Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação da 2ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 2
 
“Venha o teu reino.”  - Mateus 6.10
 
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
 
A segunda coisa insinuada na petição venha o teu reino é que nós oramos contra o reino do diabo, de maneira que o seu reino possa ser removido do mundo. O reino dele está em oposição ao reino de Cristo, e então quando nós oramos venha o teu reino nós estamos pedindo contra o reino de Satanás. 
Satanás tem um reino que ele conquistou por usurpação do gênero humano no paraíso. Ele tem um trono (Apo 2.13). E ele fixa este seu trono no coração dos homens. Ele não quer as bolsas dos homens, mas os seus corações. Ele deseja ser adorado (Ef 2.2; Apo 13.4). O império de Satanás é muito grande. A maioria dos reinos mundiais pagam tributo a ele. E o seu reino é um reino de impiedade e de escravidão.
O reino de Satanás é um reino de impiedade. Nada mais do que pecado entra no seu reino. Assassinato e heresia, luxúria e deslealdade, opressão e divisão, e o comércio constante que se faz nos seus domínios. Ele é chamado de espírito imundo (Lc 11.24). Que mais é propagado no seu reino do que o mistério da iniquidade?
O reino de Satanás é um reino de escravidão porque nele faz  todos seus escravos. O pecador é seguro cativo debaixo da tirania severa do diabo. Satanás é um usurpador e um tirano; ele é um tirano pior do que qualquer outro. Outros tiranos regem apenas sobre o corpo, mas o reino de Satanás rege sobre a alma. Ele monta nos homens como nós fazemos em relação aos cavalos.
Satanás não dá descanso aos seus escravos, e ele os alimenta com luxúrias venenosas para o dano de suas almas (I Tim 6.9). Quando ele entrou em Judas ele não somente o enviou aos sacerdotes para trair a Cristo como também não deu descanso à consciência dele até que o conduzisse ao suicídio.
Então quando oramos “venha o teu reino” nós estamos pedindo que o reino de Satanás seja destruído, removido do mundo, para que haja somente o reino de Jesus.
Quando nós oramos “venha o teu reino” nós pedimos que o reino da graça entre em nossos corações. Este é o reino que é justiça (Rom 14.17); o reino de Deus que está dentro de nós (Lc 17.21).
Por que a graça é chamada de reino? (Rom 5.21)
Porque, quando a graça vem a alguém, há um governo real montado na alma. A graça governa a vontade e os afetos, e traz o homem em sujeição a Cristo; subjugando luxúrias e mantendo a alma em modo santo, justo e piedoso.  
Por que é preciso orar para que este reino da graça possa entrar em nossos corações?
(1) Porque, até que o reino da graça venha, nós não temos nenhum direito à aliança da graça.
(2) A menos que o reino da graça seja estabelecido em nossos corações, nossos oferecimentos mais puros serão considerados imundos por Deus. Eles podem ser bons em seus efeitos terrenos, mas não poderão agradar de maneira alguma a Deus, porque não foram feitos por corações regenerados e santificados pelo sangue de Jesus, e que portanto, não tinham a marca da Sua graça.
(3) Nós temos necessidade de orar para que o reino da graça possa vir e entrar em nossos corações, porque sem isto nós somos repugnantes aos olhos de Deus, por não termos sido justificados e limpos dos nossos pecados; uma vez que somente a graça de Jesus pode efetuar tal trabalho. O pecado transforma o homem num filho do  diabo e somente a graça pode quebrar tal filiação e fazer com que o homem seja adotado como filho de Deus.
(4) Até que o reino da graça venha um homem está exposto à ira de Deus.
(5) Até que o reino da graça venha um homem não pode morrer com conforto. É somente nos braços de Cristo que se pode olhar a face da morte com alegria. 
Há muitas ilusões sobre a graça:
(1) os homens pensam que eles têm o reino da graça nos seus corações porque eles têm os meios de graça. Eles vivem onde a trombeta prateada do evangelho soa e pensam que já possuem a graça por somente ouvirem o evangelho.
Ai! esta é uma falácia; nós podemos ter os meios de graça, e ainda o reino da graça pode não ter sido estabelecido nos nossos corações. Nós podemos ter o reino de Deus perto nós, mas não em nós; o som da palavra em nossas ouvidos, mas não o Salvador em nossos corações. Roupas quentes não podem aquecer um homem morto.
