EZEQUIEL 28
Até o verso 19 deste capitulo prosseguem os juízos contra Tiro, e aqui, primeiramente contra o príncipe de Tiro, ou seja o homem que governava aquele país, o qual tomado pelos mesmos sentimentos que foram achados em Satanás, quando seu coração se elevou no céu por causa da sua formosura, foi lançado à terra por um juízo que lhe viera da parte de Deus.
Ele fora um bom servo do diabo em tudo, e chegou a ponto, de tal como ele, se considerar um deus acima do próprio Deus, por causa do grande poder e riqueza que havia obtido no seu comércio com as nações.
Tal como o diabo, o seu grande objetivo era apenas glória, fama e poder mundanos, e nisto foi um excelente discípulo do seu mestre, Satanás, o diabo, que é também citado por isto na profecia, não como príncipe, mas como rei de Tiro, para que soubéssemos que era debaixo da sua influência e poder que o príncipe regente de Tiro se encontrava.
E assim como juízos foram estabelecidos por Deus contra o diabo por ter-se elevado o seu coração, de igual modo o príncipe de Tiro, que em tudo havia seguido os seus passos, seria também submetido aos mesmos juízos, para que soubesse que era apenas homem e não Deus, assim como o diabo os recebeu para que soubesse que era apenas um anjo, uma criatura de Deus, e não alguém semelhante a Deus, como ele julgara insensatamente em seu coração.
As profecias relativas ao príncipe de Tiro vão do verso 1 ao 10, e dele é dito no verso 3 que ele era mais sábio do que Daniel, porque não havia segredo que pudesse ser escondido dele.
Ora, certamente a sabedoria maior que ele possuía não era da parte de Deus mas do diabo, que lhe revelava os segredos das outras nações para que pudesse negociar com elas obtendo sempre vantagens.
Nem todas as coisas Deus revelava a Daniel, senão o que era da Sua exclusiva autoridade, soberania e propósito divinos, e segundo a reta justiça, para propósitos justos, o que não é certamente o que se acha no reino do diabo.
Então a sabedoria do regente de Tiro era diabólica, conforme no dizer de Tiago, e não celestial, como era a de Daniel.
Deus determinou um juízo de morte sobre o príncipe de Tiro, em pleno mar, quando estivesse viajando a negócios num de seus navios mercantes. E ele seria morto pela mão de estrangeiros.
A profecia dirigida contra Satanás, sob o codinome de rei de Tiro estão registradas nos versos 11 a 19, na qual é destacado que ele era perfeito, cheio de sabedoria e formosura (v. 12) antes da sua queda do céu.
Que ele estivera no jardim do Éden, no paraíso de Deus (isto exclui a possibilidade da profecia se referir a algum governante terreno de Tiro), e a este tempo ele estava coberto de pedras preciosas, e de ouro, e tal era a glória que o Senhor lhe havia reservado que foram preparados instrumentos musicais para recepcioná-lo no dia em que havia sido criado, e como isto não fosse pouco, foi-lhe dada a honra de ser querubim da guarda da santidade de Deus, e ele andava no monte santo de Deus, no meio das pedras afogueadas, porque foi da vontade de Deus tributar-lhe toda aquela glória.
Todavia, como a honra que recebera fora muito elevada, em vez de devolvê-la em louvor e gratidão ao Senhor, deixou que seu coração fosse corrompido pela iniquidade, abandonando o seu caminhar em perfeição diante dEle, porque pela abundância do seu comércio o seu coração se encheu de violência e veio a pecar contra Deus.
Certamente o comércio aqui referido devem ter sido as vantagens falsas que ofereceu aos milhares de anjos que caíram juntamente com ele, lhes enganando quanto ao seus planos para aumentar o seu próprio poder e glória assim como o deles, conforme é seu costume até hoje fazer com pessoas de todas as nações, assim como havia conseguido alcançar tal intento em relação ao príncipe de Tiro.
Por isso o Senhor o lançou fora do monte de Deus, que é uma possível referência ao terceiro céu, a habitação do Senhor, que está acima da terra e do segundo céu, que é o universo.
É dito que ele estivera no Éden, e esta palavra no hebraico significa prazer, delícia, e daí ser chamado de paraíso.
Pode ser portanto uma indicação do terceiro céu, a habitação de Deus, e não o jardim que Deus plantou para Adão e Eva.
Lembremos que Jesus disse ao ladrão que morreu ao Seu lado, que estaria com Ele no paraíso, e não estava certamente se referindo a um jardim terreno, mas ao céu.
Com isto a sabedoria divina e o resplendor da glória de Deus que havia nele, antes da queda, foram corrompidos, isto é, estragados, perdidos, porque não pode existir tais bênçãos naqueles cujos corações se elevam em soberba por causa da própria formosura, e quando se passa a fazer de si mesmo um objeto de adoração narcisista.
Então o diabo foi lançado do céu para a terra para que fosse contemplado em sua natureza agora pervertida, corrompida, que sempre busca o mal, e que não pode possuir qualquer bem.
