Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
EZEQUIEL 16
Neste longo capítulo o Senhor continuou justificando o motivo de todos os terríveis juízos que estava trazendo sobre Judá e Jerusalém.
Ele ordenou ao profeta que mostrasse aos judeus que era mais do que justo o castigo que lhes estava sendo imposto por causa das grandes iniquidades deles, ainda maiores do que as de Samaria, capital de Israel (Reino do Norte), que introduziu o culto a Baal em Israel, e que adorava bezerros de ouro, com o centro de culto em Dã e Betel (extremos Norte e Sul daquele reino); bem como era também ainda maior do que a de Sodoma.      
Jerusalém havia se esquecido que toda a glória, fama e prosperidade que ela possuía, lhe foi acrescentada pelo Senhor. Foi ele que havia formado a nação de Israel, da qual Jerusalém fazia parte, como capital de Judá desde os dias do rei Davi.
E não fora de uma nação rica e próspera que ela havia surgido, mas de uma origem muito humilde porque foi de Abraão e Sara, que vieram de um país idólatra, como era Ur, dos caldeus, que eles descendiam, e ambos peregrinaram em Canaã vivendo entre os amorreus e os hititas, de modo que a sepultura de Abraão e Sara foi comprada por Abraão aos filhos de Hete, daí o Senhor dizer que o pai dos israelitas era amorreu, e a sua mãe, heteia.
E quando a nação de Israel era ainda recém-nascida, viveu como um pequeno núcleo de pessoas desprezadas em Canaã, vivendo como estranhos no meio deles, e por isso é dito que eram tal como um bebê saído da entranhas de sua mãe, do qual tiveram nojo e foi jogado na rua.
Todavia o Senhor não havia desprezado a então pequena Israel composta dos descendentes de Jacó, quando eram apenas cerca de 75 almas, quando desceram para habitar na terra de Gósen, no Egito, nos dias de José.
Então o Senhor multiplicou a nação como renovo do campo, e cresceu até alcançar seios e grande formosura. Contudo ainda estava nua e descoberta (v. 7) porque se encontrava em cativeiro no Egito.    
Como a nação estava amadurecida para o casamento, o Senhor a tomou para se casar com ela, fazendo uma aliança com a nação de Israel para que fosse Sua (v. 8), quando lhes deu a Lei através de Moisés ao pé do monte Sinai.    
E o Senhor purificou Israel e o vestiu de bordados, e lhe calçou os pés e lhe vestiu com linho fino e seda, e lhe ornou de enfeites, pondo-lhes braceletes nas mãos e um colar no pescoço. Além disso, como estava se casando com um Rei, colocou-lhe um pendente no nariz e brincos nas orelhas, e uma linda coroa de rainha na cabeça (v. 12).    
Além disso lhe proveu de flor de farinha, mel e azeite, de modo que sua formosura aumentou em extremo, a ponto de ser reconhecida como parte da realeza divina (v. 13).
E o que fez esta formosa esposa (Israel) para com o Seu marido (Deus)?
Confiada na sua formosura, e na sua fama que se fez reconhecer entre as nações, corrompeu-se por causa de tal fama e formosura, e passou a se prostituir, fazendo pior que as prostitutas, porque se aliançou com as nações pagãs, adorou os seus deuses, pagou-lhes tributos, e amou as suas práticas abomináveis, voltando as costas para o Seu marido.
Sequer tinha a vergonha da prostituta que se vende por dinheiro, porque eles se venderam por nada. Nenhuma paga exigiram de seus amantes (nações pagãs) para se corromperem com eles.    
É possível portanto transformar as bênçãos do Senhor em causa de ruína e maldição, por causa do orgulho.
Cristãos e igrejas devem sempre vigiar contra este mal, porque uma vez que a soberba sobe ao coração, dificilmente volta-se a descer das alturas a que nos elevamos, para colocarmos nossos pés humildemente no chão, e passaremos a usar o poder e as graças que recebemos de Deus para servir aos nossos próprios interesses egoístas.
Cristãos dotados de dons extraordinários recebidos do Espírito Santo, são tentados a se sentirem superiores a seus demais irmãos, e considerá-los indignos por não serem, segundo o seu juízo, tão espirituais quanto eles.  
