EZEQUIEL 33
É importante fixarmos a data da queda de Jerusalém sob os babilônios, ocorrida no nono dia, do quarto mês, do décimo primeiro ano, para que possamos ter um melhor referencial para o entendimento das profecias do livro de Ezequiel.
Por exemplo, nós vemos nos versos 21 e 22 deste capítulo que na manhã do quinto dia, do décimo mês, do ano décimo segundo, veio ter com Ezequiel em Babilônia um dos judeus que havia fugido depois da queda de Jerusalém, cerca de dezoito meses após a citada queda, e no mesmo dia em que este judeu viera ter com Ezequiel, a sua boca fora aberta pelo Senhor, na tarde daquele dia, dando-se assim, cumprimento ao que o Senhor havia dito a Ezequiel, que ocorreria, no dia em que sua mulher morrera, conforme lemos em Ez 24.25-27:
“25 Também quanto a ti, filho do homem, no dia que eu lhes tirar a sua fortaleza, o gozo do seu ornamento, a delícia dos seus olhos, e o desejo dos seus corações, juntamente com seus filhos e suas filhas,
26 nesse dia virá ter contigo algum fugitivo para te trazer as notícias.
27 Nesse dia abrir-se-á a tua boca para com o fugitivo, e falarás, e por mais tempo não ficarás mudo; assim virás a ser para eles um sinal; e saberão que eu sou o Senhor.”
Então o profeta disse àquele judeu que lhe procurara que os que haviam escapado da espada em Jerusalém, seriam ainda alcançados pelos juízos de Deus em todas as partes para onde haviam conseguido escapar, e a razão disto era a de que não haviam se arrependido de seus maus caminhos, apesar de ter-lhes dado a Sua Palavra de advertência através dos Seus profetas, e que apesar destes serem procurados por eles para serem consultados, tal como faziam em relação a Ezequiel, sob o pretexto de ouvirem a Palavra do Senhor, na verdade ouviam as palavras mas nunca as colocavam por prática, e apesar de professarem com suas bocas que amavam muito ao Senhor, no entanto o coração deles somente cobiçava lucro mundano.
Deste modo, a Palavra do Senhor na boca dos Seus profetas era para eles como uma canção bonita de amores. Eles somente ouviam a música que havia nas palavras, mas não davam atenção ao seu conteúdo, e muito menos se dispunham a colocá-las por prática, então, quando lhes sucedesse também este juízo de serem alcançados pelo juízo de Deus nas nações para as quais haviam se refugiado, eles saberiam que Ezequiel lhes falava de fato da parte do Senhor (v. 30 a 33).
Ezequiel estava sendo para os judeus como um atalaia, um sentinela que estava tocando a trombeta de alerta por mandado de Deus, para que se convertessem da impiedade deles, e para que fossem livrados consequentemente dos Seus juízos.
Todavia, o Senhor lhes conhecia os corações, e como havia dito desde que havia comissionado a Ezequiel para ser Seu profeta, eles não o ouviriam porque eram rebeldes e de ouvidos e coração incircuncisos.
Os que estavam ouvindo o som da trombeta e dando-se por avisados, e que estavam se desviando das suas iniquidades e se voltando para o Senhor e para os Seus mandamentos, estavam sendo colocados debaixo da Sua proteção para que não fossem mortos, segundo os juízos previstos na Lei de Moisés, que vigorava naquela Antiga Aliança.
Todavia, aqueles que permaneciam endurecidos, e não se convertiam ao Senhor, estavam sendo alcançados por tais juízos.
O Senhor estava disposto a usar de toda a Sua misericórdia até mesmo para com aqueles que andavam desviados de Sua presença, pela prática da iniquidade, porque se dessem ouvido à Sua Palavra na boca de Ezequiel, o qual Ele havia constituído como atalaia sobre eles, para adverti-los, e para que se arrependessem, Ele se lhes tornaria favorável.
Então, era improcedente a reclamação dos judeus, de que não havia esperança para eles, uma vez que eram muitas as suas transgressões. E como poderiam então viver? (v. 10).
Por esta passagem de Ezequiel nós vemos que a graça e a misericórdia de Deus não estiveram ausentes, mesmo no período da Antiga Aliança, porque, pelos termos da Lei, seria justo que Ele exterminasse todos os judeus que andavam contrariamente a Ele, porque isto estava previsto na Antiga Aliança, mas assim mesmo, Ele estendeu a Sua mão oferecendo-lhes livramento e perdão dos seus pecados, caso se arrependessem, e declarou o motivo de estar agindo daquela forma no verso 11:
“Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?” (v. 11).
