Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Interpretação da 6ª Petição da Oração do Pai Nosso – Parte 5
“E não nos conduza em tentação, mas livra-nos do mal” - Mateus 6.13
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, do original em inglês, de autoria de Thomas Watson, em domínio público, intitulado A Oração do Senhor.
A segunda e última parte da sexta petição da oração do Pai Nosso é: ”mas livra-nos do mal.”. Há muito mais nesta petição do que é expressado, porque o pedido para livramento do mal tem em vista que possamos fazer progresso em nossa devoção a Deus.
“Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente,” (Tito 2.12).
De um modo geral, quando nós oramos para sermos livrados do mal, nós estamos orando para sermos livrados do mal do pecado, e particularmente, como parece estar insinuado no nosso texto de Mt 6.13, da prática do pecado que seria oriunda de cairmos em tentação, o que se pode inferir do uso da conjunção adversativa “mas” do texto “mas livra-nos do mal” (allá, que se encontra no original grego significa contudo, mas, entretanto), indicando assim que ao pedirmos a Deus para não sermos conduzidos em tentação, está implícito que Ele nos livrará de muitas tentações, mas também, para o nosso próprio proveito, como vimos antes, permitirá que sejamos provados com muitas tentações, e neste caso, o Senhor nos ensinou a orar a pedir a Deus que nos livre do mal, de maneira que não sejamos vencidos pelas tentações de Satanás, que visam produzir danos e levar-nos a pecar.
Quando nós oramos para sermos livrados do mal nós não estamos orando obviamente para sermos livrados de modo final e imediato do princípio do pecado que opera em nós. Nós não podemos nos livrar de modo definitivo desta víbora enquanto estivermos vivendo neste mundo, mas podemos pedir a Deus para que nos livre cada vez mais das suas picadas venenosas.
Quando nós consideramos o que é o pecado de maneira correta e fazendo uma justa avaliação do mal execrável que ele é, nós entendemos melhor porque devemos orar “mas livra-nos do mal”.
O pecado é mau em sua natureza porque é uma transgressão contra Deus. É a transgressão da Lei da Majestade Divina (I João 3.4). Assim é um crime de lesa majestade.
A palavra hebraica para pecado (hatat) significa ofensa, rebelião. E no grego, a palavra para pecado é amartia, e significa errar o alvo.
Assim o pecado é tanto uma rebelião contra Deus, como não acertar o alvo quanto à Sua vontade em relação ao que deveríamos ser e o modo de procedermos em nossa vida.
O pecado é um ato de alta ingratidão para com Deus. Ele alimenta o pecador, é misericordioso e longânimo para com ele, mas o pecador se esquece das Suas misericórdias e abusa da Sua longanimidade para com ele.
O pecado faz com que o homem se torne escravizado à Sua própria vontade e à de Satanás. Somente o homem que estiver livre da tirania do seu próprio ego e do diabo pode de fato servir a Deus e viver de modo que exerça domínio sobre sua vontade e sobre o diabo, ao invés de ser dominado por ambos.
O pecado produz um estado ruim na alma incompatibilizando-a de ter paz, harmonia e comunhão com o Espírito de Deus. Quando o pecado estiver reinando o Espírito Santo estará entristecido, mas quando é a graça que está reinando o pecado é dominado e vencido pelo Espírito.
O pecado é a causa da aflição, e a causa é pior que o efeito. O pecado traz todo tipo de dano; doença, espada, escassez e todo os julgamentos em seu útero. Apodrece o nome, consome a propriedade e arruína o corpo. Causa motins, divisões e massacres. Por causa do pecado tudo morre no mundo, e o próprio mundo passará pelo juízo de Deus por causa do pecado.
A aflição propriamente dita pode servir de alerta para que nos voltemos para Deus confessando os nossos pecados; e assim, se produz tristeza para arrependimento torna-se em algo proveitoso para nós, porque se transforma num imã que nos puxa para perto de Deus. Assim no meio da adversidade externa pode haver paz interior.
Muitas aflições são o resultado das repreensões de um Pai de amor (Apo 3.9) que visa conduzir-nos através delas ao arrependimento. Nós devemos então aprender a chorar não propriamente pelas nossas aflições, mas pelo que geralmente dá causa a elas que é o pecado.
