Profeta Daniel 2
A partir deste capítulo, foi revelado por Deus a Daniel, através das circunstâncias que Ele próprio criara, que o reino do Messias, antes de se estabelecer na terra, seria antecedido por uma sucessão de reinos, com o mesmo caráter do dEle, ou seja, impérios, que tinham outros reinos subjugados a si, como era o caso de Babilônia, e depois dela a Pérsia, e desta, a Grécia, e depois da Grécia, Roma, que foram os quatro grandes impérios mundiais que existiriam no mundo, desde os dias de Daniel, até que se instalasse o reino do Messias.
Depois destes impérios, houve e ainda tem havido tentativas fracassadas de se estabelecer um único reino sobre toda a terra, como se pôde ver nas ações imperialistas de Carlos Magno, com a criação do que se chamou de Sacro Império Romano-Germânico; dos franceses, sob Napoleão Bonaparte; e de muitos outros, sendo que a última tentativa em tal sentido será empreendida pelo Anticristo.
Todos estes impérios caem porque são levantados e mantidos por um tempo, por meio de pilhagens, enganos, mentiras, violências, e por isso estão fadados a sempre desaparecerem porque se não bastasse haver um juízo de Deus sobre aqueles que tais coisas praticam, geram eles próprios insatisfações entre o povo, entre seus soldados, entre seus nobres, e terminam subjugados por conspirações.
Além disso, os súditos do mundo, não são dotados em sua grande totalidade de uma natureza excelente, que é a nova natureza, que pode ser somente obtida pela fé em Cristo. Assim, não se pode esperar grandes coisas e virtudes permanentes de uma natureza decaída no pecado.
Por isso o reino do Messias será composto somente por aqueles que tiveram suas naturezas transformadas, porque isto é essencial e requerido, porque o Seu reino é de pura e perfeita justiça, e nada tem a ver com os reinos deste mundo, que são corrompidos, em razão da própria natureza humana.
Por isso a visão que foi dada ao rei Nabucodonosor em sonho, era de uma enorme estátua em forma humana, porque a visão se refere ao reino dos homens.
Veja que esta estátua é despedaçada por uma rocha cortada de um monte, sem o auxílio de mãos humanas, e sabemos que esta rocha é Cristo (v. 45). Ele é o rei do reino eterno que subsistirá para sempre, que consumiria todos os reinos mostrados a Nabucodonosor em visão, e o Seu reino jamais será destruído, e nem passará para outro povo (v. 44).
A estátua em forma humana que Nabucodonosor viu era imensa e de extraordinário esplendor, e tinha uma aparência terrível (v. 31).
Isto fala da grandeza, da glória, e do poder dos reinos terrenos, mas Deus os faz passageiros.
Pela pilhagem das nações, Babilônia havia se tornado muito rica em ouro, e representava a cabeça da estátua, não por ser o reino principal, mas por ser o primeiro em ordem em existência, a partir dos dias de Daniel.
A Pérsia e a Média, estavam representadas no peito e nos braços de prata da estátua, porque apesar de serem nações fortes, que haviam subjugado Babilônia, não possuíam a mesma glória da primeira (v. 32).
Os quadris e ventres de bronze, representavam a Grécia, sob o império de Alexandre, o Grande; porque não conseguiu se manter por muito tempo no poder, tendo morrido ainda jovem, e seu império foi repartido entre os seus quatro generais.
As pernas de ferro, e os pés, em parte de ferro e em parte de barro, representavam o Império Romano com suas legiões de ferro (pernas), e os impérios que se levantariam no mundo depois deles que sempre teriam esta característica de serem fortes por um lado e fracos por outro, o que foi definido pela mistura do ferro com o barro (pés).
Quando a rocha que foi cortada sem auxílio de mãos humanas feriu a estátua da visão que Deus dera a Nabucodonosor, esta foi esmiuçada e transformada tal como palha seca e miúda que foi espalhada pelo vento, de maneira que não se viu sequer qualquer vestígio da estátua. Ou seja, todos estes reinos seriam removidos de tal maneira pelo Senhor, que não deixaria deles qualquer vestígio sobre a terra, quando Ele inaugurar o Seu próprio reino, como uma grande montanha que encherá toda a terra. A rocha está destinada a se transformar numa grande montanha irremovível, indicando-se assim a segurança eterna deste reino inabalável que Deus está formando pela associação dos cristãos a Cristo (v. 34, 35).
Nabucodonosor não somente aceitou a veracidade da interpretação, como se inclinou rosto em terra perante Daniel, e ordenou que se lhe dessem muitos e grandes presentes, e que fosse colocado por governador de toda a província da Babilônia, e chefe supremo de todos os sábios de Babilônia. Além disso disse que o Deus de Daniel é o Deus dos deuses e o Senhor dos reis, e o revelador de mistérios.
