Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação da 3ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 1
 
“Faça-se a tua vontade, assim na terra  como no céu.” - Mateus 6: 10
 
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
 
O que significa vontade de Deus?
Primeiro a vontade de Deus que está em segredo e que não pode ser conhecida, e que se encontra presa à sua própria essência, e que nenhum homem ou anjo pode conhecer. Em segundo lugar significa a vontade de Deus que Ele revelou. Esta vontade está registrada na Bíblia.
Por que nós oramos seja feita a tua vontade?
Nós oramos por duas razões: primeiro para uma obediência ativa por meio da qual fazemos aquilo que Deus nos ordena; e segundo para uma obediência passiva, pela qual nós nos submetemos voluntária e pacientemente às circunstâncias e condições a que Deus nos inflige ou sujeita. 
Mas antes de obedecer a Deus nós temos que conhecer a Sua vontade. O conhecimento é o olho que dirige o pé da obediência.
Entretanto, o conhecimento que não  se traduz em obediência não é de qualquer valor (I Cor 13.2). Ter somente o conhecimento da vontade de Deus e nada mais, é ineficaz porque não torna melhor o coração. O conhecimento isolado é como o sol de inverno que não tem calor suficiente para aquecer os afetos ou purificar a consciência. Judas teve uma grande iluminação e conheceu a vontade de Deus, mas era um traidor.
O conhecer sem o praticar fará o inferno mais quente. Aquele que conheceu a vontade de Deus e não a praticou será castigado com muitos açoites (Lc 12.47). Assim o grande conhecimento de um tal homem como este será como uma tocha para iluminar o inferno. E em que tal pessoa superará o diabo que se transforma em anjo de luz? Assim é impróprio chamar de cristãos aqueles que conhecem a vontade de Deus mas que não a praticam. Porque como podem os tais orarem dizendo seja feita a Tua vontade? Pois não se diz que seja apenas conhecida, conforme está implícito no mandamento, mas que seja feita.
O grande desígnio de Deus quando revelou a nós a Sua Palavra, foi para nos tornar praticantes da Sua vontade.
A Palavra de Deus não é somente uma regra de conhecimento mas de dever (Dt 26.16). A finalidade de todas as promessas de Deus é nos conduzir a fazer a Sua vontade. As promessas são o imã da obediência (Dt 11.27; 28.1,3). .
O querubim e a espada flamejante têm o propósito de nos intimidar em relação ao pecado, e nos tornar praticantes da vontade de Deus. 
Os desobedientes estão debaixo de maldição (Dt 11.28; Sl 68.21). E aqueles que foram destruídos pela sua desobediência foram colocados como exemplos na Bíblia para que não sigamos as suas pegadas, de maneira a não ficarmos sujeitos aos mesmos juízos..  
É fazendo a vontade de Deus que nós comprovamos a nossa sinceridade em servi-lo.
Jesus disse que eram as obras que Ele fazia que davam testemunho dEle (João 10.25).
Não é com belas palavras que damos testemunho da nossa sinceridade, mas com nossas obras. Nós conhecemos a saúde e vida de uma pessoa pela pulsação do sangue em seu braço. Assim a integridade de um cristão não será medida pela sua profissão, mas pela sua ação em fazer a vontade de Deus. Este é o melhor certificado e atestado de que estamos de fato indo para o céu.  
É da vontade de Deus que se propague o evangelho. Fazemos a vontade de Deus quando mostramos nosso amor a Cristo, e demonstramos o nosso amor por Ele guardando os Seus mandamentos (João 14.21). Assim é algo vão alguém dizer que ama a pessoa de Cristo ao mesmo tempo que despreza os Seus mandamentos.
Nós dizemos seja feita a tua vontade mas ainda não obedecemos os Seus mandamentos? Nós estamos então procedendo de modo contrário ao que pedimos em nossa oração, porque dizemos: “Seja feita a Ta vontade”. 
Se não obedecermos a Deus nós estaremos resistindo a Ele e acaso somos mais fortes do que Ele? (I Cor 10.22).
É insensato não fazer a vontade  de Deus porque fazendo isto nós estaremos fazendo a vontade do diabo. E não é loucura satisfazer um inimigo e fazer a vontade de quem procura a nossa ruína?
