Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
 

Graus de Poder Presentes no Evangelho

 Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

“Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo, e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós, e por amor de vós.” (I Tes 1.5).

 
O evangelho vem a todos os que o ouvem. O evangelho é destinado tanto ao regenerado quanto ao não regenerado. E enquanto para uns é “cheiro de morte para morte”, para outros é “cheiro de vida para vida.”, contudo a distinção não está no evangelho senão na forma em que é recebido ou rechaçado.
Alguns de nossos irmãos que estão muito ansiosos de levar a cabo os decretos de Deus em vez de crer que Deus pode levá-los a cabo por Si mesmo, sempre estão tratando de fazer distinções em sua pregação. Pregar um evangelho a um conjunto de pecadores e outro a outra classe diferente! São muito diferentes os velhos semeadores que, quando saíam a semear, semeavam entre espinhos e nos pedregais e junto ao caminho. Estes irmãos, com profunda “sabedoria”, se esforçam por encontrar qual é a boa terra. Insistem muito em que não se deve lançar nem sequer um simples punhado de convites se não é no terreno preparado.
São demasiado “sábios” para pregar o evangelho aos ossos secos que estão no vale, como Ezequiel o fez enquanto estavam mortos. Eles não soltam nem uma palavra do evangelho enquanto não haja um pequeno estremecimento de vida entre os ossos! E somente então começam suas operações. Não consideram seu dever ir aos caminhos e aos becos para convidar a todos, a todos os que encontrarem, para vir ao banquete. Oh, não! São demasiado ortodoxos para obedecer à vontade do Senhor. Isto significa que eles querem fazer algo que é desnecessário. Não têm fé suficiente ou não têm submetido sua vontade o suficiente aos mandamentos supremos do grande Senhor para fazer isso que somente a fé se atreve a fazer, isto é, gritar aos ossos secos que vivam, dizer ao homem de mão paralisada que estenda sua mão ou pedir ao paralítico que tome sua cama e ande.
Os profetas diziam valentemente: “lavai-vos, limpai-vos, tirem a maldade de vossas ações de diante dos meus olhos. Deixem de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem.”. Um deles exclama de maneira contundente: “Adquiri um coração novo e um espírito novo.” (Ez 18.31). E contudo, não duvido que ele estava perfeitamente de acordo com esse outro profeta que ensinou a incapacidade do homem por meio daquelas duas memoráveis perguntas: “Poderá o etíope mudar a cor da sua pele e o leopardo suas manchas?”. Estes homens nunca pensaram que teriam que selecionar o que teriam que pregar, segundo o grau de poder de seus ouvintes.
E aconteceu com os apóstolos o mesmo que acontecia com os profetas! Pedro gritou à multidão congregada ao redor da porta do templo chamada Formosa: “Portanto, arrependei-vos e convertei-vos para que sejam apagados vossos pecados.”. Eles apresentavam o evangelho, o mesmo evangelho tanto aos mortos como aos vivos; o mesmo evangelho aos não eleitos como aos eleitos. O ponto distintivo não está no evangelho senão em se é aplicado pelo Espírito Santo ou é deixado para que seja rechaçado pelo homem. Vemos no texto que o mesmo evangelho vem para todos. E o ponto distintivo está mais além, a saber, na aplicação desse evangelho no coração.
Para outros, a Palavra vem num sentido um pouco melhor, porém em palavras somente. Eles a ouvem, e a entendem na teoria, e provavelmente estão mais contentes com ela, especialmente se é entregue de uma maneira adequada a seu gosto, ou se pode ser louvada conforme o seu entendimento particular. Ouvem e não esquecem tão rápido.
Eles podem recordar e são gratificados com ilustrações, verdades doutrinais e outras coisas similares. Porém quando se tem dito isto, se tem dito tudo. O evangelho permanece neles como certas drogas potentes permanecem nos frascos das farmácias. Estão ali, porém não produzem nenhum efeito. O Evangelho vem a eles como um canhão descarregado guardado, ou como um barril de pólvora armazenado num depósito, não há força nele porque o fogo do Espírito de Deus está ausente. O pregador dá açoites ao ar. Corteja ao vento e convida a nuvem quando prega a gente assim. Ouvem, porém em vão, são insensíveis como a palha.      
Queridos irmãos e irmãs, os homens choram no teatro. Choram mais ali do que em muitos lugares de adoração. Portanto, simplesmente chorar pela influência de algum sermão não é sinal de ter obtido algum benefício dele. Alguns de meus irmãos pregadores são espertos em desenterrar aos mortos. Sabem trabalhar bem sobre as emoções das pessoas. Porém não acho isso um meio seguro para se trabalhar com um evangelho verdadeiro e glorioso.