Podem, por outro lado, usar a prosperidade material que tenham recebido para se prostituírem com o mundo, tornando-se assim infiéis, conforme a repreensão que Tiago dirige aos que caem em tais laços.
“4 Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou pensais que em vão diz a escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?” (Tg 4.4,5)
O zelo de Deus para que o Seu povo se lhe mantenha fiel, não amando o mundo, nunca mudou, e é o mesmo tanto no Velho quanto no Novo Testamento.  
Israel fizera uma coisa horrenda, porque usou grande parte das riquezas que o Senhor lhes dera, para erigirem templos e altares para adorarem a outros deuses, e para adornarem suas imagens de escultura.
Ofereceram seus filhos, que eram herança de Deus em sacrifício a divindades como Moloque. Assim mataram filhos que não eram apenas seus, mas também de Deus.  
Veja que quando Deus repreendeu os judeus ímpios e idólatras dos dias do profeta Ezequiel quanto a estarem oferecendo as suas criancinhas em holocausto ao deus Moloque, ele as chamou de filhos e filhas e que eles haviam gerado para Ele, o Senhor, e que eram portanto seus filhos, que em vez de consagrarem a Ele, estavam lhes matando em sacrifício a falsos deuses.  
De tal maneira a soberba havia subido ao coração dos judeus, que haviam esquecido dos começos humildes da sua mocidade, tanto em Canaã, quanto no Egito, quando estavam sendo formados como nação.    
Haviam esquecido que teriam permanecido debaixo do jugo de escravidão no Egito se o Senhor não os tirasse de lá com o Seu braço forte, para entrar em aliança com eles.  
Jerusalém havia se tornado numa meretriz desenfreada, e por isso o Senhor a entregaria à lascívia de todos os seus amantes, tanto daqueles que ela amara, quanto dos que odiara, porque viriam várias nações contra ela no seu cerco, juntamente com os babilônios, e o Senhor descobriria a nudez de Jerusalém diante deles, para que vissem o estado deplorável em que se encontrava, porque desprezara o seu Marido (v. 37).
E o Senhor a entregaria na mão dos seus inimigos para que fosse despojada e destruída por eles, especialmente os ídolos e os altares que haviam construído para adulterar com eles.  
E como uma mulher adúltera, seria apedrejada, e traspassada pela espada, e suas casas seriam queimadas pelo fogo, e já não poderia ser mais meretriz.      
Deus agiria contra ela com o furor de um marido traído, e assim se aquietaria em relação à Sua indignação, contra tão grande ingrata e infiel esposa.  
Apesar de tudo, o Senhor lembraria da aliança que havia feito com Israel nos dias da sua mocidade, e faria uma nova aliança com eles, que seria uma aliança eterna, a saber, a Nova Aliança, a mesma aliança prometida em Jeremias 31.31-34, que se refere à união dos cristãos com Jesus Cristo, sejam judeus ou gentios (v. 61, 62,63). Aliança esta que está devidamente explicada no nosso comentário relativo ao trigésimo primeiro capítulo de Jeremias.  



“1 Ainda veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Filho do homem, faze conhecer a Jerusalém seus atos abomináveis;
3 e dize: Assim diz o Senhor Deus a Jerusalém: A tua origem e o teu nascimento procedem da terra dos cananeus. Teu pai era amorreu, e a tua mãe heteia.
4 E, quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água, para te alimpar; nem tampouco foste esfregada com sal, nem envolta em faixas;
5 ninguém se apiedou de ti para te fazer alguma destas coisas, compadecido de ti; porém foste lançada fora no campo, pelo nojo de ti, no dia em que nasceste.
6 E, passando eu por ti, vi-te banhada no teu sangue, e disse-te: Ainda que estás no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estás no teu sangue, vive.
7 Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo. E cresceste, e te engrandeceste, e alcançaste grande formosura. Formaram-se os teus seios e cresceu o teu cabelo; contudo estavas nua e descoberta.
8 Então, passando eu por ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a minha aba, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei num pacto contigo, diz o Senhor Deus, e tu ficaste sendo minha.