(2) os homens pensam que eles têm o reino da graça nos seus corações, porque eles têm alguns trabalhos comuns do Espírito Santo, a saber:
[1] eles têm grande iluminação de mente, conhecimento profundo, e quase falam como anjos caídos do céu; mas o apóstolo apresenta um  caso em que, depois que os homens foram iluminados, eles apostataram (Hb 6.4-6).
Mas que iluminação curta é esta?
A iluminação de hipócritas que não deixa após si uma marca de santidade. A mente está iluminada, mas o coração não é renovado. Um cristão que é somente cabeça, mas que não tem um coração segundo o coração de Deus.
[2] os homens têm convicções e peso de consciência relativos ao  pecado, eles viram o mal da maneira deles, e esperam que  o reino da graça venha junto; entretanto convicções são um passo para a graça, elas não são nenhuma graça. Não tiveram convicções Faraó e Judas? 
O que faz com que estas convicções sejam abortadas? Em que eles falham?
Estas convicções superficiais são como a semente que caiu entre pedras e porque suas raízes não se aprofundaram a vida da planta murchou e foi de duração muito curta (Mt 13.5).  Estas convicções são como flores que caem sem se transformarem em frutos. Estas convicções são como o cervo que foge das flechas do arqueiro para não ser atingido por elas. São apenas uma tentativa de fuga das más consequências do pecado, mas não um sincero arrependimento de tristeza por causa do pecado que conduz o homem a desejar e efetivamente viver para Deus.
 [3] os homens começaram alguma reforma de vida, e então eles pensam que o reino da graça certamente veio a eles; mas pode haver ilusão nisto. Um homem pode fazer os seus juramentos de que deixará o pecado por medo do inferno, ou porque lhe está trazendo vergonha ou penúria, mas o seu coração ainda ama o pecado (Os 4.8). Estes são como a esposa de Ló quando saiu de Sodoma. Estes são como a serpente que muda de pele mas mantém intacto o seu veneno. Eles desejam melhora de vida confessando a Cristo mas sem deixar de amar o seu modo de vida pecaminoso.
Assim esta reforma é apenas no comportamento exterior porque o pecado continua reinando no coração, e o seu reino não foi expulso de fato pelo reino da graça.
Nós podemos saber que a graça entrou em nosso coração somente por meio da fé. A fé é a jóia mais sagrada do coração humano. A fé nos corta da oliveira brava da natureza e nos enxerta na oliveira santa que é Cristo. A palavra hebraica para fé é emunah, e significa firmar, radicar, ser fiel, verdadeiro, estável. Fé no hebraico tem o sentido de raiz que sustenta a árvore. E a raiz além de sustentar, tem a função de nutrir. Então ao designar a fé como o meio pelo qual a graça é sustentada e nutrida, Deus nos deu um firme fundamento, de maneira que se diz que o justo viverá pela fé (Hc 2.4).
E a verdadeira fé é forjada pelo ministério da palavra, porque vem por se ouvir a pregação da Palavra de Deus (Rom 10.17).   
 A verdadeira fé é no princípio pequena como um grão de mostarda, e está cheia de dúvidas e temores. É tão pequena que um cristão não pode discernir se ele tem fé ou não.
O trabalho de fortalecimento da fé é longo e árduo, e demanda muitos clamores do coração, muitas orações e lágrimas, porque está empenhada num combate espiritual. A alma sofre muitas humilhações dolorosas antes de que a criança da fé nasça.
Mas uma fé verdadeira, ainda que pequena é suficiente para purificar. A fé justificadora faz isto num senso espiritual e remove as montanhas do pecado, e as lança no mar do sangue de Cristo.
Nós podemos conhecer que o reino da graça entrou no nosso coração tendo a graça do amor. E se nós amarmos a Deus corretamente, nós amaremos os seus mandamentos e a Sua presença nas suas ordenanças. 
Nós podemos conhecer que o reino da graça entrou no nosso coração por ter antipatia e oposição a todo tipo de pecado conhecido.
Mas um filho de Deus pode ter o reino da graça no seu coração e ainda não conhecer isto. É possível que a semente da Palavra esteja semeada no coração mas ainda não ter germinado. A semente não está perdida porque está escondida. 
