Interpretação da 6ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 4
“E não nos conduza em tentação, mas livra-nos do mal” - Mateus 6.13
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
Quando o diabo consegue roubar a paz dos santos ele coloca uma pedra de tropeço a outros. Eles ficarão atemorizados de se renderem a Cristo pelo temor de passarem não pelas tribulações que os cristãos vivem, mas pelo desespero que muitos deles mostram em suas aflições. A serenidade e paz que havia na face de Estevão quando era apedrejado conduziu Paulo à conversão. Cristo convence o mundo do Seu poder dando-nos amor e paz na aflição. Mas quando o cristão permite que Satanás furte tal testemunho, trocando-o por perturbação de mente e de coração, poucos se sentirão estimulados a se renderem a Cristo. Não admira portanto que Cristo nos ordene carregar voluntariamente a nossa cruz e que não andemos solícitos e preocupados com as coisas desta vida, quanto ao que havemos de comer, beber e vestir, sabendo que Deus cuidará de todas as nossas necessidades enquanto trabalhamos honestamente e vivemos de modo digno e modesto perante Ele e os homens.
27ª - Satanás tenta os homens a usarem de violência para com outros e até para consigo mesmos quando se sentem fracassados ou contrariados. Esta violência pode ser moral ou física. Mas isto se vence com o fruto do Espírito do amor, da longanimidade, da mansidão e do domínio próprio. O aumento da violência nos dias de Noé foi o motivo de Deus ter destruído o mundo antigo com as águas do dilúvio. Satanás é um espírito violento que espalha a violência, mas o cristão deve se guardar de toda forma de violência e estar disposto a suportar danos por amor a Cristo. É assim que se destrói as armas de violência de Satanás. Não resistindo ao perverso e nem se entregando à prática da perversidade.
Eu lhe mostrei vinte e sete sutilezas usadas por Satanás em suas tentações para que você possa conhecê-las melhor e evitá-las, bem como e principalmente orar a Deus para que não permita que seja conduzido a elas.
Satanás é um assassino que está no mundo para roubar, matar e destruir, e devemos nos prevenir dele vigiando atentamente os seus passos, de maneira que não venhamos a cair nos seus laços.
Sigamos o conselho de Cristo vigiando e orando em todo o tempo para não entrarmos em tentação (Mt 26.41).
Muitos perguntam por que Deus permite que os Seus santos sejam esbofeteados pelas tentações de Satanás.
Primeiro ele permite isto para que sejam provados. Satanás usa a tentação com o fim de levar a efeito os propósitos malignos a que nos referimos anteriormente, e Deus permite a tentação para que sejamos provados de modo que possamos crescer na fé através da resistência a Satanás e do aprendizado da dependência e obediência ao Senhor para poder vencê-lo. E quando o diabo é vencido pela graça e coragem do cristão em ficar firme no testemunho da verdade contra as mentiras do diabo o Senhor e o evangelho são honrados. Através das tentações Deus mantém os seus filhos livres do orgulho espiritual, tal como permitira que Paulo fosse esbofeteado por um mensageiro de Satanás para permanecer humilde perante Ele depois de ter tido as visões gloriosas do terceiro céu. Isto impediu que ele se gloriasse em si mesmo, e soubesse que não foi por nenhum mérito pessoal e justiça própria que lhe fora dada tal experiência gloriosa por Deus (II Cor 12.7).
Deus também permite que Seus filhos sejam tentados para que possam adquirir experiência para poderem confortar a outros (II Cor 2.11).
As tentações também nos revelam que o céu não é aqui neste mundo. Que a terra foi amaldiçoada por causa do pecado e não é nenhum paraíso com as múltiplas operações do diabo. Definitivamente o mundo não é o nosso lugar de descanso e devemos aspirar por uma pátria superior que é o céu.
Mas enquanto caminhamos neste mundo devemos nos consolar com o pensamento relativo à verdade que Satanás e até mesmo uma legião inteira de demônios não podem tocar sequer um porco se Cristo não lhes der licença, como bem aprendemos da história do gadareno. Se Satanás e os demônios tivessem liberdade para agirem com total liberdade, nenhuma alma seria salva.
E lembremos que se não é possível impedir a tentação, no entanto nunca será da vontade de Deus que nós caiamos nela. O peixe não será fisgado pelo anzol se não morder a isca.
Vencendo a tentação nós pisamos na cabeça da serpente juntamente com Cristo. O diabo é vencido quando usamos toda a armadura de Deus e estamos revestidos do Senhor e da força do Seu poder.
Quanto mais um cristão for tentado mais ele lutará contra a tentação e ficará cada vez mais experimentado nas batalhas espirituais, amando a santidade e detestando as tentações através das quais o diabo procura afastá-lo da sua firme posição na fé. Assim as tentações cooperam indiretamente para o aumento da fé e das demais graças de um cristão. E aquele que vence a tentação é confortado por Deus, assim como Cristo foi servido pelos anjos depois de ter vencido o diabo no deserto.
