Testemunho Fiel
Este capítulo 3º de 2 Timóteo é o fechamento da epístola.
Nele é como se Paulo estivesse dizendo: “Bem, em face tudo o que eu te falei até aqui Timóteo, nesta minha carta, então você deve...”; e ele fez isto debaixo de uma exortação solene a que se comprometesse a fazer tudo o que lhe seria ordenado agora, em razão de todos os argumentos e verdades que lhes haviam sido apresentados até este ponto.
A palavra para “conjuro” no original grego é diamartiromai, uma palavra composta pela preposição diá, que significa por meio de, mediante, através de, e martiromai, que significa testemunhar, testificar, exortar energicamente.
Cabe destacar que a palavra testemunha é traduzida do grego mártir, revelando qual é o caráter do testemunho cristão, isto é, até ao martírio, se necessário for.
O próprio Paulo estava à porta do martírio sob Nero e ele afirma que estava perto o dia da sua partida para o Senhor.
É até mesmo provável que ele soubesse o dia que havia sido marcado para a sua execução, e qual é o testemunho deste grande homem de Deus?
De completa firmeza e serenidade diante do martírio que ele estava convicto que sofreria, tanto que desta vez não pediu que ninguém orasse por ele para que fosse livrado da prisão ou da morte, tal como havia feito antes em suas epístolas de Ef, Fp, Col e Fm, que havia escrito na sua primeira prisão em Roma e da qual havia sido efetivamente posto em liberdade.
Mas agora ele se sujeita inteiramente à vontade de Deus, sabendo que havia terminado o seu ministério e que deveria morrer daquela maneira para que o nome do Senhor fosse glorificado no seu testemunho de firmeza na fé diante da morte.
Isto serviria para encorajar a muitos cristãos nas perseguições que eles sofreriam debaixo especialmente do Império Romano, por quase três séculos, depois da morte de Paulo.
Homens de Deus de verdade não se intimidam diante das grandes aflições que eles sofrem.
Tal como Davi no passado, quando perseguido por todo Israel com Absalão, Paulo manteve tranquilidade de espírito o bastante, e firmou-se inteiramente no Senhor para continuar deliberando a realização das coisas que eram necessárias para o triunfo da causa da justiça, como nós vemos particularmente neste 4º capítulo, nas instruções que deu a Timóteo em relação aos interesses de Cristo e da Sua Igreja, ainda que debaixo daquela grande aflição, enquanto aguardava na prisão a execução da sua sentença de morte.
Funções seculares neste mundo podem ser abandonadas e negligenciadas, mas ai do ministro de deixar de pregar fielmente o evangelho, por causa de sofrimentos ou por quaisquer motivos pessoais!
Eles sabem que terão que prestar contas a Deus no dia do Juízo de tudo que fizeram em cumprimento da chamada deles para serem ministros da Palavra.
Eles sabem que pesa sobre eles esta responsabilidade que foi colocada em seus ombros não por homem algum, mas pelo próprio Deus.
É por isso que não se permitirão descansar até o dia da sua morte, quando ao desencargo fiel da missão que receberam da parte do Senhor.
Paulo não estava ensinando a Timóteo algo que ele não soubesse ainda, mas lembrando qual era o seu dever para com o Senhor na condição de evangelista e ministro da Palavra.
Não é uma função para o nosso aprazimento, diversão ou algo de que poderemos abrir mão a nosso bel-prazer, mas um dever do qual teremos que prestar contas a Deus.
Somente Ele que nos investiu neste sagrado encargo poderá nos isentar do nosso dever, mas Ele não fará isto porque seus dons e vocação são irrevogáveis.
Por isso haverá prestação de contas de tudo o que fizermos em relação à nossa chamada.
Paulo conhecia o temor do Senhor e este era um dos grandes motivos de toda a sua fidelidade e perseverança.
Ele sabia que haverá um dia de prestação de contas no Tribunal de Cristo, e pretendia fazer isto com alegria e não gemendo.
São suas palavras em II Cor 5.10,11:
“Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal. Portanto, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os homens;”.
Veja que ele diz que tinha o temor do Senhor quanto à prestação de contas no tribunal de Cristo.
Então os deveres dos quais estava encarregando Timóteo não eram deveres emanados dele próprio, Paulo, mas do Senhor, em relação ao ministério.
Paulo trouxe estes deveres à lembrança de Timóteo como prova do seu amor e cuidado por ele, de maneira que não viesse jamais a se desviar deles, e assim não ficar sujeito ao juízo de Deus.
O sucesso da Igreja é o sucesso de Cristo e o sucesso do ministro é também o sucesso de Cristo, e assim tanto um quanto outro estão satisfeitos.
Importa portanto, que haja plena diligência no cumprimento das coisas que nos são ordenadas por Deus, porque de outro modo Ele não pode estar contente conosco.
Há pessoas que se dão por satisfeitas se tiverem uma revelação ocasional da parte de Deus, se puderem ser ocasionalmente usadas como seu oráculo em profecias para outros, mas qual será a vantagem disto se não viverem segundo a sã doutrina buscando em tudo e em todo o tempo serem agradáveis a Ele?
Não terá sido este o erro daqueles que protestarão com Jesus na Sua vinda que profetizaram, realizaram milagres e expulsaram demônios em Seu nome, e no entanto ouvirão dEle que nunca os conheceu porque praticam a iniquidade?
Qual é a vantagem de fazer tudo isto e afinal ser rejeitado por Cristo?
Qual é a vantagem de ter sido usado um dia, ainda que por Deus, e no entanto ter o mesmo fim que teve Balaão e Judas?
Importa portanto que os ministros do evangelho não se iludam com a aparência das coisas e que instruam as suas ovelhas a viverem de modo efetivamente obediente e consagrado à vontade de Deus.
Porque afinal, como poderá alguém se gloriar diante do Senhor, no dia do Juízo, em ter sido usado por Ele apesar de ter continuado a viver deliberadamente na prática do pecado?
Por acaso Jesus aceitaria esta insinuação de que é ministro do pecado e da iniquidade e que é indiferente ao fato de alguém ter decidido viver no pecado?
Não é preciso nem mesmo ser um cristão para que se possa ver o absurdo de uma tal possibilidade.
Por isso o trabalho de um ministro do evangelho não é uma coisa indiferente, mas absolutamente necessária.
Foi por causa disto que Paulo conjurou Timóteo a cumprir os seus deveres de ministro do evangelho, não diante de si próprio, mas diante de Deus e de Jesus Cristo, e sob o argumento da Sua segunda vinda como juiz de vivos e de mortos, para estabelecer o Seu reino:
“Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino;”.