Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
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OS ATRIBUTOS DE DEUS
        Com base em tudo que nos ensinam as Escrituras acerca de Deus, e de nossa própria experiência pessoal com Ele, e da observação do universo, podemos afirmar:

A - QUANTO À EXISTÊNCIA DE DEUS:

      A Bíblia não tem como propósito pregar a existência de Deus, pois sua narrativa trata disso como verdade indiscutível(Rom 1.20).
     A tarefa do teólogo sistemático bíblico não é portanto a de definir a existência de Deus, mas de comentar as provas e o caráter de Sua existência.
    Encontramos evidências da existência de Deus: a) na criação do universo, que deve ter uma causa primeira, um Criador; b) na natureza do homem cuja consciência indica a existência de um Governo pessoal que é a origem e o paradigma (padrão) para a consciência humana; c) na história universal que dá  provas de uma providência que sobre tudo governa.
    A prova da existência de Deus é muito mais extensa do que simplesmente a de argumentar em favor da sua realidade, pois implica em se buscar o conhecimento de tudo o que Ele é em si mesmo e em relação a tudo o que criou.
     De fato, como ensinam as Escrituras, a razão humana não é suficiente e não é o canal por excelência para o conhecimento de Deus, porque Ele estabeleceu a fé para tal propósito. Sem fé é impossível agradá-lo, conhecê-lo, amá-lo, serví-lo. A fé não é contrária à razão, às leis estabelecidas por Deus no universo, mas, é‚ antes, o elemento de confirmação de toda a verdade captada pela razão, e das demais coisas que ultrapassam a compreensão racional, isto é, que não podem ser explicadas por ela, especialmente no que tange às relações de causa e efeito. Por exemplo, citamos os milagres que Deus realiza simplesmente por meio da nossa fé. Daí se dizer que "a fé é a certeza de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem." (Hb 11.1). Independentemente se há  ou não evidências racionais, isto é, que possam ser explicadas pela razão, para tal espera e convicção.
        É somente pela fé, que nos liga a Jesus Cristo, que podemos conhecer realmente o único e verdadeiro Deus, conforme Ele afirmou: "ninguém vem ao Pai senão por mim." (Jo 14.6b). O conhecimento real da existência de Deus só é possível mediante o conhecimento pessoal de Jesus: "Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto." (Jo 14.7). E Jesus afirma ainda: "Quem me vê a mim, vê o Pai." (Jo 14.9b). "Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem ‚ o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar." (Lc 10.21).
    Tudo o que Deus é em sua existência só é possível de ser conhecido através da revelação do Espírito Santo. E só podem receber tal revelação aqueles que têm o Espírito, a saber, todos quantos tiveram um encontro pessoal com Cristo. "Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus." (I Cor 2.10).
   “as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus." (I Cor 2.11b). "Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente." (I Cor 2.12b).
   Por isso é inútil tentar provar a qualquer que não tenha nascido de novo pelo Espírito, quem é Deus em Sua natureza triúna, espiritual, santa e pessoal. "ora, o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente." (I Cor 2.14).
    É por isso que está fadado ao insucesso todo o esforço que tente provar a existência de Deus, por meio de argumentações simplesmente racionais, àqueles que não têm o Espírito Santo.
   Ainda que tudo no universo visível aponte para o fato de que o mesmo é necessariamente o efeito de uma causa inteligente que o criou, e ainda que alguém, que não seja de Cristo (Rom 8.9b), até mesmo admita que ele é o fruto da ação de Deus, tal pessoa não terá  o conhecimento verdadeiro de quem é Deus em Sua natureza, pois, como vimos, tal conhecimento só é possível em Cristo, e mediante revelação do Espírito.
     A famosa teoria do relógio e o relojoeiro, que ensina o efeito pela causa, pode derramar alguma luz para o entendimento de que se há  universo é porque alguém o criou, assim como não seria possível a existência do relógio sem o relojoeiro. Mas esta luz é insuficiente e inadequada para se chegar ao conhecimento de Deus; pois pela mesma teoria, podemos afirmar que o conhecimento do relógio não implica necessariamente o conhecimento do relojoeiro. E no caso da revelação da existência de Deus, que é pessoa e espírito, infinito, perfeito, verdadeiro, importa conhecê-lo, como já  antes afirmamos, como Ele é em Sua própria natureza e relações com todas as coisas criadas, e especialmente com o homem, e particularmente com aqueles que pela fé foram feitos seus filhos. E não podemos ter tal conhecimento caso o próprio Deus não o revele a nós.
   Vimos portanto que a existência de Deus só pode ser conhecida mediante revelação de Jesus Cristo. E esta se faz especialmente através da vida daqueles que o conhecem e que têm, por conseguinte, o Espírito. É o testemunho do Espírito através da igreja que revela e manifesta a vida de Deus ao mundo.
   A conversão não somente prova a existência de Deus para aquele que a experimenta, como também o transforma num canal de testemunho para outros. "Quando, porém, vier o consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará  testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio." (Jo 15.26,27). E tal testemunho é eficaz quando a unidade entre a trindade e os crentes é manifestada pela comunhão em amor: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros." (Jo 13.35).
     O amor em foco é sobretudo obediência aos mandamentos do Senhor. Os que não amam a Deus desse modo, não podem conhecê-lo, porque Deus é amor. "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me  ama,  será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que está s para manifestar-te a nós, e não ao mundo? Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará  a minha palavra: e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou." (Jo 14.21-24).
