Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação do Prefácio  da Oração do Pai Nosso – Parte 2
 
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
 
Pai nosso que estás nos céus,”  
 
Deus é um Pai perfeitamente educador e pode reformar os seus filhos quando eles tomarem cursos ruins. Deus pode mudar os corações dos seus filhos, pelo Seu próprio poder.
Assim, a honra daqueles que têm a Deus por Pai é maior que a que é conferida aos príncipes da terra, pois são preciosos para Deus. Eles são guiados e protegidos por Deus, sendo guardados como um tesouro precioso (Mal 3.17). Os nomes dos filhos de Deus estão escritos no Livro da Vida (Fp 4.3) e jamais serão retirados dali (Apo 3.5).   
Deus faz de seus filhos por adoção mais achegados do que os anjos, porque os anjos são amigos de Cristo, mas os cristãos são os membros do Seu corpo. E que consolo é isto para os santos, porque os filhos de Deus são menosprezados neste mundo, e injuriados e caluniados, mas Deus porá honra nos seus filhos no último dia e os coroará com felicidades imortais.
Mas estes membros de Cristo são filhos por adoção por causa da grande misericórdia de Deus. Por meio dela obtiveram acesso a todas estas graças e à maior delas que é a salvação de suas almas da condenação eterna. Por isso é um ato de grande ingratidão, um grande abuso do amor de Deus, apanhar as jóias das Suas misericórdias, e fazer uso delas para pecar.
Deus faz infinitamente mais por Seus filhos do que pelos outros, pois plantou a Sua graça neles, e deu somente a eles poderem participar da Sua intimidade e favor, então pecar deliberadamente contra a Sua bondade paterna é um ato de traição e rebeldia. Somente os cristãos podem pecar contra o sangue precioso de Cristo, porque foi somente a eles que o Seu sangue purificou. E portanto, isto é uma grande ingratidão para com o grande favor que recebemos de nosso Pai divino. Assim, é um sinal de filiação a Deus quando podemos lamentar pela odiosidade dos nossos pecados, porque certamente o Espírito Santo nos convencerá disto.   
Somente os verdadeiros filhos de Deus podem ter um temor santo dEle, especialmente de entristecerem o Espírito Santo com os seus pecados.  Eles também terão um santo temor pela Sua Palavra e a honrarão esforçando-se para pô-la em prática em suas próprias vidas.
Estes filhos de Deus confiam inteiramente que foi por causa da eleição pela graça e misericórdia de Deus que foram feitos Seus filhos, e não por qualquer coisa boa que existisse neles próprios. Eles sabem que é por pura graça e misericórdia que irão para o céu.
Se nós amarmos nosso Pai divino, nós seremos defensores para ele, pois nos levantaremos na defesa da Sua verdade. Somente os filhos de Deus não podem ouvir o Seu nome sendo desonrado e permanecerem calados. Cristo tem confirmado o nosso nome no céu e nós nos envergonharemos de confirmar o nome dele na terra?
Um filho de Deus o amará acima de todas as demais coisas: sejam propriedades, honrarias, fama etc. Um filho de Deus procurará acima de tudo honrar o Seu Pai divino (Mal 1.6). E a melhor maneira de demonstrar esta honra ao Senhor é tendo um temor reverente dEle. E isto consiste basicamente em não ousarmos fazer qualquer coisa que ele tenha proibido na Sua Palavra.   
Aquele que é filho de Deus se assemelha a Ele. Ele traz a imagem do Seu Pai celestial e busca renovar-se e crescer diariamente nesta imagem dia a dia (Col 3.10). Ele busca se assemelhar mais e mais em santidade que é a glória da divindade. A santidade de Deus é a pureza intrínseca da Sua essência. Aqueles que têm a Deus por Seu Pai participam da natureza divina, entretanto não da Sua essência divina, contudo trazem a semelhança divina, e assim como o selo deixa a sua impressão na cera, os cristãos têm a santidade de Deus estampada e impressa neles. 
Nós sabemos que Deus é nosso Pai porque nós temos o Espírito Santo habitando em nós. E o Espírito intercede por nós e testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
Os filhos de Deus são aqueles que foram renovados pelo Espírito Santo, e esta renovação é efetuada sobretudo na regeneração, que é chamada de um nascimento do Espírito (João 3.5). Esta regeneração é uma transformação ou mudança de natureza, a que Paulo chama de renovação da mente (Rom 12.2). Aquele que nasce de Deus tem um coração novo, não em substância, mas em qualidades. As cordas do violão podem ser as mesmas, mas a melodia é alterada. Esta regeneração é também chamada de circuncisão do coração (Col 2.11). E como na circuncisão do prepúcio havia uma dor na carne, assim na circuncisão espiritual há uma dor no coração, há uma tristeza que surge de um senso de culpa pessoal por causa do nosso pecado, e da ira de Deus contra o pecado. A regeneração afeta a pessoa toda (espírito, alma e corpo – I Tes 5.23).  E é a regeneração a fonte de toda a verdadeira alegria, porque faz com que Deus seja agora nosso Pai. E então podemos dizer: “Pai nosso que estás nos céus”. Dizemos Pai nosso porque pela regeneração fomos adotados numa grande família de muitos irmãos, que tal como nós, também foram regenerados pelo Espírito.    
Nós sabemos que Deus é nosso Pai porque somos guiados pelo Espírito (Rom 8.14), e este é mais um sinal dos que são filhos de Deus: eles são dirigidos pelo Espírito. Não basta que um recém-nascido viva e chegue ao mundo, ele deve ser devidamente cuidado pelos seus pais. E não ocorre algo diferente disso em relação aos novos convertidos.
Ninguém que não permita ser conduzido pelo Espírito Santo tem o direito de chamar a Deus de Pai. Aqueles que são conduzidos pelo espírito de Satanás podem sim dizer: Pai nosso que estás no inferno. 
Aqueles que promovem divisões e escândalos no corpo de Cristo, por ensinarem de modo contrário à sã doutrina, não têm o direito de dizer Pai nosso que estás nos céus, porque não agem como devem agir os que são verdadeiramente filhos de Deus: Assim, todo cristão autêntico fará bem em se afastar deles.
“Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.” (Rom 16.17). 
Estes, como diz Paulo, não conhecem o caminho da paz (Rom 3.17).  
O diabo produziu a primeira grande divisão no céu. Assim, aqueles que criam divisões têm por Pai ao diabo. Se o que está sendo pregado e ensinado é a sã doutrina, se há paz entre os cristãos na comunhão do Espírito, e alguém dizendo-se ser também filho de Deus levanta-se contra isto, na verdade seu verdadeiro pai é o diabo que é o pai de contendas e divisões contra a verdade.
O reino de Satanás cresce fazendo divisões. Crisóstomo citou que quando ocorreram muitas conversões na igreja de Corinto, Satanás se apressou em represar a corrente de conversões, lançando a semente da discórdia e da divisão entre eles. E o diabo sabe muito bem que Cristo não pode ter o corpo dele dividido, pois sendo corpo, deve ser achado em unidade.
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/02/2013
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras