Tempos Trabalhosos
O início deste capítulo está em conexão com o seu final, porque o mal que é referido no início tem o seu único antídoto na afirmação que é feita no final do capítulo, a saber, somente poderão prevalecer com Deus nos últimos dias trabalhosos de iniquidade, aqueles que têm sido aperfeiçoados espiritualmente pelo ensino das sagradas Escrituras.
Somente aqueles que permanecerem na Palavra de Cristo poderão ter suas vidas edificadas sobre a Rocha.
Timóteo não deveria estranhar o fato de haver na Igreja pessoas ruins, porque na rede do evangelho vêm tanto peixes bons quanto ruins, como se vê em Mt 22.47, 48.
Jesus havia alertado os primeiros discípulos quanto ao fato de que se levantariam falsos profetas sedutores na Igreja, e que o Inimigo plantaria o seu joio nela, e nem por isso deveríamos ficar ofendidos com isto, pensando mal da verdadeira Igreja.
Sempre há muita escória misturada ao ouro que não foi completamente refinado, e sempre há joio e palha misturados aos grãos de trigo, que estão sendo peneirados.
Então Timóteo deveria estar preparado e armado em seu pensamento quanto às coisas que deveria suportar com paciência e mansidão no seu trabalho de evangelista.
Quando as pessoas passam a ter as características apontadas por Paulo no início deste 3º capítulo, pode ser dito que se trata de uma época difícil, porque exigirá Reforma na Igreja.
Sendo dias de Reforma, serão dias trabalhosos que exigirão dos ministros muito poder em graça e paciência para a realização do trabalho deles.
Eles se espantarão com a facilidade com que as pessoas serão visitadas pelo poder de Deus na Igreja, para logo depois saírem dando um mau testemunho, porque suas vidas não foram reformadas pela verdade.
Se eles se opõem à sã doutrina, como poderão ser restaurados e renovados por Deus?
Como poderão ser santificados pelo Espírito Santo ainda que ouçam bons sermões que lhes ensine a verdade, caso não se disponham a se consagrarem ao Senhor?
De que adiantará ouvirem sermões se não estão dispostos a aplicar a verdade em suas vidas e lares?
Então a consequência inevitável será a descrita por Paulo no início deste capítulo, onde se vê não apenas a desordem pessoal, mas inclusive a dos lares.
É importante frisar que a expressão "últimos dias" usada por Paulo se refere à última dispensação que é a do evangelho.
São portanto, os dias do evangelho, e evidentemente à medida que o tempo passasse as condições difíceis se agravariam porque Jesus disse que a iniquidade se multiplicaria no tempo do fim.
Paulo deixou Timóteo bem inteirado do fato de que até mesmo os dias do evangelho seriam dias trabalhosos e perigosos.
Que ele não ficasse portanto na expectativa de que haveria uma época dourada na terra, onde a verdade prevaleceria completamente pela pregação do evangelho, porque isto não ocorrerá a não ser quando da volta do Senhor com grande poder e glória.
Não será portanto a Igreja com o trabalho de evangelização, que trará paz e segurança eternas ao mundo, mas o próprio Senhor, pela força do Seu grande poder, quando da Sua segunda vinda.
Isto é muito importante de ser dito porque assim nenhum ministro criará falsas expectativas de que chegará o dia em que pelo seu trabalho, terá paz perfeita na Sua Igreja, e paz perfeita no mundo pelo trabalho de todos os demais ministros do evangelho.
Ao contrário, antes que Cristo volte, a tendência é de que as dificuldades se multipliquem, e os ministros devem estar bem conscientizados disto, e não é por acaso que o conteúdo de textos como este desta epístola, seja encontrado como um alerta em várias passagens das Escrituras.
O propósito do Espírito Santo ao nos ter revelado estas coisas não é o de gerar pessimismo, mas um posicionamento firme para perseverar no trabalho sabendo contra que tipo de inimigo teremos que lutar.
Não é um inimigo do qual poderemos nos livrar definitivamente até que Cristo volte.
É um inimigo contra o qual devemos nos prevenir, de maneira a não perdermos a nossa paciência e mansidão pelo fato de vermos que ele sempre se fará presente na Igreja até que Cristo volte.
A propósito, os próprios pastores devem olhar por si mesmos, como Paulo disse aos presbíteros de Éfeso em At 20.28, isto é, eles devem cuidar e vigiar para não caírem eles próprios da sua firmeza de fé, em face destes dias trabalhosos.