Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação da 5ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 1
“e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores;” – Mt 6.12
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
Nesta oração modelar que o Senhor nos ensinou há uma petição para o corpo (“o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje” – da quarta petição) e duas para a alma (“perdoa-nos as nossas dívidas – desta quinta petição; e “não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal” - da sexta petição). Observamos consequentemente que devemos dar maior atenção ao estado e condição de nossas almas, do que ao dos nossos corpos.
Não foi sem motivo que o Senhor estipulou que o valor do siclo usado para todos os serviços a serem pagos ao santuário seria pelo de maior valor que era exatamente o dobro do valor do siclo comum. Isto tipificava que as coisas espirituais têm um maior peso e valor para nós do que as coisas terrenas.
O corpo é apenas o estojo que guarda a jóia que é o espírito.
O corpo é mortal mas o espírito é imortal e pode existir sem o corpo, mas o corpo não pode existir sem o espírito.
Então é grande sabedoria garantir a salvação da alma para a preservação do corpo, especialmente para a sua ressurreição futura num corpo glorioso que brilhará com a luz de Cristo.
Por isso Jesus somou imediatamente à petição pelo pão diário, a do perdão dos pecados que conduz à salvação da alma. Isto mostra claramente que ainda que tenhamos o nosso pão diário isto em nada será significativo se nós não tivermos os nossos pecados perdoados por Deus.
E aqueles que são assim perdoados por Deus têm o dever de também perdoarem os seus semelhantes pelas suas ofensas, porque tiveram as suas próprias ofensas perdoadas gratuitamente por Deus.
O pão diário satisfaz o apetite e alimenta o corpo, mas o perdão de pecados alimenta a alma e satisfaz à consciência.
A palavra “dívidas” do nosso texto (Mt 6.12), pode ser traduzida por pecados porque a dívida que temos para com Deus é resultante dos nossos pecados. Mas é importante destacar que a palavra usada no original grego é ofeileima, que significa aquilo que é justa ou legalmente devido, isto é, uma dívida. Esta palavra é a usada no texto de Rom 4.4, e é resultante do verbo ofeiléu, dever – de dívida, que encontramos em passagens como Mt 18.28,30,34; 23.16,18; Lc 16.7, dentre várias outras.
No texto de Lc 11.4, paralelo ao nosso de Mt 6.12, nós temos no original grego a palavra amartia, no lugar de dívidas. A tradução é portanto perdoa os nossos pecados, mas na sequência do mesmos texto de Lucas está escrito: “assim como temos perdoado os nossos devedores”.
Isto demonstra clara e diretamente que a dívida que é citada pelo Senhor é a dívida de pecados, porque o pecado é uma dívida, e todo pecador é um devedor que deverá prestar contas legalmente da sua dívida ao grande Juiz.
Na parábola que Jesus citou em Mateus 18.24 o pecado é comparado a uma dívida de 10.000 talentos, que correspondem a algo em torno de 54 bilhões de Reais (para quem gosta de cálculos precisos, 10.000 talentos correspondem a cerca de doze toneladas de ouro).
Por que o pecado é chamado uma dívida?
Porque se assemelha a isto. (1) uma dívida surge do não pagamento daquilo que é devido. Nós devemos santidade e obediência perfeitas a Deus, porque foi para isto que Ele nos criou, e não lhe dando o que Lhe é devido, nós estamos consequentemente em dívida. (2) na falta de pagamento os bens do devedor são espoliados ou ele vai para prisão porque é considerado culpado pelos juízes, e no caso do pecado dá-se o mesmo porque o pecador é considerado culpado por Deus por não Lhe dar o que é devido. E a falta de pagamento da dívida que se tem para com Deus implicará morte eterna caso a dívida não seja perdoada, porque é impossível que seja paga pelo próprio devedor, porque é pecador, e jamais poderá por si mesmo dar a Deus a obediência e santidade perfeitas que Lhe são devidas (Isto foi dado por Cristo em nosso lugar, e por isso importava que Ele não somente morresse por nós, mas que vivesse em perfeita obediência debaixo da Lei de Deus - Rom 5.19). Qualquer pessoa depende desesperada e unicamente de perdão, porque a cada dia que vive só faz aumentar a sua dívida para com Deus. Não há outra esperança, não há outra saída senão ter a sua dívida perdoada para que não seja condenada eternamente à prisão.
Como o pecado consiste basicamente em não se dar a Deus o que Lhe é devido, nós concluímos então que o pecado é a pior das dívidas, e incomparavelmente pior do que qualquer outra, porque sujeita a um dano eterno.