9 Então te lavei com água, alimpei-te do teu sangue e te ungi com óleo.
10 Também te vesti de bordados, e te calcei com couro da melhor qualidade, cingi-te de linho fino, e te cobri de seda.
11 Também te ornei de enfeites, e te pus braceletes nas mãos e um colar ao pescoço.
12 E te pus um pendente no nariz, e arrecadas nas orelhas, e uma linda coroa na cabeça.
13 Assim foste ornada de ouro e prata, e o teu vestido foi de linho fino, de seda e de bordados; de flor de farinha te nutriste, e de mel e azeite; e chegaste a ser formosa em extremo, e subiste até a realeza.
14 Correu a tua fama entre as nações, por causa da tua formosura, pois era perfeita, graças ao esplendor que eu tinha posto sobre ti, diz o Senhor Deus.
15 Mas confiaste na tua formosura, e te corrompeste por causa da tua fama; e derramavas as tuas prostituições sobre todo o que passava, para seres dele.
16 E tomaste dos teus vestidos e fizeste lugares altos adornados de diversas cores, e te prostituíste sobre eles, como nunca sucedera, nem sucederá.
17 Também tomaste as tuas belas jóias feitas do meu ouro e da minha prata que eu te havia dado, e te fizeste imagens de homens, e te prostituíste com elas;
18 e tomaste os teus vestidos bordados, e as cobriste; e puseste diante delas o meu azeite e o meu incenso.
19 E o meu pão que te dei, a flor de farinha, e o azeite e o mel, com que eu te sustentava, também puseste diante delas em cheiro suave, diz o Senhor Deus.
20 Além disto, tomaste a teus filhos e tuas filhas, que me geraras, e lhos sacrificaste, para serem devorados pelas chamas. Acaso foi a tua prostituição de tão pouca monta,
21 que havias de matar meus filhos e lhos entregar, fazendo-os passar pelo fogo?
22 E em todas as tuas abominações, e nas tuas prostituições, não te lembraste dos dias da tua mocidade, quando tu estavas nua e descoberta, e jazias no teu sangue.
23 E sucedeu, depois de toda a tua maldade (ai, ai de ti! diz o Senhor Deus),
24 que te edificaste uma câmara abobadada, e fizeste lugares altos em todas as praças.
25 A cada canto do caminho edificaste o teu lugar alto, e fizeste abominável a tua formosura, e alargaste os teus pés a todo o que passava, e multiplicaste as tuas prostituições.
26 Também te prostituíste com os egípcios, teus vizinhos, grandemente carnais; e multiplicaste a tua prostituição, para me provocares à ira.
27 Pelo que estendi a minha mão sobre ti, e diminuí a tua porção; e te entreguei à vontade dos que te odeiam, das filhas dos filisteus, as quais se envergonhavam do teu caminho depravado.
28 Também te prostituíste com os assírios, porquanto eras insaciável; contudo, prostituindo-te com eles, nem ainda assim ficaste farta.
29 Demais multiplicaste as tuas prostituições na terra de tráfico, isto é, até Caldeia, e nem ainda com isso te fartaste.
30 Quão fraco é teu coração, diz o Senhor Deus, fazendo tu todas estas coisas, obra duma meretriz desenfreada,
31 edificando a tua câmara abobadada no canto de cada caminho, e fazendo o teu lugar alto em cada rua! Não foste sequer como a meretriz, pois desprezaste a paga;
32 tens sido como a mulher adúltera que, em lugar de seu marido, recebe os estranhos.
33 A todas as meretrizes se dá a sua paga, mas tu dás presentes a todos os teus amantes; e lhes dás subornos, para que venham a ti de todas as partes, pelas tuas prostituições.
34 Assim és diferente de outras mulheres nas tuas prostituições; pois ninguém te procura para prostituição; pelo contrário tu dás a paga, e não a recebes; assim és diferente.
35 Portanto, ó meretriz, ouve a palavra do Senhor.
36 Assim diz o Senhor Deus: Pois que se derramou a tua lascívia, e se descobriu a tua nudez nas tuas prostituições com os teus amantes; por causa também de todos os ídolos das tuas abominações, e do sangue de teus filhos que lhes deste;
37 portanto eis que ajuntarei todos os teus amantes, com os quais te deleitaste, como também todos os que amaste, juntamente com todos os que odiaste, sim, ajunta-los-ei contra ti em redor, e descobrirei a tua nudez diante deles, para que vejam toda a tua nudez.