O Senhor ama ao que criou, e por isso não tem prazer na morte dos ímpios, ou seja, a separação eterna dEle, por toda a eternidade.
Ele não pode inocentar o culpado, mas pode perdoá-lo caso se arrependa, e lhe dará vida, em vez de morte.
Todavia, pelos termos da Antiga Aliança, mesmo aquele que andasse na prática da justiça e viesse a se desviar dela, a justiça que havia praticado dantes, não poderia livrá-lo porque estava agora vivendo em transgressão (v. 12 a, 13, 18).
Contudo, quanto à impiedade do ímpio, a misericórdia e a graça o alcançariam, caso se convertesse da sua impiedade, e assim, não estaria caído diante do Senhor (v. 12 b, 14 a 16, 19).
Cegos para a justiça do Senhor, e confiados na sua própria justiça, enquanto continuavam transgredindo os mandamentos de Deus, os judeus consideravam injustos estes critérios de Deus para condenar ou perdoar (v. 17). Certamente deveriam julgar que o mérito acumulado por algumas boas obras praticadas seria o suficiente para justificar quase toda uma vida de impiedade. Não são poucos aqueles que no mundo, ainda que religiosos, pensem da mesma forma tal como deviam pensar os judeus.
Por outro lado, o mundo não aceita que profanos, assassinos, ladrões e prostitutas possam de fato se arrepender e serem perdoados por Deus, quando eles se arrependem, sendo livrados de uma condenação eterna; porque consideram que a gravidade dos seus pecados não poderia jamais ser perdoada por um Deus justo.
Estes que costumam pensar desta forma, estão cheios de justiça própria e se julgam aprovados por Deus, por não praticarem tais pecados, esquecendo no entanto, que são pecadores, diante dEle, como todas as demais pessoas, necessitando portanto, de arrependimento, tanto quanto elas.
Todavia, o Senhor não está sujeito a qualquer juízo humano, e fará valer a única justiça e o único juízo que são perfeitos, a saber, os que Ele tem determinado em Sua Palavra:
“Todavia, vós dizeis: Não é reto o caminho do Senhor. Julgar-vos-ei a cada um conforme os seus caminhos, ó casa de Israel.” (v. 20)
Então aqueles judeus, como todos os homens, de todas as épocas da história da humanidade, são condenados por Deus, não porque seja Injusto, mas por causa da própria maldade deles, da qual se recusam a se arrepender.
Veja, que não é nem sequer a própria maldade em si mesma o motivo da condenação, mas a falta de arrependimento que conduz ao abandono da prática do mal, e à busca da prática da justiça.
Por isso, os que são condenados não o são necessariamente, por serem pecadores, mas porque não se arrependem e não creem em Cristo.
A incredulidade na bondade, na misericórdia, no perdão, na graça de Deus, que impede um viver segundo a Sua vontade divina, é o real motivo que leva alguém a permanecer debaixo da ira e do juízo de Deus.
Então quando o ministro do evangelho, diz, na condição de atalaia constituído por Deus: “Ó ímpio certamente morrerás!”, ele deve fazê-lo não como uma imprecação, mas como um aviso, um alerta de alguém interessado no bem do próximo, orando, chorando, e clamando ao Senhor pela condição de tal pessoa, na expectativa de que ela se converta dos seus maus caminhos, para o Senhor, porque Deus não tem prazer na morte de nenhum ímpio, antes espera que ele se converta e viva.
Quão grande misericórdia tem o Senhor. Porque não é a santos que Ele está salvando (justificando) por meio da fé em Cristo, mas ímpios, inimigos que não amavam a Sua vontade, como se afirma em Romanos 4 e 5.
Então de quão maior misericórdia não serão alvo da parte de Deus, aqueles que pertencendo a Cristo, venham a se desviar dos Seus caminhos, e que depois O buscam para se reconciliarem com Ele. Depressa os alcançará com a Sua misericórdia e amor, conforme podemos aprender da parábola do Filho Pródigo.
“1 Ainda veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Filho do homem, fala aos filhos do teu povo, e dize-lhes: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um dos seus, e o constituir por seu atalaia;
3 se, quando ele vir que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo;
4 então todo aquele que ouvir o som da trombeta, e não se der por avisado, e vier a espada, e o levar, o seu sangue será sobre a sua cabeça.