Assim, quando alguém pede na oração modelar “perdoa as nossas dívidas” ela está pedindo na verdade algo vital, de importância capital e extraordinária que não pode ser medida. Não é uma pequena conta que será cancelada caso o perdão seja concedido. Esta dívida é enorme. Não pode ser medida senão pelo próprio Deus. E não pode ser liquidada, como vimos, senão unicamente pelo perdão da dívida.
Se nós tivéssemos como pagar esta dívida não precisaríamos orar por perdão da dívida. Esta dívida é espiritual e não pode ser paga com dinheiro. É uma dívida de vida que pode ser paga somente com a morte. Por isso Jesus teve que morrer por nós para que a nossa dívida pudesse ser cancelada. Caso Ele não morresse no nosso lugar Deus não poderia perdoar a divida que temos para com Ele porque isto seria injusto, e não seria portanto permitido pelo Seu atributo de Justiça. Por este atributo Deus exige compensação de todo dano. Nada pode ser relevado sem uma justa retribuição pela ofensa, e isto foi claramente revelado por Ele na dispensação da Lei. Nada pode ser perdoado sem que a Sua Justiça seja satisfeita. A justiça é a base do Seu trono porque sem ela nada poderia ter equilíbrio, equidade, segurança. Nenhuma relação quer na terra, quer no céu, poderia ter uma base estável, porque atos morais poderiam ser praticados sem estarem submetidos a qualquer forma de juízo. Mas Deus, pelo Seu atributo de Justiça, tudo julga e nada escapa do Seu perfeito juízo, e isto faz que dê a paga exata a cada um conforme as suas obras.
Deste modo, como o pecado é uma ofensa e dívida contra uma Majestade infinita perfeitamente Santa e Justa, é por conseguinte uma dívida infinita.
Se até pensamentos vãos são pecados que serão considerados no juízo, como poderíamos enumerar o tamanho da nossa dívida para com Deus (Sl 40.12)? Assim nunca poderemos saber o quanto devemos a Deus.
Não cai bem a devedores terem um espírito orgulhoso, senão humilde. Convém a todos se humilharem diante do grande Credor implorando-Lhe por perdão, tal como o Senhor Jesus nos ensinou a fazer na oração do Pai Nosso.
A dívida deve ser confessada com humildade tal como é ensinado em Mt 6.12. Se nós confessarmos a dívida, Deus a perdoará (I João 1.9). Mas enquanto buscamos o perdão através da certeza de que será alcançado por meio da nossa simples confissão, no entanto não cometamos o grande pecado de pensar que este perdão é algo barato e fácil, porque custou o grande preço da morte de Jesus. È um perdão gratuito mas Deus nos impõe o ônus da fé, do arrependimento, da conversão, para alcançá-lo. Isto é, o que for perdoado deverá viver em novidade de vida. Não deve voltar à prática deliberada do pecado, mas deve demonstrar sua gratidão e reconhecimento de que fora de fato perdoado, vivendo em santidade de vida, em estrita obediência à vontade de Deus, porque isto é o que Lhe devemos na condição de seres morais criados à Sua imagem e semelhança. Se não fizermos isto somos hipócritas em nossa oração pedindo-Lhe perdão dos nossos pecados, porque ao mesmo tempo que o fazemos estamos dispostos a viver do mesmo modo pelo qual a nossa dívida foi contraída. Recebemos o dom da vida de Deus e não Lhe pagamos o tributo devido de obediência à Sua vontade. Negamo-nos a pagar o que Lhe é devido. Então que busca de perdão foi esta que não levou em consideração estas verdades?
E um dos principais tributos que se exige de nós para sermos perdoados por Deus, e continuarmos agradando a Ele em vez de ofendê-lo, depois de termos sido perdoados é o tributo da fé, porque sem fé é impossível agradar-Lhe. Fé Nele e na Sua Palavra.
É pela fé em Jesus que se alcança a justificação (Rm 5.1), e é pela mesma fé em Jesus que se tem acesso à graça de Deus na qual os cristãos estão firmes (Rom 5.2). Enfim, importa permanecer firme na fé em Jesus porque foi Ele quem pagou a dívida dos nossos pecados.
Nossa fé em Jesus é provada a todo momento. Devemos então colocar a coroa na cabeça do Evangelho da graça, pela nossa fé inabalável de que tudo em nossa caminhada cristã encontra-se no Senhor Jesus e não em nós mesmos.
A nossa aceitação por Deus não será achada em nossas boas obras e méritos, mas sempre será baseada na nossa fé em Cristo, porque é Ele quem garante o nosso acesso ao Pai, estando perdoados dos nossos pecados.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
http://livrosbiblia.blogspot.com.br/
Veja tudo sobre as Escrituras do Novo Testamento no seguinte link:
http://livrono.blogspot.com.br/
A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/
A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 11/02/2013
Alterado em 10/07/2014