A Verdadeira Auto Estima
O fato de nos entristecermos pelos nossos pecados não significa que devemos nos ter em baixa estima.
A consideração da nossa condição de pecadores tem em vista exaltarmos a santidade de Deus pelo reconhecimento de que não há bem algum na nossa própria carne, e que todo o bem que tivermos vem dEle.
Então há um caminho do bem no qual somos chamados a andar não baseados na nossa própria justiça, senão somente na justiça de Cristo.
Se Deus é tão puro e elevado e comunica de maneira real a Sua santidade a nós, como poderemos nos ter em baixa estima, quando percebemos que a semelhança de Cristo está sendo implantada em nós?
Possuir de fato tal semelhança com o Filho do Deus vivo é por acaso algum motivo para se ter em baixa estima?
As perfeições de Cristo são obtidas na nossa participação progressiva da Sua própria natureza divina.
Mas muitos falham na busca desta perfeição pensando que ela é obtida simplesmente por se orar, por se jejuar, por se ler a Bíblia e também por se louvar a Deus.
É possível fazer tudo isto e não alcançar nenhum crescimento progressivo no conhecimento de Deus e no aumento da semelhança com Ele.
Isto não é obtido pelo caminho referido, porque são apenas meios que devem ser utilizados para tal conhecimento real de Deus, e não o estado de espírito e de mente que devemos ter, para que possa existir tal conhecimento pessoal de Deus.
Isto se obtém pela nossa transformação mediante a renovação das nossas mentes (Rom 12.1,2).
Mas ninguém conseguirá isto caso não se disponha não somente a conhecer a Deus, como também a obedecê-lO efetivamente, fazendo a Sua vontade.
A Bíblia é enfática quanto a isto, e Jesus o deixou revelado de modo bastante claro na oração do Pai Nosso, onde afirma que não se deve viver para fazer a própria vontade, mas a vontade de Deus, quer na terra, quer no céu.
No entanto, estas palavras verdadeiras não recebem a devida atenção e consideração que elas deveriam ter, porque sem isto é impossível conhecer a Deus cada vez mais.
E sem tal conhecimento é também impossível ser transformado à imagem e semelhança de Jesus.
Somente quando conhecermos quem Deus é de fato, pela nossa transformação à Sua própria semelhança é que poderemos possuir a verdadeira auto estima, porque é somente assim que poderemos fazer uma avaliação de nós mesmos que nos deixe satisfeitos para sempre com aquilo que somos e que fazemos, quer na juventude, quer na velhice, quer na saúde, quer na doença, quer na riqueza, quer na pobreza, porque a semelhança com Deus nos conduzirá a ser Seus imitadores em tudo o que pensarmos e fizermos.
É crucial avançar na busca de tal auto estima verdadeira porque sem isto nunca poderemos ter o nosso próximo também em alta estima e consideração, em razão da baixa estima que tivermos de nós mesmos, porque nós vemos os outros como vemos a nós.
Se eu não estiver satisfeito com aquilo que sou, não poderei estar satisfeito com ninguém mais.
Se eu não tiver apreço real pela minha própria vida não terei como preciosa a vida de ninguém.
Se eu não estiver empenhado em promover a minha própria felicidade, não poderei promover a felicidade de ninguém mais.
Muitos alegam que não é possível viver com tal auto estima porque a morte é uma realidade e as provações deste mundo não deixam espaço para uma vida de alegria e de paz.
No entanto, cabe saber que são as próprias tribulações que contribuem para esta transformação pessoal pela renovação da mente, e isto conduz consequentemente à semelhança com Deus a que temos nos referido, como sendo essencial para que se possa ter uma verdadeira auto estima.
Afinal, quem pode estar feliz quando sua semelhança se refere ao pecado, e não à santidade de Cristo?
Também devemos ter em consideração que a morte de um cristão que está ficando cada vez mais parecido com Deus não lhe traz qualquer temor ou pesar, porque sabe que o que lhe aguarda é uma glória ainda maior, e a perfeição completa que o conduzirá à plena semelhança com Cristo.
E qual é o significado disto, senão uma perfeita auto estima, e uma também felicidade plena pela justa e também perfeita estima que se terá de outros?
É algo muito lindo ver a maneira como um cristão fiel caminha na sua velhice para o encontro da morte.
Quão ditosa e venturosa é tal caminhada, conforme afirma o próprio Deus na Bíblia, e o vemos consumado no exemplo que nos foi deixado por Abraão, Moisés, Davi, pelos apóstolos e por tantos outros servos fiéis de Deus que não temeram a morte, antes a aguardaram com grande expectativa, sabendo que seria por ela que seriam finalmente promovidos à perfeita imagem e semelhança com Deus.
Eles puderam caminhar deste modo porque não ficaram esperando somente pela perfeição que teriam no céu, mas porque viveram na busca desta perfeição enquanto vivam na terra.
Aquele que não estiver sendo aperfeiçoado na terra, por uma transformação cada vez mais progressiva, não poderá ter nenhuma esperança venturosa de ter uma felicidade ainda maior no céu.
Por conseguinte, não poderá também caminhar neste mundo sem qualquer temor relativo à aproximação do dia da sua morte, porque isto não se consegue por exercício mental, mas por uma real comunhão diária com Deus, que conduza a um conhecimento pessoal de quem Ele é na realidade, por provarmos a Sua pessoa e vontade divinas em nossas próprias vidas.
Concluindo, que fique bem claro para nós que esta questão de auto estima elevada não é nenhuma forma de filosofia de vida, ou mesmo forma de expressão de pensamento positivo, porque isto não vem de nós, mas de Deus, ou seja, é Ele quem nos faz sentir felizes e com nossa auto estima elevada, quando obedecemos a Sua vontade.
Desta forma, ainda que o desejemos, não teremos isso quando estivermos de alguma forma afastados da comunhão com Deus e com a Sua igreja.
Porque Deus não nos aprovará, quando estivermos num procedimento reprovável.
Assim, sem tal aprovação de Deus para o nosso comportamento, qualquer alta estima que afirmarmos possuir não passará de uma fraude e de uma ilusão fabricada pelo nossa própria imaginação.