5 Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre ele. Se, porém, se desse por avisado, salvaria a sua vida.
6 Mas se, quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e vier a espada e levar alguma pessoa dentre eles, este tal foi levado na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o requererei da mão do atalaia.
7 Quanto a ti, pois, ó filho do homem, eu te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; portanto ouve da minha boca a palavra, e da minha parte dá-lhes aviso.
8 Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não falares para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o requererei da tua mão.
9 Todavia se advertires o ímpio do seu caminho, para que ele se converta, e ele não se converter do seu caminho, morrerá ele na sua iniquidade; tu, porém, terás livrado a tua alma.
10 Tu, pois, filho do homem, dize à casa de Israel: Assim falais vós, dizendo: Visto que as nossas transgressões e os nossos pecados estão sobre nós, e nós definhamos neles, como viveremos então?
11 Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?
12 Portanto tu, filho do homem, dize aos filhos do teu povo: A justiça do justo não o livrará no dia da sua transgressão; e, quanto à impiedade do ímpio, por ela não cairá ele no dia em que se converter da sua impiedade; nem o justo pela justiça poderá viver no dia em que pecar.
13 Quando eu disser ao justo que certamente viverá, e ele, confiando na sua justiça, praticar iniquidade, nenhuma das suas obras de justiça será lembrada; mas na sua iniquidade, que praticou, nessa morrerá.
14 Demais, quando eu também disser ao ímpio: Certamente morrerás; se ele se converter do seu pecado, e praticar a retidão
15 se esse ímpio, restituir o penhor, devolver o que ele tinha furtado, e andar nos estatutos da vida, não praticando a iniquidade, certamente viverá, não morrerá.
16 Nenhum de todos os seus pecados que cometeu será lembrado contra ele; praticou a retidão e a justiça, certamente viverá.
17 Todavia, os filhos do teu povo dizem: Não é reto o caminho do Senhor; mas o próprio caminho deles é que não é reto.
18 Quando o justo se apartar da sua justiça, praticando a iniquidade, morrerá nela;
19 e, quando o ímpio se converter da sua impiedade, e praticar a retidão e a justiça, por estas viverá.
20 Todavia, vós dizeis: Não é reto o caminho do Senhor. Julgar-vos-ei a cada um conforme os seus caminhos, ó casa de Israel.
21 No ano duodécimo do nosso cativeiro, no décimo mês, aos cinco dias do mês, veio a mim um que tinha escapado de Jerusalém, dizendo: Caída está a cidade.
22 Ora a mão do Senhor estivera sobre mim pela tarde, antes que viesse o que tinha escapado; e ele abrira a minha boca antes que esse homem viesse ter comigo pela manhã; assim se abriu a minha boca, e não fiquei mais em silêncio.
23 Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
24 Filho do homem, os moradores destes lugares desertos da terra de Israel costumam dizer: Abraão era um só, contudo possuiu a terra; mas nós somos muitos; certamente nos é dada a terra por herança.
25 Dize-lhes portanto: Assim diz o Senhor Deus: Comeis a carne com o seu sangue, e levantais vossos olhos para os vossos ídolos, e derramais sangue! porventura haveis de possuir a terra?
26 Vós vos estribais sobre a vossa espada; cometeis abominações, e cada um contamina a mulher do seu próximo, e haveis de possuir a terra?
27 Assim lhes dirás: Assim disse o Senhor Deus: Vivo eu, que os que estiverem em lugares desertos cairão à espada, e o que estiver no campo aberto eu o entregarei às feras para ser devorado, e os que estiverem em lugares fortes e em cavernas morrerão de peste.
28 E tornarei a terra em desolação e espanto, e cessará a soberba do seu poder; e os montes de Israel ficarão tão desolados que ninguém passará por eles.
29 Então saberão que eu sou o Senhor, quando eu tornar a terra em desolação e espanto, por causa de todas as abominações que cometeram.
30 Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti junto às paredes e nas portas das casas; e fala um com o outro, cada qual a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra que procede do Senhor.
31 E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois com a sua boca professam muito amor, mas o seu coração vai após o lucro.
32 E eis que tu és para eles como uma canção de amores, canção de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.
33 Quando suceder isso (e há de suceder), saberão que houve no meio deles um profeta.” (Ezequiel 33)
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 29/01/2013