O Modo Correto de Se Proceder na Igreja - Parte 1
Resumo da Epístola de Tito
Capítulo I
É com grande confiança e ousadia que pregamos o cancelamento e perdão dos pecados pela fé em Jesus Cristo, porque temos a confirmação desta confiança e ousadia quanto à nossa salvação, em nós mesmos, tal como Paulo a havia experimentado em seus dias.
Deus não ordenou que tentássemos salvar a nós mesmos, porque isto seria impossível, por isso, Ele mesmo se tornou o nosso Salvador.
Não somos nós absolutamente que nos salvamos, mas Jesus Cristo é quem nos salva, assim como quem está morrendo afogado e não sabe nadar, não pode salvar a si mesmo, e necessita de um salva-vidas para que possa ser livrado da morte. É do mesmo modo que somos salvos por Jesus. Nós não O ajudamos a nos salvar. Simplesmente nos entregamos com fé nos Seus braços e permitimos que Ele faça em nós o Seu trabalho de purificação dos nossos pecados e livramento da morte.
Paulo disse a Tito que ele colocasse em boa ordem as coisas que ainda necessitavam ser consertadas e acrescentadas na Igreja de Creta, e para que constituísse em cada uma das suas cidades, presbíteros para cada uma das congregações locais, que costumavam funcionar nas residências de alguns cristãos, que eram designadas pelo Espírito para tal propósito (Tito 1.5).
Paulo lembrou a Tito quais eram as qualificações exigidas por Deus para aqueles que são chamados por Ele para pastorearem o Seu rebanho.
Por estas qualificações nós podemos ver que Tito teria que ser muito criterioso na escolha e contar com a direção do Espírito, porque especialmente para o ministério, Deus não pensa em quantidade, mas em qualidade, em pessoas que se consagrarão verdadeiramente a Ele. Veja que Jesus não chamou 300 apóstolos, mas 12, e um deles era um diabo, para mostrar o contraste entre os que são verdadeiramente consagrados e santificados.
Nos avivamentos da Igreja Deus nunca chamou muitos para a liderança, porque não pode usar indiscriminadamente a qualquer um, senão somente aqueles que se disporão a pagar o preço da total consagração de suas vidas a Ele.
Assim, além da principal ocupação dos pastores que deveriam ser eleitos por Tito para as igrejas, que é citada por Paulo no verso 9: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.”, ele descreveu outras qualificações não menos importantes nos versos 6 a 8.
O apego firme e fiel à Palavra que é conforme a sã doutrina, não é uma referência a simples conhecimento intelectual da ortodoxia bíblica, mas de vivência experimental da Palavra em transformação da própria vida, porque é isto que traz o poder tanto para admoestar como para convencer os contradizentes com a sã doutrina, que eles verão aplicadas na vida do próprio pastor.
Deste modo, ele não destacou somente a necessidade do apego à sã doutrina, como também uma vida conformada à doutrina, porque Deus não requer somente pregação e ensino ortodoxo, mas sobretudo prática do que se prega e se ensina. Principalmente a vida do pastor deve estar ajustada à doutrina porque devem ser modelos para o rebanho quanto à prática da Palavra.
Pastores que não vivem o que pregam não são os homens que Deus deseja ver na direção da Sua Igreja, por isso o Espírito passou tais instruções a Tito através de Paulo, e nunca alterou este padrão divino para a Igreja.
Os pastores devem ser os primeiros a serem longânimos, mansos, humildes, perdoadores, pacificadores, puros de coração, amorosos, pacientes, santos, homens de oração, pobres de espírito e tudo o mais que se exige dos servos de Deus na Sua Palavra.
É a isto que Paulo se refere quanto à irrepreensibilidade dos pastores e é sobretudo isto que eles devem ensinar pelo seu próprio exemplo pessoal.
Não apenas irrepreensibilidade de caráter moral, mas sobretudo de santidade, quanto ao que é relativo ao modo de se caminhar com Deus, no conhecimento e prática da Sua vontade.
