CONHECIMENTO DO EVANGELHO SEM ANGÚSTIA DE ALMA PELO PECADO = NÃO CONVERSÃO
Conheço não poucas pessoas que têm uma profunda convicção de que são salvas em Cristo Jesus, e todavia não apresentam os sinais que seguem os que creem e que são salvos, conforme o próprio Cristo e os apóstolos os apontam na Bíblia.
Em muitos casos isto foi decorrente de um aconselhamento deficiente, ou até mesmo incorreto que serviu para gerar e reforçar essa falsa convicção.
William Sprague também discorre sobre este aspecto no seu livro Conferências em Avivamentos:
“O cristão que realiza o aconselhamento de pessoas despertadas para o evangelho, deve ter diante de si que por mais culta e inteligente que possa ser uma pessoa, ela deve ser instruída com a máxima simplicidade porque uma mente que não está acostumada com a Palavra de Deus achará difícil compreendê-la, seja qual for o seu grau de instrução.
Nos assuntos do Espírito o culto não está em nenhuma vantagem sobre o ignorante.
O evangelho está disposto de tal forma por Deus que pode ser entendido pelo homem mais simples e indouto. Então não é com sublimidade de palavras que se deve apresentar o testemunho da verdade, mas com a simplicidade que é devida a Cristo.
Assim, ensine ao pecador o que Deus fez para a salvação dele, e o que Deus exige que ele faça; e a justiça desta exigência e a necessidade de plena concordância com ela.
Cristo tem que ser apresentado de tal maneira ao pecador que fique fixado de modo bastante distinto que Ele é o único fundamento da sua esperança.
Por outro lado, é possível que você pode achar um bom grau de conhecimento, e comparativamente pouco sentimento.
Pode haver uma visão correta e inteligente de toda a evidência e doutrinas do evangelho que foram o resultado de um exame continuado laborioso, crítico e até mesmo longo; e ainda haver uma impressão da verdade divina que seja muito fraca, e uma consciência somente parcialmente despertada.
Pode haver convicção suficiente para trazer o pecador até você mas não o suficiente para levá-lo até Cristo para a sua salvação.
É possível que o pecador confunda salvação com simples conhecimento, e esteja satisfeito com as informações que obteve sobre o Salvador e o modo pelo qual Ele salva, sem no entanto ter ainda tido a experiência de ter a sua alma salva por Ele.
A propósito, esta foi a condição de John Wesley e muitos outros, por muito tempo antes de se renderem finalmente a Cristo para serem salvos.
Não importa o nível de conhecimento bíblico que a pessoa possua, uma vez que não tenha ainda se convertido, deve ser incentivada a fazê-lo sem mais delongas, porque postergar um possível arrependimento para adiante é falta de fé e submissão a Deus. É falta de consideração para com Ele e para com Cristo que ofereceu a Si mesmo para nos dar aquilo que é mais precioso para nós que é a salvação da nossa alma, e como poderíamos recusar um tal dom que nos está sendo oferecido gratuitamente? Como podemos recusar uma tal oferta sem ofender o ofertante?
E o que dizer do desprezo do trabalho do Espírito Santo que está se esforçando para trazer o pecador ao arrependimento? Qual é o tamanho da desconsideração e desprezo de tal trabalho se resolvemos deixar o assunto da nossa conversão para mais adiante? Qual é a garantia que podemos ter que haverá a mesma disponibilidade do Espírito para trabalhar conosco esforçando-se para nos conduzir à salvação?
Quem garante que as impressões que o Espírito trouxe ao pecador em convencimento do pecado e do perigo do juízo da condenação futura permanecerão sobre ele, e por quanto tempo, caso decida se retirar sem fazer a decisão de entregar-se a Cristo e confiar somente nEle para salvar a sua alma?
É dever de quem aconselha dizer sobre o perigo que está envolvido nisto, em vez de ser complacente e encorajar o pecador na sua decisão de adiar a entrega do seu coração a Cristo.
Todo pecador despertado deve ser aconselhado a se colocar em guarda contra a grande tentação de se buscar a salvação através de um espírito farisaico, isto é, através do legalismo, da busca da justiça das obras e não pela justiça da fé que é pela graça.
Não há nenhuma predileção natural no homem pelo plano de salvação do evangelho.
Ao contrário, há um preconceito original forte a favor de ser salvo pelas ações da lei; embora não haja em ninguém a possibilidade de executar perfeitamente todas as ações que a lei requer.
Assim, esta forma de busca de salvação é feita com base num auto engano, numa ilusão, pois não há quem possa ser salvo de tal maneira pois todos são pecadores.
Consequentemente não é raro que quando o pecador é despertado no princípio, que se coloque quase sempre num esforço farisaico; e praticamente pergunta como o jovem citado no evangelho "que coisa boa ele fará para que possa herdar a vida eterna.".
Ele escuta a palavra de Deus atentamente; é achado nas reuniões de oração, e nos cultos de adoração; mas passa muito tempo na sua condição, procurando executar todo dever que Deus requer dele externamente.
E em tudo isso está o sentimento secreto do coração dele, embora ele sempre possa não estar sensato disto, que ele está executando algo meritório que de algum modo deve estar sendo objeto do favor e atenção de Deus, e por isso o seu nome será colocado no livro da vida do Cordeiro.
Agora, é dever vigiar contra este erro e denunciá-lo sempre porque sempre será uma barreira eficaz a uma conformação às condições do evangelho.
Não o desencoraje de se esforçar; mas o previna a se esforçar no espírito da nova aliança e não no espírito da velha. Diga-lhe que não há nenhum mérito ou qualquer esforço dele, pelos quais possa ser salvo, senão cair desamparado aos pés da misericórdia e estar disposto a receber a salvação como um dom gratuito de Deus por Jesus Cristo.
Além disso, aconselhe-o a desconfiar da segurança e estado confortável que ele criou com sua própria imaginação quanto ao que é estar salvo, porque ao contrário disto, o estado de convicção de pecado produzido pelo Espírito Santo é um estado de ansiedade e alarme, e claro, de grande desconforto da alma. E somente o encontro final e pessoal com Cristo pode aplacar este peso que é colocado pelo Espírito Santo na alma, que na verdade é a convicção do peso do fardo do próprio pecado da pessoa que está debaixo de tal convicção.
É este estado de angústia da alma que conduzirá ao necessário arrependimento do pecado, para a salvação.
É para se estranhar portanto que multidões em lugares ditos de adoração aleguem estar se convertendo sem que haja este estado anterior de compulsão da alma em angústia em busca da salvação.
Satisfação com supostas respostas de Deus a determinados pedidos de oração não configuram de modo nenhum evidência de genuína conversão.
Aquele que se considera primeiro como um pecador, e então como um sofredor: se ele se arrepende dos seus pecados terá boa razão para esperar alívio dos seus sofrimentos; mas se ele segura os seus pecados, enquanto suplica por misericórdia a Deus, rapidamente saberá que não experimentará nenhum alívio para os seus desconfortos. Ele tem que entender que é a salvação pela graça de Deus que é o verdadeiro conforto cristão, e que isto nunca pode ser ganho por meios secundários.”