Mas antes que o reino da graça entre no coração, deve haver alguma preparação para isto. O solo deve ser arado e preparado. É possível que o arado da lei não tenha se aprofundado o bastante para produzir a humildade de espírito necessária. 
 Deus não prescreve uma proporção exata de tristeza e humilhação. A Bíblia menciona a verdade da tristeza no arrependimento, mas não a medida. Alguns são mais pecadores do que outros, e têm que ter um grau maior de humilhação.
Há uma grande diferença entre a fraqueza da graça e a falta da graça. Um homem pode ter vida, embora esteja doente e fraco. A graça fraca não será menosprezada, mas apreciada. Cristo não a apagará e nem a quebrará. Uma graça fraca nos unirá a Cristo tanto quanto uma graça forte. Uma mão fraca de fé pode receber as esmolas dos méritos de Cristo tanto quanto a mão forte. 
A graça é como as águas que procedem do santuário de Deus e que vão subindo cada vez mais de volume à medida que elas avançam.
Um cristão pode ter um pouco de dureza no seu coração, mas não terá um coração duro de pedra. Um campo de trigo pode ter joio nele mas nós o chamados de campo de trigo.
 O reino da graça quando está estabelecido no coração traz juntamente a paz com ele, e por isso se diz que o reino de Deus é justiça e paz (Rom 14.17). Há uma paz secreta que procede da santidade. E a paz é a melhor bênção de um reino.  A paz é melhor que vitórias incontáveis. Assim, o reino da graça é um reino de paz. E se a graça é uma raiz, a paz é a flor que cresce a partir dela.  
O reino da graça enriquece a alma. Um reino tem as suas riquezas. É dito que um cristão é rico em fé (Tg 2.5).
O reino da graça dá firmeza ao coração (Sl 57.7). Antes que o reino da graça se estabeleça no coração ele é intranquilo, mas quando a graça vem o coração acha descanso e tranquilidade. 
Mas assim como o agricultor não pode esperar a colheita se não semear, de igual modo não se pode ter a graça sem trabalhar. Não devemos pensar que a graça nos virá como o maná veio a Israel no deserto, sem que precisassem arar ou semear. Não, nós devemos ousar, operar, suportar dores pela graça. Nossa salvação custou sangue a Cristo, e a nós custará suor.  
 A oração do Senhor ensina que devemos pedir “venha o teu reino”, e isto significa também que devemos pedir a Deus que nos dê o reino da graça. Nós devemos dizer que nós queremos este reino da graça, que nós queremos um coração humilde e que creia. Se Ele nos chama a sermos enriquecidos com a Sua graça, então sejamos importunos em nossas orações pedindo-lhe mais graça. 
Mas não esqueçamos que esta graça sempre nos virá na maioria das vezes por nos colocarmos debaixo da Palavra pregada, porque foi este o meio normal que Deus estabeleceu para nos dar e aumentar a nossa fé. O poder de Deus vai junto com a pregação da Sua Palavra, e se falta este poder, é porque a palavra que está sendo pregada não é propriamente a Sua Palavra.    
Por que nós devemos orar “venha o teu reino” quando o reino da graça já se encontra estabelecido na alma?
Nós devemos orar assim para que a graça seja aumentada e que o seu reino possa florescer ainda mais em nossas almas. 
Quando um cristão tiver maiores graus de graça, haverá mais óleo na sua lâmpada, o seu conhecimento será claro, o seu amor mais inflamado. A graça é capaz de graus e pode subir mais alto como o sol no horizonte. Não se dá conosco o que diz respeito a Cristo que recebeu o Espírito sem medida (João 3.34). Ele não pode ser mais santo do que Ele era, mas nós podemos ter mais santidade, e acrescentar mais cúbitos à nossa estatura espiritual. 
Quando o reino da graça aumenta o cristão terá mais força do que dantes. Aquele que tem as suas mãos limpas será cada vez mais forte. E terá forças para resistir à tentação, para perdoar seus inimigos, para sofrer aflições.  Não é fácil sofrer, e por isso o cristão tem que se negar antes que possa carregar a cruz. 
