Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
2 Pedro 1
 
Os destinatários desta epístola são os mesmos da primeira, o que se infere do primeiro verso do terceiro capítulo; isto é, os cristãos das regiões da Ásia Menor, citados em I Pe 1.1.
 
A verdade que os apóstolos pregavam a respeito de Cristo está confirmada no testemunho das Escrituras, que foram produzidas pela inspiração do Espírito Santo, e pelo próprio testemunho ocular deles quanto à glória que haviam visto em Cristo, especialmente a da Sua transfiguração no monte quando estiveram perante Ele, tanto quanto Moisés e Elias (v. 16 a 21).
 
Então as coisas que nos são ordenadas pelo apóstolo nesta epístola são dignas de inteira aceitação e obediência para que possamos ser achados dentro dos propósitos e da vontade de Deus.
 
Ele fala de um conhecimento que conduz à vida eterna, e este conhecimento não é um mero conhecimento intelectual ou mesmo místico de mistérios que não se refiram à própria pessoa de Deus Pai, de Cristo e do Espírito Santo.
 
Não é o mero conhecimento de experiência com o mundo espiritual que é a garantia de se ter a vida eterna, porque é possível que alguém esteja se ligando com o mundo espiritual das trevas, e não com o reino da Luz do Filho de Deus.    
 
A garantia de um conhecimento espiritual verdadeiro de Deus está na confirmação das Escrituras, especialmente no texto dos profetas quanto ao que falaram de Cristo e da Sua obra.
 
Na saudação inicial da epístola o apóstolo Pedro associa a graça e a paz que deveriam existir na vida dos cristãos, ao conhecimento íntimo e pessoal deles de Deus Pai e de nosso Senhor Jesus Cristo (v. 2).
 
À medida que o nosso conhecimento de Deus progride, as nossas graças e a paz também aumentam, ao que Pedro chamou de graça e paz multiplicadas por causa do pleno conhecimento de Deus Pai e de Jesus Cristo.
 
O poder de Deus tem operado nos cristãos para a transformação deles por meio da sua participação da natureza divina, livrando-os da corrupção que há no mundo, corrupção esta que é resultante dos desejos e paixões da carne (v. 3, 4).
 
Então este conhecimento que os cristãos têm e devem prosseguir tendo de Deus se refere a esta participação e aumento desta participação na natureza do próprio Deus, bem como nas virtudes que Pedro citou nos versos 5 a 7, virtudes às quais se refere como relativas ao pleno conhecimento de Cristo (v. 8).
 
Ele não fala sobre mero conhecimento ou compreensão intelectual destas virtudes, mas de existência delas na nossa vida, por um conhecimento de experiência íntima, pessoal e sobretudo espiritual da realidade delas implantadas no nosso ser.
 
O apóstolo disse que é necessária muita diligência para se fazer progresso na obtenção e aumento destas graças espirituais, e que elas são acrescentadas progressivamente umas às outras, à medida que vamos crescendo no pleno conhecimento de Jesus Cristo (v. 5).
 
Assim, ele disse que se deve acrescentar à nossa fé a virtude. Esta palavra, virtude, abrange muitas graças como por exemplo, bondade, benignidade, misericórdia, perdão, santidade, ousadia, sobriedade, longanimidade, hospitalidade e tudo o mais que pertença ao caráter de Cristo.
 
À fé e à virtude deve ser acrescentado o conhecimento, não meramente conhecimento intelectual da Palavra, mas um conhecimento vivo da vontade de Deus pela Palavra e pelo Espírito. Conhecimento do próprio Deus e do Seu caráter. Conhecimento da fraqueza e corrupção da nossa natureza terrena e de como o pecado opera nela, para que nos despojemos dela pelo conhecimento das coisas que alimentam e dão crescimento à nossa nova natureza em Cristo Jesus.
      
A estas graças deve ser acrescentado o domínio próprio que é fruto do Espírito Santo. E este domínio próprio deve ser traduzido principalmente num viver quieto e tranqüilo, no Espírito, cultivando-se a virtude da mansidão e da gratidão e contentamento em toda e qualquer circunstância (v. 6).
  
A fé, a virtude, o conhecimento e o domínio próprio devem ser seguidos pela perseverança na fé. A perseverança que está associada à nossa salvação de irmos até ao fim sendo fiéis a Cristo e à Sua vontade (v. 6).  
       
Com a perseverança deve seguir a piedade, que é um viver santo e justo diante de Deus e dos homens.
 
Viver piedosamente é viver de modo totalmente consagrado a Deus.
 
Aqueles que tentam viverem todas estas graças pela sua própria capacidade e poder haverão de falhar, porque tudo isto nos vem do céu, pelo poder sobrenatural de Deus. São as coisas que dizem respeito à vida e piedade às quais Pedro se referiu no verso 3 como sendo dadas a nós através do poder de Deus. 
 
À piedade deve ser juntada a fraternidade ou comunhão com os irmãos na fé, no ajuntamento santo da congregação (Igreja).
 
Os cristãos devem se congregar para que o poder de Deus se manifeste neles para o cumprimento de todos os Seus propósitos divinos tanto em relação a eles, quanto a tudo o que seja relativo às Suas operações no mundo, especialmente pelas intercessões dos Seus filhos (v. 7).
 