Mas ainda que um cristão autêntico caia numa tentação, contudo a semente da vida eterna está nele (I João 3.9). A graça pode ser abalada mas não destruída, e o diabo sabe muito bem disto. Ele não tentará lançar um cristão no inferno, porque sabe que isto é impossível, mas tentará neutralizar as suas ações contra ele.
Deus nos aperfeiçoa em força e poder vencendo as tentações. Que poder há num homem que não consegue vencer a menor tentação?
Veja consequentemente que a vida de um cristão não é nenhuma vida fácil. É uma vida militar: há um Golias no campo de batalha para lutarmos contra ele na força do Senhor.
E não devemos estar nesta guerra contra as múltiplas tentações do Inimigo, lutando sozinhos. Nós devemos estar na comunhão dos santos para sermos bem sucedidos nesta guerra de muitas batalhas. A comunhão e a intercessão dos santos é o melhor remédio contra a tentação.
E se você não deseja ser vencido pela tentação esteja sóbrio (I Pe 5.8). A sobriedade consiste no uso moderado das coisas terrenas. Um desejo imoderado destas coisas coloca os homens na armadilha do diabo (I Tim 6.9). Aquele que ama as riquezas imoderadamente as adquirirá injustamente. Acabe se apoderou do vinhedo de Nabote derramando o seu sangue. Aquele que está embriagado com o amor ao mundo, nunca estará livre de cair em tentação.
Nós nos depararemos com o tentador em todos os lugares e por isso devemos estar sempre empunhando a espada do Espírito que é a Palavra de Deus. É com a verdade da Palavra que se vence o pai da mentira. Quando usamos a Palavra em nossas tentações e nos amparamos nas suas verdades e não nos nossos sentimentos na hora da aflição e da tentação, o Inimigo baterá em retirada e Deus dará paz às nossas mentes e corações.
“6 Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.
7 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7).
Não há qualquer tentação que não tenha uma resposta adequada na Bíblia pela qual podemos enfrentá-la. Por exemplo, se o diabo insinuar a prática do adultério, nós podemos dizer que está escrito: “não adulterarás”, ou que “Deus julgará os adúlteros”. Se ele nos tentar a endurecer o nosso coração contra qualquer pessoa, por algum dano ou ofensa que nos tenha causado nós devemos dizer que está escrito: “Amai os vossos inimigos”, “bendizei os que vos perseguem“, “não vos vingais a vós mesmos”, “vençamos o mal com o bem” etc.
Fujamos também de toda fonte de tentação. Os nazireus não podiam comer ou beber qualquer produto da videira, especialmente bebida forte, para que isto não ocasionasse intemperança. Havia nesta prática de consagração da dispensação da Lei uma clara figura de que os cristãos que são nazireus de Deus, pela consagração a Ele durante todo o tempo de suas vidas, têm o dever de se guardarem da intemperança em todas as suas formas. Se não nos guardamos de intemperanças como a do beber e do comer desordenadamente, por exemplo, nada adiantará orarmos para que Deus não nos conduza em tentação.
Sendo criteriosos em todo o nosso modo de viver podemos então contar com o poder das nossas orações. A oração atormenta o diabo e o coloca em fuga, livrando-nos de cair na tentação. Mas sejamos humildes enquanto oramos sabendo que é o poder de Jesus que faz o diabo fugir, e não o nosso próprio poder. Lembremos que a quem se humilha Deus concede maior graça.
Para não cairmos em tentação devemos fugir de argumentar com Satanás. Eva começou a entrar em desvantagem com o Inimigo quando começou a argumentar com ele. Nós podemos afirmar a verdade de Deus para o diabo mas se entramos em considerações vãs argumentando com ele ou com os seus instrumentos, nós poderemos acabar persuadidos e vencidos pelo erro, ou abalados em nossas convicções se não tivermos maturidade suficiente de fé. Mesmo cristãos maduros que têm as faculdades exercitadas para discernirem tanto o bem quanto o mal devem evitar contendas de palavras com os que se opõem à verdade, para não ficarem expostos ao mal, e nem lançarem pérolas aos porcos.
“23 E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas.
24 E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor;
25 Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade,
26 E tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos.” (II Tim 2.23-26).
Satanás foi vencido por Cristo na cruz, e não há portanto o que se argumentar com um inimigo vencido. Devemos fazer valer a vitória da cruz sobre ele vivendo de modo santo em inteira firmeza de fé. A vitória sobre o diabo está diretamente relacionada ao grau da nossa sujeição a Deus e à Sua vontade.
Paulo não desconhecia os estratagemas de Satanás (II Cor 2.11) porque estava experimentado em ver suas tentações tanto em sua vida como na vida dos seus irmãos em Cristo. E de igual modo nós devemos estar bem instruídos acerca dos movimentos do Inimigo para destruir a nossa fé, de maneira que possamos neutralizar os seus intentos malignos.
Devemos ser gratos a Deus por nos dar a vitória por meio de Cristo Jesus (I Cor 15.57). É a graça do Senhor que nos conduz em triunfo nas batalhas contra o Inimigo. Por isso somos ensinados a orar: “não nos conduza em tentação” porque isto não nos traz somente a eficácia, como também o reconhecimento de qual é a fonte que nos garante a vitória sobre as tentações.