O argumento de Satanás junto aos anjos que caíram deve ter sido provavelmente o de que Deus era mau e deveria portanto ser destronado para que Ele recebesse o governo acima do trono do próprio Deus, como se vê em Isaías 14, no entanto, por ter sido lançado à terra, e por todo o mal que faz aos homens, está bem notório quem é realmente injusto e mau, a saber, o próprio diabo.
Não admira que Deus tenha provado o Seu perfeito amor e bondade e fidelidade, dando o Seu próprio Filho para morrer em nosso lugar na cruz, para que pudesse nos livrar do poder do diabo, para sempre.
No verso 18 é afirmado diretamente que o comércio do diabo é injusto, e que pela multidão das suas iniquidades havia profanado os santuários que Deus lhe havia reservado no céu para serem dirigidos por ele, de modo que o Senhor fez recair sobre ele um juízo de fogo, que o tem consumido, e que o tem tornado em cinza à vista de todos os que o contemplavam.
E todos os que conheceram as obras do diabo ficarão espantados com o estado de ruína eterna a que ele foi submetido por Deus, o que aguarda apenas o tempo de cumprimento, porque a sentença já foi determinada sobre ele de modo inapelável, de modo que Jesus diz que já está julgado (Jo 16.11), e que será lançado no lago de fogo e enxofre para todo o sempre, como se vê em Apocalipse 20.10.
Nos versos 21 e 23 são pronunciados juízos contra Sidom, que era uma outra nação situada próxima de Israel e de Tiro.
O Senhor estava assim trazendo juízos sobre todos os povos vizinhos de Israel que lhe haviam oprimido em várias ocasiões, ao longo de toda a sua história como nação. Eles não ficariam impunes para se alegrarem da ruína de Judá.
Eles não se gloriariam com os seus falsos deuses contra o Deus de Israel, que se revelaria mais poderoso do que todos eles juntos, porque submeteria a juízo cada uma das nações da terra, relacionadas com Judá, uma a uma, de modo que estes juízos estavam voltados principalmente para os falsos deuses que eles adoravam.
Estas nações estavam sendo também enfraquecidas, para que quando Judá voltasse do cativeiro em Babilônia, não tivesse que lutar contra nações poderosas ao seu redor (v. 24 a 26).
“1 De novo veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Visto como se elevou o teu coração, e disseste: Eu sou um deus, na cadeira dos deuses me assento, no meio dos mares; todavia tu és homem, e não deus, embora consideres o teu coração como se fora o coração de um deus.
3 com efeito és mais sábio que Daniel; não há segredo algum que se possa esconder de ti.
4 Pela tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste para ti riquezas, e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros.
5 Pela tua grande sabedoria no comércio aumentaste as tuas riquezas, e por causa das tuas riquezas eleva-se o teu coração;
6 portanto, assim diz o Senhor Deus: Pois que consideras o teu coração como se fora o coração de um deus,
7 por isso eis que eu trarei sobre ti estrangeiros, os mais terríveis dentre as nações, os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o teu resplendor.
8 Eles te farão descer à cova; e morrerás da morte dos traspassados, no meio dos mares.
9 Acaso dirás ainda diante daquele que te matar: Eu sou um deus? mas tu és um homem, e não um deus, na mão do que te traspassa.
10 Da morte dos incircuncisos morrerás, por mão de estrangeiros; pois eu o falei, diz o Senhor Deus.
11 Veio mais a mim a palavra do Senhor, dizendo:
12 Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-te: Assim diz o Senhor Deus: Tu eras o selo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
13 Estiveste no Éden, jardim de Deus; cobrias-te de toda pedra preciosa: a cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
14 Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas.
15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti se achou iniquidade.
16 Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e ó querubim da guarda te expulsei do meio das pedras afogueadas.
17 Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei; diante dos reis te pus, para que te contemplem.
18 Pela multidão das tuas iniquidades, na injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu a ti, e te tornei em cinza sobre a terra, à vista de todos os que te contemplavam.
19 Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; chegaste a um fim horrível, e não mais existirás, por todo o sempre.
20 Novamente veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
21 Filho do homem, dirige o teu rosto para Sidom, e profetiza contra ela,
22 e dize: Assim diz o Senhor Deus: Eis-me contra ti, ó Sidom, e serei glorificado no meio de ti; e saberão que eu sou o Senhor, quando nela executar juizos e nela me santificar.
23 Pois lhe enviarei peste e sangue nas suas ruas; e os traspassados cairão no meio dela, estando a espada contra ela por todos os lados; e saberão que eu sou o Senhor.
24 E a casa de Israel nunca mais terá espinho que a fira, nem abrolho que lhe cause dor, entre os que se acham ao redor deles e que os desprezam; e saberão que eu sou o Senhor Deus.
25 Assim diz o Senhor Deus: Quando eu congregar a casa de Israel dentre os povos entre os quais estão espalhados, e eu me santificar entre eles, à vista das nações, então habitarão na sua terra que dei a meu servo, a Jacó.
26 E habitarão nela seguros; sim, edificarão casas, e plantarão vinhas, e habitarão seguros, quando eu executar juízos contra todos os que estão ao seu redor e que os desprezam; e saberão que eu sou o Senhor seu Deus.” (Ezequiel 28)