Assim, os santos podem se alegrar em suas aflições (I Tes 1.6; Hb 10.34), especialmente naquelas que lhes sobrevêm por causa do seu testemunho em favor da verdade divina.
Nós podemos nos alegrar nas aflições, mas não no pecado, de maneia que não podemos nos alegrar naquelas aflições que foram originadas por causa dos nossos próprios pecados. É preciso saber distinguir entre aflições e aflições. Nós podemos e devemos ser gratos a Deus por estas aflições originadas da prática do pecado porque são como sirenes nos alertando para nos arrependermos do mal, e pedirmos humildemente a Deus que nos livre do mal que deu causa às nossas aflições, a saber, neste caso, o pecado.
O pecado é questão de vergonha e aflição e não de alegria (Os 9.1; II Sm 24.10).
Agora os sofrimentos que suportamos por amor a Cristo, tal como os que Jó padeceu em sua paciência, serão transformados numa coroa de glória, porque através deles nós testificamos da nossa fidelidade e obediência à vontade de Deus (Tg 5.2).
Com o pecado ocorre o oposto, porque se transforma a glória em vergonha, tal como ocorreu com os filhos de Eli quando tinham pecado e profanado o sacerdócio deles.
O zelo e a constância dos mártires em seus sofrimentos eternizaram os nomes deles. Quando um cristão está sofrendo segundo a vontade de Deus como Pedro, quando estava na prisão (At 12.5) Deus fará com que outros santos intercedam em oração a favor dele. Mas quando um homem peca deliberadamente e de modo escandaloso, ele terá as lágrimas amargas dos santos e somente censuras, e ele se transformará num fardo para os demais (Sl 31.2).
O aguilhão da morte é o pecado (I Cor 15.26), isto é, o pecado é a causa da morte. A morte física faz apenas separação entre o corpo e o espírito, mas o pecado sem arrependimento é uma morte pior porque faz separação entre o espírito e Deus.
O pecado é pior que o inferno porque o inferno foi criado por Deus para juízo do diabo, seus anjos caídos e dos homens impenitentes. Mas o pecado não foi criado por Deus, antes é um monstro criado pelo diabo. Os tormentos do inferno são um fardo apenas para os pecadores impenitentes, mas o pecado é um fardo para Deus. Como não oraríamos então pedindo a Deus que nos livre do mal que é o pecado?
Necessitamos orar assim porque há pecados de omissão e pecados ocultos que nem sempre conseguimos reconhecer e que por conseguinte não confessamos. Mas tal como Davi devemos também pedir a Deus que nos livre destes pecados.
E devemos fugir não somente dos pecados aparentes, que aparecem, como também de toda aparência de mal. A aparência do bem é muito pequena mas a aparência do mal é muito grande e deve ser evitada a todo custo, porque ainda que algo não seja pecaminoso, mas parece ser pecado, deve então ser evitado. A aparência do mal pode escandalizar a outros (I Cor 8.12).
O pecado original não pode ser erradicado, mas deve ser mortificado. Os pecados irrompem porque não é mortificado o pecado no coração de onde procede todo tipo de mal. As primeira evidências de orgulho, cobiça, impureza e paixão devem ser suprimidos antes que cresçam subjugando o espírito, a alma e o corpo. A expressão que o mal deve ser cortado pela raiz bem se aplica à mortificação do pecado.
É preciso cultivar o temor de Deus no coração, sabendo que Ele tudo vê e julga, que daremos contas de tudo o que tivermos feito por meio do corpo no Tribunal de Cristo, e isto muito nos ajudará a ter o devido temor de viver no pecado. E isto será saúde para nós mesmos e para muitos outros que forem alcançados pelo nosso bom testemunho.
Aquele que tem o temor de Deus vigia os principais portais da alma que são os olhos e os ouvidos, e também cuida de vigiar os seus pensamentos, porque é por estas portas que o estímulo para o pecado costuma entrar. Um simples pensamento de vingança pode conduzir a um assassinato ou a uma ira e ódio injustificados. Assim a maioria dos pecados são decorrentes da falta de cuidado com a vigilância.