O ofício de pastor é um ofício de compromisso divino e não uma invenção humana. O ministério não é uma criação do Estado, e pastores não estão a serviço do Estado; porque a Igreja não é uma instituição deste mundo, mas uma agência do céu funcionando na terra.
O trabalho de um pastor não exige apenas aplicação e diligência, mas sobretudo santidade de vida.
Paulo se refere ao ofício de pastor como sendo algo excelente, porque de fato não há maior e mais honrada atividade que seja útil aos homens do que esta, e não há trabalho mais importante aos olhos de Deus do que este.
De maneira que não é apenas o desejo do homem que conta, mas se ele tem efetivamente uma chamada de Deus para ser ministro do evangelho.
Por isso nada da vida do ministro deve ser motivo de escândalo, quer dentro ou fora da igreja.
E deve ser constantemente vigilante contra Satanás, que é o Inimigo sutil que sempre investirá contra ele e contra as almas daqueles que lhes foram confiados por Deus.
O cristão não deve temer o diabo, mas somente a Deus. Ao contrário, ele deve combater o Inimigo com as armas espirituais da fé. Ele não deve dar lugar ao diabo, isto é, deixar brechas em sua vida para que ele ganhe vantagem sobre si, por praticar e viver de modo contrário à vontade de Deus.
E não há arma melhor para combater o Inimigo do que ser sóbrio, temperante, moderado em todas as ações.
A sobriedade e a vigilância sempre costumam ser citadas juntamente nas Escrituras, porque se ajudam mutuamente.
E muito também ajuda neste mesmo propósito ser inimigo de contendas. O pastor experimentado fugirá de controvérsias e discussões vãs. E todo o seu prazer deve ser o de viver na paz do Senhor e promover esta paz entre outros.
Se alguém pensa em ganhar dinheiro ao aspirar ao pastorado está se desqualificando para o seu exercício porque o pastor ganancioso não poderá sustentar um bom testemunho na generosidade e na atitude despojada que é exigida de todos os ministros verdadeiramente fiéis a Deus.
Ainda que falsos pastores, que se transfiguram em ministros da justiça, tal qual Satanás, que se transfigura em anjo de luz, sejam pessoas não gananciosas ou cobiçosas, não será somente por isso que poderão ser considerados aprovados por Deus, porque, como vimos antes, muitas outras qualificações são exigidas dos verdadeiros ministros de Deus.
Como a Igreja é a família de Deus, não é admissível que esteja sobre o governo desta família divina, alguém que não governe bem a sua própria casa. Pastores devem ter suas famílias em ordem, como exemplo de como devem ser não apenas as famílias que eles dirigirem, como a própria Igreja, enquanto família de Deus.
O dever de um pastor não é somente o de pregar e ensinar o evangelho. Ele deve edificar os cristãos na verdade. Deve ensinar-lhes a guardar tudo o que Jesus ordenou à Igreja. Por isso, além de pregar e ensinar deve exortar, repreender, disciplinar, e ser um conselheiro e orientador do rebanho, tal como faz um pai responsável em relação à sua própria família.
A obra do evangelho tem muitos inimigos que são levantados por Satanás para tentar impedir o seu progresso, e se o testemunho dos cristãos não for de verdadeira santidade de vida, e especialmente se isto faltar nos ministros da Palavra, isto dará ocasião aos inimigos de blasfemarem; não porque eles sejam melhores do que os cristãos aos quais eles acusam, uma vez que eles são faladores desordenados, vãos, e enganadores, especialmente aqueles que se julgam muito religiosos e justos tal como os escribas e fariseus que pregavam a circuncisão como condição de salvação, nos dias dos apóstolos (v. 10).
No entanto, não se pode tapar a boca deste faladores que acusam os cristãos, caso estes últimos não vivam realmente em santidade de vida.
