Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Escapando do Engano da Serpente – 2 Coríntios 11
 
Nós vemos no 11º capítulo de 2 Coríntios que Paulo temia pelo fato de muitos coríntios se entregarem a especulações espiritualistas, teosóficas, filosóficas, e a todo tipo de ensino de origem satânica e dos muitos espíritos demoníacos que operam no mundo tentando insuflar nas mentes das pessoas ensinos enganadores a respeito da criação, da pessoa de Cristo, da natureza dos homens e dos anjos e de muitas outras coisas que se baseiam no que chamam de conhecimento profundo das coisas ocultas.
A base destas doutrinas demoníacas é a mesma que foi utilizada pela Serpente para enganar Eva no Éden.
Ela reside no apelo ao avanço em conhecimento, para que possamos nos inteirar melhor da vontade de Deus e da compreensão dos poderes que operam no mundo e na nossa própria natureza, dependendo de nós mesmos e não nos submetendo ao Senhor.
Mas este é o grande engano ao qual o diabo conduz os homens, porque lhes faz pensar que estão avançando em conhecimento por si mesmos nestas coisas ocultas, quando na verdade, estas coisas consistem em ensinos e manifestações de demônios.   
É este desejo de se inteirar das coisas que são ensinadas por Satanás, através de seus instrumentos, sob a forma de engano, que é repreendido tanto por Jesus quanto por Paulo, porque nos separa da simplicidade de mente que convém ao evangelho, e que em vez de nos tornar cheios da Palavra de Deus, e submissos a Cristo, contamina o nosso entendimento com as coisas pertencentes ao reino de Satanás de tal forma, que nos tornamos incapazes de nos concentrar nas coisas relativas à verdade que está em Cristo Jesus.
Deus nos criou para nos submetermos inteiramente à Sua soberania, e para viver do modo designado por Ele na Sua Palavra, e quando nos entregamos a este espírito especulativo de tudo pretender sondar em relação às doutrinas de demônios que circulam no mundo, ainda que com a sinceridade de apenas pretendermos alcançar conhecimento das mentiras que Satanás tem implantado por séculos no mundo, nós corremos o grande risco de ficarmos emaranhados nestas doutrinas e perdermos a comunhão com o Senhor e a verdade do evangelho. 
Por isso o Senhor proibiu o Seu povo, desde os dias de Moisés, de sequer nomear os falsos deuses que as nações pagãs cultuavam, exatamente para evitar este envolvimento da nossa mente com as coisas pertencentes ao reino das trevas.
Não é por nos inteirarmos de tudo o que eles ensinam e operam no mundo espiritual da maldade, que nos preveniremos dos Seus ataques, mas com oração, com fé, com apego à Palavra da verdade.
O próprio Espírito Santo e a Palavra de Deus nos dão o discernimento necessário para vencer tais potestades malignas.
Quando se tenta vencer Satanás examinando cuidadosamente cada uma das armas que ele tem utilizado no mundo, nós podemos ser enganados por ele a ponto de tentarmos combatê-lo com as suas próprias armas, e não com a verdade do evangelho.
Se o zelo de Paulo pela simplicidade do evangelho da cruz, e o seu modo de vida despojado e sofrido, por causa da cruz, parecia a alguns coríntios uma loucura, era melhor suportar tal loucura do que se entregar às chamadas coisas profundas do conhecimento, que na verdade têm sua origem no reino de Satanás (v. 1).
Sem a simplicidade devida a Cristo, conforme está revelada somente no evangelho, é impossível manter um coração puro, segundo a vontade de Deus (v. 2).
É portanto de fundamental importância saber que o diabo pode com sua astúcia, corromper a mente do cristão, apartando-a da simplicidade e da pureza que há em Cristo (v. 3).
A importância de não se afastar da simplicidade e da pureza que estão em Cristo, não apenas preserva a nossa comunhão com Ele, como nos resguarda de abraçar outro espírito ou outro evangelho diferente daquele que nos foi ensinado Pelo Senhor e pelos apóstolos, que sendo abraçados, ainda que involuntariamente, certamente trarão grandes danos à nossa fé (v. 4).
Para os que andam no Espírito e no temor do Senhor, pelo conhecimento verdadeiro da Sua Palavra, sempre se sentirá uma forma de repulsa em seus espíritos, quando outro evangelho ou falsa doutrina estão sendo pregados ou ensinados, porque a unção do Espírito e o dom de discernimento de espíritos é o melhor antídoto para nos manter afastados das coisas pertencentes a Satanás que são mentira e engano, por maior que possa ser a sua aparência de luz e de verdade.