Aqueles que têm por pai ao diabo não podem fazer senão à vontade do pai deles (João 8.44). Quando um homem mente ele não está fazendo a vontade do diabo? “Ananias, por que Satanás encheu o teu coração para mentir ao Espírito Santo?” (At 5.3).  
Opor-se à vontade de Deus é colocar-se debaixo da condição descrita por Paulo em II Tes 1.7-9 quando Jesus voltar para tomar vingança dos que não conhecem a Deus e que não obedecem o evangelho:
“7 E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder,
8 Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo;
9 Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder,”  (II Tes 1.7,8).
Obedecer a Deus é um dever.
“Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem.”  (Jer 7.23).
Fazer a vontade de Deus é para nossa honra. Não é uma honra que um Rei fale conosco e que nos confie a Sua vontade para ser feita? Os mandamentos de Deus não nos sobrecarregam mas nos adornam.  
Fazer a vontade na terra nos torna semelhantes a Cristo no Seu ministério terreno, porque o que estamos fazendo é dar prosseguimento à Sua obra. E a oração que Jesus dirigiu ao Pai quando retornaria ao céu não foi para que fôssemos como Ele? E Jesus não veio ao mundo para fazer a Sua própria vontade mas a dAquele que O enviou (João 6.38) e fazer isto era o Seu alimento (João 4.34). . 
Aquele que faz a vontade de Deus torna-se tal como um parente consanguíneo de Cristo (Mt 12.50). 
Fazer a vontade de Deus na terra traz paz na vida e na morte. 
Nós fazemos a vontade de Deus de maneira aceitável a Ele quando nós o servimos com um princípio renovado de graça. Uma árvore que não seja frutífera pode ser tão saudável quanto uma frutífera, mas não pode dar frutos, porque o princípio que opera na raiz não lhe dá tal capacidade.  Assim uma pessoa não regenerada não pode produzir os mesmos frutos de um filho de Deus, porque não está enxertada na raiz da graça. 
 O princípio interno da obediência é fé, e por isso se diz obediência da fé (Rom 16.26). A fé olha para Cristo em todo dever e toca a orla das Suas vestes, e é por meio de Cristo que tanto as pessoas dos cristãos e suas ofertas são aceitáveis a Deus (Ef 1.6).
Nós fazemos a vontade de Deus na terra assim como os anjos fazem a Sua vontade no céu, quando nós fazemos isto regularmente, e andamos de acordo com as instituições divinas e não conforme as tradições dos homens.
Os anjos nada fazem além de atenderem aos comandos de Deus, e eles não foram criados para cerimônias. E o estatuto que vale para os anjos no céu é o mesmo estatuto que existe para nós na terra, a saber a Sua Palavra revelada. E nós temos que observar este estatuto divino exatamente. Se o relógio não for fiel em seu trabalho de marcar as horas, para nada serve. De igual modo nós temos que trabalhar de acordo com o padrão que Deus estabeleceu para nós (Ex 25.40).
Quão severamente Deus castigou Nadabe e Abiú por terem oferecido fogo estranho no altar (Lev 10.2), isto é, que não atendia às Suas ordenanças divinas.
 Tudo que não estiver em conformidade com o padrão divino é fogo estranho.
Muitos pensam que podem adorar a Deus a seu próprio modo como que se Deus não fosse poderoso, capaz e sábio o bastante para fixar o modo pelo qual convém ser adorado.
A vontade de Deus deve ser obedecida na terra do mesmo modo absoluto que é obedecida pelos anjos no céu, e daí a nossa oração deve ser “seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”, isto é, que ela seja feita na terra do mesmo modo que é feita no céu. E não podemos conceber Deus sendo obedecido parcialmente pelos anjos tanto no que eles devem ser moralmente em essência em seus seres, quanto no que diz respeito à obediência às ordens que Deus lhes dá, particularmente as que se referem à ministração que devem fazer em favor dos cristãos (Hb 1.14). 
Deus disse de Davi ser alguém que era segundo o seu coração, e declarou o motivo disto: porque ele faria toda a Sua vontade (At 13.22).
Todo mandamento de Deus tem a mesma autoridade e se nós fizermos a vontade de Deus corretamente nós o faremos uniformemente, obedecendo todas as partes da Sua vontade. 