    Em face destas verdades, se o teólogo sistemático, apresenta simples argumentos racionais para provar a existência de Deus, e dá-se com isto satisfeito, ilude-se quanto ao fato de que terá  eficácia em convencer seus leitores ou ouvintes, por mais verdadeiros que sejam seus argumentos, porque, como testificam as Escrituras, este é um trabalho que é feito sobrenaturalmente pelo Espírito Santo, não somente nas mentes, mas nos corações daqueles que virão a crer:
   "Mas eu vos digo a verdade: Convém-vos que eu vá porque se eu não for, o Consolador não virá  para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele viver convencer  o mundo do pecado, da justiça e do juízo:" (Jo 16.7,8).
   "Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo." (Jer 31.31).
    A lei de Deus é escrita pelo Espírito Santo, não apenas nas nossas mentes, mas no nosso coração; isto é, no nosso espírito, no homem interior. Por isso um genuíno crente jamais será  produzido por meros argumentos racionais. Muito mais do que estes, necessitará  da obra sobrenatural do Espírito.
   Nicodemos tinha conhecimento da Palavra de Deus, e Jesus apontou-lhe a necessidade do novo nascimento pelo Espírito para que pudesse entrar no reino de Deus (Jo 3.1-15). Novo nascimento este que só vem por meio da fé nEle (Jo 3.14-16). Sem a obra do Espírito no coração o homem não pode conhecer a Deus e nem os mistérios relativos ao Seu reino.
    Muito do que existe nos compêndios de Teologia Sistemática procura brindar a razão e harmonizar a revelação à mesma. Isto foi decorrente da nova mentalidade que vingou com as teorias do racionalismo, que prevaleceu durante toda a Idade Moderna. A ciência afirma, com base no racionalismo: tudo o que é verdadeiro deve ser comprovado por fatos. A tentativa de ajustar a fé a tal postulado foi o fator determinante para que os teólogos da modernidade, ainda que não abandonando o caminho da fé, viessem a se entregar ao esforço de tentar explicar a revelação dando muita ênfase ao ajustamento da fé a tal postulado científico, tentando demonstrar que ela não se opõe à razão.
   Vivemos num mundo chamado pós-moderno, porque já  não se aceita como final o argumento de que tudo que é verdadeiro deve ser comprovado pela razão através de fatos. Tal certeza era decorrente da observação de que tudo no universo obedecia a leis fixas, previsíveis e regulares. Entretanto, especialmente, em razão de novas descobertas científicas, especialmente no campo da física quântica, tem-se observado que a matéria não se organiza de maneira tão rígida como se costumava pensar. A clássica distribuição de elétrons da teoria de Bohr, em camadas com órbitas definidas, não é tão previsível e fixa quanto se acreditava.
   Acreditou-se, por séculos, que o  átomo era o componente básico da matéria, até 1897, quando foram descobertos os elétrons. Em 1911, descobriu-se o núcleo atômico. Em 1930, descobriu-se que o núcleo era composto de partículas ainda menores que foram chamadas de núcleons. As de carga positiva, foram denominadas prótons, e as de carga neutra, de nêutrons. Em 1960 foram descobertos os quarks, que são partículas que formam os prótons e os nêutrons. E as descobertas avançam indicando que os próprios quarks não são os constituintes básicos da matéria.
    O grande fato que se nos apresenta em nossos dias é que há  muito ainda para ser descoberto no campo da ciência, e que, pelo que já  foi descoberto, não se pode afirmar que mesmo o mundo material e visível, constitui-se e organiza-se por si mesmo por meio de leis naturais fixas. Muitos cientistas admitem que há  algo como que uma consciência cósmica da qual tudo provém e mediante a qual tudo é governado no universo. Não é de se admirar que muitos dentre estes afirmem que tal  consciência universal é impessoal, mas sabemos, por revelação do Espírito Santo, que tudo foi criado e é sustentado por um Deus pessoal.
    Com isto, mais uma vez Deus reduz a nada a sabedoria dos sábios deste mundo, pois um conhecimento mais avançado no futuro, vem a colocar por terra todas as afirmações consideradas como finais no campo do conhecimento dito científico e filosófico. Por isso, em matéria de revelação bem faremos em ficar simplesmente com a Bíblia e com aquilo que o Senhor nos revelou por meio da mesma.
   Deus, em seu infinito amor, tem dado ao homem desvendar os mistérios do mundo material para que pudesse criar melhores condições de vida (melhoramento da produção de alimentos; conhecimento e combate de moléstias; aperfeiçoamento dos meios de comunicação etc). Mas, incorrer  em grande erro o homem, quando por meio deste conhecimento que lhe é dado pelo próprio Deus, procurar aplicá-lo em um campo que não lhe é devido, buscando anular, pelo argumento da ciência dita exata, a supremacia da fé em Deus, que deve vir antes, e estar acima de todas as demais coisas.
    "Pois está  escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos entendidos. Onde está o sábio ? onde o escriba ? onde o inquiridor deste   século ? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo ? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte dos que os homens." (I Cor 1.19-25).
   As palavras do Espírito pela boca de Paulo ensinam que Deus, na verdade, não está  nada preocupado em tentar demonstrar aos sábios segundo o mundo, a Sua existência, pois tem reservado tal conhecimento exclusivamente aos eleitos, isto é‚ aos que têm sido chamados (I Cor 1.24a).
    "Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar  os  sábios, e escolheu as cousas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as cousas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus." (I Cor 1.26-29).
    "Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos. Sim, ó Pai; porque assim foi do teu agrado." (Lc 10.21).
   Estes textos bíblicos, dentre outros, demonstram que o conhecimento genuíno de Deus não é dado àquele que é um simples perqueridor intelectual. Não vem como fruto de simples esforços acadêmicos. E muito menos, quando o espírito que permeia tais investigações acerca da pessoa de Deus, não se enquadra nas características exigidas para a manifestação da Sua presença: humildade de espírito, contrição, quebrantamento de coração (Is 61.1-3; Mt 5.3; Tg 4.6-10; I Pe 5.5).