Finalmente, à fraternidade ou comunhão espiritual em unidade na Igreja, deve ser juntado o amor que é o vínculo da perfeição, e sem o qual nada do que somos ou temos será de qualquer valor para Deus.
 
Então a melhor maneira de confirmarmos a nossa eleição (v. 10) isto é, de termos certeza da nossa salvação, é por percebermos que as graças aqui citadas por Pedro estão aumentando em nossa vida. porque é um princípio vital da fé e da graça verdadeiras, aumentarem em nós.
 
É por isso que o apóstolo diz no verso 8 que se estas coisas existirem e abundarem em nós, não seremos ociosos e nem infrutíferos no que concerne ao pleno conhecimento de Jesus, e também, diz no verso 9 que aquele que não possui estas evidências é cego, e pode enxergar somente as coisas que estão próximas com a sua visão natural, porque estas coisas espirituais não são alcançadas por vista, mas por fé.
 
Onde há a graça as boas obras abundarão. Assim, aquele que não estiver crescendo em graça, com a frutificação desta graça, embora finja possuí-la, é na verdade cego quanto ao que é espiritual e divino.
 
Eles não podem ter nenhum discernimento do mundo vindouro. Eles são também incapazes de olharem para trás e fazerem uma correta avaliação do passado deles, porque não podem levar em conta os seus pecados porque para isto, necessitariam da iluminação do Espírito Santo em convencimento de que somente em Cristo podem ter os seus pecados passados perdoados. Mas eles não levam isto em consideração, e julgam que nem mesmo seja necessário, porque não possuem a verdadeira graça operando em seus corações (v. 9).   
 
Há muitos tropeços que podem fazer um cristão decair da sua firmeza em Cristo.
 
Mas há sempre a oportunidade de restauração para o cristão que se humilha debaixo da potente mão do Senhor.
 
É por isso que o apóstolo se esforçou para dar o seu próprio exemplo pessoal de perseverança na fé à Igreja, de maneira que tivessem nele um modelo vivo do modo pelo qual importa caminhar diante de Deus.
 
E ele afirmou que enquanto estivesse neste mundo, até o último dia da sua vida, que segundo ele já se encontrava próximo sob a forma de martírio, conforme Jesus lhe havia revelado, ele não deixaria de exortar os cristãos a fazerem tudo o que lhes havia falado da parte do Senhor, lembrando-lhes sempre estas coisas, ainda que as soubessem e estivessem confirmados na verdade.
 
Pedro disse que estava escrevendo estas coisas e se esforçando diligentemente para que mesmo depois da sua morte os cristãos tivessem lembranças do que ele ensinou e deixou registrado em suas epístolas, para ser praticado pela Igreja (v. 10 a 15).   
 
Pedro diz que sendo diligentes na busca do aumento de suas graças, os cristãos terão a confirmação da sua eleição, e terão amplamente suprida a entrada deles no reino de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo.
 
Eles já têm entrado neste reino pela fé, mas importa permanecer e avançar neste reino, que é próprio descanso do Senhor, pelo crescimento progressivo em santificação.
 
O descanso que temos em Cristo neste mundo não é absoluto e completo, por causa de nossas imperfeições, no entanto, mais se pode ter deste descanso absoluto, completo e eterno, que teremos no céu, à medida que a nossa fé aumenta.
 
Daí a ordenação apostólica para que cresçamos na graça e no conhecimento de Jesus, não somente para a plena certeza da nossa eleição e salvação, como também para uma entrada cada vez maior e permanente no reino do Senhor, a saber, no Seu descanso, que é Ele próprio.
 
Portanto, é concedido por Deus que entrem amplamente neste Seu descanso, em graus cada vez maiores, aqueles que são diligentes em crescerem na graça e no conhecimento de Jesus (II Pe 1.5-11).
 
Por isso o apóstolo Pedro diz em II Pe 1.11, que sendo diligentes nos “ será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (II Pe 1.11).
 
Sem empenho em diligência não é possível permanecer efetivamente no descanso do Senhor, ainda que não se perca a Sua posse futura, quando se é verdadeiramente um cristão justificado pelo Senhor e regenerado pelo Espírito.
 
Os cristãos santificados e fiéis têm amplamente suprida pelo poder do Senhor, a entrada deles no Seu reino e descanso (II Pe 1.5-11).
 
Pedro afirmou categoricamente que não havia inventado as coisas que havia proferido, como se elas fossem uma fábula, mas que as recebeu diretamente de Jesus Cristo para serem guardadas pela Sua Igreja (v. 16 a 18).
 
 
 
 
“1 Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:
2 Graça e paz vos sejam multiplicadas no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor;
3 visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude;
4 pelas quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.
5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude o conhecimento,
6 e ao conhecimento o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade,
7 e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor.
8 Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9 Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, vendo somente o que está perto, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados.
10 Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis.
11 Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
12 Pelo que estarei sempre pronto para vos lembrar estas coisas, ainda que as saibais, e estejais confirmados na verdade que já está convosco.
13 E tendo por justo, enquanto ainda estou neste tabernáculo, despertar-vos com admoestações,
14 sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, assim como nosso Senhor Jesus Cristo já mo revelou.
15 Mas procurarei diligentemente que também em toda ocasião depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas.
16 Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade.
17 Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo;
18 e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo.
19 E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações;
20 sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.
21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” (II Pedro 1)
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 26/01/2013
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