A Antiga História
Traduzido e adaptado do texto de Charles Haddon Spurgeon, em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.
"A seu tempo Cristo morreu pelos ímpios." Romanos 5:6
É algo curioso, porém assim como dizem que os peixes começam a se deteriorar pela cabeça, assim os teólogos modernos geralmente começam a se equivocar em relação à doutrina fundamental e mais importante do trabalho vicário de Cristo. Quase todos nossos erros modernos, e eu diria que todos, começam por ser erros acerca de Cristo. Aos homens não lhes agrada pregar sempre o mesmo. Há atenienses nos púlpitos e nos bancos das igrejas que não fazem outra coisa senão escutar algo novo. Não se contentam com dizer repetidamente, uma e outra vez, esta simples mensagem “O que crê no Senhor Jesus Cristo tem a vida eterna”. Assim tomam emprestadas certas novidades da literatura e maquiam a Palavra de Deus com palavras ensinadas pela sabedoria humana. Envolvem em mistério a doutrina da expiação. A reconciliação por meio do sangue precioso de Jesus deixa de ser a pedra angular de seu ministério. Seu propósito principal é adaptar o Evangelho aos desejos doentios e aos gostos dos homens, acima de qualquer intenção de reformar a mente e renovar o coração dos homens para que possam receber o evangelho tal como é.
Se não entendem a verdade relativa ao propósito da cruz, estão estragados de qualquer maneira. “Porque ninguém pode colocar outro fundamento além do que está posto, que é Jesus Cristo.”.
A doutrina da expiação é muito simples. Consiste em que Cristo tem tomado o lugar do pecador, Cristo é tratado como se fosse o pecador, e portanto o transgressor é tratado como se fosse justo. É uma troca de pessoas; Cristo se converte no pecador, se coloca no lugar do pecador, foi contado entre os transgressores; o pecador se converte em justo, se coloca no lugar de Cristo e é contado entre os justos. Cristo não tem cometido nenhum pecado, porém assume a culpabilidade humana e é castigado pela insensatez humana. Nós não temos justiça própria, porém assumimos a justiça divina; somos recompensados por ela, e somos aceitos diante de Deus como se essa justiça fosse proveniente de nós mesmos. “A seu tempo Cristo morreu pelos ímpios”, para poder apagar seus pecados. O bode da expiação na Lei ensina claramente em figura o que é a expiação que temos em Cristo.
Há algumas coisas que podemos dizer em favor do evangelho que proclama a expiação como seu princípio fundamental. E a primeira que vamos dizer acerca do evangelho é: quão simples é quando se compara com todos os esquemas modernos. Irmãos, essa é a razão pela qual não agrada aos grandes homens, é demasiado simples. Se vocês vão comprar certos livros que ensinam como preparar sermões, verificarão que a essência do ensino é esta – selecionem todas as palavras difíceis que possam encontrar em todos os livros que leiam durante a semana, e logo apliquem-nas sobre a igreja no domingo, e haverá um grupo de pessoas que sempre aplaudirão ao homem ao qual não podem entender. São semelhantes à anciã à qual perguntaram ao regressar da igreja: “entendeste o sermão?”. “Não”, respondeu, “não teria essa presunção”, ela cria que era uma presunção intentar compreender o ministro. Porém a Palavra de Deus se entende com o coração e não faz estranhas demandas ao intelecto.
Uma doutrina da expiação que não seja simples, uma doutrina que nos chega da Alemanha, que requer que um homem seja um erudito antes que possa compreendê-la, tal doutrina obviamente não é de Deus, já que não é adequada para as criaturas de Deus. Poderá ser fascinante para um entre mil, porém não é adequada para as criaturas de Deus. Poderá ser fascinante para um entre mil, porém não é adequada para os pobres deste mundo que são ricos na fé; não é adequada para os pequenos a quem Deus tem revelado as coisas do reino enquanto que as tem escondido dos sábios e entendidos.
Vocês sempre podem julgar uma doutrina desta forma: se não é uma doutrina simples, não vem de Deus, se lhes deixa perplexos, se é uma doutrina que não podem ver clara e instantaneamente, devido à linguagem misteriosa que a envolve, podem começar a suspeitar que é uma doutrina humana e não a Palavra de Deus.
E a doutrina da expiação não deve ser louvada por sua simplicidade unicamente, senão que além de se adequar ao entendimento, também é adequada à consciência. Não há língua que possa descrever como satisfazer à consciência. Quando a consciência de um homem o atormenta, quando o Espírito de Deus lhe tem mostrado seu pecado e sua culpa, não há nada que lhe possa trazer a paz senão somente o sangue de Cristo.
Louvamos a doutrina da expiação porque, além de se adequar ao entendimento, aquietar a consciência e derreter o coração, sabemos que tem poder para mudar a vida exterior. Nenhum homem pode crer que Cristo sofreu por seus pecados e ao mesmo tempo viver no pecado. Nenhum homem pode crer que suas iniquidades mataram a Cristo e apesar disso acariciá-las em seu peito. O efeito certo e seguro de uma verdadeira fé no sacrifício de expiação de Cristo é o de limpar o velho fermento, dedicar a alma àquele que a comprou com seu sangue, e o compromisso de se vingar daqueles pecados que cravaram a Cristo no madeiro.
Ele mostrou o poder do nome de Jesus e nos fez testemunhas deste evangelho que ganha almas, que atrai corações renitentes, e que molda de maneira nova a vida e a conduta dos homens. Há alguns irmãos que vão às prisões e aos prostíbulos resgatar entre estes pessoas caídas na miséria e vergonha. Se levassem consigo uma folha arrancada de um manual de teologia, e fossem lhes falar com palavras e com filosofias ribombantes, que bem lhes poderiam proporcionar? Pois bem, o que não é bom para eles, não é bom para nós. Preguemos pois com simplicidade o evangelho verdadeiro, porque ele é simples.