B - QUANTO À NATUREZA DE DEUS:

    A natureza de Deus é existir eternamente. Sua existência não se baseia em sua própria vontade mas em sua natureza mesma.
   Não devemos pensar que Deus é o produto de si mesmo e que a essência de Deus foi causada por Deus. Se assim fora, teria o poder de extinguir-se a si mesmo.
   Deus é espírito, pessoal, infinito, eterno, imutável, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade, amor e verdade.
   Os nomes usados para Deus nas Escrituras são indicadores das características da Sua natureza:
   No mundo antigo o nome de uma pessoa usava-se não somente para distingui-la de outras pessoas, mas também para indicar ou descrever a sua própria natureza. Os hebreus, como os seus vizinhos, tinham este conceito do significado do nome.
   a) El = Deus
      Elohim = O Deus criador. Juntamente com Jeová  são os nomes mais usados pelos escritores da Bíblia. Elohim é o nome mais usado no Velho Testamento para expressar o conceito de divindade. É usado como o nome do Criador de todas as coisas. E também para indicar as relações do Senhor com as nações, ou as suas relações cósmicas.
      Encontram-se vários outros nomes de Deus relacionados com El ou Elohim:
      Eloach - usado principalmente na poesia, e na prosa do último período do Velho Testamento. Expressa a idéia de força e poder.
      El Elyon - O Deus Altíssimo (Gên 14.18-20). Possuidor dos céus e da terra.
      El Shaddai - O Deus que é suficiente para as necessidades do seu povo (Êx 6.3; Gên 17.1)
      El Olam - O Eterno Deus (Gên 21.23)
      Emanuel - Deus conosco (Mt 1.23)
      b) Jeová  = Eu sou.  É o nome usado para indicar as relações de Deus com o povo de Israel.
      Hoje, se sabe que Jeová  não pode ser a pronúncia certa do tetragrama JHVH. A palavra Jeová  resultou no uso das vogais de Adonai  (Senhor) com as quatro consoantes do nome sagrado, e foi introduzido no tempo da Reforma, cerca de 1520. Não se sabe como era pronunciado pelos israelitas, pois por reverência, deixaram de mencionar o nome toda vez que o liam nas Escrituras, por temerem pecar contra o mandamento de não se tomar o nome de Deus em vão (Êx 20.7).
      Jeová  Rafá  - O Senhor que cura (Êx 15.26)
      Jeová  Nissi - O Senhor Nossa bandeira (Êx 17.8-15)
      Jeová  Shalom - O Senhor nossa paz (Jz 6.24)
      Jeová  Ra-ah - O Senhor ‚ meu pastor (Sl 23.1)
      Jeová  Tsidkenu - O Senhor nossa justiça  (Jer 23.6)
      Jeová  Jireh - O Senhor que provê (Gên 22.14)
      Jeová  Sammah - O Senhor está  ali (Ez 48.35)
      Jeová  Zebaioth - O Senhor dos Exércitos (I Sm 4.4)
   c) Adonai = Senhor ou Mestre (Êx 23.17; Is 10.16;33)
   d) Pai (Atos 17.28)
   Não apenas os nomes de Deus são indicadores da Sua natureza, como também suas ações e declarações reveladas nas Escrituras; bem como tudo em que se manifestam Seus atributos. Deus não é um atributo nem um conjunto de atributos. Deus é um ser pessoal cuja natureza se manifesta destas diferentes maneiras, que chamamos de atributos, e que manifestam o que Deus é‚ na essência divina da Sua natureza.
   O capítulo seguinte trata especificamente de tais atributos.


C - QUANTO AOS ATRIBUTOS DE DEUS:

   Jesus, em João 6.57, ao referir-se ao Pai, afirma: "O Pai que vive...". E em João 5.26 diz: "o Pai tem vida em si mesmo".
   Este é o ponto de partida para o nosso estudo dos atributos de Deus: a análise das manifestações vivas de um Ser Supremo que vive, e que não recebeu esta vida de nenhuma causa exterior; pois tem vida por si mesmo.
   Já  somente por esta única verdade devemos desistir de qualquer tentativa de compreender a pessoa de Deus por meio de comparações com o homem. Ainda que criado à imagem e semelhança de Deus, o homem não possui e jamais possuirá  os atributos divinos na exata dimensão que Deus os possui. Deus é ser incriado, não tendo começo e nem fim de existência. Já  o homem tem o início da sua existência marcado na história.
   O homem é chamado a ser santo, justo e bom como Deus é. Mas ninguém possui tais atributos na mesma extensão, perfeição e profundidade em que existem na pessoa de Deus.
   Fujamos portanto da natural tentação, ao longo de nosso estudo acerca dos atributos, de tentar compreendê-los por simples comparações com aquilo que existe em nossa natureza limitada e imperfeita.
   Entretanto, espíritos que somos, dotados dos poderes de pensar, de amar, e de querer, temos razão de crer que Deus tem os mesmos poderes que caracterizam o nosso espírito.
   Os teólogos costumam classificar os atributos de Deus em grupos como a seguir:
   a) Atributos Não Relacionados ou Relativos à Natureza Íntima de Deus:
      - Espiritualidade
      - Infinitude
      - Unidade
   b) Atributos Ativos ou Naturais
      - Onipresença
      - Onisciência
      - Onipotência
   c) Atributos Morais
      - Santidade
      - Justiça
      - Fidelidade
      - Misericórdia e Bondade
      - Amor

   Outros classificam os atributos em apenas dois grupos a saber:

   a) Atributos Absolutos
      - Espiritualidade (vida e personalidade)
      - Infinitude (existência própria, imutabilidade e unidade)
      - Perfeição (verdade, amor e santidade)
   b) Atributos Relativos
      - Relacionados ao tempo e ao espaço (eternidade e imensidade)
      - Relacionados à criação (onipresença, onisciência e onipotência)
      - Relacionados aos seres morais (veracidade, misericórdia, bondade, justiça e santidade)

      Estaremos estudando os atributos, em face de tal diversidade de classificação, independentemente de uma ordem de apresentação.
      É importante destacar que há  atributos que se referem àquilo que Deus é em Si mesmo, em Sua natureza, independentemente de qualquer relação com as coisas criadas, quer visíveis, quer invisíveis. E há  atributos que são manifestados em suas relações quer em relação ao universo, quer em relação aos seres morais.
      O primeiro deles que estudaremos faz parte do grupo dos chamados atributos absolutos ou não relacionados, pois é parte integrante da natureza íntima de Deus.