Não podemos esquecer que Satanás se transfigura em anjo de luz e seus agentes em ministros de justiça (v. 14, 15).     
Quando estes falsos ministros, usados pelo diabo são admitidos pela Igreja, e os cristãos se submetem ao ensino deles, o Espírito Santo se entristece, e apagando-se a Sua atuação nos corações daqueles que apostatam da fé, torna-se muito difícil ver a vida de Cristo sendo manifestada no meio do Seu povo, porque é impossível viver na verdade, quando se é vencido pelo engano.   
Paulo já havia se referido anteriormente, nesta mesma epístola, qual é o modo de se vencer o engano, pelo seu próprio exemplo de vida:
“6 na pureza, na ciência, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido,
7 na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça à direita e à esquerda,” (II Cor 6.6,7).
Veja que o Pai da mentira é vencido com pureza, com conhecimento de Deus, com longanimidade, no Espírito Santo, e com amor não fingido, e com a Palavra da verdade, no poder de Deus, com armas da justiça em todos os lados. É pois principalmente com a verdade e com as armas da justiça do evangelho, no poder do Espírito, que se vence o Inimigo, e não com as suas próprias armas mentirosas.
Cristãos que procuram se aprofundar no conhecimento das profundezas de Satanás (ainda que pensem, em seu engano que estão se aprofundando em coisas que os levarão a ter um maior conhecimento de si mesmos e de Deus) acabam por considerar a palavra do evangelho como algo rude e grosseiro, como alguns coríntios que se  julgavam refinados em seu conhecimento, estavam considerando o apóstolo Paulo (v. 6).
O apóstolo disse que temia que a Serpente corrompesse com sua astúcia o entendimento dos coríntios, mas na verdade o diabo já havia enganado e corrompido a muitos deles, pelo que podemos inferir do muito trabalho que eles estavam dando a Paulo para tentar reconduzi-los à verdade e ao espírito correto pelo qual importa servirmos ao Senhor; que é o da simplicidade e pureza que se pode ver numa criança.
O evangelho deve ser recebido portanto com este espírito de caráter pueril, sem o qual sempre haverá a luta do conhecimento carnal que se levanta contra o conhecimento que procede de Cristo.
A mente humana que não se deixa persuadir pelo Espírito Santo, acabará se tornando aberta às imaginações vãs e carnais e ao ensino de demônios, ainda que afirme ter por propósito alcançar um melhor e maior conhecimento de Deus.
O evangelho de Paulo; e a pessoa do apóstolo não eram inferiores aos demais apóstolos de Cristo, que ele, em sua humildade, chama de mais excelentes do que ele (v. 5).
Se a mensagem era a mesma, se o espírito era o mesmo, então porque os coríntios estavam se predispondo a se abrirem para um outro evangelho, quando na verdade há somente um único e verdadeiro evangelho?
A vida de Paulo era uma carta aberta perante todos eles, e muito diferentemente dos falsos mestres que lhes influenciavam por interesse egoísta e para propósitos enganosos, ele nunca lhes havia pedido qualquer coisa em troca do serviço que lhes prestara, ao contrário, teve que despojar outras igrejas para poder servi-los, recebendo delas salário, de modo que lhes anunciasse inteiramente de graça o evangelho de Deus (v. 7,8).
Especialmente as igrejas da Macedônia haviam suprido as suas necessidades para poder pregar o evangelho aos coríntios.
Certamente ele havia seguido a direção do Espírito para agir de tal forma em relação aos coríntios, para que não desse oportunidade a Satanás para infamá-lo e tentar desqualificar a mensagem que pregava, por afirmar que Paulo afinal de contas era igual aos demais falsos mestres, que ensinavam a religião por interesse. 
Paulo não era insensato, mas se alguém quisesse tê-lo em tal conta, que o tivesse, porque em vez de se ofender, se gloriaria nisto, uma vez que ninguém deve gloriar em si mesmo, senão unicamente no Senhor, no entanto teria que se expor à insensatez de ter que se comparar com os falsos obreiros a bem dos coríntios, para que retornassem eles próprios à sensatez, de forma que pudessem entender o quão errados estavam em seus julgamentos, e o quanto haviam se deixado enganar pela velha Serpente, Satanás, o diabo.