Caso os pastores não repreendam e exortem o rebanho severamente, para que viva de modo são na fé, como convém em Cristo, os falsos mestres que ensinam o que não convém, e que o fazem por torpe ganância, acabarão ganhando a estima e atenção dos cristãos, porque lhes oferecerão um outro evangelho, um evangelho de facilidades e de concessões ao pecado, com argumentos de falsa misericórdia e piedade, por lhes dizer que não importa como vivam, a bondade e graça de Deus lhes alcançará e favorecerá. E a carne, o velho homem, adoram ouvir uma coisa como esta, porque é a justificativa que necessita para abrandar a sua consciência, de maneira que não se sinta acusado quando vive na prática deliberada do pecado.
Mas o Espírito falou pela boca do apóstolo Paulo que estes falsos argumentos devem ser silenciados.
Porque a boca que convida a transformar a graça em luxúria, dizendo que não importa que os cristãos vivam a pecar, é a mesma que acusará os cristãos, para envergonhá-los, ofendendo-lhes de preguiçosos, de pessoas ruins e mentirosas, tal como os falsos pastores faziam em relação aos cristãos de Creta (v. 10 a 12).
Não há outra maneira de calar estas acusações que brotam no inferno, e que infelizmente são verdadeiras quando os cristãos andam debaixo do pecado, senão por uma verdadeira consagração e santificação de suas vidas (v. 13).
É por este motivo que a Bíblia ordena que os cristãos se exortem mutuamente à santificação, e que especialmente os ministros se encarreguem deste dever, exercendo a necessária disciplina na Igreja, conforme foi ordenado pelo Senhor Jesus.
Se o cristão deve viver em santidade diante de Deus, ele não pode portando dar ouvidos aos mandamentos de homens que são desviados da verdade, tal como os judaizantes que ensinavam fábulas judaicas aos gentios dizendo-lhes que somente poderiam ser salvos se vivessem como os judeus, e praticando todos os mandamentos de homens que principalmente os escribas e fariseus haviam acrescentado à lei de Moisés (v. 14).
Ninguém se iluda portanto por se considerar salvo e santo por ter simplesmente feito uma profissão de fé de que crê em Jesus Cristo, porque os que são de Cristo, são regenerados e santificados pelo Espírito, e buscam purificar seus corações na verdade.
Os que são de Cristo e que estão sendo verdadeiramente santificados haverão de se inclinar para as coisas do Espírito para a mortificação da carne e do pecado, em vez de se inclinarem para a carne. Eles se inclinarão para o que é puro e santo, e somente estes podem experimentar uma vida pura e santa em todas as coisas.
Mas os que não conhecem a Deus, ainda que confessem conhecê-lo, não podem viver em tal fidelidade em santidade, e por terem o seu entendimento e consciência contaminados pelo pecado, eles comprovarão por suas más obras que de fato não conhecem a Deus, antes, lhes são abomináveis e desobedientes, e estão reprovados e incapacitados portanto para a realização de qualquer boa obra que proceda verdadeiramente de Deus (v. 14 a 16).
Por isso os cristãos que têm a ordenação de ganharem outros para Cristo, devem antes, serem ganhos eles próprios para o Senhor, vivendo na santidade que deve existir neles, porque de outra sorte não terão o poder necessário para convencer a muitos que estão nas trevas a virem para a luz, simplesmente, porque vivendo em pecado, estão desqualificados e reprovados para serem usados por Deus na obra de conversão dos pecadores.
Daí o cuidado que Tito deveria ter especialmente na ordenação de pastores, e em cumprir a exortação que deveria fazer aos cristãos que estavam andando de maneira desordenada na presença de Deus.
Não é um trabalho fácil edificar Igrejas e mantê-las na verdade. No caminho estreito da perfeição que conduz à maturidade espiritual em Cristo. Isto não poderá ser feito agradando à carne, a homens, senão fazendo valer um bom testemunho e coragem que são devidos à sã doutrina.
A Igreja é a casa de Deus, e portanto, pertence a Ele o direito de designar as qualificações e as pessoas que Ele deseja para liderarem o Seu rebanho. Isto não deve portanto ser feito segundo o homem, mas segundo a direção, chamada e instrução do Senhor.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 02/02/2013