      1 - Espiritualidade

      Com isto não queremos dizer que Deus é espiritual, mas que Deus é espírito (Jo 4.24).
      Para compreendermos o significado de tal atributo é necessário pois entender quais são as características do espírito.
      São, entre outros, poderes do espírito: pensamento, imaginação, vontade, determinação própria, consciência.
      Todos estes poderes são perfeitos em Deus, mas não no homem. Ou necessitam ser purificados em razão do pecado, ou desenvolvidos, em face de estarem sendo construídos. Daí a recomendação bíblica a que o crente cresça ou se fortaleça no espírito. Crescimento espiritual refere-se portanto, sobretudo, ao aperfeiçoamento de tais poderes.
      Cada ato de uma pessoa exige a ação proporcional e harmoniosa de cada uma dessas faculdades. Numa pessoa que se deixe dominar principalmente pelos sentimentos, todos os seus atos se orientarão pela paixão. Noutra poderá  predominar o poder de pensar, e ainda noutra, o de querer (vontade); e operando estes poderes desarmonicamente, só podem levar a pessoa a produzir atos imperfeitos. Mas com Deus não é assim. Nele todos estes poderes são equilibrados e harmônicos. O seu conhecimento é perfeito, o seu sentir é também perfeito assim como é perfeita a sua vontade. Daí¡ serem perfeitos todos os seus atos. Além disso a consciência de Deus não é somente perfeita como também é o único padrão onde a consciência do homem pode obter aprovação. A palavra consciência vem do latim con-scientia, significando um conhecimento conjunto, em comum com alguém, no caso, Deus. A consciência, no que concerne a nós mesmos, é o poder de compreensão das nossas almas, o qual examina como estão as coisas entre Deus e nós, comparando a vontade de Deus revelada com o nosso estado, condição e comportamento, mediante pensamentos, palavras ou atos, feitos ou omitidos, e então fazendo juízo sobre o resultado, conforme o caso requerer.
      Para esclarecer melhor ainda a natureza da consciência vemos que Deus pôs um tribunal no homem, havendo nele tudo quanto há  em um tribunal:

      1 - Há  um registro onde é anotado o que temos feito. A consciência tem seu diário. Tudo fica anotado. Nada é esquecido, embora pensemos que é. Há  um registro onde tudo fica gravado. A consciência ‚ esse registro.
      2 - Há  também as testemunhas. O testemunho da consciência. A consciência presta testemunho: isto eu fiz, isto eu não fiz.
      3 - Há  um acusador ao lado da testemunha. A consciência acusa ou desculpa.
      4 - Há  também um juiz. A consciência julga: isso foi feito direito, aquilo foi feito errado.
      5 - Há  um executor, papel também desempenhado pela consciência. Sob acusação e juízo, vem a punição da consciência que é um julgamento anterior ao julgamento futuro. Se o entendimento apreende coisas dolorosas, então o coração bate, como Davi sentiu bater-lhe o coração (I Sm 24.5). O coração bate forte de tristeza pelo momento presente e de temor pelo futuro.
      Deus pôs e implantou no homem esse tribunal da consciência, sendo esse, por assim dizer, onde Deus efetua seu primeiro julgamento, os seus veredictos. A consciência desempenha todos esses papéis. Ela registra, testifica, acusa, julga, executa, ela faz tudo. (Sibbes).
      Por isso o apóstolo Paulo se esforçava sempre para ter boa consciência diante de Deus e dos homens. E ele próprio havia testemunhado o naufrágio na fé de muitos que haviam rejeitado uma boa consciência.
      Richard Baxter, pastor e teólogo puritano, nos exorta: "Não faças de teus próprios juízos, ou de tua consciência, a tua lei, como diretriz de teus deveres, pois a consciência meramente discerne a lei de Deus e o dever que Ele te impôs, bem como a tua obediência ou desobediência a Ele. Há  um perigoso erro que é muito comum no mundo: que um homem está  obrigado a fazer tudo que a sua consciência lhe declara ser a vontade de Deus; e que todo homem deve obedecer à sua consciência, como se fosse ela a legisladora do mundo. A verdade, porém, é que Deus, e não nós, é o nosso legislador. E a consciência tem como papel tão somente discernir a lei de Deus, exigindo que nós a observemos. Uma consciência errada, não deve ser obedecida, e, sim, ser melhor informada.".
      Sábias palavras que estão de acordo com a exortação bíblica: "Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará  as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos: teme ao Senhor e aparta-te do mal;" (Pv 3.5-7).
      Por isso a Palavra ‚ designada como alimento vivo para o espírito. É por meio dela que se chega a possuir uma consciência boa e pura, que não ficará  cauterizada pelo pecado. É por meio da aplicação da Palavra, pelo Espírito, ao nosso espírito, que experimentamos a retidão de Deus. É aí que se pode dizer de nós que temos vivido de modo justo. A palavra justiça no hebraico tem o sentido de retidão, e no grego, o de ser igual. Quando a nossa consciência molda-se na consciência de Deus, por nos permitirmos deixar ser infundidos pela semelhança com Cristo, então participamos de fato da Sua justiça, que exige que sejamos assim como Ele é. Assim procedendo, a consciência não nos condenará, mas nos aprovará .
      Quanto a um segundo poder do espírito, o de direção ou determinação própria, refere-se à condição de dirigir-se a si mesmo, ou como se costuma dizer: os próprios passos.
      "A direção própria em Deus é absoluta. Ele não é dirigido por nenhuma circunstância exterior. Nele mesmo está o motivo e a explicação de tudo o que faz. O poder que tem o homem de dirigir-se é naturalmente limitado. A direção própria no homem não é absoluta. Há  muitas circunstâncias exteriores que influem nos seus atos e na direção que dá à vida.
      No Salmo 1 exorta-nos o salmista a que não nos deixemos dirigir pelo conselho dos ímpios. Ninguém deve entregar a direção de sua própria vida às coisas ou circunstâncias que o rodeiam, porque o poder de direção própria indica que o homem é superior ao meio em que vive. Não devemos, por isso, rebaixar-nos ao ponto de entregar a direção da nossa vida a outra pessoa, ou coisa, ou circunstância. Infelizmente é o que muitas vezes sucede: o homem é dirigido, ao invés de dirigir-se a si mesmo." (A. B. Langston).
      Langston não consigna em seu comentário sobre a direção própria humana o comentário que julgamos, deva ser feito conforme citação que fizemos anteriormente relativa a Pv 3.5-7. O homem deve de fato assumir o volante da direção da Sua vida, mas deve fazê-lo debaixo da dependência da orientação e poder que Deus supre. O andar em veredas direitas é dependente da direção do Espírito Santo, que decorre da nossa comunhão com Deus. Devemos confiar o nosso caminhar àquele que tudo dirige perfeitamente.
      Finalmente, quanto à vontade, ensina-nos a Palavra que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita (Rom 12.2).
      A vontade do homem não é assim. Ela, ao contrário, está  também sujeita ao pecado, que é mais poderoso do que ela (Rom 7.19,20). Há, no homem, uma distância entre o querer e o realizar. A harmonização de ambos, realizando o bem que a vontade deseja, e não fazendo o mal que a vontade rejeita só é possível por meio do poder do Espírito, que é segundo a fé em Jesus Cristo (Rom 7.24,25; 8.1,2).
     Assim como a vontade de Deus é pura e dirigida sempre por santos e bons propósitos, o crente é convocado a renovar a sua mente, não pensando e julgando conforme os valores do mundo, mas pelos revelados pela Palavra de Deus e ensinados pelo Espírito, para que este poder do seu próprio espírito seja um amigo aliado à vontade divina, que é o padrão para a vontade do homem, e não um poder que seja constantemente derrotado pelo pecado, e que poder  até‚ se transformar em seu aliado.

