Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação do Prefácio  da Oração do Pai Nosso – Parte 4
 
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
 
Pai nosso que estás nos céus,”  
 
Se Deus é nosso Pai, todas as promessas da Bíblia pertencem a nós. Os Seus filhos são chamados de herdeiros da promessa (Hb 5.17). O ímpio, enquanto em sua impiedade,  não tem direito a requerer qualquer promessa da Bíblia.  
Deus faz que Seus filhos sejam vencedores. Eles vencem as suas próprias luxúrias e o mundo. E se um filho de Deus perde uma batalha, no entanto a sua vitória completa da guerra está assegurada.
“porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.” (I João 5.4).
“Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou.” (Rom 8.37).
Se Deus é nosso Pai nós podemos ter conforto na morte, porque é pela morte que vamos ao encontro do nosso Pai. No caso dos cristãos a morte é o amigo que os levará à casa do Pai. E quão contentes ficam os filhos quando eles vão para casa.  A morte foi um conforto para Cristo porque Ele desejava ir ter com o Pai.
“Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.” (João 16.28).
E se Deus é nosso Pai, ele não nos deserdará. Os filhos de reis às vezes foram deserdados pela crueldade de usurpadores; como o filho de Alexandre o Grande que foi deserdado pela violência e ambição dos generais do seu pai; mas que poder na terra poderá impedir os herdeiros da promessa de entrarem na posse da herança deles? Os homens não podem, e Deus não cortará o vínculo. Os filhos de Deus nunca podem ser degradados ou deserdados, e o seu Pai divino não os rejeitará como filhos. É evidente que os filhos de Deus não podem ser deserdados finalmente, em virtude do decreto eterno do céu. O decreto de Deus é o pilar e base dos quais a perseverança dos santos depende. Aquele decreto amarra o nó da adoção de modo tão forte que nem pecado, morte, nem inferno, podem quebrá-lo.
“e farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim.” (Jer 32.40).
Os filhos de Deus não podem ser lançados fora porque é dito deles serem membros do Seu corpo, do qual Ele é a cabeça. E os nervos e ligamentos que mantêm unidos estes membros do corpo uns com os outros e com a cabeça não podem ser removidos sem que se desfaça o corpo. Como seria possível admitir a simples ideia de que se pudesse tolerar a permanência de um membro morto neste corpo no qual pulsa continuamente e para sempre a vida eterna?
Todos os filhos de Deus que andam em fidelidade com Ele haverão de experimentar o cuidado pleno do seu Pai para com eles:
“Confia no Senhor e faze o bem; assim habitarás na terra, e te alimentarás em segurança.” (Sl 37.3).
“Os leõezinhos necessitam e sofrem fome, mas àqueles que buscam ao Senhor, bem algum lhes faltará.” (Sl 34.10).
“Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hb 13.5).
Se Deus é nosso Pai nós seremos seus imitadores (Ef 5.1). Nós o imitaremos o seu modo de falar, gestos e comportamento. E devemos imitá-lo no perdão e na misericórdia. 
 E se Deus é nosso Pai nós seremos obedientes à Sua vontade até a morte. Os dez mandamentos serão como dez cordas de um instrumento celestial que estaremos sempre afinando e tocando a canção da obediência.a Deus em completa harmonia.
Todo cristão verdadeiro tem em si o espírito dos mártires. Ele prefere sofrer por causa da verdade do que ver a verdade sofrer.
“Então Paulo respondeu: Que fazeis chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” (At 21.13).
“E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.” (Apo 12.11).
O pronome possessivo “nosso”  em “Pai nosso”  insinua que deve haver fé nas nossas orações. Fé de que estamos nos dirigindo a alguém que possui tal relação de paternidade conosco e que certamente nos ouvirá se estivermos orando segundo a Sua vontade.
A fé é a respiração da oração, e sem a qual ela estará morta, sem este ar para inspirar, e é por isso que Tiago a chama  de oração da fé (Tg 5.15). A fé é um dos componentes da oração, assim como o óleo do tabernáculo era composto de vários elementos (Ex 30.23,24). E assim a fé é o principal ingrediente da oração que faz com que ela suba a Deus como doce incenso.   
Se a oração é a chave da porta do céu, a fé é a mão que a gira.
Lembremos que a oração pode sofrer frequentemente naufrágios por colidir na rocha da incredulidade. Oremos pois com fé que seremos ouvidos por aquele que não é Pai de estranhos, mas nosso próprio Pai.
E orar com fé significa orar por aquilo que Deus nos prometeu. Onde não há nenhuma promessa, nós não podemos orar com fé.
 É orar em nome de Cristo, porque orar no nome de Cristo é orar com confiança nos Seus méritos. Em Sua obra Ele mereceu receber do Pai muitos benefícios para nós. E é com base nestes méritos e não nos nossos que nós devemos nos dirigir ao nosso Pai. Não é reconhecendo méritos em nós, mas reconhecendo que somos indignos pecadores e que tudo em que pudermos ser ouvidos pelo Pai terá sido pelos méritos de Cristo, que seremos de fato ouvidos.
Assim uma oração com fé é uma oração humilde. Devemos lembrar do que sucede com as orações de pessoas presunçosas pelo exemplo que Jesus nos deu na parábola do publicano e do fariseu (Lc 18.11,12). A oração do publicano foi ouvida e não a do fariseu porque no publicano havia um senso da sua própria indignidade.     
Um dos nomes de Deus é “tu que ouves a oração” (Sl 65.2). E Deus está pronto não somente a ouvir como também a responder a oração. Devemos lembrar que a oração do Pai nosso é o modelo apresentado por Jesus aos apóstolos, no qual devem estar baseadas as nossas orações. 
“No dia em que eu clamei, atendeste-me; alentaste-me, fortalecendo a minha alma.” (Sl 138.3).
A força interior de Davi foi uma resposta de oração e isto deveria nos encorajar a buscarmos ser fortalecidos na graça pelas orações que dirigirmos ao Senhor.  
Quando nós oramos a Deus pedindo-Lhe que nos dê corações santos, não há nada que mais Lhe agrade do que isto, porque a Sua grande vontade para conosco é que sejamos santos (I Tes 4.3). E do mesmo modo quando oramos pedindo que nos faça viver no Seu amor, porque Deus é amor.  
“Eu dizia no meu espanto: Estou cortado de diante dos teus olhos; não obstante, tu ouviste as minhas súplicas quando eu a ti clamei.” (Sl 31.22).
Assim, a fraqueza não tornará nula as orações dos santos. Havia muita incredulidade naquela oração. A fé de Davi tremeu e desfaleceu, contudo Deus ouviu a sua oração, porque Davi era um filho amado de Deus.
O Espírito nos assiste em nossas fraquezas assim como havia assistido a Davi. Então devemos implorar-Lhe que nos capacite a dizer do fundo do nosso coração:” Pai nosso”, e o Espírito nos fará orar com suspiros e gemidos e fortalecerá a nossa fé. O Espírito nos levará à presença do Pai, e pelo mesmo Espírito diremos “Abba Pai” (Gl 4.6). E quando o Espírito é derramado em nossos corações as portas dos céus são destrancadas para nós. 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/02/2013
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras