Interpretação da 2ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 5
“Venha o teu reino.” - Mateus 6.10
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
Nunca se esqueça destas três graças que indubitavelmente conduzirão você ao reino divino:
1 – O conhecimento divino. O conhecimento é a pira de fogo que vai adiante de nós e nos ilumina no reino divino.
2 – Fé que nos é dada para o fim da nossa salvação.
3 – Amor a Deus. O céu está preparado para aqueles que amam a Deus.
Cultivemos a sinceridade porque o cristão sincero pode cair por falta em alguns graus da graça, mas ele nunca cairá do reino. Deus passará por cima de muitas quedas quando o coração está correto. Sinceridade significa simplicidade de coração, em quem o espírito não tem nenhuma malícia.
Nós somos sinceros quando servimos a Deus com o nosso coração, e quando não somente o adoramos, mas O amamos. O cristão sincero, apesar de ter nele um princípio duplo, de carne e espírito, não tem um coração dobre, porque o coração dele é para Deus e Ele o serve e adora em espírito.
Há sinceridade quando tudo o que fazemos é para a glória de Deus.
Não é nenhuma formalidade, mas fervor que nos trará o céu. Aqueles que são mornos estão a ponto de serem vomitados da boca de Cristo. O formalista é como Efraim, um bolo que não foi virado, e assim está quente de um lado e frio do outro. No exterior, quando adora a Deus, parece estar quente, mas na parte espiritual que é no interior do coração, ele está frio. Elias foi elevado ao céu numa carruagem de fogo de zelo. É através de violência que o reino do céu é conquistado.
Se nós desejamos estar no reino divino, nós devemos prestar atenção aos movimentos do Espírito Santo em nossos corações. Movimentos para oração, para arrependimento, para santificação, para louvor, para serviço. Quando ouvirmos o som de uma marcha sobre a copa das amoreiras nós devemos nos apressar para seguir a Deus que tem saído adiante de nós. Assim, quando nós ouvirmos dentro de nós uma voz nos inspirando secretamente para que nos mexamos ao exercício dos nossos deveres, nós devemos nos mover e obedecer o Espírito. Enquanto o Espírito trabalhar em nós, nós deveríamos trabalhar com o Espírito.
Muitos não se movem com estes movimentos do Espírito e assim o entristecem, e o Espírito retira a Sua ajuda. O Espírito é comparado ao fogo, e assim, se nós negligenciamos e resistimos aos seus movimentos nós apagamos o Seu fogo santo. É o Espírito que traz o céu aos nossos corações, e como poderemos ter isto apagando o seu fogo?
Nós conquistamos o reino do céu por uma obediência alegre e constante. A obediência é a estrada pela qual nós viajamos rumo ao céu. Muitos dizem que amam a Deus, mas se recusam a obedecê-lo. Aquele que ama o rei despreza as suas ordens?
A obediência deve ser constante e nos conduzir ao objetivo de Deus. Se um homem deve viajar cem quilômetros para chegar a uma cidade e desistir de prosseguir depois de ter percorrido 99 quilômetros, poderá se dizer dele que cumpriu mesmo em parte o seu objetivo? Assim nós devemos ser obedientes a Deus em tudo e com constância, até que atinjamos o objetivo.
Somente santidade será admitida no céu. Somente o puro de coração verá a Deus (Mt 5.8). A santidade é o idioma do céu, é a única moeda que circulará lá. Esta consideração nos deveria levar a nos limparmos de toda imundície da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus (II Cor 7.1).
Nós devemos nos empenhar na santificação conhecendo a malicia implacável de Satanás. Ele inveja o fato de que nós teremos um reino enquanto ele estará excluído dele. Ele moverá então todos os poderes do inferno para nos impedir de estar no reino, e tudo fará para prevalecer contra alguns.
Que grande maravilha é esta que alguém persevere e chegue ao reino do céu! Que grande maravilha é que haja tal coisa como a perseverança. Esta perseverança dos santos é construída em três pilares imutáveis. 1 – No amor eterno de Deus (Jer 31.3); 2 - Na aliança da graça (Jer 32.40); 3 - Na união dos cristãos com Cristo, em que Ele é a cabeça e eles os membros do Seu corpo. Assim como é impossível separar o fermento da farinha depois que eles são incorporados, de igual modo não se pode mais separar um cristão do amor de Deus que está em Cristo Jesus depois deles terem sido unidos um ao outro.
