescendo a vossa fé, seremos abundantemente engrandecidos entre vós, conforme a nossa regra,
16 Para anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós e não em campo de outrem, para não nos gloriarmos no que estava já preparado.
17 Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor.
18 Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.”. (2 Coríntios 10)