Com isto, Deus estava preparando um melhor tratamento para todos os judeus por parte dos babilônios, durante o tempo em que deveriam permanecer em cativeiro, como também havia revelado, com antecedência, a fragilidade dos impérios terrenos, e como estão fadados todos eles a desaparecerem, para que se instale o único império que haverá de permanecer para sempre que é o de Cristo, depois da queda de todos estes reinos que devem se levantar sobre a terra, para logo depois caírem, conforme o propósito predeterminado de Deus, para que aprendamos a não colocar a nossa confiança na instabilidade dos reinos deste mundo que passam, senão somente em Cristo e no Seu reino inabalável e eterno.
A pedido de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abdnego foram também colocados sobre os negócios da província de Babilônia, porque eram homens honrados como ele, e também tementes a Deus, e foi seu desejo que compartilhassem da mesma honra que Deus lhe havia dado.
“1 No segundo ano do reinado de Nabucodonosor, teve este um sonho; o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono.
2 Então, o rei mandou chamar os magos, os encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que declarassem ao rei quais lhe foram os sonhos; eles vieram e se apresentaram diante do rei.
3 Disse-lhes o rei: Tive um sonho, e para sabê-lo está perturbado o meu espírito.
4 Os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.
5 Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo;
6 mas, se me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto, declarai-me o sonho e a sua interpretação.
7 Responderam segunda vez e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e lhe daremos a interpretação.
8 Tornou o rei e disse: Bem percebo que quereis ganhar tempo, porque vedes que o que eu disse está resolvido,
9 isto é: se não me fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois combinastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença, até que se mude a situação; portanto, dizei-me o sonho, e saberei que me podeis dar-lhe a interpretação.
10 Responderam os caldeus na presença do rei e disseram: Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei exige; pois jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que exigisse semelhante coisa de algum mago, encantador ou caldeu.
11 A coisa que o rei exige é difícil, e ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os homens.
12 Então, o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sábios da Babilônia.
13 Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.
14 Então, Daniel falou, avisada e prudentemente, a Arioque, chefe da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios da Babilônia.
15 E disse a Arioque, encarregado do rei: Por que é tão severo o mandado do rei? Então, Arioque explicou o caso a Daniel.
16 Foi Daniel ter com o rei e lhe pediu designasse o tempo, e ele revelaria ao rei a interpretação.
17 Então, Daniel foi para casa e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros,
18 para que pedissem misericórdia ao Deus do céu sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com o resto dos sábios da Babilônia.
19 Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel bendisse o Deus do céu.
20 Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder;
21 é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.
22 Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.
23 A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças e te louvo, porque me deste sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei.
24 Por isso, Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para exterminar os sábios da Babilônia; entrou e lhe disse: Não mates os sábios da Babilônia; introduze-me na presença do rei, e revelarei ao rei a interpretação.
25 Então, Arioque depressa introduziu Daniel na presença do rei e lhe disse: Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual revelará ao rei a interpretação.
26 Respondeu o rei e disse a Daniel, cujo nome era Beltessazar: Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua interpretação?
27 Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o podem revelar ao rei;
28 mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e as visões da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são estas:
29 Estando tu, ó rei, no teu leito, surgiram-te pensamentos a respeito do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela mistérios te revelou o que há de ser.
30 E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses as cogitações da tua mente.
31 Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta, que era imensa e de extraordinário esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível.
32 A cabeça era de fino ouro, o peito e os braços, de prata, o ventre e os quadris, de bronze;
33 as pernas, de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro.
34 Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou.
35 Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra.
36 Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos ao rei.
37 Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória;
38 a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os animais do campo e as aves do céu, para que dominasses sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro.
39 Depois de ti, se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra.
40 O quarto reino será forte como ferro; pois o ferro a tudo quebra e esmiúça; como o ferro quebra todas as coisas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará.
41 Quanto ao que viste dos pés e dos artelhos, em parte, de barro de oleiro e, em parte, de ferro, será esse um reino dividido; contudo, haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo.
42 Como os artelhos dos pés eram, em parte, de ferro e, em parte, de barro, assim, por uma parte, o reino será forte e, por outra, será frágil.
43 Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.
44 Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,
45 como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a sua interpretação.
46 Então, o rei Nabucodonosor se inclinou, e se prostrou rosto em terra perante Daniel, e ordenou que lhe fizessem oferta de manjares e suaves perfumes.
47 Disse o rei a Daniel: Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério.
48 Então, o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e grandes presentes, e o pôs por governador de toda a província da Babilônia, como também o fez chefe supremo de todos os sábios da Babilônia.
49 A pedido de Daniel, constituiu o rei a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sobre os negócios da província da Babilônia; Daniel, porém, permaneceu na corte do rei.”