Interpretação da 5ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 5
“e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores;” – Mt 6.12
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
Aquele que teve seus pecados perdoados está disposto a perdoar outros que o ofenderam (Ef 4.32). Um hipócrita virá à igreja, construirá hospitais, dará esmolas, mas não pode perdoar injustiças que tenha sofrido.
Se nós temos espíritos perdoadores nós sabemos que iremos para o céu. É principalmente por este meio que sabemos que pertencemos a Cristo. Não precisamos subir ao céu para saber se nossos pecados foram perdoados, basta olhar para os nossos corações.
Deus olha para uma alma perdoada como se ela nunca tivesse pecado. E esta é a grande consolação do Seu povo, saber que Ele perdoou as suas iniquidades (Is 40.1,2), e sabendo isto não buscaríamos ser perdoados assim como temos perdoado os nossos devedores?
Aquele cujo pecado foi remido por Cristo é olhado por Deus como se nunca O tivesse ofendido. Embora o pecado remanesça depois do perdão, contudo Deus não olha para ele como um pecador, mas como um homem justo.
A alma perdoada está livrada para sempre da ira de Deus. E quão terrível é a ira de Deus. Mas toda alma perdoada está livrada da ira vingadora de Deus.
A consciência de quem foi perdoado não pode mais acusá-lo da culpa do pecado. E nem pode mais atemorizá-lo.
Se a consciência estiver devidamente informada ela se regozijará no perdão divino em vez de acusar o pecador.
Se o pecado foi perdoado a consciência está serena e tranquila. O céu está claro e não há qualquer tempestade para agitar a mente. E a misericórdia de Deus ilumina a alma.
A culpa corta as asas do perdão. Faz a face se ruborizar, mas a confiança no perdão recebido faz com que olhemos com gratidão e louvor a Deus como um Pai de amor e misericórdia.
Quando os nossos pecados são perdoados as nossa ofertas são aceitas por Deus e Ele nos faz úteis no Seu serviço (Zac 3.3,4).
Quando o pecado é perdoado Deus nunca nos censurará por pecados anteriores, tal como aprendemos da parábola do filho pródigo e de todos os pecadores que Jesus perdoou em Seu ministério terreno. Ele nunca lançou no rosto deles as faltas que haviam cometido anteriormente ao perdão recebido.
A alma perdoada triunfa sobre a morte. Para estes a morte não é uma destruição mas uma libertação. É uma passagem para o reino de glória.
O perdão dos nossos pecados é uma jóia preciosíssima que pede por aclamações de louvor e gratidão. Você é grato pelo pão diário e não seria muito mais pelo perdão? Você dá graças pela cura da doença e não daria muito mais pela libertação do inferno? Deus fez mais por você perdoando os seus pecados do que lhe tivesse dado um reino na terra.
Mas não pensemos que por causa da bondade, misericórdia e graça de Deus que o perdão é fácil. Não é de modo nenhum fácil obter o perdão, pois temos visto que há condições para ser perdoado por Deus, como por exemplo perdoar os nossos devedores e nos arrependermos, e vimos que o arrependimento consiste em contrição, confissão e conversão, conforme se vê nas palavras do Senhor em II Crôn 7.14, quando revelou as condições para que possa perdoar o Seu povo, apesar de ter feito uma base para este perdão no sacrifício de Jesus:
“E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.”(II Crôn 7.14).
Deus não nos perdoará se não nos reconhecermos culpados pelas nossas transgressões contra Ele e contra o nosso próximo. Ele não nos perdoará se não confessarmos as nossas culpas e se não nos dispusermos a nos convertermos dos nossos maus caminhos.
Não podemos esperar ser ouvidos por Deus em nossas orações se não resolvermos primeiro a necessidade que temos de buscar nEle o perdão para os nossos pecados. Isto vale também para os cristãos, como se vê em II Crôn 7.14, porque estas palavras se aplicam ao povo de Deus.
Mas devemos também fugir do engano de que enquanto nos esforçamos seguindo as instruções anteriores para obter o perdão de Deus, que o façamos confiando no nosso próprio mérito e justiça e não somente no sangue de Cristo como sendo a base na qual devemos depositar a nossa fé para que sejamos perdoados (Apo 1.5; Rom 3.25; I Pe 1.2). E o sangue se mostra eficaz somente quando exercemos fé em Cristo.
E nós vimos também que não é um caminho fácil o que está estipulado por Deus para o perdão dos nossos devedores, porque, apesar de se exigir de nós uma atitude perdoadora, isto é uma completa disposição para perdoar a outros, sendo compassivos para com eles, exige-se o arrependimento da parte deles para que sejam perdoados. Assim, quando um irmão peca contra outro, ou anda de modo desordenado na Igreja contra a doutrina de Cristo, e não se arrepende disto e não reconhece o seu erro e muito menos o confessa e abandona, nós não estaremos fazendo a vontade de Deus se lhe perdoarmos estas ofensas, porque é necessário que haja um verdadeiro arrependimento para a liberação do perdão. Por isso Jesus não deu aos ministros do evangelho somente o poder de declarar o perdão de pecados, mas também de retê-los por causa da falta de arrependimento (João 20.23).
E há casos em que nós mantemos um coração aberto em relação àqueles que nos têm ofendido, mas não devemos nos confiar a eles e nem confiar neles, tal como Davi fizera em relação a Simei que lhe havia amaldiçoado, acusando-o injustamente de crimes contra a casa de Saul que ele não havia praticado.
Nós devemos seguir o exemplo de Cristo que quando era injuriado não injuriava a ninguém e entregava-se inteiramente ao cuidado do Pai, que julga retamente, e a quem cabe todo o juízo.
É preciso pedir ao Senhor que aumente a nossa fé, tal como lhe haviam pedido os seus discípulos durante o seu ministério terreno, para que possamos confiar que de fato Deus julgará todas as nossas demandas contra aqueles que nos têm ofendido e prejudicado, enquanto temos uma atitude perdoadora para com eles, na expectativa de que se arrependam para a glória de Deus e para o próprio bem deles.
“3 Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.
4 Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; tu lhe perdoarás.
5 Disseram então os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé.” (Lc 17.3-5).
Assim nunca nos cansemos de fazer o bem a todos, especialmente aos domésticos da fé, orando por eles, exortando-os, dando-lhes a porção necessária da Palavra de Deus para serem alimentados, ainda quando estejam resistindo a isto, porque uma mãe não deixará de alimentar o seu bebê quando ele estiver recusando o alimento. O Senhor se empenha para nos conduzir ao perdão evangélico que cobre multidão de pecados, e juntamente com Ele devemos também esforçar-nos para que outros sejam perdoados por Deus tal como nós o fomos. Usar de bondade e benignidade apenas para com aqueles que se mostram receptivos a nós e que nos procuram não é a norma do Evangelho, conforme bem o demonstra a parábola das bodas em que o Rei ordena que os convidados sejam forçados a comparecerem ao casamento do Seu Filho, porque isto será para o próprio bem deles. Isto revela o empenho e a luta que temos que fazer para propagar o perdão do evangelho, dispondo-nos a amar e a perdoar aqueles que se manifestam como nossos inimigos, de maneira que possamos ganhar a alguns deles pelo nosso exemplo de paciência e mansidão no serviço de Cristo.