E o cristão persevera pela ajuda do Espírito Santo. É o Espírito que mantém a essência e semente da graça e faz com que as faíscas da graça produzam uma chama santa. Ele é o óleo que queima em nossas lâmpadas.
Cristo causa a perseverança e faz com que um santo continue caminhando em direção ao reino divino por meio da Sua poderosa intercessão. Ele é tanto um Advogado quanto Protetor do Seu povo para que os santos cheguem em segurança no reino do céu.
É ordenado aos cristãos que busquem o reino de Deus em primeiro lugar. O reino deve ser buscado acima de qualquer outra coisa. Deus nos colocou no mundo para nos preparar para o reino do céu. Um barco não é construído para ficar atracado para sempre no cais. E um cristão não é salvo para permanecer arraigado neste mundo, senão para ser guindado do mundo seguindo em sua viagem rumo ao céu. Quando os judeus rumavam de suas tribos para o templo em Jerusalém eles tinham muitos atrativos no meio da caminhada, mas nada lhes desviava do alvo de chegarem à cidade querida. De igual modo um cristão não deve permitir ser desviado pelos muitos atrativos do mundo em sua peregrinação rumo à Jerusalém celestial.
O que dará o homem pelo resgate da sua alma? O que dará em troca do reino do céu? Quão sublime e maravilhoso é aquele lugar onde a beleza da santidade de Deus brilha adiante dEle na Sua imensa glória, que excede toda a compreensão? Quão insensato é viver atribuindo maior valor às coisas deste mundo do que ao reino do céu. Por um reino glorioso como o do céu todo empenho e sofrimento terá valido à pena. Nenhuma tribulação sofrida por amor a ele terá sido tão grande que possa ser comparada com a glória do reino por ser revelada. Então devemos orar “venha o teu reino”.
Nós devemos nos preparar para o reino e ter a certeza de ter alcançado o reino divino porque o tempo de nossa vida neste mundo é curto e incerto. Não podemos saber se estaremos aqui na próxima semana. Quando o corpo morre a alma voa para a eternidade, e somente os que foram justificados, regenerados e santificados podem ter a certeza de que irão habitar no céu. Nenhuma decisão para se receber a Cristo como Salvador e Senhor não deve portanto jamais ser adiada, e uma vez tendo sido convencidos pelo Espírito dos nossos pecados e da necessidade de arrependimento e fé em Cristo para sermos perdoados, devemos fazê-lo no dia que se chama Hoje. Não devemos ser negligentes de modo a deixarmos que o reino do céu fuja de nós. A vida que temos no corpo é enganosa antes de termos a Cristo como Salvador, porque não é efetivamente vida, mas morte em delitos e pecados, morte espiritual que depois da nossa saída do mundo se transformará em morte eterna, e isto significa separação eterna de Deus no sofrimento eterno do inferno. Que nos empenhemos então para encontrar a vida abundante que está em Cristo pela morte da morte na Sua morte. Se os cristãos estavam mortos e morreram para a morte na sua identificação com a morte de Cristo, eles alcançaram vida eterna, e são parte agora de uma nova criação na qual a luz de Cristo brilhou em seus corações pela iluminação do Espírito Santo que lhes deu o verdadeiro conhecimento de Deus pela expulsão das trevas da ignorância em que se encontravam.
Mas estando agora no reino da luz do Senhor as trevas e vazio que havia no abismo dos seus corações foram dispersados porque o coração foi iluminado quando Deus ordenou que houvesse luz nesta nova criação espiritual; quando o Espírito Santo brilhou iluminando aqueles que estavam nas trevas do pecado, para serem livrados das trevas espirituais para poderem conhecer a Deus. Em Rom 6.6-11 se diz que estamos crucificados juntamente com Cristo e devemos nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus na nossa identificação com Jesus. Mortos em Cristo fomos transportados por Deus para um novo plano de vida no qual devemos viver. Para Deus estamos mortos, morremos para o pecado, para o mundo, para os desejos apaixonados da alma, e vivemos no plano espiritual da vida operada pelo Espírito Santo. Assim morremos em Cristo para vivermos em novidade de vida. Em Cristo morremos para o pecado, para o mundo, para vivermos em santidade, na luz, no amor de Deus. Estamos mortos com Cristo aos olhos de Deus e assim devemos nos considerar para podermos participar da Sua vida.