      2 - Infinitude (Sl 71.15; 113.4-6; 145.3; Jó 11.7-9; Is 66.1; I Rs 8.27; Rom 11.33)

      Deus é infinito, isto é, não está sujeito às limitações naturais e humanas. Não se pode determinar quanto à sua natureza, um início ou um fim.
      Em relação ao tempo é eterno (Êx 15.18; Dt 33.27; Sl 90.2; Ap 4.8-10).
      Por ser Deus infinito, isto é, por não ser possível impor-lhe limites, Ele pode comunicar-se  com  cada  uma  de  suas criaturas, e tomar nota de todos os detalhes de sua vida, desde a maior das estrelas, até o menor dos insetos que não se possa ver a olho nu, o que lhe seria impossível se não fosse infinito.
      Uma implicação do fato de ser Deus infinito é que Ele é imutável (Sl 102.27; Mal 3.6; Tg 1.17). Se fosse possível alguma mudança em Deus, por este fato se indicaria imperfeição. A mudança ou progresso são atributos do que não é perfeito. Se Deus necessitasse ou pudesse progredir em santidade ou na essência da sua natureza, não seria mais Deus, senão um ser inferior. A mudança é sempre para melhor ou para pior. O progresso indica o acesso de um grau inferior a outro superior. Não devemos pensar entretanto de Deus como um ser estacionário. Ele é ativo sem mudança, e é perfeito em todos os seus atributos, sem progresso.

      3 - Unidade (Êx 20.3; Dt 4.35-39; 6.4; I Sm 2.2; Is 44.6-8; I Tim 1.17; I Cor 8.4; Ef 4.5,6).

      Com isto dizemos que há  um só Deus, e que sua natureza é una e indivisível.
      O homem é também um ser uno e indivisível, tal como Deus é em Sua natureza.
      Os seres morais criados não são partículas da natureza divina, isto é, Deus não se repartiu em várias porções do Seu espírito para formá-los. Deus criou espíritos aos quais é dado poderem participar de Sua natureza divina, por meio da obediência.
      Esta participação efetiva da santidade de Deus é o fator primordial para a unidade na diversidade.
      A finalidade da criação dos seres morais é a unidade final com Deus e uns com os outros (Jo 17.21-23).
      Entretanto, a unidade da divindade, considerada como atributo absoluto, refere-se não à unidade de Deus com os seres morais, mas àquela existente na trindade, isto é, a unidade relativa à Sua própria natureza. De modo que não há  vários deuses, mas um só.
      Langston apresenta uma distinção entre os termos trindade e triunidade. A trindade se refere às manifestações distintas das três pessoas divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Já  a triunidade é a forma de ser de Deus, isto é, Deus é três em um. Daí se afirmar que Deus é triúno.
      Estaremos apreciando melhor o assunto da unidade no desenvolvimento do capítulo dedicado ao estudo da trindade.

      4 - Onipresença
      Deus é onipresente, isto é, não pode ser limitado pelo espaço material (Gên 28.15,16; Dt 4.39; Js 2.11; Sl 139.7; Pv 15.3,11; Is 66.1; Jer 23.23,24; Am 9.24; At 7.48-49; Ef 1.23).
      Por onipresença não se deve entender que Deus enche o espaço como faz o universo. A relação entre Deus e o espaço não é a mesma que existe entre o espaço e a matéria. Sendo Deus espírito, não ocupa espaço. Só a matéria ocupa espaço.
      Não devemos julgar que Deus está  dentro de tudo. Há  quem interprete a onipresença de Deus como se ele estivesse em tudo. Esta idéia, porém, semelhante à primeira, é errônea, não é cristã, mas panteísta. Os materialistas dizem que Deus enche tudo; os panteístas, que ele está  em tudo. Se Deus estivesse dentro de tudo, teriam todas as coisas vida divina. O livro, o móvel, a máquina, tudo teria vida divina. Sabemos que não é assim.
      A verdadeira idéia da onipresença de Deus é que ele age com a mesma facilidade com que pensa e quer, porque para Deus não há  espaço nem tempo.
      Deus é onipresente porque presencia tudo.

      5 – Onisciência (Gên 18.18; 19.2; II Rs 8.10,13; I Cr 28.4; Sl 94.9; 147.1-5; Pv 15.3; Is 29.15; 40.28; Jer 1.4-5; Ez 11.5; Dn 2.22,28; Lc 16.15;  Mt 10.30; At 15.8,18; Rom 8.27,29; I Cor 3.20; II Tim 2.19; Hb 4.13; I Pe 1.2; I Jo 3.20).
      Não há  nem pode haver surpresas para Deus. Como em sua onipresença não há  espaço, também em sua onisciência não há desconhecido. Deus tudo sabe. Caso necessitasse ou pudesse vir ainda a conhecer algo, não seria Deus, pois estaria limitado em seu conhecimento, e não se poderia dizer dEle que é onisciente.
      A nós só ocorrem lembranças do passado; para Deus, porém, tanto o passado com o futuro constituem uma só lembrança. A profecia, para o homem, é aquilo que ele espera ver; mas para Deus é aquilo que ele já viu.
      Por isso o conselho de Deus, devido à sua onisciência, é um conselho perfeito, e não falha em nossas vidas.

      6 - Onipotência (Gên 1.1; 17.1; 18.14; Êx 15.7; Dt 3.24; 32.39; I Cr 16.25; Jó 40.2; Is 40.12-15; Jr 32.17; Ez 10.5; Dn 3.17; 4.35; Am 4.13; 5.8; Zc 12.1; Mt 19.26; Apo 15.3; 19.6).