 O reino da graça aumenta quando o cristão entra em batalha contra as corrupções espirituais, quando ele se priva de praticar todo tipo de mal, e combate em seu interior as corrupções escondidas mais íntimas como orgulho, inveja, hipocrisia, pensamentos vãos, e todo tipo de confiança carnal.
“Ora, amados, visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.”  (II Cor 7.1).
Assim quando nós nos purificamos de toda a imundícia da carne e do espírito, a santidade é aperfeiçoada e o reino da graça aumenta e espalha seus territórios na alma. 
O reino da graça aumenta quando um cristão aprende a viver por fé (Gál 2.20).
O reino da graça floresce quando o cristão estiver cheio de zelo santo. O zelo é a chama dos afetos e transforma um santo num Serafim, palavra que no hebraico significa fogo. E a chama dos afetos produz fervor, e por isso este cristão ferverá tanto no testemunho do amor de Deus quanto no zelo pelo Seu santo nome quando estiver sendo desonrado. Ele lutará contra as dificuldades e nadará por Cristo num mar de sangue.  
O reino da graça aumenta quando um cristão é diligente tanto em relação à sua chamada particular, quanto à geral. Porque quando estamos familiarizados e convictos da nossa chamada nós somos mais úteis a outros.
O reino da graça aumenta quando um cristão se estabelece na convicção e amor à verdade. Quando a alma está edificada na rocha que é Cristo nenhuma tentação poderá vencê-la. Atanásio era invencível e inflexível em relação à sua estabilidade na verdade. Ele estava arraigado (com raízes) e edificado em Cristo (Col 2.7). E o enraizamento da árvore garante o seu crescimento.
Por que há necessidade que o reino da graça aumente?
Porque sem isto não é possível edificar o corpo de Cristo (Ef 4.8-12). Por isso Deus não somente estabeleceu ministérios e deu dons espirituais à Igreja, como também visa através do exercício deles à edificação do corpo de Cristo em amor até que todos cheguem à plena maturidade espiritual.
Nós precisamos do aumento do reino da graça porque nós temos muito trabalho para fazer e a seara é grande e poucos os obreiros. A vida de um cristão é trabalhosa: há muitas tentações para resistir, muitas promessas para crer, muitos preceitos para obedecer, de maneira que isto requererá muita graça. À medida que o trabalho aumente há necessidade também de um aumento da graça.
“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo.”  (I Cor 15.10).
Se o reino da graça não aumentar no coração ele se deteriorará e poderemos ouvir do Senhor que temos deixado o nosso primeiro amor (Apo 2.4). E as coisas que permanecem estão prontas para morrer (Apo 3.2). Embora a graça não possa expirar, no entanto pode murchar, e um cristão murcho perde muito da sua beleza e fragrância. Então que grande necessidade nós temos de orar “venha o teu reino.”, para que este reino da graça possa ser aumentado.
“antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”  (II Pe 3.18 a).
Por falta de aumento da sua graça,  um cristão perde a sua força e fica como um homem doente que não pode caminhar e trabalhar, as suas orações estão doentes e fracas, e é como se não houvesse nenhuma vida nele. E a pulsação do amor no seu coração quase não bate. 
Os cristãos são chamados de árvores de justiça (Isa 61.3) e a seiva desta árvore espiritual é a graça, sem a qual ela não pode crescer e ser saudável.
Eles são também chamados de luz do mundo, e uma luz fraca pouco pode iluminar, e assim há necessidade de que aumente, e o que a faz aumentar é a graça.
E como esta graça é de Jesus (At 15.11; I Cor 16.23; II Cor 13.13; Apo 22.21; II Tim 2.1; Ef 6.10; II Pe 3.18) todo aumento de graça deve portanto ser buscado nEle e na Sua Palavra. Toda a pureza que nós precisamos está nEle e procede da fé nEle. Assim também todo a fé, todo o amor, toda a força, toda a alegria e tudo o que diz respeito à vida espiritual que somos chamados a viver e a dar testemunho. 
Quanto mais o Espírito Santo iluminar o coração mais o cristão poderá conhecer as suas imperfeições e poderá confessá-las para que seja purificado e aperfeiçoado pela graça. 
 

 
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A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
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A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/ 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 07/02/2013
Alterado em 10/07/2014
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