Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação da 1ª Petição  da Oração do Pai Nosso – Parte 2
 
“Santificado seja o teu nome”  - Mateus 6.9
 
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
 
Quando o rei da Assíria infamou o nome do Senhor, Ezequias se dirigiu ao templo e apresentou a carta blasfema diante de Deus (I Rs 37.17). Sem nenhuma dúvida ele deve ter molhado a carta com suas lágrimas e tudo indica que não estava temeroso em perder a sua própria vida e reino, a ver o Senhor perder a honra da Sua glória entre os homens na terra.
Nós santificamos o nome de Deus quando nós damos a mesma honra que nós damos ao Deus Pai, ao Deus Filho. “Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.”  (João 5.23).
Os Socinianos negam a divindade de Cristo, afirmando que ele é um mero homem: que está abaixo dos anjos. A natureza humana, considerada em si mesma, está abaixo da angelical (Sl 8.4,5), e assim eles refletem desonra ao Deus da glória.
Nós temos que dar honra igual tanto ao Pai quanto ao Filho. Nós temos que crer na divindade de Cristo; porque ele é o resplendor da glória do Pai, e a expressa imagem da sua pessoa (Hb 1.3). A  Divindade está em Cristo, e ele é Deus porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Col 2.9), de maneira que Ele pode receber os títulos divinos de onipotência (Hb 1.3); onipresença (Mt 28.20); o poder de conceder perdão de pecados com a anulação da culpa (Mt 9.6); igualdade com o Pai tanto em poder quanto em dignidade (João 5.21,23).
Quando nós cremos na Divindade de Cristo, e construímos nossa esperança de salvação na base do Seu mérito; quando nós vemos que a justiça da lei, nem a de anjos pode nos justificar, mas somente o sangue de Cristo; isto é honrar e santificar o nome de Deus. Deus nunca terá o nome dele santificado a menos que o Seu Filho seja honrado.
Nós santificamos o nome de Deus defendendo as Suas verdades. Muito da glória de Deus se baseia nas Suas verdades. As verdades dele são os Seus oráculos. Ele nos confiou as Suas verdades como um tesouro; nós não temos uma jóia mais rica para confiar a Ele do que nossos espíritos, e nem Ele tem uma jóia maior para nós do que as Suas verdades.. As verdades dEle compartilham da Sua glória. Quando nós formos defensores zelosos das Suas verdades, nós estaremos honrando e santificando o nome dEle. Atanásio foi chamado de bastião da verdade; porque ele se levantava na defesa das verdades de Deus contra os asiáticos, e assim era uma coluna no templo de Deus.
Nós não podemos ter paz sem verdade, porque a paz sem verdade não Interessa aos filhos de Sião porque eles têm que defender as grandes doutrinas do evangelho; como a doutrina da Trindade, a justificação pela fé, e a perseverança dos santos. Nós somos incentivados a combater seriamente, e a nos esforçarmos como em agonia pela doutrina da fé (Judas 3). Isto porque afirmar a verdade traz grandes rendas ao céu e santifica o nome de Deus. Alguns podem afirmar cerimônias e ritos, mas não a verdade.
Nós santificamos o nome de Deus quando nós somos instrumentos da conversão de outros, tanto quanto possamos; usando de todos os expedientes santos, serviço, oração, exemplo, esforçando-nos pela salvação de outros, combatendo segundo as regras estabelecidas por Deus. Como fez Mônica, a mãe de Agostinho, que labutou para a conversão dele! Ela teve mais dores de parto para trabalhar o novo nascimento dele do que o seu nascimento natural.
Nós santificamos o nome de Deus quando nós difundimos o doce aroma da piedade e propagamos a religião a outros (religião no sentido de reconciliação com Deus); quando não somente honramos a Deus, mas nos tornamos instrumentos para conduzir outros a honrá-lo.
Certamente quando o coração estiver temperado com graça, haverá um esforço para temperar outros. A glória de Deus é tão querida a um santo quanto a sua própria salvação; e esta glória pode ser promovida por ele através de esforços para a conversão de almas. Todo convertido é um novo membro acrescentado a Cristo. Assim, nós devemos santificar o nome de Deus lutando para levar a   devoção a outros; especialmente aqueles que estão relacionados a nós, ou que estão debaixo do nosso teto, para a exclusiva honra de Deus.