      Há  em Deus duas formas de onipotência: onipotência moral, que se refere a ele próprio, e física, que se relaciona com a criação.
      O que entendemos pela onipotência moral é que Deus é tão poderoso que não pode praticar o mal, e nem sequer pode ser tentado. Por isso ele não pode mentir, enganar, nem deixar de cumprir as suas promessas, nem praticar qualquer ato que discorde da sua natureza moral. Deus tem o poder de não praticar o mal.
      É  por isso que o crente é convocado a andar no Espírito Santo, pois somente Deus pode vencer o mal em nós.
      Mas Deus não tem apenas o poder de abster-se do mal, como também tem o de praticar todo o bem. Não há  bem que Ele não possa fazer, isso em razão de sua onipotência.
      Quanto à onipotência física, Deus não somente pôde criar todas as coisas, como tem também o  poder  de  sustentá-las e dirigi-las.
      Não devemos pensar da onipotência divina como se fora uma mera força. Deus não está  sujeito a nenhuma força exterior, senão que em si mesmo está  toda a força para fazer toda a sua vontade, de maneira que a onipotência de Deus está  sujeita à sua vontade, e Ele exerce seu poder não com toda a força de seu ser, senão segundo a vontade inteligente de sua natureza.
      Nossos poderes são limitados pelas leis de causa e efeito, porém Deus tudo faz pela palavra do seu poder. Ele pode sujeitar as leis naturais que Ele próprio criou e operar além delas. Deus não está  sujeito a nenhuma lei natural, ao contrário as leis têm sua origem em Deus.
      Alguns têm chegado ao extremo de afirmar que Deus pode aniquilar-se a si mesmo. Estas são idéias falsas quanto à onipotência divina. Idéias falsas como esta vêm de uma idéia abstrata de Deus e que lhe negam praticamente todos os atributos pessoais. A onipotência divina está  sujeita à Sua vontade perfeita, boa e agradável. Não se deve confundir a onipotência de Deus com a Sua vontade.  É impossível que Deus, que é em essência a própria vida, venha a manifestar o desejo de aniquilar-se. Ele não tem qualquer prazer na morte, mas apenas na vida. Não é Deus de mortos, mas de vivos. Pois é a fonte da vida.

      7 - Santidade (Êx 15.11; Lev 11.44,45; 20.26; Js 24.19; I Sm 2.2; Sl 5.4; 111.9; 145.17; Is 6.3; Jer 23.9; Lc 1.49; Tg 1.13; I Pe 1.15,16; Apo 4.8; 15.3,4)

      A santidade em Deus não representa uma qualidade só, mas a soma de todas elas.
      Os atos de Deus são perfeitos porque concordam com o seu caráter perfeito.
      Daí Jesus dizer: "Sede vós pois perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está  nos céus." (Mt 5.48).
      Deus quer tornar o homem à sua imagem. Um Deus santo não pode ter um  fim menos digno e glorioso do que o de produzir criaturas santas. A santidade de Deus então marca e fixa o alvo que deve ser atingido pela criação.
      O homem deve ser como Deus é. Este é o postulado máximo da santidade (Rom 8.29,30).
      Isto não significa que a santidade do homem seja perfeita como é em Deus, porque o homem é finito. O homem não pode ser santo como Deus, senão no seu querer. Entretanto deve prosseguir rumo ao alvo da santidade, pois é convocado pelo próprio Deus a ser santo assim como Ele o é (Lev 11.45).
      A santidade no homem manifesta-se sobretudo na escolha e prática do que Deus aprova e na rejeição não somente na prática, como também no querer de tudo aquilo que Ele reprova. Em suma, consiste na obediência à Sua vontade, especialmente no cumprimento do ministério que tiver recebido dEle.

      8 - Justiça

      A justiça demanda uma conformidade absoluta com a santidade de Deus, senão será  necessário de todas as maneiras cumprir as exigências da justiça em seu devido castigo.
      A justiça está  direcionada a recompensar o bem e a punir o mal.
      A justiça de Deus leva-o a destruir o pecado onde quer que ele se encontre. E o destino final do pecado é ser inteiramente destruído por Deus. Por isso Jesus é o Cordeiro que não somente perdoa o pecado, mas que tira o pecado do mundo.
      A palavra justiça no hebraico significa o que é reto. No grego a palavra significa o que é igual, isto é, o que se encontra em um objeto, que é igual ao mesmo atributo em outro objeto tomado como medida.
      A Bíblia fala da ira de Deus, porém não como a ira do homem. A ira de Deus é  a repulsão que Ele experimente em sua natureza por causa do pecado, e pelas exigências da sua santidade de que o pecado receba seu devido castigo. Podemos dizer então que é a indignação judicial de Deus contra toda impureza e toda falta de santidade na criatura.
      Não é o simples conhecimento da verdade que torna o homem justo, mas a sua prática. Não é de igual modo o simples conhecimento intelectual sobre Deus que o torna justo, mas o andar com Ele. Assim como foi o caso de Noé e Jó, dos quais se declara terem sido justos porque temiam a Deus e andavam com Ele. É pela comunhão com o Senhor que a Sua retidão ou justiça é infundida no crente.  É isto que torna a consciência humana sensível, boa e pura, para poder operar no homem indicando-lhe o que é aprovado e o que é reprovado, conforme revelado na Palavra. Podemos afirmar que passa a existir uma harmoniosa interação entre a consciência divina e a consciência do homem, sabendo nós que é a consciência divina a medida pela qual deve ser governada a humana. Quando isto ocorre, o homem passa a ter a mente de Cristo, conforme dizer do apóstolo Paulo. Coisa que é possível somente para o crente espiritual, em razão da exigência da comunhão com Deus. O crente carnal, enquanto dominado pela natureza terrena não poder  ter uma tal consciência ou mente (I Cor 2.15,16; 3.1-3). E não queremos nos referir com isso, que há mais do que uma personalidade em foco, quando falamos em duas naturezas no homem, a humana e a divina, pois, a manifestação harmoniosa ou não, de ambas, ocorre simultaneamente naquilo que a pessoa pensa, faz ou deixa de fazer. Quando o Espírito Santo se entristece, essa tristeza também se manifesta no nosso espírito, e assim também se dá no sentido oposto, pois quando se alegra pelo nosso arrependimento e obediência à vontade de Deus, o resultado é que também nos alegramos e somos fortalecidos em nosso espírito. Há portanto, total sintonia entre o espírito do crente e o Espírito Santo que nele habita.    
      Daí se ensinar na Bíblia que Jesus se nos tornou da parte de Deus a nossa justiça (Jer 23.6; I Cor 1.30; Rom 10.3,4), pois somente nele e andando nele pode o homem atender às exigências da justiça divina, tanto no sentido de não praticar o mal, como também no de poder praticar o bem.
      Deus é justo e fará  justiça a todos, assim ao mau como ao bom, ao ímpio como ao santo. O justo tem a certeza de ser abençoado por Deus como tem o mau de ser condenado.

