Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Eclesiastes 2
 
A verdadeira sabedoria é uma Pessoa (Cristo), e não algo que se adquire por exercício da mente.
 
“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;” (I Cor 1.30).
 
Então quanto mais se tem de Cristo, do conhecimento de Cristo, maior será a nossa sabedoria nas coisas relativas a Deus, ao Seu reino e ao propósito da nossa vida, tanto neste mundo quanto no porvir. 
 
Por isso nos é ordenado:
“antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade.” (II Pe 3.18).
 
A sabedoria de Salomão lhe foi dada num único dia, depois de ter tido um encontro com Deus em sonho em Gibeá.
Então o que ele recebeu foi na verdade uma grande inteligência natural com capacidade de investigar muitas coisas naturais, relativas ao homem natural.
Devemos considerar que ele escreveu Eclesiastes quando já era velho e havia acumulado larga experiência de vida. No entanto vemos pouco da expressão da sabedoria espiritual, relativa a coisas espirituais, sendo expressada em suas palavras, como já dissemos, que vemos por exemplo, nos Salmos de Davi, falando pelo Espírito.  
 A verdadeira sabedoria espiritual que é a revelada por iluminação progressiva e gradual (cada vez maior) pelo Espírito, é operada portanto, no decorrer dos anos, e não pode ser obtida de  uma vez a partir de um único dia, tal como Deus fizera com Salomão.
Então, não seria de se esperar que falasse de ter buscado estimular o seu coração e a sua carne com vinho, sem no entanto deixar a sua sabedoria, e tentar manter-se com auto domínio de tal forma, ainda que alegrado pelo vinho, que não se deixasse dominar pela estultícia (v. 3).  
Isto nada tem a ver com o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo, e não o resultado de auto determinação. É sendo guiados pelo Espírito Santo, que podemos ter o verdadeiro auto-domínio.
Salomão usou a sua sabedoria para realizar obras magníficas, como edificação de casas, e plantação de vinhas, hortas e jardins, construção de tanques para regar seus bosques, e foi rico em possessão tanto de servos como de gados e rebanhos, tendo excedido a todos os que tinham vivido antes dele em Jerusalém.
Ajuntou prata e ouro e tesouros dos reis que lhe eram tributários, e teve cantores e concubinas em grande número, para aumentar com isto a glória e o fausto do seu reino. 
Ele satisfez todos os desejos da sua alma e de nenhuma alegria terrena privara o seu coração, e lhe dava muita alegria o seu trabalho. 
Todavia, quando veio a refletir sobre tudo o que havia feito, chegou à conclusão que tudo fora vaidade e um desejo vão, e que não havia proveito nenhum em tudo o que havia debaixo do sol, ou seja, sobre a terra (v. 11). 
Certamente, o conselho de Salomão que o que nos resta, já que a morte é certa, é retirar o melhor do que a vida possa nos oferecer, não é o reto ensino divino acerca do assunto relativo ao modo como devemos viver neste mundo, mas sua afirmação está inserida na Bíblia, para que possamos ter o conhecimento e a convicção do que sucede àqueles que não fazem um uso apropriado da sabedoria e dos bens que tenha recebido até mesmo da parte do próprio Deus, tal como foi o caso de Salomão.
Daí dizermos então que é preciso ter muito cuidado ao se firmar doutrina, a partir das citações de Salomão neste livro, porque muito do que ele afirmou aqui, retrata a expressão dos seus próprios sentimentos, e não a verdade que lhe fora revelada por Deus acerca de muitas coisas que ele afirma neste livro que ele escreveu.
Todavia, devemos reafirmar aquelas verdades que são eternas e melhores, reveladas em toda a Palavra, do que nos concentrarmos em explicar exaustivamente tudo o que Salomão afirmou.
Temos nestas coisas afirmadas por ele, uma abertura para esta grande oportunidade de analisarmos melhor o que há no coração de uma pessoa que permanece em comunhão íntima com Deus e debaixo da direção do Seu Espírito (como foi o caso de Davi), e daqueles, que apesar de terem um conhecimento da Palavra do Senhor, não se aplicam inteiramente a tal comunhão, e o resultado será este, que vemos nos Escritos de Salomão, em que o Senhor não é exaltado o tanto quanto deveria, e a Sua Lei e vontade afirmadas, e não tanto as próprias conclusões a que chegamos depois de  uma investigação exaustiva, a partir não das coisas celestiais e divinas, mas nas que pertencem à própria natureza humana e tudo o mais que existe na terra, e que é procedente do mundo e não do céu.      
 
 
 
“1 Disse eu a mim mesmo: Ora vem, eu te provarei com a alegria; portanto desfruta o prazer; mas eis que também isso era vaidade.
2 Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?
3 Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne, sem deixar de me guiar pela sabedoria, e como me apoderar da estultícia, até ver o que era bom que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu, durante o número dos dias de sua vida.
4 Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas;
5 fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas de todas as espécies.
6 Fiz tanques de águas, para deles regar o bosque em que reverdeciam as árvores.
7 Comprei servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e de rebanhos, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
8 Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, concubinas em grande número.
9 Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.
10 E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; pois o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e isso foi o meu proveito de todo o meu trabalho.
11 Então olhei eu para todas as obras que as minhas mãos haviam feito, como também para o trabalho que eu aplicara em fazê-las; e eis que tudo era vaidade e desejo vão, e proveito nenhum havia debaixo do sol.
12 Virei-me para contemplar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia; pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que já se fez!
13 Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as trevas.
14 Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; contudo percebi que a mesma coisa lhes sucede a ambos.
15 Pelo que eu disse no meu coração: Como acontece ao estulto, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria; Então respondi a mim mesmo que também isso era vaidade.
16 Pois do sábio, bem como do estulto, a memória não durará para sempre; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o estulto!
17 Pelo que aborreci a vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e desejo vão.
18 Também eu aborreci todo o meu trabalho em que me afadigara debaixo do sol, visto que tenho de deixá-lo ao homem que virá depois de mim.
19 E quem sabe se será sábio ou estulto? Contudo, ele se assenhoreará de todo o meu trabalho em que me afadiguei, e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isso é vaidade.
20 Pelo que eu me volvi e entreguei o meu coração ao desespero no tocante a todo o trabalho em que me afadigara debaixo do sol.
21 Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, e ciência, e destreza; contudo, deixará o fruto do seu labor para ser porção de quem não trabalhou nele; também isso é vaidade e um grande mal.
22 Pois, que alcança o homem com todo o seu trabalho e com a fadiga em que ele anda trabalhando debaixo do sol?
23 Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho é vexação; nem de noite o seu coração descansa. Também isso é vaidade.
24 Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma se regozije do bem do seu trabalho. Vi que também isso vem da mão de Deus.
25 Pois quem pode comer, ou quem pode se regozijar, melhor do que eu?
26 Porque ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, e conhecimento, e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dá-lo àquele que agrada a Deus: Também isso é vaidade e desejo vão.”
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/01/2013
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