A simples excitação produzida pela oratória é a arma que utiliza o mundo para obter seu fim. Necessitamos de algo mais que isso para os propósitos espirituais. Se pudéssemos “falar em línguas de homens e de anjos” e comovê-los até alcançar o entusiasmo que Demóstenes gerava nos antigos gregos que o escutavam, tudo isso não serviria para nada se somente fosse o efeito da linguagem apaixonada do pregador e de sua força de expressão. O evangelho teria vindo a vocês “em palavra somente”. E o que é nascido da carne é carne, e somente isso. Há uma certa classe de pessoas  que são ouvintes profissionais de sermões. Vão num domingo escutar ao Sr H, e depois no outro domingo o Sr Y. E sempre levam com eles “sacarômetros”, ou seja, instrumentos para medir a quantidade de doçura do sermão que ouviram. E fazem uma medição disto bem como do próprio pregador. Registram todos os disparates que dizem e dizem como poderia ser melhorado. E o comparam e o contrastam com outros pregadores, como se fossem provadores de fé.
Alguns indivíduos desta classe não são senão vagabundos espirituais sem uma habitação nem uma ocupação estabelecidas. Andam rodando de lugar a lugar, pondo atenção nisto e naquilo sem obter nenhum benefício e sem fazerem qualquer serviço para Deus. E quanto a fazer o bem, este pensamento nunca entra no seu cérebro. Não podes esperar que o evangelho venha a ti de nenhuma outra maneira senão somente como uma letra que mata, pois tu vais a ouvir o evangelho como simples palavras. Não buscas fruto, te sentas satisfeito se somente vês as folhas. Não desejas nenhuma bênção, nem para ti, nem para ninguém. Não reconheces diante de Deus as tuas próprias necessidades, não consegues ver que és carente e dependente da Sua graça, e assim não estendes as mãos em busca de direção e socorro. Se desejasses bênçãos as terias. É um dos hábitos mais vis e néscios desperdiçar nosso tempo criticando constantemente a Palavra de Deus e os ministros de Deus.  
Não podemos explicar como o Espírito Santo opera por meio da Palavra. A obra do Espírito é equiparada a algo tão misterioso como um nascimento ou como o soprar do vento. É um grande segredo e portanto não pode ser explicado. Enquanto ouviam a letra que mata, o Espírito de Deus veio com ela e o Espírito que dá vida os fez viver com uma vida nova, mais eleva e mais abençoada.
Não podemos dizer que o evangelho tem vindo a vocês no Espírito Santo e em plena convicção a menos que se mostrem os resultados correspondentes. Os tessalonicenses os mostraram, porque Paulo disse acerca deles que se fizeram imitadores dele e do Senhor, recebendo a palavra no meio de grande tribulação com gozo do Espírito Santo, de tal maneira que se tornaram exemplo para todos os cristãos da Macedônia e da Acaia, porque a Palavra do Senhor estava ressoando a partir deles não somente em toda Macedônia e Acaia como em todos os lugares, e haviam se convertido dos ídolos para Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro.  
Aqui podemos ver uma imitação do exemplo apostólico, uma fé que chega a ser tão conhecida que sua fama se estende, um gozo que não pode ser apagado pela própria aflição, e uma perseverança que permanece apesar de todas as dificuldades. Podem ver uma conversão que renuncia aos ídolos mais queridos e nos une a Cristo e nos faz vigiar e esperar por Ele. Todas estas coisas são necessárias como provas que o Espírito Santo tem acompanhado a Palavra. 
Está claro pelo texto que não basta pregar o evangelho. Se requer algo mais que isso para a conversão das almas. Devemos ter o poder do Espírito Santo. E o lado prático disto envolve que se requer que oremos muito a Deus para que o Espírito Santo opere. É preciso ter um espírito de oração na congregação e não perdê-lo nunca. E o prático disto deve ser visto na regularidade e grande participação da igreja nas reuniões de oração. E aumentemos nossas orações proporcionalmente às nossas ações. Matinho Lutero certa vez disse: “Tenho tanto que fazer no dia de hoje que não será possível realizá-lo com menos de três horas de oração.”. A maior parte do povo diria: “Tenho que fazer tanto no dia de hoje que somente posso ter três minutos de oração.”. Porém Lutero pensava que quando tinha mais que fazer mais tinha que orar ou do contrário não poderia realizá-lo. Este é um tipo bendito de lógica. Queira Deus que possamos entendê-la.
Aprendamos do texto nossa dívida à Graça Soberana que faz a distinção. Vocês observam que o evangelho não vem com o poder do Espírito Santo para todos. Se então tem vindo para nós, que faremos senão bendizer e louvar a graça soberana que o fiz vir a nós? 
Vocês podem observar que a distinção não se encontrava nas próprias pessoas. Estava na maneira em que o evangelho veio. A distinção nem sequer estava n o evangelho, senão na presença do Espírito Santo, que o fez efetivo. Se vocês têm ouvido a Palavra com poder, queridos irmãos, não foi porque vocês estavam mais preparados, porque estavam menos inclinados ao pecado, ou sentiam mais simpatia a Deus, mas isto se deveu exclusivamente à graça de Deus que tem se manifestado entre nós através da presença e poder do Espírito Santo.
 
 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 18/02/2013
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