      9 - Fidelidade (Êx 34.6; Nm 23.19; Dt 4.31; Js 21.43-45; Jr 4.28; Is 25.1; Dn 9.4; Lc 18.7; Rom 3.4; Apo 15.3).

      Ao usarmos os termos veracidade ou fidelidade com relação a Deus, queremos falar das relações morais de Deus com suas criaturas, especialmente com o seu povo redimido. Deus é verdadeiro porque é o verdadeiro Deus, em oposição ao falso ou fictício. Ele é a verdade manifestada. Deus é exatamente como se tem manifestado. Nele não há  a possibilidade de engano  nem  a  da mentira. Por isso é fiel e não há  engano em nenhuma de suas promessas. Sua Palavra permanece para sempre.
        A fidelidade de Deus é o fundamento da nossa segurança (Sl 138.2; Jo 3.33; Rom 3.4; Hb 6.18; Mt 5.18).

      10 - Misericórdia (Tt 3.5; Lm 3.22; Dn 9.9; Jer 3.12; Sl 32.5; Is 49.13; 54.7) e Bondade (Sl 25.8; 145.9.; Na 1.7; Rom 2.4; Mt 5.45; At 14.17)

     Com a misericórdia e a bondade de Deus, fazemos referência ao amor de Deus em atividade relativamente aos seres vivos de sua criação (I Jo 4.10).
     A misericórdia de Deus é sempre impulsionada pelo amor e é um princípio eterno em sua natureza, o qual o inclina a buscar o bem temporal e eterno dos pecadores.
     Ao mandar que amemos os nossos inimigos, Ele nos dá  o exemplo de como nos tem amado.
     A bondade é o atributo da natureza de Deus que o leva a prover as necessidades da criatura, ao ponto de dar-lhes a própria vida.
     Como o homem não é capaz de cumprir perfeitamente o que exige a santidade e a justiça de Deus; o atributo da misericórdia faz com que Deus mesmo responda às deficiências de suas criaturas e de seus filhos. Na misericórdia, Deus mesmo faz o sacrifício e o sofre em si mesmo.
     Na bondade, Ele comunica aos pecadores a sua própria vida e as bênçãos dela decorrentes.

     11 - Amor (Dt 7.8; Ef 2.4; Sof 3.17; Is 49.15,16; Rom 8.39; Os 11.4; Jr 31.3)

     Deus é amor em sua natureza (I Jo 4.8).
     Não pode existir amor sem santidade. Deus não seria amor se não fosse santidade. Todo o trabalho do amor é o trabalho também da santidade; e todo o trabalho da santidade é o trabalho do amor. Quanto ao amor, ele insiste em que o homem aceite a dádiva que é a santidade. Deus, por ser amor, quer dar ao homem a santidade. E Deus, por ser santo, ama o homem.
     O amor leva Deus a adotar o pecador como Seu filho, mas a santidade, que atua pelo amor, não permitirá  que ele permaneça no estado de ser vencido pelo pecado. Por isso a carne luta contra o Espírito Santo, e este contra a carne. O pendor da carne é inimizade contra Deus e não está  portanto sujeito à sua vontade. Para viver no amor de Deus é necessário andar no Espírito para que Ele vença a inclinação da carne para o pecado. As obras da carne, isto é, o resultado de ser conduzido pelo pecado são descritas no quinto capítulo de Gálatas, e são inteiramente opostas ao amor. Mas o amor é o primeiro e principal fruto do Espírito. O amor é sobrenatural e procede de Deus. É o resultado da operação do Espírito no coração do crente. Daí ser-lhe ordenado que não somente faça morrer a natureza terrena (Col 3.5) através da comunhão com Cristo (Col 3.1-4), como também a andar no Espírito (G l 5.16,25) e ser cheio dEle (Ef 5.18).
     A Bíblia diz que o amor nunca se acaba. Sabemos que os sentimentos findam, pelo que convém não confundirmos o que é passageiro com o que é permanente. Amor é mais que sentimento, é a atitude firme de dar-se ao ente ou objeto amado, e de manter com ele íntima comunhão.
     Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, destacou no décimo terceiro capítulo de I Cor as características do amor. Ali percebemos que é tratada uma condição de ser e não de ter ou receber. O amor é. Quando vivemos as verdades ali destacadas, somos. Em caso contrário, nada somos. Fomos criados em amor e para o amor. Atendemos portanto ao objetivo da criação quando amamos.
     Jesus definiu o amor como obediência aos seus mandamentos. E a maioria dos seus mandamentos visam à nossa transformação pessoal segundo o caráter de Deus.
     Por isso o crente que tem crescido no amor é aquele no qual estão sendo implantadas e amadurecidas as características relativas ao amor, conforme destacadas em I Cor 13.1-13: paciência; benignidade; ausência de ciúmes; buscar somente a glória de Deus; humildade; moderação e irrepreensibilidade; generosidade; mansidão e ausência de ansiedade; tristeza ante a injustiça; alegria com a verdade; firmeza diante de tribulações e sofrimentos; perseverança na fé‚ e esperança.

