Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Alimentando-se da Verdade

 Timóteo já havia servido ao evangelho por muitos anos juntamente com Paulo, quando este lhe escreveu esta epístola, e é interessante observar que o apóstolo lhe disse que deveria dar a devida atenção a tudo o que lhe estava escrevendo porque o Senhor lhe daria entendimento de todas as coisas.
Tal como Timóteo sempre temos muito o que aprender de Deus.
Um espírito humilde e submisso muito nos ajudará nisto.
Por isso devemos sempre fugir do endurecimento do orgulho espiritual que nos incapacita a aprender tudo o que necessitamos da parte de Deus. 
Se não nos acomodarmos e se não tentarmos fazer com que as coisas se ajustem às nossas conveniências, mas se ao contrário, nos entregarmos inteiramente ao bom combate da fé, trabalhando incansavelmente na seara do Senhor, e correndo a carreira que nos está proposta na busca da nossa santificação para a glória do Senhor, então Ele nos dará entendimento destas verdades que Paulo disse a Timóteo nesta epístola, e nos fará entender qual é o caráter da obra que devemos fazer debaixo do senhorio de Cristo.   
 É somente Deus que pode nos dar compreensão das coisas espirituais, porque elas se discernem espiritualmente, mas se não estivermos compromissados com Ele, considerando devidamente a necessidade de nos empenharmos no Seu serviço, não poderemos ter os nossos olhos espirituais abertos para compreender o mundo espiritual. 
Para encorajar Timóteo a suportar os sofrimentos impostos pelo evangelho com paciência, ele lhe aconselhou a trazer em memória o fato de que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, e era por causa do testemunho desta Sua ressurreição que Paulo estava sofrendo trabalhos e até prisões como se fosse um malfeitor.
 Cristo havia padecido grandemente e sofreu a terrível morte de cruz por amor aos homens, para que eles pudessem ser salvos e livrados do poder da morte, através da ressurreição.
Assim, os cristãos já têm triunfado sobre a morte por causa da morte e ressurreição de Cristo. 
Como este testemunho deve ser dado até que Cristo volte, para que sejam salvos pessoas de todas as gerações, então a Palavra de Deus nunca estará presa, ainda que nós estejamos presos, tal como Paulo se encontrava em Roma, quando escreveu esta epístola, aguardando o seu martírio.
Cristo morreu e ressuscitou por amor aos escolhidos, e Paulo tudo sofria também por amor deles para que pudessem alcançar a salvação que está em Cristo Jesus, e isto deveria ser lembrado por Timóteo e por todos os ministros de Cristo para que tenham a mesma atitude de Paulo e que façam o mesmo que ele fazia, estando bem cientes de qual é a principal missão da Igreja.  
O cristão não pode portanto ficar intimidado ainda que seja pela morte porque já triunfou sobre a morte pela sua identificação com a morte de Cristo.
Além da esperança da vida, há uma esperança de reinar em glória com Cristo para aqueles que sofrerem por causa do seu amor a Ele e da obra do evangelho, neste trabalho de salvação dos pecadores.
Cristo honrará grandemente àqueles que Lhe honrarem, mas negará diante de Seu Pai e dos santos anjos a qualquer que negar o Seu nome.
Entretanto, por maior que seja o número daqueles que venham a negar o Seu nome, Ele jamais deixará de ser fiel em cumprir o que prometeu, porque não pode negar-se a si mesmo. 
 Veja que Paulo alertou a Timóteo, e a todos os ministros do evangelho que o dever deles é pregar a morte e ressurreição de Cristo para a salvação dos pecadores.
Eles devem suportar sofrimentos por amor aos perdidos, de maneira que eles possam alcançar a salvação que é pela fé em Cristo Jesus. 
Nenhum ministro deve se permitir ser desviado deste grande objetivo e alvo de Deus para eles, por causa de contendas de palavras, que não servem para nada, senão apenas para perverter os seus ouvintes.   
O trabalho de um ministro do evangelho é o de edificar aqueles que estão debaixo do seu cuidado, e lhes trazer em memória aquelas coisas que eles já conhecem, porque este é o trabalho dos ministros: não falar coisas diferentes daquelas que pertencem ao evangelho, mas o que foi revelado por Deus em Sua Palavra para a nossa edificação na verdade. 