O amor a Deus sendo continuamente cultivado no coração é uma poderosa arma contra a força e insinuações do pecado. O amor pela glória e santidade de Deus fará com que tenhamos um objetivo nobre e elevado em nos cuidar não pecando contra Ele.
Se você deseja ser livrado por Deus do mal mantenha-se então ocupado em Sua obra e você sentirá de perto que é impossível servir a Deus sem santificação. De outro modo seremos hipócritas falando a outros de uma santidade que falta em nós mesmos.
Devemos considerar que quando oramos para que Deus nos livre do mal, nós estamos pedindo que Ele nos livre do mal do nosso coração, porque é uma fonte envenenada de onde flui todo tipo de pecados (Mt 7.21). Satanás não poderia prevalecer sobre nós tentando-nos a praticar o pecado se nós não lhe déssemos consentimento em nossos corações. Tudo o que ele pode fazer é colocar a isca, e a nossa falta é mordê-la. Então oremos para que Deus nos livre do mal do nosso próprio coração.
E também, quando fazemos esta oração pedindo a Deus que nos livre do mal nós estamos pedindo para que nos livre do mal de Satanás (Mt 13.19; Ef 6.12; I Pe 5.8; Zac 3.1).
Satanás encheu o coração de Ananias para que mentisse ao Espírito Santo (At 5.3).
E finalmente, quando oramos para sermos livrados do mal, além de orarmos pelo livramento do mal do nosso próprio coração e de Satanás nós estamos orando para sermos livrados do mal do mundo. Em Cristo nós somos livrados do pecado, do diabo e do mundo. A obra de redenção consiste também em nos desarraigar deste mundo mau e tenebroso (Gál 1.4; Tg 1.27).
O mundo está cheio de armadilhas. Companhia é uma armadilha, bem como recreação e riquezas são armadilhas.
A luxúria da carne é beleza e sensualidade; a luxúria dos olhos é dinheiro e o orgulho da vida é fama e honra mundanos; esta é a trindade do homem natural. O mundo é um inimigo lisonjeiro que nos trai beijando. Os prazeres do mundo são como o ópio que dão ao homem uma falsa sensação de segurança.
É difícil beber o vinho da prosperidade e não ficar embriagado com ele. Por causa da corrupção do pecado original que está nas massas em geral da humanidade, o mundo é mau.
O mundo nunca incentivará portanto que os homens vivam piedosamente e busquem a Deus, e nisto se torna um grande perigo para os cristãos que não são como os anjos eleitos, senão pecadores como os seus semelhantes, que terão no mundo um forte atrativo para retornarem ao velho modo de vida, porque o mundo jaz no maligno, e o imenso imã do mundo exerce uma grande atração sobre o imã do pecado que reside na nossa natureza terrena.
Os cuidados terrenos sufocam a semente da Palavra, conforme Jesus nos ensinou na parábola do semeador. E um homem que tem a sua mente ocupada deste modo com as coisas terrenas não consegue se ocupar com as coisas celestiais, espirituais e divinas.
Então nós devemos orar para que Deus nos livre do mal deste mundo mau.
Embora seja ordenado aos cristãos que amem os seus inimigos, este (o mundo) é um inimigo que nós não devemos amar (I João 2.15).
E ainda está incluído indiretamente na nossa oração por livramento do mal que também façamos o bem, porque não é suficiente que sejamos livrados do mal, porque isto tem um propósito, conforme já comentamos anteriormente, que é para que possamos fazer progresso em santidade. Ser livrados de pecar não é o bastante, a menos que nós estejamos apegados à virtude. A Bíblia assim une ambos os deveres (Sl 34.14; Rom 12.9; 13.14; Is 1.16,17; II Cor 7.1).
Um homem pode se privar do mal, contudo ele pode ir para o inferno por não fazer o bem, porque toda árvore que não der bom fruto será cortada e queimada (Mt 3.10).
Oremos sempre então para que Deus nos livre do mal, para que possamos abundar no testemunho da prática das boas obras que Ele preparou de antemão para que andássemos nelas.
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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
http://livrosbiblia.blogspot.com.br/
Veja tudo sobre as Escrituras do Novo Testamento no seguinte link:
http://livrono.blogspot.com.br/
A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/
A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 13/02/2013
Alterado em 10/07/2014