Assim é hipocrisia fazer apenas parte da vontade de Deus. Alguns oram, mas não dizimam e ofertam; alguns ouvem a Palavra mas não perdoam e amam seus inimigos; outros participam da ceia do Senhor mas não fazem restituição; alguns ensinam o evangelho mas falam contra o sustento financeiro dos seus pastores. Como podem ser chamados de santos obedientes?  
Contudo quem é suficiente para fazer toda a vontade de Deus?
Embora nós não possamos fazer toda a Sua vontade legalmente falando, isto é, por obediência perfeita a toda a lei e em todo o tempo, nós podemos fazê-lo em sentido evangélico que consiste no seguinte:
Quando nós lamentamos em não poder fazer a vontade de Deus de maneira melhor e mais efetiva; quando lamentamos quando falhamos (Rom 7.24); quando o desejo da nossa alma é fazer toda a vontade de Deus (Sl 119.5). Aquilo que falta a um filho de Deus em força, ele compensa fazendo as pazes com toda a sua diligência. Nós também fazemos a vontade de Deus em sentido evangélico, que é o único modo de fazê-la enquanto neste mundo, quando nós nos esforçamos para fazer o melhor segundo a nossa medida de fé e capacidade, porque embora o melhor dos nossos esforços seja como os rabiscos de um desenho de uma criancinha para o seu pai, Deus não terá em conta a plena satisfação mas a aceitação, e certamente aceitará o nosso esforço como cumprimento da Sua vontade.  
Nós fazemos a vontade de Deus na terra assim como ela é feita pelos anjos no céu quando nós fazemos isto sinceramente. E fazer a vontade de Deus com sinceridade consiste basicamente em duas coisas: primeiro fazer a Sua vontade externamente com um respeito verdadeiro pelos Seus mandamentos. E esta sinceridade será testada por Deus em exigências que demandarão de nós que demos um testemunho externo da nossa fé a outros, assim como Abraão que se dispôs a sacrificar o próprio filho, por ter-lhe sido ordenado pelo Senhor. E tal como ele, mesmo na execução de deveres ordenados por Deus, que não nos tragam qualquer alegria ou conforto para a sua execução, no entanto só haverá sinceridade em nossa obediência à Sua vontade se executarmos de fato tudo o que nos for ordenado.
Assim como Neemias que foi incansável em conduzir os judeus ao cumprimento das exigências da lei do Senhor, debaixo das circunstâncias mais adversas que se possa imaginar. Aquele dever foi certamente doloroso para ele, mas ele fez tudo por amor sincero à vontade do Senhor. O ministério do evangelho não exige de nós somente adoração e oração, mas também ações, pois nos é ordenado não amarmos apenas de língua mas de fato e de verdade, de maneira que devemos realizar todas as ações necessárias para demonstrar o nosso amor a Deus e ao próximo. Por exemplo, o sustento dos que são verdadeiramente necessitados e dos ministros do evangelho é um dever para ser realizado pela igreja, e como podem os cristãos afirmarem que têm obedecido a Deus se são negligentes quanto a isto?       
Se os filhos afirmam que são obedientes mas não atendem e não executam o que lhes é ordenado por seus pais, que obediência é essa que eles alegam ter?
As mulheres que não honram, que não respeitam, que não ouvem os seus próprios maridos, como podem afirmar que estão cumprindo o dever que Deus lhes impôs de serem submissas a eles?
Um dever não deve ser cumprido porque nos seja agradável, mas porque se requer que a vontade de Deus seja feita na terra, assim como é feita no céu. É porque Deus tem ordenado que nós devemos obedecer e não porque achemos sensato, razoável, agradável ou seja o que for.    
 

 
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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
http://livrosbiblia.blogspot.com.br/

Veja tudo sobre as Escrituras do Novo Testamento no seguinte link:
http://livrono.blogspot.com.br/

A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/

A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/ 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/02/2013
Alterado em 10/07/2014
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