 É por isso que a contenda entre ministros ou quaisquer cristãos por causa da interpretação do uso e significado de palavras, que em nada contribua para a pregação clara e direta do evangelho, é um desserviço à causa de Cristo.  
A contenda de palavras em vez de conduzir os ouvintes a Cristo, servirá apenas para lhes afastar dEle.  
Os ministros têm um trabalho a fazer e terão que suportar dores para realizá-lo.
E qual é o trabalho deles?
É principalmente compartilharem a palavra da verdade. Não inventarem um novo evangelho, mas pregarem o evangelho que foi confiado por Deus a eles, conforme revelado aos apóstolos que testemunharam a morte e ressurreição de Cristo.  
A palavra que os ministros pregam é a palavra da verdade, porque o Seu autor é o Deus verdadeiro.
Então se requer grande sabedoria, estudo e cuidado para se compartilhar esta palavra da verdade da maneira adequada e ter a vida conformada a ela. Foi por isso que Paulo ordenou a Timóteo que se aplicasse ao manejo correto da Palavra.
Por conseguinte, todo ministro que não maneja bem a palavra da verdade não pode se apresentar aprovado diante de Deus. E ele será envergonhado por não estar capacitado a desempenhar o serviço para o qual foi encarregado por Ele.
Como a obra do evangelho possui tal caráter com tais demandas que exigem especialmente dos ministros toda diligência e cautela, eles devem dar muita atenção a tudo aquilo que possa ser um obstáculo para o desempenho do trabalho deles, como por exemplo falatórios profanos que em vez de uma vida piedosa produzem impiedade e se espalham rapidamente como uma gangrena que põe a perder todo o corpo.
Quando os erros e heresias entrarem na Igreja, a infecção de um se espalhará rapidamente infectando a muitos, tal como ocorreu com a heresia de Himeneu e Fileto nos dias de Paulo, que perverteu a fé de alguns, porque estavam ensinando que a ressurreição era um fato que pertencia ao passado porque seria, segundo eles, um modo alegórico de Cristo se referir à ressurreição espiritual relativa à conversão.
É verdade que há uma ressurreição espiritual, mas afirmar que não haverá uma real ressurreição do corpo é o mesmo que afirmar que Cristo mentiu ao fazer tal promessa à Igreja.     
Ao negarem a ressurreição do corpo deviam também estar negando qualquer recompensa futura pelos nossos sofrimentos por causa do evangelho, e isto desestimularia os cristãos na diligência para a santificação deles e empenho no serviço de Cristo.
Apesar de todos estes abalos que são produzidos pelas heresias no edifício da Igreja, o seu fundamento permanece firme, porque a infidelidade e incredulidade dos homens não podem anular a promessa de Deus e a Sua vontade.
Até mesmo importa que haja a investida do reino das trevas e do erro para que os cristãos fiéis sejam inflamados de zelo para a defesa da verdade, e da busca de Deus para as respostas e ações necessárias para se combater o erro, e com isto a verdade é mantida entre os cristãos; a saber, entre aqueles que são conhecidos de Deus, como sendo efetivamente participantes do Seu povo; e estes se desviarão da iniquidade e não se deixarão vencer pelo erro. 
 Daí o apóstolo afirmar: “O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.”.
Então não se deve apenas resistir às heresias, como também a toda forma de iniquidade, porque é isto que esfria o amor.
Quando deixamos de andar no amor, conforme o mandamento que temos recebido do Senhor, ficamos à mercê das investidas do diabo e da carne, e podemos até mesmo, em nome de sermos zelosos pelas coisas de Deus, agirmos tal como os fariseus, produzindo muitas dores em nossos irmãos em Cristo, e com isso podemos até mesmo impedir uma obra que o Espírito esteja fazendo em nosso meio.
Logo, o dever de combater as heresias não se restringe  apenas ao dever de manter a sã doutrina através de uma pregação e de um ensino ortodoxo, mas também e sobretudo em manter a disciplina ordenada por Cristo na Igreja.
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 25/01/2013
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