38 E julgar-te-ei como são julgadas as adúlteras e as que derramam sangue; e entregar-te-ei ao sangue de furor e de ciúme.
39 Também te entregarei nas mãos dos teus inimigos, e eles derribarão a tua câmara abobadada, e demolirão os teus altos lugares, e te despirão os teus vestidos, e tomarão as tuas belas jóias, e te deixarão nua e descoberta.
40 Então farão subir uma hoste contra ti, e te apedrejarão, e te traspassarão com as suas espadas.
41 E queimarão as tuas casas a fogo, e executarão juízos contra ti, à vista de muitas mulheres; e te farei cessar de ser meretriz, e paga não darás mais.
42 Assim satisfarei em ti o meu furor, e os meus ciúmes se desviarão de ti; também me aquietarei, e não tornarei mais a me indignar.
43 Porquanto não te lembraste dos dias da tua mocidade, mas me provocaste à ira com todas estas coisas, eis que eu farei recair o teu caminho sobre a tua cabeça diz o Senhor Deus. Pois não acrescentaste a infidelidade a todas as tuas abominações?
44 Eis que todo o que usa de provérbios usará contra ti deste provérbio: Tal mãe, tal filha.
45 Tu és filha de tua mãe, que tinha nojo de seu marido e de seus filhos; e tu és irmã de tuas irmãs, que tinham nojo de seus maridos e de seus filhos. Vossa mãe foi heteia, e vosso pai amorreu.
46 E tua irmã maior, que habita à tua esquerda, é Samaria, ela juntamente com suas filhas; e tua irmã menor, que habita à tua mão direita, é Sodoma e suas filhas.
47 Todavia não andaste nos seus caminhos, nem fizeste conforme as suas abominações; mas, como se isso mui pouco fora, ainda te corrompeste mais do que elas, em todos os teus caminhos.
48 Vivo eu, diz o Senhor Deus, não fez Sodoma, tua irmã, nem ela nem suas filhas, como fizeste tu e tuas filhas.
49 Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.
50 Também elas se ensoberbeceram, e fizeram abominação diante de mim; pelo que, ao ver isso, as tirei do seu lugar.
51 Demais Samaria não cometeu metade de teus pecados; e multiplicaste as tuas abominações mais do que elas, e justificaste a tuas irmãs, com todas as abominações que fizeste.
52 Tu, também, pois que deste sentença favorável a tuas irmãs, leva a tua vergonha; por causa de teus pecados, que fizeste mais abomináveis do que elas, mais justas são elas do que tu; confunde-te logo também, e sofre a tua vergonha, porque justificaste a tuas irmãs.
53 Eu, pois, farei tornar do cativeiro a elas, a Sodoma e suas filhas, a Samaria e suas filhas, e aos de vós que são cativos no meio delas;
54 para que sofras a tua vergonha, e sejas envergonhada por causa de tudo o que fizeste, dando-lhes tu consolação.
55 Quanto a tuas irmãs, Sodoma e suas filhas, tornarão ao seu primeiro estado; e Samaria e suas filhas tornarão ao seu primeiro estado; também tu e tuas filhas tornareis ao vosso primeiro estado.
56 Não foi Sodoma, tua irmã, um provérbio na tua boca, no dia da tua soberba,
57 antes que fosse descoberta a tua maldade? Agora, de igual modo, te fizeste objeto de opróbrio das filhas da Síria, e de todos os que estão ao redor dela, e para as filhas dos filisteus, que te desprezam em redor.
58 Pela tua perversidade e as tuas abominações estás sofrendo, diz o Senhor.
59 Pois assim diz o Senhor Deus: Eu te farei como fizeste, tu que desprezaste o juramento, quebrantando o pacto.
60 Contudo eu me lembrarei do meu pacto, que fiz contigo nos dias da tua mocidade; e estabelecerei contigo um pacto eterno.
61 Então te lembrarás dos teus caminhos, e ficarás envergonhada, quando receberes tuas irmãs, as mais velhas e as mais novas, e eu tas der por filhas, mas não por causa do pacto contigo.
62 E estabelecerei o meu pacto contigo, e saberás que eu sou o Senhor;
63 para que te lembres, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua vergonha, quando eu te perdoar tudo quanto fizeste, diz o Senhor Deus.” (Ezequiel 16)

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/01/2013
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