Nosso Senhor disse expressamente que aquele que lhe diz: "Senhor, Senhor", não pode ter a certeza de que pertence realmente a Ele, porque isto é comprovado por uma conversão real que se revele no amor e cumprimento dos Seus mandamentos.
Então, confiar simplesmente no nosso sentimento de afeição por Cristo, para a nossa salvação, sem ter um conhecimento real da sua Palavra, não é o suficiente para nos dar, ou a qualquer pessoa, a certeza da sua salvação.
William Sprague, que viveu em dias de muitas conversões genuínas, e outras de mero convencimento, baseado em sentimentos, falou o seguinte no seu livro Conferências em Avivamentos:
"Não há um período de maior importância e interesse para uma pessoa do que precisamente aquele no qual ela é trazida a fazer um exame sério com respeito à salvação da sua alma.
Há agora um estado de mente que se situa entre a negligência absoluta da religião e a sua posse atual. A consciência fica despertada no seu ofício como um acusador. Este mundo celebra a alma com um aperto enfraquecido, e as realidades do outro começam a pesar nela com uma impressão profunda e terrível.
Por outro lado, entretanto não há ainda nenhuma submissão às condições do evangelho; nenhum quebrantamento de arrependimento aos pés da Misericórdia; nenhuma elevação até o coração de Deus; nem gratidão sincera a Cristo pela salvação.
Mas entre estes dois estados de mente não há nenhuma conexão uniforme; porque embora a convicção (despertamento para a realidade do mundo espiritual) seja essencial à conversão, contudo o pecador que está somente convencido, pode, em vez de se converter, voltar ao mundo, e assim o último estado dele é pior que o primeiro.
É razoável supor, em qualquer caso de convicção que o pecador que é o objeto disto, está na véspera de ter o destino dele decidido pela eternidade: porque se ele seguir adiante, ele alcançará a sua salvação; mas se ele demora e se retira, há, pelo menos a dizer, que é uma incerteza terrível se ele será novamente contemplado com uma influência que o leve a um novo despertamento.
Agora você percebe prontamente porque o aconselhamento cristão é um trabalho de grande responsabilidade, ao dirigir uma pessoa nestas circunstâncias citadas.
A mente está num estado de ser influenciada facilmente; e influenciada num assunto que envolve todos os interesses da eternidade: há uma espécie de equilíbrio da alma entre a religião e o mundo, entre o céu e o inferno; e ninguém pode estar certo que o peso de uma única observação poderá virar a balança de uma forma ou de outra.
Deste modo é importante que todas as sugestões e deliberações em aconselhamento nestas horas sejam efetivamente escriturísticas e dirigidas pelo Espírito Santo.
Mas se isto é um trabalho de grande responsabilidade para um indivíduo, a saber, o de dirigir um único pecador, o que será dito da responsabilidade da igreja durante um avivamento; no qual há muitos, por todo lado, pressionando a indagação do que farão para serem salvos?
Isto sucedeu no dia de Pentecostes com o apóstolo Pedro, conforme vemos em suas palavras em Atos 3:19:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor,”.
E quão importante é que todos os membros da igreja estejam esclarecidos para serem guias seguros neste assunto momentoso; de maneira que nunca venham a colocar em maior dificuldade os interesses daqueles que eles são chamados a orientar.
Uma grande parte do trabalho de um avivamento consiste em ACONSELHAR OS DESPERTADOS; o caráter e o resultado deste trabalho dependem da maneira pela qual ele é executado.
A direção que o apóstolo Pedro dá em nosso texto aos judeus que eles deveriam se arrepender para que pudessem se converter é aplicável a todos os pecadores sem distinção, e especialmente àqueles que se encontram em alguma medida despertados.
Assim apontemos algumas formas de tratamento de caráter geral no aconselhamento de pecadores despertados:
Quando uma pessoa nestas circunstâncias perguntar sobre o que deve fazer para ser salva, ou que demonstra tal expectativa por sua postura diante do efeito da pregação, ensino ou testemunho do evangelho, a primeira coisa que você tem que determinar é, qual é a quantidade de conhecimento que ela possui da Palavra, e qual é a extensão dos seus sentimentos.
É possível que ele possa ter muito sentimento, e pouco conhecimento. Ele pode ter aprendido tanto da lei de Deus, que isto acordou a consciência dele, e o trouxe a um senso de perigo, e o fez tremer em antecipação do temor de ir para o inferno.
Mas o conhecimento dele da lei pode ser acentuado, mas em contrapartida ele pode ter um conhecimento limitado sobre o modo como são perdoados os pecados em Cristo, sobre o arrependimento do pecado, da fé em Cristo para a salvação, e do propósito da salvação para uma obediência santa, de maneira que é possível saber pouco ou nada sobre a natureza da salvação do evangelho.
E isto independe do quanto tenha ouvido sermões em igrejas evangélicas porque é possível ter ouvido com total desatenção de maneira que não tenha adquirido nenhum conhecimento das doutrinas da Bíblia.
Assim o primeiro dever em aconselhamento é instruir o pecador sobre o evangelho.
Jesus diz claramente que o convertido, aquele que Lhe pertence, aquele que Lhe ama, é aquele que conhece os Seus mandamentos e os guarda (João 14.21-24).
Ele define o conhecimento e prática da Sua Palavra como prova de uma conversão genuína.
Não é portanto pelo tanto que uma pessoa diz amar a Cristo ou que tenha fé nEle, que tal pessoa o conhecerá de fato. Ele afirma expressamente que este conhecimento é provado por se conhecer e cumprir os Seus mandamentos.
O que se diz convertido ama a Palavra de Deus? Ama os mandamentos de Cristo e os pratica? Então tudo está bem com sua alma. Mas se há este desconhecimento do evangelho e negação da sua prática, ninguém pode estar seguro da sua conversão porque é o próprio Cristo que define o amor a Ele como cumprimento da Palavra de Deus."