Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O Espinho na Carne – 2 Coríntios 12
 
Paulo era um homem que havia aprendido a se submeter inteiramente ao Senhor e a viver em verdadeira humildade.
Ele julgou uma insensatez ter que se gloriar, ainda que em suas fraquezas, como havia feito no capítulo anterior, e neste 12º capítulo de 2 Coríntios, mas disse que o fizera porque os coríntios lhe haviam constrangido a isto, uma vez que estavam tentando desqualificar o seu apostolado, em favor dos falsos apóstolos transfigurados em ministros de justiça por Satanás (v. 11). 
A prova desta humildade de Paulo pode ser deduzida do fato de que por catorze anos havia guardado em seu coração e não havia explanado em nenhuma de suas epístolas anteriores à escrita de 2 Coríntios, a experiência que tivera de ter sido arrebatado ao terceiro céu, à presença do Senhor, vendo as maravilhas da glória celestial, das quais não havia palavras que pudessem expressá-las.
De uma tal experiência, qualquer verdadeiro ministro de Cristo poderia se gloriar.
Certamente, ainda que não tenha feito uma referência direta aos falsos apóstolos, ele pretendia que os coríntios entendessem isto: qual deles poderia ter uma experiência como aquela, se sequer pertenciam a Cristo?  Como poderia ter sido arrebatado à presença de Deus alguém que não andasse na verdade?
No entanto, mesmo ao se referir a uma tal experiência grandiosa, Paulo fez questão de mencionar que Deus providenciou o meio necessário para que permanecesse humilde, uma vez que para que não ficasse exaltado pela excelência das revelações, foi-lhe enviado um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo, de modo que lembrasse que trabalhava pela graça, e não por qualquer mérito que houvesse nele próprio.   
Tal era a grandeza das aflições quando retornou do terceiro céu, ao qual chama de paraíso (v. 4) que orou por três vezes ao Senhor para que o livrasse das mesmas (v. 8), mas o Senhor lhe respondeu que o propósito daquela experiência era a de mantê-lo consciente da sua própria fraqueza, de forma que o poder da Sua graça pudesse se manifestar na sua vida.
Em outras palavras, o homem exterior de Paulo estava sendo quebrado para que o poder de Cristo fosse aperfeiçoado na fraqueza.
Então havia aprendido a se gloriar, e de boa vontade, nas suas fraquezas, isto é, nos seus quebrantamentos, para que pudesse ter a permanente habitação do poder de Cristo se manifestando em sua vida (v. 9).
A ponto de sentir prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo, e o motivo não era o de ser masoquista, mas porque tinha força espiritual justamente quando estava fraco em si mesmo (v. 10).
Aqueles que suportam com paciência o sofrimento por amor a Cristo são os que se tornam também participantes da Sua intimidade.
Não foi portanto gloriando-se que Paulo disse todas estas coisas aos coríntios, mas com grande constrangimento, porque foi obrigado a fazê-lo por amor e zelo deles próprios, para que retornassem à sensatez, e vissem que em vez de tentarem desqualificar o seu apostolado, deveriam dar graças a Deus pelo seu ministério; ainda que, como fazia questão de afirmar, que ele, Paulo nada era em si mesmo (v. 11).
O seu apostolado foi manifestado entre os coríntios com grande paciência, com sinais, prodígios e maravilhas. Nada diferente do que ocorrera com todas as demais igrejas, exceto que não exigiu deles nenhum sustento para lhes ministrar a graça do evangelho (v. 12,13).      
 Paulo não buscava nada para si dos coríntios, senão servi-los e amá-los, deixando como herança um tesouro espiritual para eles, tal como os pais procuram deixar herança para seus filhos.
Ainda que não o amassem o tanto quanto os amava, jamais deixaria de amá-los e se gastar em prol do bem das suas almas (v. 14,15).
Quem poderia dentre os coríntios acusá-lo de ter-lhes servido por interesse, com vistas a obter ganho pessoal?
Até mesmo Tito e um outro irmão que tinha sido enviado por Paulo aos coríntios não foram ter com eles com o mesmo espírito do apóstolo? Porventura haviam explorado algum deles?
Tudo isto era prova mais do que suficiente de que eram eles e não Paulo que deveriam retornar à sensatez.
O apóstolo não lhes estava apresentando justificativas ou desculpas pelo seu comportamento entre eles ao lhes falar todas estas coisas, mas o fizera para a própria edificação espiritual deles.
No entanto, como sabia que os homens não se emendarão com meras palavras, mas por se submeterem ao poder do Espírito e à Palavra de Deus, receava que quando fosse ter com eles não os achasse do modo em que deveriam ser achados, isto é, que ainda existisse entre eles contendas, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos e tumultos.
Não é nestas coisas que um cristão deve ser achado porque lhes torna repreensíveis à vista de Deus e dos homens.
O cristão deve estar no lugar em que deve estar e que foi designado para ele pelo Senhor, a saber, no crescimento em santificação.   
Quem deveria chorar e se humilhar eram os próprios coríntios que estivessem vivendo de modo desordenado, mas Paulo diz que esperava que ele próprio fosse humilhado por Deus e chorasse por aqueles que haviam pecado e que não haviam se arrependido da imundícia, da prostituição e da desonestidade que haviam cometido (v. 21).
É de fato muito triste e lamentável para um ministro ver que dentre aqueles que alcançou para Cristo há alguns que vivem na prática deliberada do pecado sem arrependimento, e como eles próprios não choram pelos seus pecados, os ministros sofrem e choram por eles.                 
 
 
 
“1 Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.
2 Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
3 E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
4 Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.
5 De alguém assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas.
6 Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas me abstenho, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve.
7 E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
8 Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.
11 Fui néscio em gloriar-me; vós me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós, visto que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos, ainda que nada sou.
12 Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas.
13 Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo.
14 Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos.
15 Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.
16 Mas seja assim; eu não vos fui pesado mas, sendo astuto, vos tomei com dolo.
17 Porventura aproveitei-me de vós por algum daqueles que vos enviei?
18 Roguei a Tito, e enviei com ele um irmão. Porventura Tito se aproveitou de vós? Não andamos porventura no mesmo espírito, sobre as mesmas pisadas?
19 Cuidais que ainda nos desculpamos convosco? Falamos em Cristo perante Deus, e tudo isto, ó amados, para vossa edificação.
20 Porque receio que, quando chegar, não vos ache como eu quereria, e eu seja achado de vós como não quereríeis; que de alguma maneira haja contendas, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos;
21 Que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e chore por muitos daqueles que dantes pecaram, e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e desonestidade que cometeram.”. (2 Coríntios 12)
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 20/01/2013
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