Se este novo plano de vida ao qual fomos chamados a viver e no qual viveremos para sempre, é espiritual, como podemos nos desviar do alvo dando somente atenção àquilo que é terreno e passageiro? Como desprezaríamos o tesouro celestial por colocarmos nosso coração nos tesouros terrenos?
Cristo providenciou tudo o que é necessário para ganharmos o reino do céu. E se exige de nós tão somente fé na obra que Ele realizou em nosso favor. Como poderão então ser desculpados por Deus aqueles que vierem a perder o reino uma vez que não lhes está sendo oferecido com base na capacidade deles senão pela fé de pedirem a Deus que o Seu reino venha a eles? A fé em Cristo e nada além dela dará a garantia de entrada no reino. A fé genuína anda de mãos dadas com o arrependimento, porque a fé verdadeira é aquela que reconhece o valor da morte de Jesus por nós e a nossa identificação com a Sua morte para sermos livrados da ira de Deus em relação aos nossos pecados; porque a descarregou no Seu próprio Filho, para que fôssemos livrados dela, pela nossa identificação com Ele pela fé.
A esperança da colheita faz com que o agricultor semeie. A esperança da vitória faz o soldado guerrear. E a esperança da glória do reino do céu faz o cristão se empenhar por ela. E quanto mais um cristão trabalhar pelo reino maior grau de glória ele terá; porque Deus recompensará a cada um segundo as suas obras. Se nós fôssemos arrebatados ao terceiro céu por alguns momentos e depois retornássemos à terra, nós trabalharíamos muito mais para Cristo, nós oraríamos com maior devoção e zelo, para ter uma maior recompensa no céu. E enquanto estivermos trabalhando em prol do reino do céu, Deus nos ajudará através do Seu Espírito.
Quanto mais dores nós sofrermos por causa do reino de Deus e da Sua justiça, mais doce será o céu para nós quando formos para lá.
A guirlanda da glória deve ser ganha através de luta e trabalho antes que nós a possamos usar em triunfo. Por isso as promessas do Senhor relativas ao galardão são introduzidas no Apocalipse por: “Ao que vencer eu darei...”. E só pode vencer quem lutar e trabalhar para isto. Por isso é importante remir o tempo e se entregar totalmente à prática das boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas. Se na parte anterior da nossa vida fomos como salgueiros estéreis em bondade, sejamos na parte posterior como um pomar de romãs com frutos agradáveis.
O céu não é uma colmeia para zangões inativos e improdutivos. A ociosidade nos expõe às tentações do diabo. Água parada apodrece. Se os atletas correm nos estádios por uma coroa de louros, nós não correríamos a carreira espiritual que nos está proposta por um reino? O trabalho é adornado com honra.
É uma grande misericórdia que há uma possibilidade de felicidade, e que em nossa diligência nós podemos ter um reino.
Se você tiver esperança deste reino santo, ore frequentemente para a sua vinda dizendo “venha o teu reino.”.
Mas devemos estar contentes como Paulo em ficar algum tempo fora do céu para que possamos conduzir outros para lá (Fp 1.24).
Enquanto nós esperamos pelo reino, nossa graça está aumentando. Todo dever executado pela graça acrescenta uma jóia à nossa coroa. Em todos os seus sofrimentos o verdadeiro santo é herdeiro da cruz. Mas os sofrimentos dos cristão não podem fazer com que ele desfaleça porque os seus sofrimentos lhe trarão um reino.
Se sofrermos com Cristo, também com Ele reinaremos (II Tim 2.12). A luta é curta mas o triunfo será eterno. Este sofrimento passageiro produz um peso eterno de glória (II Cor 4.17).
Os sofrimentos deste tempo presente não podem ser comparados à glória a ser revelada em nós (Rom 8.18).
A própria morte nos trará uma coroa de glória. O dia da morte de um cristão é melhor que o dia do seu nascimento. A morte de um cristão é a sua entrada numa eternidade de glória. Quando o cristão ouvir o som das rodas da carruagem da morte vindo buscá-lo, ele não temerá, mas se alegrará de saber que será levado para casa, para um reino eterno.