D - QUANTO À TRINDADE:

    Há  em Deus três personalidades distintas e divinas, sendo cada uma igual à outra quanto à natureza. No entanto, não há três deuses: Deus é um só.
   A razão não pode compreender como três pessoas podem existir em um ser sem haver divisão, mas a trindade não é uma doutrina que seja revelada pela razão, senão pela revelação, e esta é muito enfática em ensinar que há  um só Deus.
   A Bíblia ensina que são três Pessoas divinas, distintas, eternas e iguais, subsistindo numa só essência.
   O Antigo Testamento faz abundantes referências a Deus Pai, e não são poucas as citações relativas a Jesus Cristo como Redentor, Messias, Profeta e Rei eterno. O Espírito Santo é também citado nas Escrituras do Velho Testamento na criação e na obra de regeneração e santificação do pecador.
   Há  também passagens que sugerem a idéia da trindade, como as referentes ao Anjo do Senhor, sendo este identificado com Jeová  (Gên 22.11,15; 16.9,13; 31.11,13; 48.15,16); e  aceita adoração devida somente a Deus (Êx 3.2,4,5; Jz 13.21,22). Há outras passagens que descrevem o Messias sendo um com Jeová  (Is 9.6; Mq 5.2).
   A doutrina da trindade está  plenamente revelada no Novo Testamento.
   O Pai é conhecido como Deus, sendo inúmeras as citações da Palavra a seu respeito (I Pe 1.2; Jo 8.41;  II  Cor 1.2  e  Ef 4.6).
   Jesus é conhecido como Deus (Jo 1.1; 20.28; Tt 2.13; Hb 1.1; I Jo 5.20). As distinções dadas a Deus no Velho Testamento são aplicadas a Jesus (Mt 3.3; Jo 12.41). Jesus possui os atributos de Deus: Ele é a vida (Jo 14.6); tem existência própria (Jo 5.26); é amor (Jo 3.16); é santo (Lc 1.35); é eterno (Jo 1.1); é onipresente (Mt 28.20); é onipotente (Mt 28.18). As obras de Deus são atribuídas a Jesus (Jo 1.13; I Cor 8.6; Col 1.17; Hb 1.10). Jesus recebe e aceita honra e adoração devidas somente a Deus (Jo 5.23; At 7.59; Rom 10.9,13; Hb 1.6; Fp 2.10, 11; II Pe 3.1). O nome de Jesus está  ligado ao de Deus de maneira a indicar igualdade (Mt 28.19; I Cor 1.23; II Cor 3.13; I Jo 1.23; II Tes 2.16, 17; Apo 20.6). Jesus é igual ao Pai (Jo 5.18; Fp 2.6).
   O Espírito Santo é conhecido como Deus. Fala-se dele como se fala de Deus (At 5.3,4; I Cor 3.16; 6.19; 12.4-6). O Espírito tem os mesmos atributos de Deus (Rom 15.30; Jo 16.13; Hb 9.14; Ef 4.30). As obras de Deus são atribuídas ao Espírito Santo (Gên 1.2; Jo 16.8; Rom 8.11-13). O nome do Espírito está  ligado ao nome do Pai e ao do Filho, de maneira que indica que Ele é Deus como o Pai e como o Filho (Mt 28.19; II Cor 3.3).
   As Escrituras apresentam o Pai, o Filho e o Espírito como três pessoas distintas (Jo 1.14; 5.32,37; 10.36; 15.26; G l 4.4,6; Mt 3.16,17; Lc 3.21,22).
   Tais distinções pessoais são eternas. Deus tem sempre existido em três pessoas distintas. A Bíblia não afirma que a trindade consta de três manifestações de uma só pessoa divina.
   Passagens que ensinam a preexistência de Jesus (Jo 8.58; Apo 22.13).    
   Passagens que ensinam a relação do Pai com o Filho antes que o mundo existisse (Jo 17.5, 24). Passagens que falam de Jesus como o Criador do mundo (Jo 1.3; I Cor 8.6; Col 1.16; Hb 1.2).
   Passagens que ensinam a eternidade do Espírito Santo (Gên 1.2; Sl 33.6; Hb 9.14).
   Estas três pessoas são igualmente divinas, porém inteiramente distintas.
   Tudo que estudamos até aqui refere-se à doutrina da trindade. Adiante, estaremos falando da triunidade que procura responder à seguinte indagação: Como podem as três pessoas existir numa ?
   Entende-se por triunidade o modo de Deus existir em três pessoas.
   Deus é triúno quanto à sua existência.
   Não temos a triunidade de Deus tão claramente revelada na Bíblia como temos a trindade.
   Há  indícios da triunidade no Velho Testamento. As referências a Deus, no hebraico, trazem às vezes, o verbo no plural (Gên 1.26; 11.7; Is 6.8). Jeová  distingue-se de Jeová  (Gên 19.24). Um Filho é atribuído a Jeová  (Sl 2.7; Pv 30.4); e entenda-se que o uso do termo Filho não tem o sentido de gerado, mas o que é da mesma essência e natureza. Assim como Jesus usou o título Filho do Homem para indicar que havia assumido a natureza humana.
   O Espírito Santo é distinguido de Deus (Gên 1.2; Is 48.16).
   No Novo Testamento o ensino da triunidade é mais claro. Passagens que ensinam que Jesus e o Pai são um (Jo 17.21-23). A bênção apostólica é apresentada em nome das três pessoas da trindade (II Cor 13.13). De igual forma, a fórmula do batismo (Mt 28.19).
   As Escrituras ensinam a triunidade de Deus, isto é, que Deus é três em um.
   Compreender a maneira de Deus existir, três em um e um em três, é realmente um problema difícil. Ninguém jamais conseguiu compreender perfeitamente e explicar com clareza a triunidade de Deus. Somente a fé pode dar-nos não só o entendimento completo da doutrina, mas a aceitação plena da sua realidade. Nossa experiência pessoal com as três pessoas da trindade é a melhor forma de compreensão da existência triúna de Deus.
   Podemos ilustrar a doutrina da triunidade, com a unidade humana que não é simples, mas dupla, pois a unidade humana é composta do homem e da mulher. A mulher é tão humana quanto o homem, e o homem é tão humano quanto a mulher. Assim como a essência da humanidade é uma, também a essência da divindade é uma. O Filho é tão divino como o Espírito Santo, e o Espírito Santo é tão divino como o Pai.

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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
http://livrosbiblia.blogspot.com.br/

Veja tudo sobre as Escrituras do Novo Testamento no seguinte link:
http://livrono.blogspot.com.br/

A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/

A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/


Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 30/01/2013
Alterado em 10/07/2014
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