Interpretação do Prefácio da Oração do Pai Nosso – Parte 3
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
“Pai nosso que estás nos céus,”
Se Deus é um Pai, então podemos deduzir que tudo o que ele dá aos seus filhos é por amor. Se lhes dá prosperidade é por amor.
E este amor não exclui o fato dEle nos disciplinar e corrigir (Apo 3.19).
Gregório de Nanziazeno dizia que as aflições são setas afiadas, mas que elas são atiradas pela mão de um Pai amoroso.
A correção é a escola do caráter. Deus humilha com amor para poder nos purificar. E a correção é tão necessária quanto o pão diário. E por meio das aflições Deus pode acelerar o nosso crescimento em graça. Quando a luz for retirada nós podemos ainda ver um arco-íris no céu. A fé como a estrela, brilha mais forte na noite escura das aflições.
E tal como José falou rudemente aos seus irmãos, contudo havia nele um coração cheio de amor por eles, de igual modo ainda que o olhar de Deus não seja amistoso por causa das nossas transgressões, ainda há nEle um coração de Pai cheio de amor.
Por isso, por maior que seja a prosperidade dos ímpios neste mundo, quão triste é o caso deles porque não têm a Deus como Pai. Eles não podem dizer Pai nosso que está no céu. Eles podem dizer nosso Juiz, mas não nosso Pai. Deus não é o Pai deles. Ele afirma que nunca os conheceu (Mt 7.23), e é por isso que o ímpio quando morre em seus pecados não pode esperar nenhuma misericórdia de Deus como um Pai.
Então todos aqueles que ainda são estranhos para Deus devem se esforçar para entrarem nesta família divina, abandonando a impiedade e se voltando para a prática da justiça evangélica, até que possam dizer Pai nosso que estás no céu, em seus corações.
Assim como o mar cobre grandes rochas, o mar da compaixão de Deus pode cobrir grandes pecados, e assim ninguém deve ser desencorajado de ir à presença de Deus rogando-Lhe por misericórdia e perdão dos seus pecados.
E nós devemos ser humildes para que o Espírito Santo nos transforme e ensine a sermos verdadeiros filhos de Deus. Nós podemos ler muitas verdades na Bíblia, mas nós podemos não conhecê-las em nosso viver, salvo se Deus, pelo Seu Espírito as aplicar às nossas almas.
Deus não somente ensina nossos ouvidos, mas nossos corações, e ele não informa somente nossa mente, mas nossas vontades e inclinações. Nós nunca aprendemos até que Deus nos ensine. Se Ele é nosso Pai, Ele nos ensinará como ordenar nossos negócios com discrição (Sl 112.5) e como nos conduzir sabiamente. Ele nos ensinará o que responder quando nós estivermos diante de governadores e Ele porá palavras em nossas bocas (Mt 10.18-20).
Deus repreenderá os grandes do mundo para não prejudicarem os Seus filhos, porque eles são sagrados para Ele, e não permitirá que lhes façam injustiças sem o Seu consentimento e que não seja para o próprio aproveitamento e correção deles. Ele dirá em relação a eles: “Não toqueis nos meus ungidos” (Sl 104.14,15). E por ungidos devemos entender os filhos de Deus que têm a unção do Espírito Santo.
Deus se encanta na companhia de seus filhos e Ele ama ver o semblante deles e ouvir a sua voz (Cantares 2.14). Se dois ou três de seus filhos se reunirem, Ele estará entre eles.
E assim como um pai se compadece das fraquezas de seus filhos, Deus também se compadece das nossas e por isso usará o Seu bálsamo para nos curar (Is 57.18).
Sendo nosso Pai Deus misturará Sua misericórdia a todas as nossas aflições. Na arca da aliança foi colocada não somente a vara da correção como também o pote de maná.
Uma aflição vem prevenir a entrada em pecados, então há misericórdia numa aflição. Assim como um pintor usa luzes e sombras para compor o seu quadro, do mesmo modo Deus combina luzes e trevas, cruzes e bênçãos para a nossa felicidade.
Se Deus é o nosso Pai o mal não prevalecerá contra nós. Satanás é o inimigo principal dos santos, e luta contra os cristãos num sentido militar com as suas tentações, visando à queda deles. Contudo, de nenhum modo ele pode prevalecer contra os filhos de Deus.
Se Deus é nosso Pai nenhum mal real nos sucederá.
“nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.” (Sl 91.10).
Não é dito nenhuma dificuldade, mas nenhum mal.
Qual é o dano que o forno pode fazer ao ouro? Ele não o purificará?
Qual é pois o dano que pode fazer a aflição ao cristão? Ela o purificará.
Nenhum mal tocará um santo. Quando a serpente disser a eles que envenenou a água, nada lhes sucederá porque Cristo tirou o veneno de todas as aflições, para que elas não possam prejudicar os filhos de Deus.
Se Deus é o nosso Pai Ele se levantará entre nós e o perigo. Um pai evitará que seu filho seja subjugado pelos perigos, e será um escudo de proteção para ele.
“9 E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales;
10 porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.” (At 18.9,10).
“5 Pois no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no recôndito do seu tabernáculo me esconderá; sobre uma rocha me elevará.” (Sl 27.5).
Nenhum príncipe é tão bem vigiado quanto qualquer cristão, porque Deus dá ordem a seus anjos a respeito deles.
Se um só anjo matou 185.000 assírios numa só noite (II Reis 19.35), o que não poderia fazer um exército de anjos? Os anjos são guardas alertas, vigilantes, velozes e poderosos e estão encarregados de defender os filhos de Deus. Eles são descritos com asas para indicar a velocidade com que eles se movimentam para nos socorrer.
Mas Deus permitirá que muitas aflições alcancem seus filhos para o bem deles. Foi bom para Jacó que houvesse escassez na terra, porque foi o meio de ser conduzido novamente a José. Assim, por vezes, os filhos de Deus veem o vazio do mundo para que eles possam se familiarizar mais com a plenitude de Cristo. Mas se Deus vir que será bom para eles terem mais das coisas boas da terra, eles as terão, porque Ele não deixará que lhes falte qualquer coisa boa que seja de fato útil para eles.