Gloriar-se fora de Cristo é gloriar-se na carne, e Paulo teria que fazê-lo naquela ocasião, porque se os coríntios se julgavam sensatos porque estavam tolerando de boa mente os insensatos? Porque toleravam pessoas cujos ensinos estavam lhes escravizando?
Os coríntios admiravam a ousadia com que os falsos mestres faziam as suas asseverações, com grande eloquência e protestando alto conhecimento de coisas ocultas à mente comum.
No entanto, não havia nos apóstolos de Cristo a verdadeira ousadia, que é a do Espírito Santo, mas com amor e moderação?
E quanto às qualificações que estes falsos apóstolos pretextavam ter, por afirmarem simplesmente que eram israelitas, o povo que Deus havia escolhido desde a antiguidade, para se revelar ao mundo, Paulo não era também israelita tal como eles?
Eles se diziam ministros de Cristo? Mas onde estavam as marcas do ministério deles, produzida pela cruz?
Paulo expôs então os trabalhos, açoites, prisões (sem contar os mais de seis anos de prisão que ainda sofreria em Jerusalém, Cesareia e Roma), perigos de morte que suportara por amor ao evangelho, e que comprovavam que de fato estava sofrendo as perseguições que são sofridas por aqueles que pregam verdadeiramente o escândalo e a loucura da cruz.
Ele se referiu às 195 chibatadas que havia recebido dos próprios judeus, por perseguirem-no por causa do evangelho; às três vezes que havia sido açoitado com varas; à vez que havia sido apedrejado e dado como morto em Listra (At 14.19); aos três naufrágios que havia sofrido (sem contar o que ainda viria a sofrer em sua viagem para Roma); uma noite e um dia passado na voragem do mar; em muitas viagens, em perigos de rios, de salteadores, dos judeus, dos gentios, na cidade, no deserto, no mar, e entre falsos irmãos; em trabalho e fadiga, em muitas vigílias, com fome e sede, e vários jejuns, frio e nudez, suportados com amor por causa de Cristo e do evangelho.
Que outras evidências os coríntios ainda precisavam ter das marcas do seu apostolado verdadeiro? Que outras evidências do seu amor por Cristo e pelo evangelho?
Além de todos estes sofrimentos produzidos pelas circunstâncias exteriores, Paulo sofria também em seu interior em razão do cuidado por todas as igrejas.
Ele compartilhava as necessidades e sofrimentos dos santos. Ele ficava abatido com os abatidos. Enchia-se de zelo por causa dos que eram escandalizados (v. 30).
Ele queria que os coríntios percebessem que não estava se gloriando na carne em grandes feitos, conhecimentos, capacidades, senão nas coisas que estava sofrendo por amor ao evangelho.
Era uma glória relativa à sua fraqueza, e não ao seu próprio poder. Desta forma, tudo o que Ele fizera e estava fazendo era pela pura graça e poder de Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo.
O Deus que vinha lhe livrando de todos os perigos e lhe consolando em todos os seus sofrimentos e humilhações, era o mesmo que lhe havia libertado de ser morto em Damasco, quando teve que fugir da cidade sendo descido num cesto por uma janela da muralha da cidade.                  
 
 
 
“1 Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda.
2 Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
3 Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também seja de alguma sorte corrompida a vossa mente, e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo.
4 Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis.
5 Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos.
6 E, se sou rude na palavra, não o sou contudo no conhecimento; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós.
7 Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus?
8 Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado.
9 Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei.
10 Como a verdade de Cristo está em mim, esta glória não me será impedida nas regiões da Acaia.
11 Por quê? Porque não vos amo? Deus o sabe.
12 Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós.
13 Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo.
14 E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz.
15 Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.
16 Outra vez digo: Ninguém me julgue insensato, ou então recebei-me como insensato, para que também me glorie um pouco.
17 O que digo, não o digo segundo o Senhor, mas como por loucura, nesta confiança de gloriar-me.
18 Pois que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei.
19 Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos.
20 Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos fere no rosto.
21 Envergonhado o digo, como se nós fôssemos fracos, mas no que qualquer tem ousadia (com insensatez falo) também eu tenho ousadia.
22 São hebreus? também eu. São israelitas? também eu. São descendência de Abraão? também eu.
23 São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes.
24 Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um.
25 Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei na voragem do mar;
26 Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos;
27 Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez.
28 Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas.
29 Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase?
30 Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.
31 O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não minto.
32 Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem.
33 E fui descido num cesto por uma janela da muralha; e assim escapei das suas mãos.”. (2 Coríntios 11)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/01/2013
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