Que nossas casas sejam chamadas de Betel, isto é, casa de Deus e que sejamos como a família de Josué, que disse: “eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js 24.15). E é uma maior santificação do nome de Deus fazer com que nossa casa seja uma igreja, tal como a casa de Ninfa da igreja de Laodiceia (Col 4.15). Não são grandes templos repletos de pessoas nem sempre atentas à verdadeira adoração e devoção a Deus que santificam e honram o Seu nome. Mas onde houver verdadeira piedade e devoção, tal como na casa de Ninfa onde funcionava uma Igreja, que foi achada digna de ser saudada pelo apóstolo Paulo.   
Perfumem suas casas com oração, e meditem na Palavra de modo que seja um gotejar santo.
Nós santificamos o nome de Deus quando nós preferirmos a honra do Seu nome antes das coisas que nos sejam mais queridas. Quando nós preferimos a honra do nome de Deus antes da nossa própria honra. Os santos antigos estavam dispostos a honrar o nome de Deus, suportando repreensão, tal como Davi o expressa no Salmo 69.7:
“7 Porque por amor de ti tenho suportado afrontas; a confusão cobriu o meu rosto.
8 Tenho-me tornado um estranho para com meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de minha mãe.”. (Sl 69.7,8).
E nós vemos que o seu amor e devoção a Deus fez com que fosse considerado como um estranho por seus irmãos. Mas Davi sustentou o testemunho da verdade por causa da honra do nome de Deus.
“Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.”  (Mt 10.37).
Nestas palavras do evangelho de Mateus Jesus afirma clara e expressamente que a honra do nome de Deus deve vir antes da que se atribui a pais e a filhos.
Santificar o nome de Deus implica afastar-se da amizade até mesmo com irmãos na fé que andam contra a verdade e resistem ao reto ensino da Palavra, e que deste modo desonram o nome de Deus com o seu procedimento. A norma bíblica é clara quanto a isto, porque está baseada no princípio que a honra do nome do Senhor deve vir antes de todas as demais coisas e relacionamentos que estimamos, isto é, se o preço que deve ser pago para continuarmos honrando e santificando o nome de Deus deve ser o da separação de pessoas que nos sejam queridas, como nossos irmãos na fé e amigos, não há outra forma de se santificar o nome de Deus a não ser pagando o preço necessário.
Isto não significa tê-los como inimigos, ou deixar de amá-los, mas sim, de não partilhar da mesma desonra que eles tributam ao nome do Senhor.
“Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a doutrina que de nós recebestes.” (II Tes 3.6).
Foi para que o nome de Deus não seja desonrado que Jesus ordenou que todo cristão que não se submeter à disciplina da Igreja seja considerado como gentio e publicano, isto é, como um estranho por seus demais irmãos na fé. 
 O profeta Elias foi chamado de perturbador de Israel; o profeta Isaías de portador de fardos; e o profeta Sofonias de profeta amargo; mas eles carregavam estas acusações como coroas sobre as suas cabeças. Não admira que Jesus chame de bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa da justiça, isto é, por causa do grande amor que eles têm pela honra de Deus na sustentação do testemunho da verdade, diante dos seus opositores, que consideram a Palavra de Deus, um fardo, um peso para eles, porque querem viver segundo a carne e não segundo o Espírito.
Na verdade não há como se argumentar com aqueles que deliberam andar na carne porque pessoas carnais não podem entender as coisas espirituais que se discernem espiritualmente por aqueles que andam segundo o Espírito e não segundo a carne.  Seria um debate vão tentar convencê-los das coisas santas que a carne deles rejeita tão veementemente. Por isso se deve orar por eles e ficar na expectativa que sejam livrados dos laços do diabo, no qual foram aprisionados (II Tim 2.26). Entretanto, se estes se permitem estar ainda debaixo da instrução da Igreja, que sejam ensinados com mansidão, para que não tenham ocasião para revidar ou blasfemar, enquanto ficamos na expectativa de que Deus lhes conceda arrependimento, de maneira que possam então conhecer a verdade do evangelho como ela é de fato, de maneira que sejam livrados dos enganos do diabo e da imaginação deles, em falsas convicções relativas à verdade.      
Assim, a honra do nome de Deus deve ser mais querida a nós do que a nossa própria honra, tal como Moisés que estimou o vitupério de Cristo maior que as riquezas e tesouros do Egito (Hb 11.26).
Os  apóstolos ficaram alegres pelo fato de terem sido considerados dignos de sofrer por causa do nome de Cristo. 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 05/02/2013
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